CAPÍTULO UM

Apenas ela serviria.

Príncipe Edward Antony Mansen Cullen de Glendovia observou a linda mulher de cabelos castanhos à distância. Media e encantadora, com um corpo perfeito em formato de violão, ela possuía cabelos castanhos sedosos e brilhantes que caíam como uma cortina lisa até abaixo dos ombros. Ele estava muito longe para ver a cor dos olhos ou o formato exato dos lábios, mas confiava em seu instinto, que lhe dizia que ambos seriam tão atraentes quanto o resto dela.

Inclinando a cabeça em direção ao homem alto de terno ao seu lado, disse num tom baixo de voz:

— Descubra o nome dela.

Seu guarda-costas seguiu a direção de seu olhar, então assentiu com um breve aceno de cabeça antes de se afastar para cumprir a ordem. Edward não precisava perguntar de que maneira Osric conseguiria a informação, nem tampouco se importava.

Alguns minutos depois, o guarda-costas retornou, parando ereto e em silêncio ao lado de Nicolas.

— O nome dela é Isabella Swan, Sua Alteza — disse após um breve momento. — Ela está no comando da organização do evento desta noite.

Isabella. Um lindo nome para uma linda mulher.

Ela se movia ao redor do grande salão de baile repleto de pessoas, sorrindo, conversando graciosamente com os convidados, certificando-se de que tudo estava correndo bem. O vestido de tonalidade púrpura azulada cintilava na leve iluminação cada vez que ela se movia, se aderia às suas curvas femininas como uma luva.

Edward não tinha ido àquele jantar beneficente, cujo objetivo era arrecadar fundos, na esperança de encontrar uma amante, mas agora que a vira, sabia que não deixaria os Estados Unidos sem fazer arranjos para que Isabella se tornasse sua próxima amante.

Era verdade que ele era o membro da família responsável por fiscalizar as instituições de caridade de Glendovia, mas suas tarefas não se estendiam ao ponto de participar de eventos de caridade fora de seu próprio país. Isso, geralmente deixava para sua irmã, ou para um de seus dois irmãos.

Todavia, apesar de sua irmã, Alice, ter sido escalada para viajar aos Estados Unidos e participar daquele jantar, a fim de levantar fundos para sua nova ala infantil no hospital central do Texas, um imprevisto a obrigara a cancelar no último minuto. Uma vez que Edward iria ao país para encontrar homens ricos e poderosos que lidavam com petróleo, a fim de discutir combustível para o seu país, decidira ir ao evento.

Até poucos momentos atrás, havia lamentado a interrupção de sua própria vida pessoal e de seus planos, e praticamente amaldiçoado sua irmã por ser a causa disso. Agora, contudo, estava considerando mandar um buquê de flores para Alice, ou talvez uma caixa de suas trufas favoritas. Queria agradecê-la por tê-lo colocado em um caminho que poderia se transformar numa experiência extremamente prazerosa.

Sorrindo tão brilhantemente que os músculos de seu rosto chegavam a doer, Bella Swan se moveu ao redor do salão, verificando se tudo estava correndo bem e com tranqüilidade. Ela trabalhava na organização daquele jantar de gala há meses, na esperança tanto de levantar fundos quanto despertar a consciência de pessoas em relação à nova ala infantil do hospital.

Infelizmente, as coisas não estavam indo tão bem quanto tinha esperado, e Bella sabia que podia culpar somente a si mesma.

Todos no salão pareciam estar observando-a. Ela podia ver a curiosidade deles. Sentir a reprovação nos olhos das pessoas.

Tudo porque tivera a terrível falta de sorte de ter se envolvido com o homem errado.

De todas as coisas que poderiam ter acontecido para diminuir o sucesso do evento da noite, aquela era a pior. Uma tempestade, uma inundação repentina e violenta, até mesmo um súbito incêndio no hotel...

Aqueles todos eram desastres com os quais poderia ter lidado, contornando-os de alguma forma. Eles não teriam causado nenhum tipo de dano irreparável no sucesso do evento em si. Mas em vez disso, estava sendo atacada pessoalmente, tendo sua reputação manchada.

