Fairy Tail e seus personagens não me pertencem.


Minha obra-prima em dez anos só pode ser dedicada a uma obra-prima de pessoa,

Motoko Li, vulgo Moto, vulgo Aya

Sua amizade foi o maior presente que eu ganhei ao entrar nesse mundo de fanfics. Amarei você eternamente, mas você já sabe disso. :)


O Demônio Atrás da Porta

You are the latest adventure / Você é a última aventura

You're an emotion avenger / Você é um vingador de emoções

You are the devil that sells a / Você é o diabo que vende uma

Light or dark fantastic passion / Paixão fantástica iluminada ou sombria

(Darts of Pleasure – Franz Ferdinand)

Capítulo 1: She-Devil

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Laxus sorveu mais um longo gole de sua cerveja, o líquido gelado descendo lentamente pela garganta. Estava sentado em uma das mesas do salão principal da Fairy Tail junto aos seus fiéis asseclas do Raijinshuu, com Freed tagarelando incessantemente sobre algo que ele não prestava a menor atenção. De cenho franzido e lábios comprimidos em irritação, tinha os olhos fixos na figura sorridente da garçonete que servia os outros membros da guilda.

O rosto de Mirajane Strauss sustentava um ar natural de inocência e delicadeza enquanto se deslocava de mesa em mesa recolhendo copos e pratos, as ondas de seus cabelos oscilando suavemente a cada passo. Os quadris, por sua vez, denotavam exatamente o oposto: um balançar sensual, que fazia com que várias cabeças embasbacadas se virassem para acompanhar os movimentos hipnotizantes de um lado a outro.

Por vezes, Laxus também fazia parte daquele grupo, impossibilitado de desviar a visão daquele rebolado perfeito como se seus olhos tivessem vontade própria. Poderia passar o dia inteiro observando-a trabalhar, servindo bebidas e sorrindo para as pessoas, alheia a espectadores famintos.

Entretanto, naquele dia em particular, ter sua atenção voltada para ela estava se tornando um inconveniente.

Intensificou inconscientemente o aperto na alça da caneca, incapaz de conter sua insatisfação por vê-la perto de Wakaba e Macao, que flertavam abertamente – e mais enfaticamente do que o usual – como se fossem dois garotões no auge da juventude. O que o incomodava não era exatamente o flerte em si, mesmo porque Mirajane era uma mulher bonita que naturalmente chamava muita atenção, então era de se esperar que alguns idiotas tentassem impressioná-la. O problema era a forma condescendente com que ela simplesmente sorria a cada insinuação vulgar daqueles velhos estúpidos, ao invés de liberar o Demônio para lhes ensinar uma lição.

Mas não, o único que era punido por qualquer coisa era ele.

– Laxus. – Chamou Evergreen, interrompendo seus devaneios. Ele automaticamente aliviou o aperto em sua caneca e virou a cabeça para o lado, procurando o motivo de ter sido requisitado.

Três moças desconhecidas se encontravam paradas diante de sua mesa, observando-o com expectativa. Estavam todas bem vestidas com roupas justas e curtas e pareciam ser civis. Não era incomum que pessoas da cidade viessem à Fairy Tail para beber, afinal todas as noites eram regradas a álcool e festas na guilda.

Estava acostumado a ser ocasionalmente abordado por mulheres em bares, restaurantes ou até mesmo na rua, mas geralmente fugia desses encontros na guilda ao se isolar no segundo andar. Seu sucesso em missões rank-S e sua longínqua linhagem de magos poderosos fizeram com que sua fama aumentasse rapidamente ao longo dos anos, espalhando-se até mesmo fora do mundo mágico. Freed já havia lhe dito que ele era possuidor do segundo maior fã-clube de Fiore – perdendo apenas para Hibiki da Blue Pegasus –, mas nunca dera muita importância para tal.

Aparentemente, o constante assédio que sofria havia lhe conferido uma reputação de "pegador", mas não era verdade. Laxus passara a maior parte da adolescência focado em treinar para ficar mais forte e o restante da vida adulta embarcando em missões perigosas que levavam dias e, às vezes, semanas para serem concluídas. Não tinha muito tempo para se relacionar com o sexo oposto – exceto quando era punido, mas não queria pensar nisso – e também não se interessava muito pelas mulheres que tentavam uma aproximação. Algumas eram, sim, muito bonitas, mas no geral pareciam todas iguais, usando os mesmos cortes de cabelo, vestindo as mesmas roupas da moda e ouvindo apenas as músicas que tocavam no rádio. Talvez a convivência com as mulheres fortes e autênticas da Fairy Tail o tivesse deixado exigente demais para os padrões normais.

Além disso, se envolver com outras mulheres resultava em mais dor e castigo.

