Mono gia sena

(Somente por você)

By Theka Tsukishiro

Disclaimer: Saint Seiya não me pertence... Pertence sim ao tio Kurumada e etc, etc e etceteraetal. Se você não gosta de Yaoi e Lemon (cenas de sexo entre homens) não comece a ler essa fic. Pode fechar ali em cima no xizinho, ou mesmo clicar em voltar em seu navegador, pois não vou aceitar nenhum tipo de reclamação ou comentário maldoso. Ler é por sua conta e risco. Essa fic é sem fins lucrativos, apenas para diversão minha e de quem ler.

Explicações e Lembretes: A ideia de utilizar o sobrenome Moyano para El Cid e Shura, Charisteas para Saga e Kanon, bem como nomear Manigoldo como Gianluigi de Manigoldo foi minha. Plágios serão punidos com um belo Execução Aurora no meio das fuças. Se quiser usar, peça, por favor. O ato em si não faz cair à mão e muito menos nascer uma verruga na ponta do nariz. XP

Essa fic é uma side history de minha fic Eternal Flame, semelhanças não serão meras coincidências.

Agradecimentos: A minha amiga e beta Nana Pizani que aturou um pouco das minhas loucuras e me ajudou com a fic. Também a Sini Negra por ter ajudado a descobrir um caminho para essa side history. Também não posso esquecer da minha irmã, Tay-chan, que aturou minhas neuras como sempre. Valeu moçada. Amodoro todas vocês!!

Presente de Aniversário para Shiryuforever94.

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Capítulo I

Tomando decisões

La Plaza de Toro – Festival de San Isidro

Madrid – Espanha – Junho de 1918

O barulho ensurdecedor da platéia ensandecida poderia deixar qualquer novato que estivesse esperando por sua vez para entrar em la Plaza dos Toros muito nervoso. Não era o caso dele. Ali estava El Grand Matador.

Sentado em canto da sala, o moreno alto de cabelos arrepiados trajando a linda goyesca negra com fios dourados trabalhada e bordada, a camisa branca de babados e a faixa vermelha vivo na cintura, destacava-se dentre todos os outros homens que corriam de um lado para o outro em alvoroçada excitação. Seu traje de luces era um dos mais bonitos daquele entardecer.

Bastava que terminasse bem naquela peleja e seria ovacionado o melhor dos melhores por mais um ano. Estreitou seus olhos. Checou novamente tudo o que precisava para levar à arena. Tudo estava em seu devido lugar graças a seu fiel ajudante. Suspirou. Aquele mundo já não lhe interessava tanto. Estava perdendo o brilho. Não sentia mais vontade de entrar em la Plaza a fim de tirar a vida de um animal que lutava para manter-se vivo.

Naquele dia mais cedo, havia ferido, mesmo que de raspão, seu fiel e garboso cavalo andaluz. – "De nada adiantou todo o esforço que fiz, do mesmo modo acabei deixando que Amarante fosse ferido... Fora de raspão, mas ainda estou muito furioso. Maldito banderillero!" – Pensou ao lembrar-se. Auxiliara um toureiro novato sendo um de seus banderilleros ajudando a fincar lanças no lombo do touro. Entre os tantos banderilleros, deveria haver um inexperiente, pois o fechara. Amarante nunca havia assustado, mas naquele dia aconteceu.

Mesmo tratando o bonito animal de crina longa e tão cinza quanto o mais denso nevoeiro, uma marca talvez maculasse sua anca. Bufou. Precisava concentrar-se, pois havia chegado sua vez. Pegou o capote, capa vermelha de forro amarelo usado para chamar a atenção do bicho na arena, e girou-o de um lado para o outro. O tecido fez um leve barulho.

As cornetas soaram lá fora indicando que o novato havia terminado sua tourada. Seguiu até um local privilegiado e viu-o sair meio entristecido. Arqueou a sobrancelha e somente ai percebeu o que havia acontecido, o touro mostrara garra em la Plaza e o povo não deixou que o mesmo fosse morto. Estes preferiram que o animal fosse indultado. Poucos eram os touros que conseguiam o perdão e não eram exterminados. Salvam-se apenas aqueles que demonstram valor e bravura na arena. Ele tinha um boi assim, o mesmo levava sua alcunha... El Matador!

Sorrindo de lado, o homem experiente voltou-se para os últimos preparativos. Seria o próximo... Ele havia abdicado de seu direito de ser o primeiro a entrar em la Plaza para deixar que o novato abrisse a noite, aquilo entre os muitos matadores já era um ritual e, não seria ele a quebrar tal sequência.

A noite começou a cair, passava um pouco das oito e trinta e o céu está ficando estrelado. Novamente as cornetas soaram. Arrumou como pode sua vestimenta, pegou o capote e esperou pelo segundo toque das mesmas. Entrou devagar na arena que àquela hora já estava lotada. Foi ovacionado, não sabia se bradavam seu nome ou mesmo sua alcunha com mais força.

Seguiu até o centro da arena de onde, com olhos estreitos e concentrado, viu o touro negro. Bos taurus ibericus, raça esta de touros que são especialmente treinados por serem mais ferozes e selvagens. Sorriu de lado. A faena iria começar. Mas naquela primeira luta ele teria apenas que experimentar o touro. Ver seus limites, descobrir suas fraquezas... Na realidade analisá-lo e tirar seus julgamentos.

Agitando o capote que segurava com as duas mãos, conseguiu chamar a atenção do esplêndido animal que galgou até ele. A cada dible a platéia ululava aos berros de 'olé'! Mais um recuo de pernas e o capote resvalava sobre a anca do animal, nova sequência de assovios, palmas e gritos.

