Cap 1 - Miguel

Uma claridade incômoda adentrou o quarto de Miguel, acordando-o e anunciando a manhã de seu 19° aniversário. Entre bocejos e gemidos, o garoto levantou de sua cama e foi até o banheiro lavar seu rosto, pensando ansiosamente sobre o dia que lhe aguardava. Enquanto mergulhava seu rosto na água fria, um turbilhão de pensamentos invadiu sua mente, trazendo expectativas e relutâncias em relação à nova etapa de sua vida que estava por vir.

19 anos... Os anos passam e trazem consigo um fardo de responsabilidades que serei obrigado a assumir. Meu avô já não tem mais tanta vitalidade como antes e já não pode fazer muito por nós... Cabe a mim agora cuidar dele e de minha jovem irmãzinha.

Miguel tinha uma pele parda, cabelos cacheados num tom castanho claro e olhos cor de mel; era alto e tinha um físico atlético graças a seu trabalho como ajudante na ferraria. Sempre fora simpático e disposto a ajudar todos que precisassem, fosse física ou emocionalmente. Era muito querido por todos em sua terra, Liad, e por alguns amigos em vilarejos vizinhos.

Liad era um pequeno vilarejo ao sul de Ilhael, um lugar calmo e pacífico sem nenhuma importância em especial para o Império. Todos se conheciam e desavenças eram muito esporádicas entre seus habitantes. O vilarejo possuía uma ferraria, na qual Miguel trabalhava como ajudante ao lado de Cheor, o mestre-ferreiro; um açougue, onde compravam carnes e outros mantimentos para suas famílias; uma taverna; uma costureira e um curandeiro.

Após ter terminado sua higiene pessoal, voltou ao seu quarto a fim de trocar suas roupas para então se juntar a sua família e fazer o desjejum. Abriu a janela e ficou admirando por alguns minutos o lindo roseiral de seu avô que ficava nos fundos de sua casa, perfumando o ar com um aroma agradável e inebriante.

Vestido, desceu até a cozinha e encontrou seu avô e sua irmã sentados à mesa, ambos com largos sorrisos estampados em seus rostos, contentes pelo 19° ano de sua vida.

- Parabéns meu adorado irmão! – Disse Sheyla, sua irmãzinha, correndo em sua direção e dando-lhe um abraço apertado.

- Obrigado Sheyla... – Respondeu meio sem jeito, enquanto afagava os cabelos da garotinha.

Sheyla tinha apenas cinco anos e suas feições eram muito parecidas com as de seu irmão. Assim como Miguel, estava sob os cuidados de seu avô desde o suicídio de sua mãe há dois anos atrás, quando soube que seu marido havia sido morto atacado por lobos em uma de suas caçadas. A idéia de que Sheyla jamais teria lembranças claras de seus pais atormentava Miguel a cada dia que passava, roubando-lhe algumas horas de sono durante a noite.

Seu avô Eliel tinha cabelos grisalhos e feições simpáticas. Apesar de ter setenta e seis anos, tinha um condicionamento físico invejável a muitos jovens e também era um ótimo contador de histórias. Não falava muito sobre seu passado e adorava cuidar de seu roseiral.

- Feliz aniversário Miguel – Eliel se levantou com um sorriso orgulhoso em seu rosto enquanto abraçava seu neto - Depois preciso falar com você...

Obrigado vovô. Tudo bem – Disse Miguel enquanto sentava-se na mesa e começava a comer um pedaço de pão com algumas fatias de queijo, pensando sobre que assuntos seu avô teria em mente.

Conversaram sobre algumas banalidades enquanto comiam e logo Miguel teve que sair para trabalhar. Apesar de ser seu aniversário, Cheod não havia lhe dado folga; muito pelo contrário, tudo indicava que possivelmente teria ainda mais trabalho do que habitualmente.

Aquele velho ganancioso poderia ter me dispensado por hoje...

No trajeto até a ferraria, várias pessoas abordaram-no enquanto caminhava; desejando-lhe parabéns e os mais sinceros votos de felicidade. Apesar de se sentir bem em saber que tantas pessoas se importavam e lembravam de seu aniversário, suas frases repetitivas estavam começando a irritá-lo.

- Bom dia, Cheod! – Disse ao entrar na ferraria

- Oh! Bom dia, aniversariante!– Respondeu Cheod, sorrindo de braços abertos, aproximando-se do jovem para dar-lhe um abraço – Espero que você encontre a felicidade em seu caminho.

- Tenho certeza de que sim! Obrigado por seus votos; sinto-me honrado.

