Sam estava sentado no Impala, procurando por notícias de mortes na internet.
Desde que a guerra começou, milhões de inocentes haviam morrido. Pessoas que nem sequer sabiam da existência de anjos ou demônios estavam sendo mortas apenas por estarem no lugar errado, na hora errada.
Ao seu lado, Dean dirigia, as mãos apertando o volante fortemente. Mesmo sem falar nada, Sam sabia que o irmão estava irritado.
Eles tinham ido para Twin Falls, em Idaho, a procura de algo que pudesse ajudá-los a lutar e acabaram dando de cara com demônios esperando por eles em uma armadilha. Felizmente, ninguém se feriu. Ninguém humano pelo menos.
Agora eles estavam em direção a uma casa na vizinhança. Há apenas algumas horas, Cas lhes disse que havia uma bruxa nessa área que poderia ajudá-los. Porém, sua fonte não era a mais confiável, ele apenas ouviu alguns outros anjos comentando sobre isso, e considerando a armadilha que os Winchesters acabaram de cair, Sam estava começando a achar que Cas talvez não tenha ouvido tudo por acaso.
Antigamente Sam acharia isso impossível, mas desde que a guerra começou, céu e inferno têm estado um caos. Anjos e demônios se aliando não parecia mais algo tão impossível de acontecer.
Mas ainda assim, ali estavam eles, procurando pela bruxa.
Dean parou o carro em frente a uma casa. Ele achava aquilo tudo uma perda de tempo, Cas havia obviamente sido enganado, mas Sam lhe convenceu a continuar a procura. Demorou um pouco, mas Dean eventualmente cedeu, mesmo percebendo que o irmão mais novo não parecia assim tão certo de que fazer isso iria ajudá-los.
Pelas suas pesquisas, essa era o segundo lugar mais provável de ser a casa da bruxa.
Eles haviam descoberto da pior maneira possível que o primeiro lugar mais provável era o errado.
A casa era um pouco diferente das outras ao seu redor. Não diferente do tipo assustadora, caindo aos pedaços ou de uma maneira que pessoas normais achariam que uma casa de bruxa se parecesse. Ela tinha um aspecto um pouco mais velho, como se a casa houve sido construída no século passado e o dono nunca tivesse se importado em reformar a casa, diferentemente dos vizinhos. Mas ainda parecia uma casa normal.
Talvez seja de uma família tradicional, pensou Dean.
Os irmãos desceram do carro sem falar nada. Palavras não eram necessárias, após anos de treinamentos com o pai, ambos já sabiam muito bem o que fazer.
Ao chegar no terraço, Dean bateu na porta. Assim como a do Sam, sua arma estava por debaixo da camisa. Eles não queriam dar a ideia de serem uma ameaça logo de primeira, nem assustar civis inocentes, em caso de estarem na casa errada novamente. Mas se fosse preciso, Dean não pensaria duas vezes antes de usar a arma.
Ninguém abriu a porta.
Dean bateu mais uma vez.
Sem resposta.
Sam começou a pegar um grampo para arrombar a fechadura, quando ouviu um grito no andar de cima.
Sem pensar duas vezes, ele chutou a porta, quebrando-a no impacto.
Com armas em mãos, ambos entraram na casa.
O interior da casa combinava com o exterior, os móveis tinham aparência antiga e a decoração das paredes davam um ar vintage.
Na sala estavam dois corpos, aparentemente atacados com uma faca.
Pela quantidade de sangue no chão, aquelas pessoas já estavam mortas e não havia nada que eles podiam fazer por ela. Mas Sam tinha certeza que o grito veio do andar de cima, então sem perder tempo com os corpos, ele seguiu em direção à escada.
No 1º andar havia três quartos.
Eles entraram no primeiro, armas ainda em mãos, prestando atenção em qualquer sinal de movimento.
Assim que entraram, alguém os atacou por trás.