Passados os minutos, quinze para serem exatos, os picadores entram em ação e em seguida os banderilleros montados em seus garbosos e ágeis cavalos entram na arena prontos para arpoarem o animal atrás de seu pescoço. Saindo um pouco da Plaza não olhou para o que era feito. Já não sentia vontade de ver aquilo. Era um esporte, perigoso e querido para os espanhóis, mas que já estava perdendo a graça para ele. Voltou-se assim que sua presença na arena fora solicitada novamente. Suspirou e entrou sozinho levando consigo apenas a muleta, uma capa pequena de 56 centímetros montada em um bastonete de madeira. As manobras eram mais perigosas e arrojadas. Ele tinha de passar tantas e quantas vezes pudesse pelo touro, mais rente ao animal por vezes até tocando seu corpo no do touro numa postura rígida. Quase como um bailado perfeito.

Os gritos eram ensurdecedores, mas ele continuava. O suor escorria por seu rosto bonito e sério. Os dentes trincados. Um erro e poderia ser fatal. A espada afiada foi-lhe entregue. Posicionou-se. Ergueu o braço direito acima da cabeça. E em um piscar de olhos o chão da arena estava lotado de rosas vermelhas. Seu nome ecoando pelo ar juntamente com sua alcunha.

'Shura! Shura! El Matador! El Matador!'

No final daquela faena e após o julgamento da pequena comissão de juízes, o presidente prostrou-se a murada de madeira. Shura ergueu seus olhos e esperou pelo veredicto... O silêncio foi geral. O presidente levantou dois lenços brancos o que fez com que um sorriso contido surgisse nos bonitos lábios do espanhol. As duas orelhas do animal foram-lhe entregues e nos ombros de seus homens e muitos outros foi carregado e ovacionado. A Puerta Grande se abriu e por lá todos sumiram. Aquilo era uma grande honra. E Shura sentiu-se satisfeito. Poderia abandonar aquele mundo com a cabeça erguida. Já estava na hora e achava que deveria parar enquanto estava em sua melhor forma.

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- Ma como quer abandonar sua carreira promissora...? Caspita Shura. Suo pai deve estar revirando-se no túmulo! – Esbravejou pela milionésima vez o italiano que adorava vinho e era primo em sexto grau do espanhol por parte de mãe. – Você lutou muito para conseguir ser o que é hoje, incluindo brigar muito com su papa e mamma para tornar-se um toureiro!

- No me amole, cabrón. Sabes mui bien que no quero mais matar os toritos em la Plaza! No vejo mais graça. No tenho mais vontade. Quero parar enquanto ainda no levei uma corneada se é que pode me entender. Consegues? – Perguntou o espanhol de sangue quente e pouca paciência.

Os palavrões em italiano choveram aos montes. Aqueles dois nem pareciam terem crescido juntos. Em contra partida vieram muitos em castelhano e a tormenta só terminou com a chegada de El Cid, irmão mais velho de Shura. O único que conseguia colocar ordem nas desavenças.

- ¿Qué es? (O que é isto?) Nuevamente discutindo?

- Impressão sua, Cid! – Mani sorriu debochado mirando o primo mais novo nos olhos. – O poverello caiu de cabeça de cima de Amarante. No está falando coisa com coisa. Melhor chamarmos o médico. – Gracejou e precisou desviar-se de um tapa que lhe era destinado. – No disse? Está até querendo acertar-me, mas no consegue. Deve ser problema nos reflexos e em sua visão. – Gargalhou divertido escondendo-se atrás de El Cid.

- Cabrón, prepare-se para juntar-se a sua santa mãezinha! Prometo comprar-te um caixão reforçado, pois está muito gordo devido a no fazer nada o dia todo. – Alfinetou mesmo sabendo que o primo sempre lidava com a terra tratando dos vinhedos juntamente com os empregados e com eles próprios.

Bufando, o Moyano mais velho arqueou uma sobrancelha e deu de ombros. – No tem jeito mesmo. Ustedes nunca vão crescer. No compreendem que devemos agir como uma família? E no adianta me olhar com esse jeito, Shura. Sou o mais velho e querendo ou no, papa dividiu a plantação para nós dois, (você) também é responsável. E van, van, van hermanos (vamos, vamos, vamos irmãos)! La cena (o jantar) está pronto e Carmen já está a colocar a mesa.

- No estou reclamando de nada da divisão que nosso pai fez, Cid, mas deste maluco que acha que devo continuar a tourear. Já cansei de explicar-lhe, mas parece que o burrico no quer entender. – Estreitou os olhos para Mani e sorriu de lado. Percebeu o irmão revirando os olhos, gesto esse que dizia-lhe que não estava aprovando aquilo, como sempre, mas não se importou.

O mais novo dos irmãos podia ser taciturno, fechado e ensimesmado, mas perto de El Cid e do primo de consideração, Shura deixava um pouco seus modos de lado e permitia-se mostrar que também poderia ser diferente daquilo que era visto longe do seio de sua família. Estreitou os olhos e começou a andar. Não iria perder a oportunidade de deixar Manigoldo com raiva. – Vou tomar banho primeiro e se a água acabar, vai encher mais baldes. – Saiu rindo debochado e apertou o passo sem reparar que não estava sendo seguido.

Ao ouvir a provocação do primo, Mani bem que tentou ir atrás dele, pois não queria ter todo o trabalho de encher novamente a caixa reservatório, mas sentiu-se seguro e seus olhos azuis penetrantes voltaram-se para os de El Cid, tão verdes quanto os do irmão.

- O que foi agora, caspita? Que Io fiz desta vez? – Perguntou. A voz baixa e carregada no sotaque italiano. Arregalou os olhos e sorriu malicioso ao ser encurralado por Cid entre uma árvore frondosa e a cerca do piquete em que Amarante ficava durante o dia.

- Nada. No fez nada e o problema é esse, Mani... Exatamente é o que no fez! – El Cid sorriu lascivamente e passou a língua umedecendo a parte superior dos lábios em uma provocação muda. Imprensou-o de encontro o tronco largo, abraçou-o fortemente e beijou-o. Um beijo exigente, sedutor e saudoso. Os corpos se esfregando, atiçando e inebriando. As mãos de ambos percorriam os corpos incansavelmente.

Puxando o cabelo negro de Cid, Mani respirou com dificuldade. Estava sem ar. Aquele espanhol de sangue quente fazia com que o seu sangue borbulhasse e corresse mais rápido pelas veias.