Trocaram sorrisos por um instante e logo Miguel vestiu seu macacão surrado que usava para trabalhar e começou a ajudar Cheod, aprendendo mais sobre a arte da forja enquanto minutos tornavam-se horas; e logo meia tarde se passou sem que Miguel sequer tivera a oportunidade de almoçar, alimentando-se apenas com um pedaço de pão seco que lhe foi oferecido.

Um pouco antes do sol se pôr, um garotinho apareceu na ferraria e cochichou algo no ouvido de Cheod, que sorriu e balançou sua cabeça afirmativamente.

- Enfim terminamos por hoje, Miguel!

- Jura? – Respondeu Miguel suspirando de alívio

- Sim, pode ir para sua casa agora

- Graças a Deus...

Trocou de roupa e saiu correndo da ferraria, ansioso por uma refeição decente quando chegasse em casa. Ao se aproximar de sua casa viu um aglomerado de pessoas em frente à porta, ambas com sorrisos em seus rostos e algumas com alguns objetos em suas mãos, o que Miguel supôs serem seus presentes, uma visão agradável que lhe arrancou um sorriso, lembrando-lhe dos privilégios de ser um aniversariante.

- Então foi por causa disso que trabalhei como um condenado na tarde de hoje...

Todos riram e gritaram em uníssono:

- Feliz aniversário Miguel! – Recomeçando assim o festival de abraços e votos repetitivos.

Após abraçar e agradecer á todos pelos presentes, viu que Monique esperava pacientemente um pouco mais ao lado, fitando-o com um lindo sorriso em seu rosto. Quando percebeu que enfim Miguel estava livre, se aproximou sorridente e disse:

- Agora é a minha vez?

- Claro Monique – Miguel estava visivelmente empolgado com a presença da garota, admirando cada traço de seu rosto angelical.

- Então, - Pulou em sua direção, abraçando-o forte enquanto ele lhe girava no ar – Feliz aniversário!

O jovem ficou rubro quando recebeu um beijo em seu rosto, seguido de um sorriso inocente junto de um olhar amigável.

Monique tinha dezesseis anos, pele morena, cabelos compridos em cachos cor de amêndoas; olhos verdes e lábios castanhos; tudo isso somado a seu corpo generosamente proporcional e seu jeito meigo e inocente de ser, arrancavam suspiros de desejo em quase todos os homens de Liad.

Ela considerava Miguel como um irmão, confidenciando-lhe todos os seus segredos, medos, angústias e alegrias. Saiam juntos e gastavam horas conversando sobre tudo; desde discussões filosóficas sobre temas polêmicos até as piores banalidades, condenadas até mesmo pelo mais baixo povão. Não tinham segredos um com o outro, exceto a paixão que Miguel nutria secretamente por medo de sua reação caso soubesse quais eram seus verdadeiros sentimentos.

- Obrigado Monique! – Sorrisos involuntários saiam de seus lábios de maneira desordenada, fazendo-o parecer um pouco bobo e arrancando leves risinhos da garota.

- Ah, aqui está seu presente... – Disse Monique estendendo os braços oferecendo-lhe uma linda camisa, feita em um tecido nobre e que provavelmente fora o resultado de alguns meses de economias para Monique.

- É linda!!! – Abraçou forte a amiga – Muito obrigado Monique, não esperaria menos de você.

Miguel viu Cheod caminhando apressado para não perder a festa, pois havia trocado de roupas e fechado a ferraria e conseqüentemente, acabou se atrasando para a comemoração. Em suas mãos carregava uma linda faca de caça, com uma bainha dourada e um"M" gravado em seu punhal. Só de olhar percebeu que era feita de um metal muito resistente e fora fabricada com uma qualidade invejável.

- Cheod, eu...

- Este é o meu presente para você, foi duro trabalhar nela portanto faça um bom uso.

Cheod entregou-lhe a faca, sorrindo.

- Eu nem sei o que dizer... é muito mais do que eu poderia imaginar

- A alegria estampada em seu rosto já me faz satisfeito. Tenho certeza de que um dia será capaz de fabricar coisas ainda melhores do que esta.

- Obrigado mestre – Curvou a cabeça diante de Cheod

- Acredite, você merece – Cheod virou as costas e saiu, para conversar com alguns e amigos deixando Miguel sozinho.

Eliel estava sentado em um banco feito de madeira com uma expressão levemente preocupada em seu rosto, o que fez com que Miguel lembrasse que precisava ter uma conversa com seu avô. Sentou ao seu lado, lhe entregando uma taça de vinho.