Isso lhe servia de lição, por um dia ter se envolvido com James, em primeiro lugar. Deveria ter sabido, no minuto que o conheceu, que ele não lhe traria nada além de sérios problemas.

E agora todos naquele salão... Todos em Gabriel's Crossing, o grande estado do Texas, e possivelmente todos nos Estados Unidos... A consideravam uma pessoa adúltera que destruía lares.

Isso era o que as colunas de fofoca dos jornais diziam ao seu respeito. Sua fotografia, juntamente com a de James, e outra foto da esposa dele com dois filhos, haviam sido colocadas em todos os jornais, com manchetes chamativas e caluniadoras.

Ignorando os olhares e sussurros que sabia serem dirigidos para si, Bella levantou a cabeça de forma orgulhosa e continuou andando ao longo do salão de baile, agindo como se nada estivesse errado. Como se seu coração não estivesse disparado, suas faces não estivessem vermelhas pela humilhação, e suas mãos não estivessem transpirando devido à ansiedade.

Nada do que havia acontecido durante a semana, desde que sua história com James viera à tona, a levara a acreditar que aquele jantar para arrecadação de fundos ainda não seria um sucesso total. Nenhuma das pessoas convidadas havia cancelado, com desculpas ou justificando por que não poderiam comparecer. Ninguém da sociedade beneficente do hospital ligara para reclamar sobre o escândalo no qual Bella subitamente havia se encontrado envolvida, ou para vociferar preocupações sobre o nome dela estar ligado à organização.

Tais fatos a fizeram acreditar que tudo daria certo. Que, embora os repórteres estivessem acampados no gramado da frente de sua casa, o resto de sua vida continuaria a correr tranqüilamente.

Agora, todavia, não estava mais tão certa disso. Agora, pensou que, talvez, cada assento naquele salão estava preenchido porque as pessoas da alta sociedade do Texas queriam olhar de perto quem tão recentemente havia perdido a popularidade.

Ela poderia também ter uma melancia pendurada no pescoço ou um pedaço de espinafre preso nos dentes, por toda a atenção focada em cada movimento seu.

Com a atenção... Mesmo atenção negativa... Podia lidar, pensou. O que a preocupava mais do que olhares indiscretos e sussurros maldosos era o impacto que sua reputação recentemente manchada poderia ter sobre a quantidade de dinheiro coletado naquela noite.

Ela havia trabalhado tão arduamente para organizar aquele evento, para fazê-lo acontecer. Bella era muito apaixonada por seus ideais filantrópicos, dando a eles tanto seu tempo quanto seu próprio dinheiro para apoiar as causas sobre as quais possuía sentimentos mais fortes. E sempre fora bem-sucedida em convencer outras pessoas a doarem para tais causas, também.

No geral, àquela altura da noite, ela já teria coletado, pelo menos, uma dúzia de cheques extremamente generosos da maioria dos convidados presentes, com a perspectiva de diversos outros que surgiriam até o fim da noite. Esta noite, todavia, suas mãos... E os cofres do hospital... Ainda estavam vazios.

Porque tivera a infelicidade de conhecer aquele homem em outro evento para levantamento de fundos no ano anterior, e, por não ter sido sábia o bastante para dispensá-lo quando ele começara a convidá-la para sair, as pessoas mais necessitadas poderiam muito bem acabar sem uma ajuda.

A perspectiva entristecia o coração de Bella, e ela pressionou uma das mãos no espartilho de seda macia costurado no forro de seu vestido, numa tentativa de controlar seu nervosismo e o medo que fazia seu estômago queimar.

Agiria como se nada estivesse errado, como se nada de diferente estivesse acontecendo... E rezaria fervorosamente para que a multidão superasse sua curiosidade e se lembrasse de seu verdadeiro propósito de estar ali antes que a noite terminasse. Caso contrário, tinha uma forte suspeita que sua conta bancária pessoal sofreria um golpe duro quando ela tentasse, sem ajuda de ninguém, compensar pelo que o fundo para a ala infantil do hospital deveria ter obtido naquela noite. E provavelmente, teria levantado uma boa quantia, se não fosse por sua falta de sorte e por algumas das decisões mal tomadas recentemente.

