Inuyasha e Cia. Não me pertencem.
Dia de folga.
Kagome respirou fundo, sentindo o ar matinal adocicado pelas flores da primavera, esticou os braços para o alto e deixou-se cair deitada na grama, fechando os olhos com um sorriso satisfeito, enquanto sentia o calor do sol fazendo-lhe cocegas no rosto.
Sentiu uma sombra cobri-la, e abriu os olhos, desagradada pelo seu descanso ter sido tão efêmero.
Ela não podia ver o seu rosto, pois ele estava ofusca pela luz do sol logo atrás de sua cabeça, mas aquelas orelhas caninas e os longos cabelos prateados eram inconfundíveis.
_Olá Inuyasha. – cumprimentou com um pequeno sorriso preguiçoso.
_O que está fazendo?
_Relaxando. – respondeu no mesmo tom tranquilo de antes.
Inuyasha franziu o cenho, embora Kagome não conseguisse ver isso.
_Você está agindo estranho. O que aconteceu?
Ela balançou a cabeça, lenta e tranquilamente, ainda com aquele mesmo sorriso estranho e preguiçoso nos lábios.
_Não aconteceu nada, é só que... Acabei de passar por uma semana muito estressante e corrida de provas, acho que fui mal em algumas, mas tudo bem, ainda assim eu estou feliz que tenha acabado.
Inuyasha inclinou a cabeça de lado, até o dia anterior Kagome era uma pilha de nervos, e agora... Parecia até ser outra pessoa.
Sentou-se no chão para observa-la melhor e viu seus olhos se fecharem quando o sol bateu diretamente neles, ficou ali a assistindo com os olhos fechados, os lábios entreabertos, e a respiração tranquila, e ficou quieta por tanto tempo, que ele chegou apensar que ela estivesse dormindo.
Mas então, Kagome virou-se de lado, deitando a cabeça sobre o braço dobrado abriu os olhos e tranquilamente sorriu para ele, havia grama emaranhada em seus cabelos, mas ela parecia não se importar.
_Esses dias tem sido tranquilos, não concorda Inuyasha?
Bem se ela definia tranquilidade como dias descabelados, com cadernos e livros espalhados por toda parte, uma continua mastigação de pontas de lápis e canetas, e o incansável mantra que acompanha todo colegial em época de provas: "Eu não estou entendendo nada, é muita coisa pra estudar, eu não vou consegui estudar tudo a tempo...", então sim, aqueles dias haviam sido extremamente tranquilos.
Ah! E isso sem falar dos gritos histéricos e totalmente sem motivos dela!
Como quando ele tentou preparar ele mesmo o seu ramen porque ela havia dito estar ocupada demais estudando e acabou explodindo uma panela, e ela o enxotou da casa como se ele fosse algum animalzinho travesso.
_Nada de Naraku, nada de procurar por fragmentos da joia... – ela disse com tranquilidade, ainda deitada na grama.
_Nada de lobo fedido. – ele acrescentou. – Nada de Shippou.
_Nada de Kikyou. – ela alfinetou brincalhona e suspirou satisfeita. – Eu estou feliz por poder descansar um pouco... Tirar uma folga de tudo isso sabe? Porque não descansa um pouco também? Faria bem a você.
Ele concordou meio incerto:
_Está bem.
Ficarão em silencio por algum tempo, Kagome deitada, Inuyasha sentado, e os dois continuarão calados até ele começar a se irritar.
_Isso é chato! Tirar folga me dá tédio! Eu já cansei, até quando você pretende ficar de folga?!
Ela observou-o com os olhos pesados de sono.
_Até amanha no mínimo.
_Até amanha Kagome?! Isso é que não! – exclamou levantando-se num salto, e disse: – Desse jeito Naraku vai recolher todos os fragmentos da joia enquanto você fica aqui relaxando!
Kagome suspirou cansada, e girou para voltar a ficar de costas para a grama.
_Não exagere, nem mesmo Naraku pode achar todos os fragmentos que faltam, assim da noite para o dia.
_Mas nós já estamos aqui há sete dias!
_Um dia a mais, um dia a menos, que diferença faz? – ela estava irritantemente calma aquele dia, Inuyasha quase preferia que ela começasse a gritar e mandá-lo sentar. Quase.
_Aqui está muito chato bruxa! – e chamou-a de bruxa propositalmente, para ver se pelo menos assim ela se irritava, pelo menos um pouquinho que fosse com ele – Vamos voltar de uma vez para a minha era, antes que eu morra de tédio, pelo menos lá tem algo para se fazer!
_É lutar com youkais, encontrar fragmentos da joia e lutar mais um pouco com youkais que querem os fragmentos da joia. – ela girou os olhos começando a se aborrecer com Inuyasha – A minha era não é chata, só é mais pacifica que a sua.
_Não tem nada para fazer aqui! – ele insistiu. – Eu estou entediado!
Kagome suspirou e sentou-se.
_Muito bem, então acho que nós podemos...
_Voltar?
_Não! – olhou-o aborrecida – Arranjar algo para distrair você!
Ele olhou-a curioso e piscou.
_Como o que?
_Bem... – ela ainda não havia pensado nisso, e coçou a nuca olhando a volta a procura de uma ideia.
E avistou com um pequeno brilho no olhar, um graveto jogado ali perto, apanhou-o cheia de animação e colocou-se de pé.
_Aqui Inuyasha, aqui! – chamou balançando a vareta no ar.
Inuyasha olhou-a como se ela tivesse enlouquecido, mas não pode resistir a seu impulso canino de correr atrás do graveto quando a adolescente o atirou para longe, gritando "pega Inuyasha!" entusiasmadamente.
E só quando se acocorou no chão e apanhou o graveto foi que se deu conta do que estava fazendo.