A do meio, uma loira alta e esguia, deu um passo à frente em meio aos risinhos das suas amigas, mexendo no cabelo casualmente para dar a si mesma um ar de descontração. O Dragon Slayer conteve uma careta quando o perfume forte dela invadiu seu olfato, mais aguçado do que o de um humano comum.

– Hmm, Dreyar-san, – Disse ela, batendo os cílios várias vezes e depositando uma dose exagerada de charme em sua voz. – Você poderia, se não for incomodar, é claro, me dar a honra de ter um autógrafo seu?

E então um papel e uma caneta se materializaram em sua frente e ele assinou maquinalmente, sem dizer palavra, ao som do burburinho das outras mulheres. As três sorriram e agradeceram com mais risinhos quando ele deslizou o papel de volta, e ao estender o braço para recolhê-lo, a loira deixou escorregar um guardanapo na mesa. Quando elas se foram, Laxus não se surpreendeu ao ver uma marca de batom e um número de telefone. Também ganhava muitos daqueles.

– Suave, boss. – Bickslow o congratulou e aquelas coisinhas flutuantes irritantes que estavam sempre com ele o imitaram. Suave, suave, suave. Laxus grunhiu, finalizando sua cerveja com um só gole.

– Você está de mau humor hoje. – Comentou Evergreen distraidamente, ajeitando os óculos. – Qual é o problema?

Ele não respondeu. Tencionou levantar a caneca para pedir por um refil, mas Mirajane já havia antecipado seu anseio, pois veio rebolando em direção à mesa com uma caneca cheia em mãos e aquele sorriso ridículo – porém arrasador – na cara, o mesmo sorriso com que aceitava gracejos de idiotas.

– Laxus está cada vez mais popular, não? – Ela apontou, com uma piscadela divertida para o Raijinshuu, enquanto substituía as canecas. – Até aqui na guilda seu fã-clube aparece agora.

Aquela provocação o deixou mais irritado ainda. Não conteve o ímpeto de lhe dar uma resposta atravessada, não depois de todas as porcarias que teve que presenciar.

– Heh, não se preocupe, Mira. – Respondeu, simulando um de seus famosos sorrisos cínicos. – Ainda tem espaço pra você na minha cama.

Vários homens que estavam sentados por perto olharam feio para ele, incluindo Wakaba e Macao, que começaram a berrar em defesa de Mira-chan. Não era mais do seu feitio ser escroto de forma proposital com outras pessoas, mas ela merecia ser castigada de alguma forma por ser tão complacente com os avanços dos velhos nojentos e ao mesmo tempo tão com ele.

A garçonete apenas suspirou, sem se deixar abalar com a grosseria do Dragon Slayer, e balançou levemente a cabeça, sustentando seu sorriso. Sacou o pano que estava jogado displicentemente sobre seu ombro e começou a limpar a mesa.

Laxus decidiu que já havia sofrido incômodo suficiente para um dia só e se levantou, indo em direção ao segundo andar para escolher o próximo trabalho. Ao cruzar com Mirajane, entretanto, notou um certo brilho em seus olhos – um brilho que, com certeza, ninguém mais havia notado –, e naquele instante ele soube.

Naquele instante ele soube que pagaria caro, mas muito caro, por aquele comentário.

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A lua já estava alta no céu no momento em que Laxus chegava em casa após três dias ininterruptos de perseguição dos remanescentes de uma guilda ilegal. Sua cabeça doía e seu corpo clamava por uma boa noite de sono, porém mal pôs os pés para dentro da sala de estar quando uma mão demoníaca empurrou violentamente a porta, fechando-a com um estrondo em suas costas.

Um aroma tênue de baunilha invadiu suas narinas, mas não precisava de pistas para saber a identidade do intruso.

– Diaba. – Ele praticamente cuspiu a palavra e longas garras rasparam a porta ao lado de seu rosto, deixando marcas permanentes na madeira.

Ela era a única pessoa que tinha a ousadia de invadir sua residência.

– Anda fugindo de mim? – Mirajane murmurou inocentemente em sua forma humana, porém com os braços transformados. Arranhou a mandíbula dele desde a base da orelha até o queixo e ele estremeceu, se amaldiçoando internamente por ser incapaz de controlar suas reações quando ela o instigava daquela forma insuportavelmente sedutora. – Achou que eu ia me esquecer da sua desfeita na guilda?

Laxus não respondeu, apenas agarrou-a pela face e a puxou avidamente contra si, beijando-a com fúria. Não demorou muito para que suas línguas começassem a dançar uma contra a outra, lutando por dominância.