Uma vez que ela repetiu o ciclo através da multidão para se certificar que todos os assentos estavam preenchidos, todos os convidados servidos, e tudo funcionando o mais tranqüilamente possível, voltou para seu próprio lugar na frente do salão, onde um palco alto fora armado para os organizadores do evento. Conversou banalidades com as duas mulheres que estavam de cada lado seu e se forçou há comer um pouco, mal sentindo o sabor dos alimentos.

Logo em seguida, foi o momento do discurso do presidente da organização, e houve uma breve cerimônia, onde plaquetas foram dadas para diversos membros que haviam se dedicado com empenho e generosidade à organização durante o ano anterior. Até mesmo Bella recebeu uma plaqueta, por sua dedicação persistente em angariar fundos para o hospital.

Finalmente, a noite acabou, e ela deu um longo suspiro de alívio. Estava agora segurando uma boa quantidade de cheques generosos e recebera promessas de mais doações. Não tantos cheques ou tantas promessas quanto coletara no passado, e definitivamente notara uma diferença distinta na maneira que as pessoas a haviam tratado naquela noite. Mas pelo menos, a situação parecia um pouco mais promissora do que quando a noite começara.

Bella deu uma última volta no salão, despedindo-se dos convidados com sorrisos e acenos da cabeça enquanto eles saíam, aos poucos, do salão de baile, e garantindo que ninguém deixasse nada para trás antes que os funcionários do hotel começassem a limpeza.

Apanhando o xale e sua pequena bolsa de contas de sua cadeira, pegou-se pensando sobre o que precisava fazer no dia seguinte... Pensamentos que foram interrompidos quando ouviu uma voz masculina e baixa chamar seu nome.

— Srta. Swan?

Virando-se, encontrou-se diante de um homem enorme, de ombros muito largos e cabelos escuros.

Bella engoliu em seco uma vez, antes de colocar um sorriso no rosto e levantar a cabeça... Levantar muito a cabeça... Para encontrar os olhos dele.

— Sim?

— Se tiver um minuto, meu empregador gostaria de lhe falar.

Ele inclinou a cabeça com seriedade, atraindo a atenção de Bella para o fundo do salão, onde um cavalheiro solitário estava sentado em uma das mesas redondas, agora vazia.

Pelo que ela podia ver daquela distância, ele parecia muito bonito.

E a olhava intensamente, também.

— Seu empregador? — perguntou Bella.

— Sim, senhorita.

Era muito esperar mais informações sobre quem seria exatamente o empregador do homem gigante.

Mas se ele havia comparecido ao jantar daquela noite, então era provavelmente um doador atual ou, pelo menos, em potencial e Bella sempre tinha tempo para falar com um filantropo. Especialmente um que tinha condições financeiras para contratar seu próprio guarda-costas, ou agente da CIA, ou um pugilista profissional...

— É claro — disse ela, mantendo um sorriso no rosto, com atitude alegre e otimista.

Virando-se de lado, o gigante gesticulou com a cabeça para que ela se seguisse na frente, e então a escoltou enquanto atravessavam o salão agora quase vazio. Ao redor deles, havia o barulho de pratos tinindo e de cadeiras sendo empilhadas, enquanto o pessoal de limpeza e da cozinha trabalhava para desmontar o que havia levado o dia inteiro para montar.

Enquanto Bella se aproximava do homem que queria lhe falar, ele ergueu uma taça de champanhe e deu um longo gole.

Ele usava um terno impecável cinza, com um corte diferente do que a maioria dos homens que ela vira durante a noite. Definitivamente, não pertencia àquela região.

Ela também notou que sua percepção anterior de ele ser muito bonito não era exatamente adequada. Ele era maravilhoso, parecia um ator de cinema, com cabelos acobreados e brilhantes olhos verdes que pareciam penetrá-la como raios laser.

Estendendo uma das mãos, ela se apresentou:

— Olá, sou Bella Swan.

— Eu sei — replicou ele, lhe pegando a mão e recusando-se a soltá-la enquanto a conduzia gentilmente para frente. — Sente-se, por favor.

Deixando seu xale cair mais para baixo nas costas nuas, Bella se sentou na cadeira ao lado dele.

— Seu... Empregado disse que você queria falar comigo.