Sam sentiu alguém se jogando contra ele e caiu no chão, derrubando sua arma. Apesar da força da pessoa acima dele, ele conseguiu virar-se e viu que seu atacante tinha um par de olhos negros. O demônio tentou estrangulá-lo, mas Sam pegou sua faca e matou o demônio antes que este lhe fizesse qualquer estrago.
Em pé, ao seu lado, estava Dean, lutando com outro demônio. A criatura tentava atacar o irmão mais velho com uma faca, provavelmente a mesma que matou a duas pessoas no andar de baixo, mas Dean era mais rápido e conseguia se desviar dos ataques. Aproveitando que o demônio estava com a atenção voltada para o irmão, Sam o atacou pelas costas. O demônio caiu morto aos seus pés.
– O que você acha, mais uma armadilha? – perguntou Dean, abaixando-se para pegar a arma de Sam e o entregando.
– Pode ser, mas de todo jeito temos que achar a pessoa que gritou. Tenho certeza que o grito era de uma mulher – Talvez os demônios estavam atrás de algo aqui, pensou Sam
Com um suspiro de irritação do Dean, ambos voltaram a procurar. O quarto estava vazio, então eles foram para os outros dois.
No último quarto, os irmãos acharam uma garota.
Ela estava agachada perto da cama, parecia chorar assustada. Sua cabeça estava abaixada e suas mãos estavam ao redor do joelho.
Ela não parecia ter notado a presença deles.
Dean aproximou-se lentamente dela, pegou seu cantil com água benta e assim que chegou perto o suficiente, jogou a água na garota.
Ela tremeu quando a água a tocou, mas não houve queimaduras. Sam assumiu que ela apenas tremeu por estar assustada.
O irmão mais novo também se aproximou da garota.
– Hey, está tudo bem agora, nós estamos aqui para ajudar – Sam a tocou no braço, tentando mostrar que eles não iriam machucá-la.
A garota levantou a cabeça lentamente. Seus olhos eram de um azul claro, mas estavam vermelhos por causa do choro. Seu rosto fino estava com a mesma coloração.
– Está tudo bem – disse Sam mais uma vez – Qual seu nome?
– Li... Lillian – os pequenos lábios da garota mal se moveram e a sua voz saiu como um sussurro
– Lillian, eu sou o Sam, esse é o meu irmão Dean, nós estamos aqui para te ajudar, ok?
Lillian fez um breve aceno com a cabeça, mostrando que havia entendido.
– Venha, nós vamos te levar a um hospital – Ela não parecia estar machucada, mas Sam achou melhor levá-la a um hospital mesmo assim. Ele segurou-a um pouco mais forte no braço, dando-a apoio para se levantar.
Quando ela ficou completamente de pé, eles puderam prestar mais atenção nela. Assim como o rosto, seu corpo era pequeno. Ela parecia ter em torno de 16 anos.
A garota segurou-se em Sam durante todo o caminho até o Impala. Ele a carregou de forma que esta não visse a cena que estava na sala. Ela não precisa ver isso, pensava ele. Lillian parecia tão frágil que Dean teve a impressão que ela não conseguiria nem ficar de pé, se não fosse pelo Sam.
Já no carro, Sam ajudou-a a se sentar no banco de trás. O choro havia parado, mas ela ainda mantinha a cabeça abaixada, o longo cabelo cacheado escondendo parte do seu rosto, como se estivesse tentando não ser vista. Ele sentou-se ao lado dela, pois queria ter a chance de conversar antes de chegar ao hospital, logo em seguida, Dean assumiu a direção do Impala.
O hospital ficava a uns 10 minutos dali. Apesar de Sam achar um pouco insensível forçar a garota a falar sobre isso agora, ele não tinha muito tempo.
– Você pode me dizer o que aconteceu? – seu tom demonstrava urgência, mas ainda era calmo
– Eu estava no meu quarto quando ouvi um barulho no térreo. Desci para ver e encontrei meus pais... – ela parecia lutar contra o choro – … eles estavam mortos. Eu corri para cima e tentei me trancar no quarto, mas aqueles caras me alcançaram – a garota estava tremendo novamente.
