-Mas é aniversário do Milo, ele insistiu para que fosse lá.
-Em uma boate de striptease? Tem certeza que ele tem vinte e sete anos...? Parece um garoto de dez que não vê a hora de chegar aos dezoito.
-Nós vamos, senão ele não vai parar de jogar na nossa cara que não fomos.
o-o-o
-Para um aniversariante, você está bem exigente...
-Quero que os meus amigos se divirtam. – O loiro se ajeitava em uma mesa, próxima à pista das dançarinas. Puxava consigo alguns dos amigos mais próximos, Aiolia e Aiolos.
-Estou desconcertado... – O leonino gemeu, depois percebeu algumas notas de dinheiro em seu colo. –Para quê isso?
-Você acha que vai ficar só olhando ela? – Milo se referiu a dançarina que já estava no palco, ainda vestida – minimamente.
-Milo, não quero o Aiolia fazendo isso. – Foi discreto ao lhe chamar a atenção.
-Ótimo. Você faz.
-Aiolos não é disso. – O mais novo resmungou, mas foi ignorado pelo escorpiano. Atencioso, Milo, mesmo se referindo aos irmãos ali, observava alguns de seus outros amigos se ajeitando na boate.
-Ela não está com frio?
A risada que seguiu a indagação foi gostosa e divertida. –Saga, só você para falar isso. – Kanon se perdia em ver o irmão curioso ao olhar as dançarinas ao palco, uma delas, vestia uma calcinha quase imperceptível. Achava o mais velho fofo em suas ações tímidas em um lugar regado a erotismo.
-Saga, Kanon. – Milo chamou a atenção de ambos, praticamente atrás dos três loiros.
-Hum?
-Não vão ficar só olhando. – Saga não entendeu a resposta, Kanon, suspirou incomodado.
Ambos viram o amigo se levantar após pedir licença aos dois que lhe acompanhavam. Os gêmeos aguardavam uma resposta, quando o aniversariante pediu que também aguardassem.
Afastou-se e foi de encontro à duas dançarinas que caminhavam pelo salão. Os geminianos o viram conversar com as duas, e então se entreolharam.
Após a conversa, o anfitrião exibia um sorriso, e no intervalo de se afastar de ambas e voltar aos amigos, viu um rapaz ruivo sentado sozinho em uma mesa, afastada da pista e da excitação masculina em volta do palco. Ele recebeu a visita de uma garçonete, em poucos trajes, burlescos, que lhe serviu um drink.
Milo corou ao perceber que o tal ruivo percebeu que era observado de forma minuciosa. E o escorpiano nada discreto se virou, dando de cara com Kanon.
-Ah! Ahn. Então. – Continuou, desconcertado. Mas ainda se atreveu a olhar para trás. O ruivo desconhecido não lhe olhava mais. Frustrou-se, já que gostava de ser notado. –Sou aniversariante, mas vocês que ganham os presentes. – As dançarinas surgiram uma de cada lado do loiro. –Elas vão dançar para vocês.
Saga ergueu uma sobrancelha, Kanon tomou o conteúdo de um drink – que pertencia à Aiolia – em um gole só, chegando a tossir de surpresa.
-Elas são tão bonitas, mas não dessa vez. – A resposta soou tímida e educada do gêmeo mais velho.
-Milo... – Foi a recusa do mais novo.
-Por favor. Elas não mordem. – Uma das meninas riu.
-Se recursarmos, você vai nos atormentar até o dia em que morrermos.
-Vocês me conhecem mesmo. – Milo deixou os dois resmungarem, para poder observar o belo ruivo desacompanhado, mas para a sua frustração, Aiolos lhe chamou a atenção.
As duas, notando que "sim" era a única resposta válida ali, tomaram à frente dos gêmeos. Cada uma tocou sutilmente no braço de cada um deles, apenas para indicarem o caminho que eles deveriam tomar.
Saga e sua acompanhante estavam à frente dos outros dois. O mais novo exibia uma expressão mal-humorada.