- Ma Che (Mas que)? Ficou doido? Ainda no escureceu e os empregados...

- Gosto de um pouco de perigo, no? – Sorriu debochado. El Cid sabia que Manigoldo não se importava com isso. E por isso mesmo adorava provocá-lo, pois ele era tão obvio.

- Está brincando com fogo, amato e devo avisar-te que estou carente de você. Desde que Shura voltou que no dormes mais em mio quarto. Isso é muito ruim. – Falou fazendo um beicinho e mordiscando o lábio carnudo que estava a poucos centímetros do dele.

- Gianluigi...

- Mani... – Corrigiu-o. Não gostava de seu nome e preferia que o chamassem pelo sobrenome. Não tinha explicação, mas não gostava do som.

- Gian... – Murmurou Cid bem próximo ao ouvido do amante. Sabia como domá-lo. – Escuta amado... – A voz rouca mexendo com a libido do ítalo-espanhol. - No é por que quero. sabes como Shura é o machão, o cabrón... Creio que no entenderia muito bem que o primo...

- Sexto grau, El Cid... Sexto... Mio sangue no é o de ustedes... Mia mamma era amiga de sua mamma. Primas distantes... – Bufou bravo tentando empurrar o homem másculo que o prendia. Sem sucesso.

- No, no vais escapar... No desse jeito. – Prendeu-o novamente contra o tronco. Mirou-o nos olhos e beijou-o mais uma vez. – Creia em mim... Vamos esperar... Está bien? – Murmurou quando finalmente libertou-lhe os lábios.

- Esperar até que estejamos vecchios? No, no e no! – Bufou. Foi calado por outro beijo. Rendeu-se a impetuosidade do espanhol e agarrou-se a ele. Estava com saudades de tê-lo nos braços e não importava que estivessem as vistas de quem quisesse ver. Queria-o. Desejava-o mais que tudo e que se danasse Shura e seu machismo idiota. Ali estavam dois homens. Homens em todos os sentidos, mas que se completavam e amavam-se.

- Creio... – Murmurou Cid ao liberar um pouco os lábios dos do amante. – Que o segundo andar do celeiro está limpinho e cheio de feno novo. – Mordiscou-lhe o lóbulo da orelha.

- Shura nos espera... A mesa está posta... – Mani gemeu ao sentir o membro sendo massageado pelo joelho de El Cid. Quando ele conseguira fazer-lhe abrir as pernas para que aquilo estivesse acontecendo. Gemeu mais uma vez e trocou um rápido olhar com ele. – Louco!

- Louco por ti... – Respondeu puxando-o para o celeiro e entrando sorrateiramente. – No vai demorar.

- Hein? Como no? El Cid nem em sonho farei algo correndo. No quero machucar-te ou que me machuque. A noite... Eu irei até seu quarto.

- Frouxo! – Provocou ao ser deixado. Sabia que Manigoldo revidaria e sorriu ao sentir as costas chocando-se com a parede de madeira.

- Vou mostrar-te quem é o frouxo. No sentaras direito por um bom tempo. – Antes que o outro protestasse beijou-o vorazmente começando a arrancar-lhe as roupas. Os gemidos sendo abafados pelos muitos beijos.

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- Ustedes demoraram. Por acaso perderam-se pelo caminho? – Shura perguntou ao olhar novamente para o relógio de carrilhão encostado a um canto da bonita sala de estar. Marcava dez horas da noite. – Carmen esperou por um bom tempo com a janta sobre a mesa e ustedes nem para mandar um recado. Estou admirado, logo ustedes que me puxam tanto a orelha por que yo no dou as devidas explicações para a velha senhora fazem pior. – Estreitou os olhos.

Manigoldo grunhiu sem nada dizer, seguiu pelo corredor indo direto tomar um banho. Estava suado... Havia sido tomado por duas vezes e tomara El Cid para si apenas uma vez. Estava moído e o feitiço havia virado contra o feiticeiro. Daquela vez, deixaria que o espanhol gostoso e tesudo se saísse melhor, mas ele teria volta e não iria demorar.

El Cid acompanhou com os olhos o amante afundar pelo corredor e sorriu de lado, antes de voltar a olhar para o irmão, ficou sério. Estreitou os olhos. Não acreditava que estava levando uma reprimenda do caçula. Balançou a cabeça, pois sabia que Mani e ele estavam errados. Haviam ficado tempo por demais fora da casa grande. No outro dia pediria desculpas à velha senhora.

- ! Demoramos um pouco, cabrón, mas nada para se alarmar. Yo precisei da ajuda de Mani e demoramos mais que o necessário.

- E o que precisava fazer no poderia esperar até de manhã? – Perguntou bravo. Na realidade Shura não gostava de ficar sozinho naquela casa de fazenda. Não que tivesse medo, mas sim por lembrar-se sempre da infância e como fora recriminado por tentar ser um toureiro e não seguir os passos de seu pai e irmão mais velho no cultivo das uvas.

- No, no podia. E vá, no adianta ficar bravo. Estou aqui agora. O que diabos queria falar comigo mais cedo que no tivemos tempo por conta do carroção que se quebrou? – Perguntou El Cid arqueando a sobrancelha. O irmão de repente havia ficado muito sério.

- Estive pensando. Mas acho melhor tú ir tomar um banho. Está cheirando a feno e sexo. – Sorriu malicioso.

- ¿Cómo? (Como?) Acho que Mani tem razão, caíste de cabeça. Amarante derrubou-te, só pode. Morda sua língua para supor...

- Yo no estou fazendo suposições, Cid. – Levantou-se de onde estava sentado e aproximou-se do irmão. Puxou um pouco a gola da camisa e viu a marca arroxeada. – Qual foi a sirigaita?

- Céus, Shura! Meta-se com sua vida e diga logo o que quer? Estou cansado e morto de vontade de tomar um banho. – Vociferou bravo, mas interiormente estava aliviado. Jogou o corpo na poltrona a frente da que o irmão estivera sentando antes e esperou. Bufou ao ver que pelo visto as coisas iriam demorar a acontecer. Shura estava demorando muito para falar. Aquilo era um mal sinal.