_Ei sua estupida! – gritou virando-se e brandido o graveto no ar com toda a sua fúria – Eu não sou nenhum cãozinho, sua idiota!
_Senta. – ela suspirou, mas ainda assim parecia extremamente calma, para a irritação de Inuyasha – Eu só queria ajudar, não precisa se irritar assim... Nós ainda vamos encontrar algo para fazer.
...
Mas não encontrarão nada.
O tédio de Inuyasha havia chegado a um nível tão elevado que nada era capaz de distraí-lo, mas apenas de enfadá-lo ainda mais, e o pior: estava começando a contagiar Kagome.
_Eu não entendo nada desse seu jogo idiota, Kagome!
Inuyasha repetiu pelo que devia ser a décima vez naquelas ultimas horas, atirando para longe as cartas de UNO (o ultimo dos jogos do arsenal de Souta) cansado e confuso por causa de todas aquelas regras estranhas e números coloridos.
Kagome olhou a volta, assistindo em completo desanimo as cartas de UNO espalhando-se pelo chão e misturando-se as várias cartas de baralho, peças de xadrez, damas, dominó, dados e notas de dinheiro falso do banco imobiliário, além dos tabuleiros jogados aqui e ali, todos jogados por Inuyasha, que achara tudo complicado e chato demais.
É claro que os jogos foram apenas a sua ultima alternativa, suspirou desolada baixando os olhos para o aro retorcido entre os seus dedos, que havia restado da cesta de basquete, eles também haviam tentado voleibol, mas Inuyasha acidentalmente rasgara a rede e furara a bola com suas garras afiadas. E com sua força descomunal havia chutado a bola de futebol de Souta tão longe que a mesma perdeu-se de vista, na imensidão do céu azul, todas as bolas de pingue-pongue sofrerão o mesmo destino, e agora provavelmente estavam mais espalhadas pelo Japão dos que os fragmentos da joia de quatro almas, isso sem contar com a raquete quebrada.
Até Kagome finalmente cansar-se de quebrar e perder os brinquedos de seu irmão, e decidir passar aos jogos, também pertencentes ao seu irmão, mas havia sido outro completo fracasso.
_Eu desisto. – disse por fim, e levantou-se do chão.
Inuyasha olhou-a parecendo não a compreender.
_O que vamos fazer agora?
_Eu estou cansada, vou dormir um pouco. – ela suspirou impaciente – Você faça o que quiser, exploda minha cozinha, volta para as guerras civis e persiga youkais, quebre mais coisas da minha casa, ou morra de tédio de uma vez... Eu realmente não me importo.
Mas quando se virou deu de cara com o pequeno Souta, olhando assombrado para todo o caos ao seu redor, e em seguida erguendo os olhos para encontrar com os da irmã mais velha.
_O que houve aqui?
Kagome acenou displicentemente para o hanyou logo atrás de si.
_Inuyasha estava entediado, e eu só queria distraí-lo um pouco. – confessou derrotada.
_Pelo visto. – disse o menino olhando a volta – Não deu muito certo.
_Não. – ela suspirou – E eu tentei de tudo.
_Tudo mesmo?
_Sim. – disse num muxoxo triste.
_Vôlei? – perguntou, e viu a mais velha apontar para a rede arruinada – Basquete? – ela mostrou-lhe o aro retorcido – Pingue-pongue? – Kagome abaixou-se e apanhou a raquete quebrada no chão para mostra-la ao irmão – Futebol? – desta vez ela não esboçou reação alguma, e Souta começou a se preocupar. – Damas? Xadrez? Baralho? – e ela só fazia acenar que sim com a cabeça – Beisebol?
Kagome parou, e os dois irmãos se encararão por alguns segundos, até que ela finalmente admitiu:
_Bem... Beisebol não.
Souta concordou, e disse com obstinação:
_Bem, vamos tentar isso então.
E assim Kagome, com uma pequena ajuda de Souta, finalmente conseguiu achar algo para distrair Inuyasha que ele não pudesse quebrar (ou perder) e nem que o confundisse com suas regras complicadas: rebatidas de basebol.
_Quinze rebatidas. – disse Kagome tirando a luva de basebol – Agora é minha vez de rebater.
_Está bem mana. – concordou Souta entregando-lhe e bastão e pegando a luva.
Logo atrás deles Inuyasha estava sentado no chão, coçando a orelha esquerda com o pé, e segurando numa das mãos um boné de basebol.
Mas colocou-se atento assim que ouviu Kagome chama-lo.
_Está pronto?
_Feh, mas é claro que sim! – respondeu convencido, levantando-se e enfiando o boné na cabeça com a aba virada para trás, como Souta havia ensinado – E vejam se jogam mais longe dessa vez!
Ela concordou. E virou-se para o irmão.
_Você ouviu o Inuyasha, Souta, veja se faz um bom lançamento!
_Certo mana! – concordou o pequeno.
Ele lançou a bola o melhor que pode. E Kagome gingou e girou com os quadris acertando a bola em cheio como o taco de basebol.
Logo em seguida levou as mãos aos cabelos para segura-los e evitar que eles voassem em seu rosto quando uma forte e repentina corrente de ar surgiu ali, resultada da velocidade que Inuyasha usou para correr atrás da bola.
Ele saltou e apanhou-a em pleno ar, quando ela começava a baixar de altitude alguns metros depois, pousou no chão e virou-se para eles, acenando com a bola.
_Eu peguei! – anunciou contente.
E começou a correr de volta ao encontro dos irmãos Higurashi, ansioso para que eles arremessassem a bola novamente para ele apanhá-la.
Afinal, o que poderia deixar um cãozinho mais feliz do que brincar ao ar livre de pegar bola?
Fim.
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