Kanon havia ido há poucos anos em uma boate como aquela. Mais jovem, era mais travesso, embora não necessariamente um homem liberal quando o assunto era sexo. Havia tido relacionamentos curtos, satisfatórios aos seus desejos. Era assim que gostava e preferia e não se abria com muitos. Milo, apesar de um grande amigo, não o conhecia assim tão bem.
Mas os meses foram se passando, e os sentimentos do geminiano mais novo, deram uma volta completa, entrando em um patamar que ele desconhecia e não esperava, pois passou a olhar Saga de outra maneira. A forma como o olhava nos olhos já havia intensidade; quando o via se trocar, já dava mais atenção ao físico dele como fazia com ex-companheiros.
Não sabia exatamente o que era. Ou talvez soubesse, mas não podia admitir, afinal, ele era seu irmão, sangue de seu sangue e era estranho. Errado, não seria. Percebia que algumas sensações se assemelhavam a uma paixão. E isso não tinha porque ser errado.
Em sua cabeça, jamais admitiria tudo o que sentia, ou pensava sentir, para o mais velho. Acreditava que em alguns momentos, Saga lhe olhava da mesma forma, pensava que nesses momentos, existiam sentimentos recíprocos. Porém, achava que era melhor não ter certeza.
Várias semanas depois desses conflitos internos, e muitas indagações de Saga ao estranhar certo afastamento do mais novo, um conhecido de Kanon fez uma reunião. O mais novo aceitou o convite e foi acompanhado de seu gêmeo e nenhum dos dois deixou de se divertir naquela noite.
Depois, dispostos a descansarem um pouco da festa, dirigiram-se ao jardim da casa, curtir a noite, em um breve passeio. Em meio às divertidas conversas que os gêmeos sempre tinham, um momento inesperado ocorreu.
Saga roubou um beijo na boca do irmão mais novo. Kanon, jamais esqueceu.
o-o-o
As salas reservadas para as dançarinas e seus convidados não se distanciava tanto do salão. Atrás de uma cortina, nas cores da boate – preto e vermelho – seguia-se uma escada de poucos degraus, e então um longo corredor com salas dispostas. Também com suas entradas acortinadas.
Kanon foi capaz de cogitar à sua acompanhante se poderia ter a dança na mesma sala do irmão. Teve uma negação, e em seu âmago, o ciúme tornou a bater.
Antes de separarem-se, Saga virou seu rosto para olhar o irmão. O outro leu a expressão dele. Estava incomodado, simplesmente não era alguém que gostava de frequentar boates, e ainda mais que isso, não gostava de ser separado de Kanon. Principalmente porque seus sentimentos fraternais se misturavam à amorosos, isso, compreendia e não negava ao seu próprio coração.
Apenas desejava outro beijo daquele no dia da festa.
Saga também sentia o ciúme arder dentro de si quando entrou sozinho com a sua acompanhante não desejada. E não evitou pensar no que poderia ocorrer na sala do irmão.
-Sente-se... – Pediu a ruiva, em toda a sua sensualidade. Saga sentou, e frustrou-se mais uma vez, de onde estava não via Kanon. Seu olhar fitava algum ponto, perdido, demorou a olhar para a dançarina à sua frente, vestida em lingerie.
Apesar do desconforto do momento, Kanon se sentiu em alívio. De sua poltrona, podia ver Saga e a acompanhante dele. Sentiu-se meramente satisfeito, pois mesmo que ela estivesse em poucos trajes, ainda estava vestida.
O mais novo saiu de sua atenção quando viu algo cair em sua coxa – O fino sutiã rosa e rendado de sua acompanhante. O moreno se desconcertou quando ergueu o olhar e a viu parcialmente despida.
Depois, tornou a olhar a peça íntima em sua perna. Olhou com certo nojo, e remexeu sua perna, fazendo a peça cair. A loira à sua frente acreditou que fosse um flerte e sorriu.
Kanon não ligava para a garota à sua frente. Seu olhar ficou fixo no irmão. E mais uma vez, lia o olhar dele, 'socorro'.
Um suspiro. Naquele momento, com um misto de seu ciúme, se arrependeu de não ter roubado outro beijo de Kanon antes de sair de casa...