Shura riu do irmão. Entendia agora o porquê de terem demorado. Pelo visto Manigoldo acobertara o irmão, ou os dois foram ver as senhoritas antes do jantar e perderam hora. Bem... Mas Cid tinha razão, ele deveria meter-se com sua vida, que estava sem uma razão para continuar. Estava desanimado, mesmo gostando muito de estar ali com o irmão, com o primo e lidando com a colheita das uvas para fazer o vinho tão conhecido por aquele local. Sentou-se diante do outro o qual era sua imagem perfeita, tirando é claro um pouco a altura e a cor dos olhos – El Cid tinha-os mais escuros.

- Estive pensando e decidi que vou partir.

- Partir? Shura... Estamos no meio de começar a fazer uma nova safra de vinho e está pensando em sair pelo mundo a fora? – El Cid estreitou os olhos e fulminou o irmão mais novo.

O sangue dos dois fervia muito rapidamente.

- , partir hermano. Yo preciso disso! Tenho ainda todo o dinheiro que ganhei na última tourada e no precisarei mexer nas economias de nossa família. Mereço isso. Sei que vai soar egoísta demais visto que e Mani só saem da fazendo para os festivais de vinho e uva, mas percebo que o mundo de ustedes é aqui. Estou errado?

- No, no está. – Suspirou El Cid. Ele estava triste, não queria que o irmão desaparecesse no mundo, mas ele tinha razão. Manigoldo e ele sentiam-se bem por ali, já haviam pensado em viajar, mas a vontade de deixar El Viñedo de Oro (O Vinhedo de Ouro) para trás era suplantada pela de ficar. Ali era o mundinho deles, onde eram felizes. – E para onde vai? – Perguntou rendendo-se ao irmão.

- Ainda no sei. Vou por ai sem destino certo. – Respondeu Shura pensativo. Coçou a nuca desalinhando um pouco os cabelos já rebeldes.

- Apenas mantenha-nos informado, ? – Pediu. Deixou que um leve sorriso surgisse nos lábios ao ver o irmão consentir. – Agora posso ir banhar-me no? Estou com fome, pelo visto terei de esquentar a comida e... – Sua voz foi morrendo a medida que ia afundando pelo corredor.

Shura iria sentir falta daqueles dois, mas precisava sair e respirar novos ares. Entender por que estava sentindo-se tão desmotivado. Entender definitivamente por que o que mais lutara para conseguir, o que mais gostava de fazer que era estar em La Plaza havia perdido o sentido e o encanto. Até mesmo as senhoritas que lhe jogavam lenços não tinham mais os mesmos atrativos.

Ficou mais alguns minutos sozinho na sala de estar, pensando em tudo o que havia feito até ali. Precisava decidir quando seguir viagem e agora que o irmão já sabia, tornara-se bem mais fácil deixar-se persuadir por aquela decisão. No outro dia bem cedo poderia tomar as devidas providências.

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- Perchè (Porque) Io sou sempre o último a saber das coisas? – Grunhiu Manigoldo olhando para El Cid pela manhã a mesa do café.

- Talvez, cabrón por que seja muito explosivo. – El Cid respondeu sem tirar os olhos do folhetim. Tentava aparentar calma, mas estava longe disso. O amante o conhecia e sabia que seu orgulho não deixaria que colocasse para fora o que estava sentindo com a partida do irmão.

- No, no é por causa disso! – Manigoldo respondeu tentando achar alguma coisa para conseguir justificar sua raiva.

Pela primeira vez, desde que sentara-se confortavelmente em seu lugar a cabeceira da mesa, El Cid baixou o folhetim e mirou o lindo homem ao seu lado. A pele levemente bronzeada, os olhos azuis brilhando incontidamente. Agarrá-lo-ia ali mesmo, mas controlou-se... Não podia pensar em sexo somente por estar ao lado dele. Mas era sempre assim com os dois... Insaciáveis e fogosos. Isso podia ser visto em suas íris brilhantes.

- No me olhe assim, amato. – Mani murmurou sentindo uma quentura percorrer-lhe o corpo todo. – Estamos conversando um assunto muito importante. Se Shura no quer mais tourear, então creio que deveria aprender a tomar conta um pouco de El Viñedo de Oro. Você mesmo disse-lhe que isso tudo é de vocês.

- , yo sei, amado... – El Cid respondeu pensativo. Ele sabia por que não adiantaria segurar Shura na fazenda. – Shura, apesar de tudo, tem o espírito livre... Indomável... Ele pode ser sisudo, ensimesmado e fechado quando quer, mas ele no é daqui e ao mesmo tempo é. O melhor é que ele se vá. Talvez ele encontre o que está faltando em sua vida.

- Bah... – Mani torceu os lábios. – Nós já o vimos fora daqui, as senhoritas rodeiam-no como abelhas no mel. Talvez o que falta na vida dele seja um novo rabo de saia. – Bufou, mas calou-se com o olhar do amante. Não queria brigar e discutir por conta de Shura. Não valeria a pena. – Por falar no empiasto, onde ele está? – Perguntou. – Já no devia estar acordado?

Quando Manigoldo encasquetava com uma coisa ele continuava falando até se cansar. El Cid revirou os olhos e mirou o amante de soslaio. – Ele foi à cidade, no me pergunte fazer o que, pois no saberei dizer o que ele foi fazer. Agora que tal se formos para o galpão para certificarmos que os tonéis de madeira novos estão colocados como de costume?

- Hmm... Está bem! Vamos lá ver. E espero que você esteja certo do que está fazendo com seu irmão. – Mani estreitou os olhos e levantou-se da cadeira. – Vamos antes que Io mude de idéia e vá para o campo. O sol está muito bonito para ficar enfurnado em um galpão no meio de tantos tonéis... – Só então percebeu que estariam sozinhos. Balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos pecaminosos e saiu devagar, mas não sem antes pegar um último pedaço de bolo e ir comendo pelo caminho.