Suas mãos desceram pelo corpo feminino, apertando-a com rudeza, e ele girou o tronco para trocar de posições e prensá-la contra a porta. Entretanto, ela já havia se adiantado, empurrando-o com brutalidade em direção ao sofá. O Dragon Slayer perdeu o ar por um momento ao sentir o forte choque das suas costas doloridas contra o estofado, mas mal se recuperara do baque e Mirajane já caía sobre si, arrancando dele um rosnado involuntário.

– Está achando que eu sou uma das menininhas do seu fã-clube, Laxy? Que você pode me tratar do jeito que bem entender? – A voz dela soava perigosamente baixa como se várias agulhas o estivessem perfurando, e o volume crescente em suas calças começou a latejar quando ela se sentou sobre seu quadril. – Será que eu vou ter que fazer você implorar de novo para obedecer?

– Vá à merda! – Esbravejou ele à menção da palavra 'implorar', tentando agarrá-la pelos braços, mas Mirajane fechou as garras compridas e poderosas em seus pulsos, imobilizando-os.

A força demoníaca do Take Over tornava impossível para ele se desvencilhar apenas com a força física. A única forma de escapar do aperto do Satan Soul seria eletrocutando Mirajane e essa era uma coisa que ele nunca havia reunido coragem suficiente para fazer, visto que não podia controlar com exatidão a voltagem de seus choques. Se exagerasse na dose, poderia machucá-la seriamente.

Mirajane obviamente sabia disso porque, ao vê-lo hesitar em se soltar, sorriu diabolicamente, puxando os braços dele para cima. Com a mão livre, deslizou vagarosamente as unhas afiadas pelo pescoço masculino, parando no centro do colarinho da camisa.

– Tsc tsc tsc, pobre Laxus. Tão devagar em aprender. – O movimento langoroso se transformou subitamente em um puxão dolorido, e Laxus suprimiu um grunhido num misto de dor e prazer quando os botões de sua camisa voaram para todos os lados. Marcas avermelhadas surgiram em sua pele e ele sabia que aquelas eram as primeiras de muitas.

– Se você me soltasse, veria que posso aprender bem rápido. – Sua voz saiu acidentalmente rouca e sem muita convicção. Mirajane riu com escárnio porque ambos sabiam que aquilo não ia acontecer e ele praguejou, tendo que fechar os olhos e respirar fundo quando a língua feminina traçou as linhas recém-desenhadas em seu peito até a base do pescoço, os cortes ardendo quando em contato com saliva.

Era patética a forma como estava completamente à mercê das maquinações da maga satânica, ele sabia. Da primeira vez em que ela o encurralara no armário de vassouras da guilda, anos atrás, dizendo que precisava ser punido por algo que ele sequer se lembrava de ter feito, Laxus ficara paralisado de choque. Mesmo sendo Mirajane uma criatura de gênio irascível e temperamento indócil na época, ele nunca esperaria aquela veia sadista em uma garota menor de idade, mesmo se tratando do demônio em pessoa.

Passada a surpresa inicial, contudo, é claro que ele tentara impor suas próprias regras da segunda vez em que fora interpelado, afinal ele era Laxus Dreyar e as mulheres é que caíam aos seus pés, e não o contrário. Mas aquilo só serviu para que ela começasse a empregar o uso da força do Satan Soul para imobilizá-lo, sem que ele pudesse fazer nada que não envolvesse transformá-la em um cadáver carbonizado. Não era por diversão, ela fez questão de reforçar. Era punição.

Definitivamente, era a pior das punições, na opinião dele, lhe ter negado o maior dos prazeres: arrancar suspiros de Mirajane Strauss até que ela gemesse seu nome.

Quando estava com ela, Laxus se via envolto por um paradoxo do qual não conseguia escapar. Odiava ser punido, odiava se sentir impotente diante do aperto inexpugnável das garras demoníacas, odiava ter que assisti-la ministrando suas deliciosas torturas sem poder efetivamente colaborar. Odiava, acima de tudo, implorar por mais, como uma putinha submissa.

Entretanto, se tivesse que escolher entre possuí-la, humilhação inclusa, ou não tê-la de forma alguma, ele escolheria – mas preferiria morrer antes de admitir, certamente – mil vezes o tormento de olhar sem poder tocar. Mirajane com certeza viera diretamente do inferno, arquitetada pelo próprio satanás para ensandecer o mais incorruptível dos homens. Cada curva de seu corpo era uma armadilha, a voz melodiosa como um canto de sereia a ludibriar marujos perdidos, a expressão do mais puro anjo que poderia se transformar na personificação do pecado em questão de segundos. Seu cheiro era como um afrodisíaco que o dominava antes mesmo que se desse conta e seu toque era como ferro em brasa, marcado tão profundamente em sua pele que poderia perdurar por dias a fio.

Mirajane era simplesmente perfeita e aquela perfeição era seu calcanhar de Aquiles.

– Onde está o Laxus machão agora, querido? Já está desistindo?