Lillian parou por um instante e ficou olhando para o nada, como se em sua cabeça ela ainda estivesse dentro do quarto. Quando Sam estava prestes a perguntar por mais informações ela continuou:
– Eles estavam vindo para cima de mim, quando escutaram um barulho vindo de baixo. Por um momento eles pararam e se encararam, um deles perguntou "são eles?" e o outro respondeu "provavelmente sim", então eles saíram do quarto. Eu fiquei sozinha e depois de um tempo vocês apareceram.
– Então eles estavam esperando por nós? – falou Dean, que ouvia toda a conversa na frente
– Parece que sim – Sam soltou um suspiro desapontado, o pouco de esperança que ele tinha de que havia encontrado algo importante se esvaiu. No fim das contas, Cas havia mesmo sido enganado.
– Você é uma bruxa? – Dean perguntou, indo direto ao assunto
Os olhos de Lillian se arregalaram, como se ela não pudesse acreditar no que estava ouvindo – Me desculpe... Você perguntou se eu sou o quê?
Sam achou que a reação parecia genuína, como se ela realmente nem sequer soubesse da existência de bruxas e não como se estivesse tentando enganar alguém. Dean teve o mesmo pensamento, além do mais, em sua opinião, Lillian parecia frágil demais para ser uma bruxa.
– E agora o quê? – perguntou Dean olhando para o Sam
– Agora a gente a leva para o hospital e fala para o Cas que isso não deu em nada. Vamos ter que procurar por outras maneiras de parar a guerra.
– Maravilha! – a ironia do Dean não escondia sua irritação.
Sam não podia culpá-lo, afinal eles foram atraídos para duas armadilhas no mesmo dia. Ele só esperava que conseguissem encontrar uma saída para a guerra logo, antes que fosse tarde demais.
De repente, Cas apareceu no banco, ao lado de Lillian.
A garota quase pulou no colo de Sam, seus olhos ainda mais arregalados do que antes – que diabos...?
– Olá Dean – falou Cas, em seu usual tom de voz – Olá Sam
– Cas, nós já íamos te chamar – começou Dean – não achamos nenhuma bruxa, na verdade, estamos começando a achar que não existe bruxa alguma
– Não é possível. Tenho certeza de que ouvi os anjos comentando sobre a existência de uma arma celestial que pode acabar com a guerra e que a única pessoa que sabe da localização dessa arma é a bruxa – se Cas notou a impaciência do Dean, ele não deixou transparecer
Dean não estava com paciência para tentar convencer o Cas de que a informação estava errada – Então é melhor você nos dar a localização exata da bruxa, porque até agora temos nada.
– Quem é esta? – perguntou Cas, prestando atenção na garota ao seu lado
– Castiel, Lillian. Lillian, Castiel. – falou Sam. Ele estava começando a ficar um pouco preocupado com a garota, ela continuava a encarar o Cas assustada e parecia que ia sair gritando do carro a qualquer momento – nós encontramos ela na última casa que fomos, alguns demônios estavam esperando por nós lá.
Cas também encarava Lillian.
– Ela é diferente – disse ele, sem tirar os olhos dela
– Diferente como? – perguntou Sam, começando a achar que a garota não parecia mais tão inocente como antes
– Ela não tem um anjo da guarda.
– Anjo da guarda? – perguntou Dean, incrédulo – eles realmente existem?
– Sim. Cada ser humano possui um anjo da guarda designado a protegê-lo e toda alma carrega uma marca do anjo, mas esta garota não possui a marca – respondeu Cas
– E o que isso significa?
– Bem, em toda a minha existência eu conheci apenas uma pessoa sem a marca.
– E... – Dean estava ficando ainda mais impaciente
– E essa pessoa é o Sam.
Os irmãos se entreolharam por um momento.