El Cid preferiu ficar quieto. Se falasse alguma coisa talvez começassem a discutir e sinceramente não queria isso. Não queria começar uma briga. Sim eles brigavam muito e muitas vezes as brigas terminavam em meio ao feno, ou mesmo em seus quartos entre gemidos de prazer, juras de eterno amor e sexo ardente. Seguiu Mani pelo caminho até o galpão em silêncio. O semblante fechado e sério.

"Talvez Mani tenha razão... Talvez yo devesse cobrar de Shura mais responsabilidade, mas como prender aqui um homem teimoso e tão ou mais orgulhoso que yo?" – Pensou seguindo cabisbaixo pelo trecho que faltava. Se tivesse de fazer alguma coisa, teria de fazer logo.

Perdido em seus pensamentos, o espanhol demorou para conseguir concentrar-se no trabalho. Mani teve de chamar-lhe a atenção muitas e muitas vezes.

- Escuta amato... Desse jeito distraído vai anotar safras erradas. – O italiano encarou-o preocupado.

- Desculpe cariño (carinho), mas no consigo parar de pensar en mío hermano (em meu irmão). Ao mesmo tempo que yo quero que ele vá, também quero que fique.

Manigoldo grunhiu e andou um pouco entre os tonéis, mas sem distanciar-se muito do amado. Voltou-se e passou as mãos pelos cabelos deixando-os um pouco mais arrepiados. Achegou-se lentamente e parou o movimento de tocar-lhe a face no meio. Não sabia direito como agir, pois ele não era como uma mocinha que corre para abraçar quando quer dar carinho. Ele podia gostar de homens, mas não era afetado... Todavia, há momentos em que é realmente melhor demonstrar com gestos a utilizar palavras. Ainda mais para ele, que era um falastrão nato.

- Cid... Se Io soubesse... Preferia no ter dito nada... Mas já foi! Eu falei e... – Acariciou-lhe a maçã do rosto. Mirou-o nos olhos quase se perdendo nas íris esverdeadas que lembravam-lhe esmeraldas. Mordiscou o lábio superior e aproximou um pouco seu rosto do dele. Perdeu totalmente o prumo ao perceber que a fisionomia carregada e carrancuda não havia sido desfeita. Estreitou os olhos. Não era de se arrepender de nada do que dizia ou fazia, mas quando se tratava de seu espanhol, tudo mudava de figura. Bufou ao perceber que El Cid fixara seu olhar em um ponto qualquer e estava sério e ensimesmado. Sentiu ganas de dar-lhe um soco, mas acalmou o gênio terrível afastando devagar e dando-lhe as costas.

São dois temperamentais, esta é a verdade. Depois de algum tempo ruminando o amargor do silêncio imposto por ambos, Mani resolveu quebrar o gelo. Quando pensou em puxar El Cid para um abraço, parou o movimento a meio caminho, pois escutara uma voz conhecida os chamando. Naquele momento, o espanhol mirou-o nos olhos e beijou-lhe rapidamente nos lábios. Mani sabia que aquilo não havia terminado ali... Suspirou resignado e esperou até que o primo os achasse.

- Estamos aqui, hermano. Na parte velha dos tonéis. – El Cid finalmente quebrou o silêncio. Sabia que Manigoldo estava ressabiado, mas aquilo poderia ser resolvido depois. Na realidade, eles sempre se entendiam não importando o que tivesse acontecido. Não seria agora que não iriam entender-se depois.

Em pouco tempo Shura apareceu pelo corredor que dava acesso a parte em que eles estavam. Mani ao avistá-lo ao longe, sorriu de lado e balançou a cabeça. Era estranho ver o primo trajando roupas mais sofisticadas como ternos e não as roupas que usavam para o trabalho na fazenda, as quais eram mais despojadas.

- Shurinha... – Sorriu irônico e abertamente ao vê-lo parar perto deles. – No adianta andar por ai vestido assim... – Gracejou. – O circo ainda no chegou à cidade! – Gargalhou divertido.

- Hahaha... Palhaço! – Shura grunhiu sem perder o ar sério. Fuzilou o primo com os olhos e parou a poucos metros dele. Ambos trocavam olhares de poucos amigos.

Revirando os olhos, El Cid parou entre os dois e dirigiu-lhes um olhar assassino. – No... Ustedes no vão começar o bate boca. – Voltou-se para o irmão. – Conseguiu agendar a viagem? – Perguntou tentando não demonstrar que na verdade gostaria muito que tudo tivesse dado errado. Assim, ele ficaria na fazenda.

Preferindo ignorar o primo e seu jeito brincalhão e falastrão, Shura ateve-se a prestar atenção ao irmão. – Bem, no foi difícil como yo havia pensado. Seguirei de carro até Madri e depois pegarei uma locomotiva para Portugal e de lá sigo de transatlântico para a Grécia.

- Portugal? Por que se poderias pegar um transatlântico aqui no porto? – Perguntou El Cid tentando entender o que ia pela cabeça do irmão.

- El Cid... Preciso de um tempo. Estou saindo de férias! – Shura respondeu. Seus olhos brilhavam incontidamente. Não tinha explicação, apenas queria sair por ai, ver novas coisas. Conhecer novas pessoas. – Voltou seus olhos para o primo a tempo de vê-lo fazer uma careta.

Manigoldo segurou a vontade de falar vários impropérios e estreitou os olhos deixando-os parecendo duas fendas. – E pretende partir quando? – Perguntou.

Shura pareceu emudecer perante aquela pergunta. Passou a mão pelo cabelo e mirou El Cid de soslaio. Não pensara que fosse ser tão difícil falar às pessoas que amava que partiria em breve. Muito em breve.

- Então, Shura? Quando vai partir? – El Cid encarou o irmão.

- Consegui uma passagem para daqui alguns dias. – Olhou sisudo. Tinha o mesmo jeito de o irmão olhar. Olhos verdes mais claros perdidos nos mais escuros.