- Obrigado Miguel – Sorriu, pegando a taça em sua mão e dando um pequeno gole, tragando o vinho vagarosamente, degustando-o gota por gota – Aqui está meu presente, talvez não seja tão lindo quanto a faca que Cheod lhe deu, mas com certeza terá maior utilidade.

O avô enfiou a mão em seu bolso e tirou um saquinho de couro, recheado de moedas de ouro.

- Uau, hoje os presentes estão rendendo – Ambos riram enquanto Miguel pesava o saco com sua mão – É uma grande quantia!

- Venho fazendo minhas economias à algum tempo...

- Obrigado vovô, você já fez muito por nós.

- Nada mais do que minha vontade e obrigação.

Ambos ficaram entrelaçados em um abraço emocionado por alguns minutos e logo ouviram forte estrondo e saíram correndo para fora da casa. O vilarejo inteiro assistia horrorizado enquanto suas casas irrompiam em chamas.

- ÁGUA! RÁPIDO, APAGUEM ESSE INCÊNDIO! – Gritava alguém desesperado em meio á multidão.

Logo bolas de fogo começaram a cair dos céus atingindo alguns moradores, matando-os instantaneamente. O pavor aumentava a cada segundo, crianças e mulheres choravam desesperadas, enquanto os homens tentavam acabar com o incêndio antes que fosse tarde demais.

- Olha mãe! Olha! Olha! – Uma criança apontava apavorada para um homem montado em um cavalo negro, que olhava para a cidade sob um dos montes que lhe cercava, assistindo-a arder e ocasionalmente direcionando algumas bolas de fogo sobre os moradores.

Todos se viraram para o estranho rogando-lhe as piores pragas que conheciam, e alguns mais corajosos marchavam inutilmente em sua direção, quando foram atingidos por bolas flamejantes que carbonizaram seus corpos imediatamente. Quando Miguel percebeu, estava abraçado à Monique de maneira protetora, iludindo a si mesmo; querendo acreditar que de alguma maneira seria capaz de protege-la de tudo que acontecia a sua volta. . Uma estranha sensação de orgulho por ser digno de tamanha confiança encheu-lhe o peito

Os olhos do estranho percorreram o vilarejo, buscando sobreviventes a fim de eliminá-los. De repente seus olhos fitaram uma linda garota negra, com olhos medrosos e uma fragilidade aparente, despertando em seu interior, sentimentos estranhos que jamais havia experimentado. Compadecimento e desejo carnal se mesclavam e instalavam-se em seu peito, fazendo-o se sentir levemente desconfortável.

Ela não poderia morrer ali. Ergueu sua mão e onda de energia percorreu o que antes havia sido Liad, extinguindo todo o fogo que consumira o vilarejo. Ela estava salva. Após conferir o resultado, o estranho voltou-se para o horizonte e saiu cavalgando rapidamente em seu corcel negro.

Monique e Miguel olharam em volta, surpresos pelo fato de ainda estarem vivos; logo toda sua surpresa transformou-se em lágrimas, ódio e melancolia. Todos seus amigos e parentes estavam mortos, seus corpos inertes entre os destroços e casas queimadas, exalavam um odor enjoativo no ar.

Sheyla!

Miguel largou Monique e saiu correndo na direção de onde antes estava sua casa, e sentiu sua alma se despedaçar quando se deparou com seu avô e sua irmã mortos; soterrados por destroços onde antes estava o roseiral. Caiu de joelhos, tentando negar a triste realidade enquanto lágrimas fluíam infinitamente de seus olhos.

- SHEYLA… VOVÔ… POR QUÊ?... POR QUÊ?... – Palavras claras já não saiam mais de sua boca, apenas gemidos e soluços demonstrando assim toda a sua dor.

Uma cena parecida se passava um pouco mais ao lado, onde Monique chorava diante dos corpos de seus pais.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Aew gente \o/ espero que tenham gostado do primeiro capítulo... mas não pensem que estou satisfeito!! prometo que os próximos serão muito melhores!! Pelo menos eu espero que sejam... hahauhauhauhauha

Críticas e sugestões serão bem-vindas, mandem reviews e me ajudem a construir essa história.

Agradecimentos especias para meus fiéis revisores, que com suas idéias e conhecimentos da lingua portuguesa, fizeram meu texto ficar um pouco mais "legível":

Bruno, Calza, Lucas, Momiji, Leti, Beta, Vero², João, Júlio e Mariazinha \o/

Valeu³ pela força ;)

Até o próximo capítulo!!