– Ele tinha um anjo da guarda até os 6 meses – continuou Cas – mas ele foi morto por Azazel. Normalmente outro anjo seria designado ao Sam, mas o sangue de demônio fez com que a maior parte dos anjos deixassem de considerá-lo humano.
Sam sentiu um pouco de esperança ao ouvir aquilo. Diferentemente do Dean, ele acreditava que existia um bem maior lá fora. Saber que um anjo morreu tentando protegê-lo de Azazel lhe fez pensar que talvez nem todos os anjos fossem egoístas, que talvez alguns deles, assim como Cas, se importavam com a humanidade.
– Então essa garota tem sangue de demônio nela? – Dean estacionou na rua e virou-se para trás, dando total atenção ao Cas
– Não, e isso é o que é estranho – Cas parecia um pouco confuso
Os irmãos se entreolharam mais uma vez, nenhum deles estava gostando do rumo da conversa.
– E ela tem um feitiço nela – Cas continuou falando
– O quê? – por que ele não fala logo tudo de uma vez?, pensou Dean
– Estou tentando ler a mente dela, mas não consigo ter acesso a tudo. Uma parte de sua memória está bloqueada por um feitiço muito forte, não tenho como quebrá-lo.
Então os demônios estavam realmente atrás de algo, pensou Sam
– Então o quê? Ela é a bruxa e lançou um feitiço em si mesma para esquecer sobre a localização da arma? – parecia uma boa explicação para o Dean, afinal se ela não conseguisse se lembrar, ela não teria como divulgar as informações
Pela primeira vez desde que o Cas apareceu, Lillian se mexeu. Dessa vez ela encarou Dean, ainda sem falar nada.
– Não. Ela não é uma bruxa, alguém muito poderoso fez isso. Eu sentiria seu poder, se tivesse sido ela – Cas também parou de olhar para Lillian e passou a olhar para o Dean.
– Então alguma bruxa contou a ela a informação e colocou um feitiço para que ela esquecesse sobre isso? – nenhuma pessoa desconfiaria de que uma simples, e aparentemente frágil, garota como Lillian saberia como encontrar uma arma que poderia destruir céu e inferno, ideia inteligente, pensou Sam
– Provavelmente sim – respondeu Cas – os demônios estavam atrás dela e sabiam que vocês também iam atrás dela, então ela deve saber de alguma coisa
– É possível que o anjo dela tenha morrido tentando protegê-la da bruxa? – perguntou Sam
Lillian passou a olhar para ele.
– Sim, mas ainda assim, outro anjo deveria ter sido designado para protegê-la. Eu vou voltar para o Céu e ver se consigo encontrar alguma coisa sobre isso.
– Espe... – antes mesmo que Dean terminasse a palavra Cas já havia desaparecido – ótimo! – falou com ironia.
Lillian passou a olhar para onde Cas estava segundos atrás, boquiaberta.
– E agora o que fazemos? – perguntou Dean ao Sam
– Acho que devemos voltar para o bunker. Se alguém se preocupou em colocar um feitiço nela, ela com certeza deve ter alguma informação importante. Podemos tentar achar algum contrafeitiço nos livros dos Homens das Letras.
– Por mim tudo bem – Dean ligou o carro novamente e pegou o caminho para ir em direção ao bunker.
Sam colocou a mão no ombro de Lillian, que ainda olhava para o espaço vazio, a garota deu um leve pulo, como se tivesse esquecido que Sam estava ao seu lado.
– Está tudo bem, apenas respire fundo – Sam estava com medo que ela começasse a surtar, mas a garota fez o que ele pediu.
– O quê... como... eu... – ela não conseguia formular uma frase completa
– Nós vamos te levar para nossa casa, ok? Não se preocupe, vou te explicando tudo no caminho.
Lillian acenou com a cabeça.
Vai ser uma longa viagem, pensou Sam e começou a falar sobre os anjos, demônios e tudo de estranho que tinha acontecido na sua vida ultimamente.