— Sim — respondeu ele vagarosamente. — Posso lhe oferecer uma taça de champanhe?

Bella abriu a boca para recusar, mas o guarda-costas enorme já estava servindo uma taça e colocando na frente dela.

— Obrigada.

Embora os dois estivessem com drinques agora, e o evento da noite tivesse claramente terminado, o homem sentado ao seu lado não falava nada. O silêncio fez Bella mudar de posição desconfortavelmente, assim como fez os pêlos de seus braços se arrepiarem.

— Sobre o que precisava falar comigo, senhor... — ela finalmente pressionou cuidadosa para continuar mantendo os bons modos.

— Você pode me chamar de Edward — replicou ele friamente.

A voz dele carregava um sotaque leve. Talvez o ritmo um pouco cantado dos britânicos, mas Bella não podia ter certeza.

— Edward — repetiu ela, porque ele parecia esperar por isso. Então continuou em suas tentativas para chegar à razão pela qual ele queria lhe falar.

— Você estava interessado em fazer uma doação para o fundo em benefício da nova ala do hospital e das crianças com câncer? — perguntou ela diretamente. — Se for isso, ficarei feliz em aceitar o cheque esta noite. Ou, se preferir, eu posso colocá-lo em contato com alguém da organização, para que fale com eles e faça sua contribuição pessoalmente.

Por um momento depois que Bella terminou, ele simplesmente continuou estudando-a, os olhos azuis da cor do céu intensos e dominantes.

Após tomar outro gole do champanhe caro, ele murmurou devagar:

— Eu ficaria feliz em contribuir para sua pequena... Causa. Todavia, não foi por isso que a convidei para vir até aqui.

Os olhos de Bella se arregalaram um pouco com aquilo, mas ela fez o possível para esconder sua consternação.

— Estou hospedado em uma suíte aqui neste hotel — ele a informou. — Eu gostaria que você voltasse para lá comigo, e passasse o resto da noite em minha cama. Se as coisas derem certas e nós formos... Compatíveis, talvez então possamos discutir arranjos futuros.

Bella piscou, mas, além disso, parecia ter congelado seu corpo inteiro tenso e imóvel. Não ficaria mais perplexa se ele erguesse uma das mãos para bater em seu rosto.

Ela não sabia o que dizer. Não sabia o que deveria dizer.

Essa certamente não era a primeira vez que havia sido assediada. Jovens ou velhos, ricos ou pobres, homens sempre se sentiam atraídos por ela, e Bella recebia um número de convites maior do que o normal para jantar, para o teatro, até mesmo para encontros românticos e esconderijos em ilhas privadas.

E, sim, estava consciente de que cada um desses homens tinha esperança de que jantares, teatros e reservas tropicais os ajudariam a seduzi-la para sua cama.

Mas nunca, jamais... Nenhum deles fora tão ousado, tão precipitado ou tão direto para lhe pedir que dormisse com eles.

Aquilo era tudo por causa do escândalo, percebeu Bella de súbito, endireitando a coluna imediatamente numa postura de defesa contra tamanha ofensa. Os malditos artigos dos jornais a tinham rotulado como uma destruidora imoral de lares. E aquele homem ao seu lado, com certeza, ficara sabendo disso e decidira que ela não se oporia a uma proposta indecente.

Bem, Bella se opunha, total e completamente. Sentia-se desgostosa e muito insultada.

Afastando a cadeira para trás, levantou-se, ajeitou o xale sobre as costas e braços e comprimiu os dedos em sua pequena bolsa. Concentrando-se na respiração, ficou parada em uma postura perfeitamente rígida, encarando-o.

— Não sei que tipo de mulher você pensa que sou. Mas posso lhe garantir que não sou do tipo que vai para cama com um homem que acabou de conhecer. — Ela deu um rápido olhar para o gigante parado numa espécie de posição militar a poucos metros de distância. — Talvez o seu guarda-costas possa encontrar alguém um pouco mais disposta e mais liberal, e muito menos crítica para acompanhá-lo ao seu quarto esta noite. Isto é, se você for totalmente incapaz de encontrá-la por si mesmo.

Com isso, Bella se virou e atravessou o salão de baile em direção ao elevador.

Quem aquele homem pensava que era, afinal de contas?