- Ora fedelho está irritando seu irmão e a mim. – Manigoldo deu um passo aproximando-se dos dois. – Diz logo quando é, caspita!

Estreitando os olhos, Shura mediu o primo dos pés a cabeça. – Vou te dizer quem é fedelho. – Tentou avançar para cima de Manigoldo como se ainda tivessem cinco e sete anos de idade. – e El Cid só são dois anos mais velhos que yo, gostaria que principalmente tú me respeitasse.

Manigoldo gargalhou e iria começar a provocar novamente quando foi cortado.

- Shura, Gianluigi... – El Cid esta ficando nervoso. Pareciam duas crianças brigando por uma coisa banal. Bastou um novo olhar para os dois para fazer com que as provocações da parte de Mani parassem assim com as respostas malcriadas do irmão. – Quando vai partir, Shura? – Seu rosto estava fechado. Parecia que uma máscara se formara ali, deixando o contorcido pela seriedade e a raiva.

- Daqui a três dias. – Respondeu de uma vez. – Acho que preciso ir começar a ver o que irei levar...

- Va bene... Porcaria! – Mani rosnou saindo de perto dos irmãos.

- No ligue para ele, Shura. Crescemos todos juntos e esse é o jeito que ele encontra para demonstrar que sentira sua falta. – El Cid comentou.

- Jeito estranho de demonstrar, mas bem... Mani nunca bateu bem da cabeça mesmo, no é? – Riu de lado sendo acompanhado pelo irmão. – Hermano, preciso ajeitar as coisas para a viagem. No quero deixar para a última hora. – Deixou o irmão rapidamente e enfurnou-se em seu quarto.

Assim que viu Shura sair, El Cid sentiu que mãos fortes o seguraram pela cintura. Suspirou e recostou o corpo de encontro ao do italiano másculo. Suspirou, virou o rosto um pouco, apenas o suficiente para ver as íris castanhas e brilhantes. – Mani...

Mais alto alguns centímetros, Manigoldo beijou-lhe suavemente os lábios. – No adianta mesmo querer segurá-lo aqui. Parece que ele está decidido a partir a procura do que lhe falta, no? – Perguntou mais para ter certeza.

- ... Já havia percebido que ele estava triste aqui. O melhor a se fazer é deixá-lo seguir em frente.

- No sei como consegues descobrir o que seu irmão esconde a sete chaves... – Comentou o italiano demonstrando a preocupação que sentia e, que apesar de ser carrancudo, mal humorado e dar a entender que não se importava com ninguém, se importava sim. Ainda mais se fosse alguém da família.

Um riso sabido surgiu nos lábios finos de El Cid e foi se alargando. – Ora, cariño... É meu hermano... Somos muito parecidos, só ainda no percebeu. – Girou o corpo rápido ao ouvir a interjeição surpresa de Mani e o prensou em um tonel.

Manigoldo grunhiu baixo ao sentir as costas baterem forte na madeira envelhecida e cheirando a pinho e vinho. – No perde o costume mesmo!

- Mira (olhe) só quem fala! - Riram juntos, mas o espanhol foi silenciado por um beijo exigente, e avassalador. Os corpos esfregando-se, buscando um maior contato. Mãos fortes percorrendo os corpos. Mas El Cid voltando a razão apartou o beijo deixando o italiano emputecido por não poder tê-lo mais nos braços. – No, no faça essa cara feia. Temos de trabalhar. – Saiu devagar de perto dele indo para outro lado do galpão checar o resto dos tonéis.

- El Cid... – Grunhiu ao sentir uma fisgada em seu baixo ventre. Estava excitado, sim claro que estava e, detestava quando o espanhol fazia aquilo com ele. Atiçava-o e depois deixava-o sozinho. – Vais ter troco, amato. E ah! Poverello! – Seguiu na mesma direção para terminar de fazer o que haviam proposto para aquela manhã. Nos lábios um sorriso sacana e nos olhos o brilho intenso da luxuria, com mistos de amor e desejo.

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Com as malas prontas há um canto do quarto, Shura não acreditava que no outro dia pela manhã estaria partindo para sua viagem... Para sua busca. Os três dias passaram tão rapidamente que ele nem importara-se com as constantes discussões com o primo e nem mesmo quando o irmão metia-se no meio para acabar com tudo. Não importou-se com a insistência da velha governanta para que ele não levasse o traje de luces que mais gostava, visto que ele não sentia mais vontade de vesti-lo. Shura não ligara por que sentira que deveria levá-lo, algo dentro de si o impulsionava a colocá-lo na mala e, assim fora feito.

Terminou de vestir-se para dormir e deitou-se na enorme cama de casal. Ajeitou-se colocando os braços atrás da cabeça e fechou os olhos. Suspirou. Última noite em seu quarto... Mas já estava acostumado a dormir fora da fazenda... Viajara tanto para tourear... Mas daquela vez sentia um gostinho de nostalgia... E para ajudar estava sem sono. Precisava dormir e sabia disso, mas sentia ao deixar El Viñedo de Oro que talvez muita coisa pudesse acontecer. Mudar! Não sabia dizer com exatidão, mas estava ansioso por demais e seu sono por isso mesmo não vinha.

Remexeu-se mais um pouco na cama e, não soube dizer exatamente quando passara para o sono. Acordou com Carmen chamando-o e insistindo que daquela forma iria perder o trem.

- Vamos, despierta! Estás perdiendo el tiempo! (Vamos, desperta! Está perdendo hora!) Seu hermano e primo já estão lá embaixo a mesa do café. Juan limpou o 'Fordeco' para que vá confortavelmente e chegue impecável a Madri. – A voz cantada da governanta fez com que Shura pulasse da cama.

- Mas por que no me chamaste mais cedo? – Perguntou correndo para o banheiro não dando tempo da pobre responder-lhe. Um bom banho ajudaria a despertar. Sempre funcionava assim para ele.

Quando finalmente retornou ao quarto, suas malas já não se encontravam onde estavam e, a roupa que havia pedido para que fosse passada, estava estendida sobre sua cama.

Vestiu-se rapidamente, saiu do quarto levando no braço o casaco marrom. Deixou-o na sala de estar e seguiu para a cozinha, onde encontrou El Cid e Manigoldo. A mesa da sala de jantar era usada muito pouco agora que só os três homens viviam na fazenda.

- Buon giorno (bom dia), bela adormecida! – Gracejou Manigoldo. – Cid e eu achamos que teríamos de acordá-lo jogando-lhe uns bons baldes de água fria.

Shura fuzilou-o com os olhos preferindo ficar em silêncio e não entrar na provocação.

- Mani, deixe-o em paz... E no estamos tão atrasados assim. O 'Fordeco' está aí fora e chegaremos a tempo na estação. – El Cid serviu-se mais um pouco de café forte e pegou mais uma fatia generosa de broa de milho.

O silêncio que recaiu sobre eles era muito estranho. Os três sempre foram muito falantes, mas naquele dia, parecia que a partida de Shura para aquela viagem estava sendo diferente das outras quando ele ia para as touradas.

- Se quiserem ir, já estou pronto! – Shura quebrou o silêncio após alguns minutos. Havia comido muito pouco. Na verdade, mal havia tocado nas gostosuras sobre a mesa.

- Mas Shurita... – A voz melodiosa da velha senhora as suas costas fê-lo estremecer. Não queria nem olhar para os lados de Mani, pois sabia que ele estaria com aquele sorriso idiota nos lábios. – Fiz tudo para ... Tudo que mais gosta! – Estava chateada.

- Percebi, Carmen e agradeço muito, mas no estou com fome e bem sabes que yo no gosto de comer muito antes de ir viajar. – Shura levantou-se apressado antes que fosse forçado a comer mais. Foi seguido no gesto pelo irmão e primo. Deu um beijo estalado no rosto rechonchudo de Carmen despedindo-se e saiu rapidamente. Não era muito bom em despedidas e por isso mesmo estava sendo breve.

Em pouco tempo o Ford 1917, apelidado carinhosamente de 'Fordeco', cortava as estradas esburacadas de terra rumo ao destino de Shura.

oOoOoOo

A viagem até a estação em Madri transcorrera perfeitamente bem. Manigoldo havia deixado as gracinhas para trás e, o caminho todo conversaram sobre banalidades. Ao estacionar o carro à frente da bonita estação, descarregaram as malas, as quais foram rateadas entre eles e seguiram para a plataforma de embarque. Acomodaram-se em um banco e, El Cid checou as horas em seu relógio de bolso.

- Ainda temos quarenta minutos. – Comentou. – Eu lhe disse que no precisávamos correr tanto. – Completou olhando para o irmão.

- Sí, tú disse, mas sabe muito bem que no gosto de chegar atrasado.

- Com seu irmão dirigindo? – Perguntou Manigoldo com um sorriso malicioso nos lábios. – sabes que El Cid é um verdadeiro pé pesado. De qualquer forma chegaríamos cedo aqui... – Abriu mais o bonito sorriso, o mesmo sorriso malandro que o acompanhava desde criança.

Estreitando os olhos, El Cid grunhiu algo que os outros dois não conseguiram entender e fechou a cara. Cruzou os braços a frente do corpo e esticou as longas pernas.

Levantando-se um pouco, Shura caminhou um tanto e ao longe avistou um garotinho vendendo jornais. Sem nada dizer seguiu até o pequeno. Pegou um exemplar pagando mais que o necessário por ele e voltou devagar, lendo o cabeçalho em letras garrafais. Não reparara por onde estava indo e sem querer acabou por esbarrar em outra pessoa. Alguns livros foram ao chão. De olhos arregalados, ajudou o dono daqueles livros a recolhê-los.

- Perdóname (Me perdoe). Machucou? – A voz grossa e máscula chamando a atenção dos amigos daquele indivíduo parado a sua frente, estes estavam um pouco afastados. Reparou melhor no ser a quem quase derrubara no chão. Os longos cabelos com matizes esverdeados e os expressivos olhos azuis davam-lhe um "Q" de mistério. Algo que Shura não conseguia explicar.

- Non me machucou. – A resposta fria e cortante. Os olhos azuis parecendo duas geleiras. – Mas obrigado por ajudar-me a recolher meus livros. Acho que você também non deve olhar por onde anda quando lê. – Completou e, com um movimento de mão, colocou dentro de um dos livros um marca páginas.

- Bem... Creio que ... Mas poderias ser mais educado... – A voz séria e cortante.

- Non lhe faltei com o respeito. Apenas teci um comentário. – Era muito culto e não admitia que confundissem o que dizia, ou mesmo que se equivocassem com seus atos. – Foi por estar lendo que me deste um encontrão. Non falei nada além da verdade. – Retirou os óculos de leitura do rosto e olhou melhor para o espanhol esquentado.

"O que estou fazendo? Procurando briga com um estranho? Shura... Seja mais cabeça fria... De certa forma ele está correto. Estava mesmo fazendo as duas coisas." – Pensou. – , tem toda razão, yo estava lendo mesmo. É culpa minha. Con su permiso (Com sua permissão). – Pediu e saiu antes mesmo do enjoado o liberar. Dobrou o jornal e bateu com ele algumas vezes na própria perna.

- Belo encontrão, Shurinha! – Mani gracejou com uma pitada de ironia. Os olhos brilhando incontidamente.

Shura estreitou os olhos. – No chateie! – A voz baixa, cortante e o olhar obliquo.

- Sujeitinho estranho aquele. – Mani olhou para o homem com os livros ainda parado no mesmo lugar.

- Por que diz isso? – El Cid finalmente voltou seu olhar discretamente para o lado. – Só por que tem os cabelos compridos? – Perguntou. – Lembro-me de certo italiano que quando tinha quinze anos... – Foi interrompido pela voz rouca e a língua afiada do amante.

- Giusto, giusto... Non c'è bisogno di ricordare! (Certo, certo... Não precisa lembrar-me) – Interrompeu-o. - Concordo, no fico bem de cabelos compridos. Mesmo que eles no tenham passado de meus ombros. – Mani sorriu. Ele mesmo gostava de brincar com o que havia tentado fazer.

- Tú ficaste muito engraçado... Parecia um esfregão. – Shura alfinetou. O olhar sério. – Um esfregão descabelado.

- Ma che, maledeto! – Mani juntou os dedos voltados para cima em um gesto característico italiano e balançando a mão direita várias vezes. Em seguida fez menção de levantar-se, mas voltou a sentar apenas ao reparar em como El Cid já estava os olhando.

- No... Por favor, aqui no, crianças! – A voz falsamente calma, o olhar fulminante. Não precisou dizer mais nada, pois lá na curva do caminho, um borrão vinha vindo. O apito estridente anunciava a chegada da Maria Fumaça. Discussão encerra para alívio do espanhol mais velho.

- No horário! – Comentou Manigoldo. A sua frente, pendurado na viga de sustentação do telhado, um bonito relógio entalhado em madeira de lei, marcava onze horas.

- , no horário. – El Cid concordou. – Shura, sei que no precisas disso, és um hombre feito, mas seja cauteloso e tome cuidado. – Pediu.

- Pode sossegar, Cid... Yo terei cuidado. – Shura era fechado e não precisou fazer esforço nenhum para segurar a vontade que lhe ia no peito de dizer que sentiria muito a falta dos dois. Não dissera a eles quanto tempo ficaria fora, pois se o fizesse talvez não conseguiria nem sair da fazenda.

Ele teria ainda algum tempo para entrar no trem. Primeiro os passageiros que desembarcariam ali sairiam, para depois o embarque ser liberado. Nesse meio tempo, a Maria Fumaça era reabastecida com carvão e madeira para o restante da viagem.

Shura voltou seus olhos novamente para o local onde havia esbarrado com o tal intelectual de tez clara e muito bonito, mas não o encontrou mais no mesmo lugar. Vasculhou mais um pouco o ambiente com os olhos e o avistou. Lá estava ele ladeado por outros dois homens lindos. Um também tinha os cabelos longos e com matizes azulados e o outro de cabelos curtos castanhos claros. Arqueou a sobrancelha, achar homem bonito? Sonho, só poderia ser... Ele era homem... Balançou a cabeça e voltou seu olhar para a direção do primo e do irmão ao ouvir seu nome.

- Shura... Quer que o ajudemos com as malas? – Perguntou El Cid novamente. Já estava ficando impaciente.

- Ah! ... Claro! – Respondeu um tanto sem graça. Seguiu para o vagão ao lado dos dois esquecendo-se um pouco dos três lindos homens. Achou uma cabina vazia e instalou-se nela. Suas malas foram colocadas no bagageiro acima da cabeça e em pouco tempo havia se despedido de seus parentes. Sozinho sentou-se próximo a janela e a abriu para deixar um pouco o ar entrar no pequeno cubículo.

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Continua...


Aprendendo um pouco sobre as touradas:

- Goyesca: São roupas de época.

- Traje de luces: Roupa de luzes. São trabalhadas e bordadas em dourado.

- Faena: Luta, que é dividida em 3 partes. O reconhecimento do animal, seguida da parte que envolve os picadores e os banderilleros e a terceira com o matador que receberá o touro sozinho na parte final da luta.


N/B.:

Theka, o desenvolvimento está excelente. O contexto foi muito bem pensado e a narrativa discorre de forma fácil. Você vai se deixando levar pelos fatos, visualiza os cenários e entende a personalidade de cada um.

Como sempre, eu ri muito em alguns trechos. Outros são mais sérios, mas nenhum pareceu-me entediante. Tive ganas de bater no Mani pela implicância exacerbada, mas se o fizesse, Shura também teria que apanhar. Então... só suspirei e estreitei os olhos. XD

Agora começará um novo ciclo e, pelo presente capítulo, este promete. Continue sendo esta pessoa maravilhosa. Desejo-lhe muita inspiração e agradeço a confiança. Parabéns pela fanfic! Está com gosto de páscoa... e das bem achocolatadas. *baba*

Quero o meu ovo! Shun, volte aqui... *corre atrás dele* Eu sei que você é o coelhinho da Páscoa do Santuário. Lembrei-me agora de quando ele foi comparado a um coelho ao "sacrificar-se" para salvar o Hyoga. hauhauahuahuah

N/A.:

Hahaha... *risada estilo Manigoldo EBL* Naninha, obrigado! Realmente quando você betou esse capítulo estávamos na semana da páscoa mesmo, mas como a fic é para o dia do niver da Eliz, segurei um pouco para colocar no ar... *dedinhos* Mas sabe... *dando uma piscadela* Valeu a intenção... Chocolate sempre é bom e não importa a ocasião. *sorrisão*

Gostaria de agradecer a paciência de quem leu até aqui. É minha primeira fic tendo Shura e Saga, que ainda não apareceu, como casal principal. Tudo o que coloquei sobre touradas foi minuciosamente pesquisado por mim. As falas em grego, francês, italiano e espanhol não foram por mim traduzidas ou transcritas, eu usei muito os tradutores, tais como: Google Tradutor e o Babel Fishe do Yahoo. O nome da fic saiu de uma música muito linda do cantor grego Nikos Vertis (Luzita, obrigado por me fazer ouvir e amar a voz desse homem bicho bão!!), peguei de um site a letra com a tradução para o inglês e depois minha irmã traduziu e minha amigas Pan Pan (Christy) e Luzita revisaram. Perdão se tiver algo errado. Sou humana e passível a erros. Críticas construtivas e comentários serão bem vindos. Desde que sejam educados e coerentes. Reconheço não ser nenhuma romancista famosa – e, sinceramente, não o pretendo ser. Esta é apenas uma obra para entretenimento. Se gostou e deseja deixar explícito, ficarei feliz. Caso tenha gostado, mas não saiba o que falar, não tem problema, eu entendo! Contudo, para quem não gostou: apenas esqueça que uma vez abriu esta página.