Laxus abriu os olhos para ter um vislumbre da cena mais erótica que jamais presenciaria: a mulher mais desejada de Fiore se esfregando contra seu quadril, o tecido do vestido displicentemente erguido deixando quase que totalmente à mostra o par de coxas macias, os lábios úmidos entreabertos e um olhar lânguido e quente que fez com que fagulhas se acendessem automaticamente por todo seu corpo, incendiando-o de dentro para fora. O restolho de determinação que ainda possuía involuntariamente escorreu ralo abaixo como se nunca tivesse existido.

Ela se inclinou para beijá-lo levemente nos lábios, porém se afastou antes que ele pudesse participar.

– Peça perdão e implore, Laxy, que eu te dou o que você quer. – A boca dela se moveu para o lóbulo de sua orelha esquerda, arranhando-o com os dentes, e seu cérebro se desligou, transferindo todas as tomadas de decisão para o membro entre suas pernas, que gritava para sair do aperto imposto pelas calças. Ele se remexeu, desconfortável, e a língua incansável de Mirajane se redirecionou para percorrer os traços de sua tatuagem, ao passo que garras cortantes castigavam seus braços.

Testou mexer os pulsos mais uma vez, mas a fadiga muscular proveniente da missão recém-concluída impediu que ele fosse longe em sua insistência. Não que fosse fazer alguma diferença se o demônio estava determinado em ter sua vingança, de qualquer forma.

– Implore, Laxus. – Mirajane detectou sua impaciência e desatou a fivela do seu cinto com uma mão habilidosa. Uma onda de alívio tomou conta de si ao se ver livre das barreiras de tecido que o separavam de sua torturadora, e só notara naquele momento o quanto estava ofegando, ansiando por aquilo. Gotículas de transpiração haviam se formado em suas têmporas e o suor que dominava seu corpo estava começando a arder contra os arranhões.

Ela desceu novamente sobre sua cintura, pressionando-se úmida – Deus, desde quando ela estava sem roupas íntimas? – contra sua ereção, e dessa vez ele não conseguiu suprimir um grunhido.

Implore.

Ele implorou.

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Um detalhe sobre o segundo andar da Fairy Tail, restrito aos magos aptos para executar missões rank-S: era o melhor lugar para se isolar espacialmente, mas não acusticamente. Em uma situação normal onde o universo não estaria conspirando contra ele, esse problema poderia ser facilmente contornado com seus poderosos fones de ouvido, mas seu SoundPod inexplicavelmente parou de funcionar depois de ir de encontro à parede.

E à sola de suas botas. Repetidas vezes.

Já não bastasse a voz aguda de Natsu vinda do andar de baixo martelando insistentemente em seus ouvidos, ainda tinha que lidar com o excessivo desconforto de estar vestindo camisa de manga comprida em pleno verão de Magnolia. As cicatrizes ainda ardiam vermelhas em sua pele – e mente – e a perspectiva de ter que explicá-las a observadores curiosos inventando uma história mirabolante na qual ninguém acreditaria de qualquer jeito não o deixava exatamente animado.

Olhou pelo que seria a trigésima oitava vez para o quadro vazio de missões e sua paciência atingiu novos recordes de limite, pois não fazia a menor idéia de como conseguira ficar ali por tanto tempo sem se atirar pela janela. Se tivesse que dar um palpite, chutaria que provavelmente era devido aos oitenta por cento de álcool da sua garrafa de seja-lá-o-que-estivesse-bebendo.

Bufou, massageando as têmporas em uma tentativa vã de aliviar as pontadas de dor que sentia após uma péssima noite de sono. Aquele demônio ainda seria a sua morte.

E falando no próprio diabo, eis que a mesma acabara de surgir rebolando em sua direção. Sentira seu cheiro antes mesmo de vê-la chegando, de forma que quando Mirajane se fez presente à sua frente ele estava de nariz torcido, o rosto se contorcendo em uma careta emburrada.

A maga apenas achou graça em sua expressão, sorrindo do mesmo modo estúpido de sempre.

– Pobre Laxus, parece que foi atropelado por uma manada de bois. – Disse ela, simulando um biquinho de desapontamento, enquanto se aproximava para passar um pano na mesa e recolher o copo vazio.

O termômetro da sua paciência escolheu exatamente aquele momento para estourar e o Dragon Slayer a puxou violentamente contra seu colo, imobilizando-a com dois braços fortes. O pano escorregara das mãos dela para o chão ao ser esmagada pelo seu aperto doloroso, mas não poderia se importar menos com o conforto dela quando era ele que estava arranhado, dolorido e empapado de suor.

– Hum, alguém está mais diligente do que na noite passada. – Ela cantarolou, divertida, sem deixar o sorriso se desvanecer.

– Bruxa.

– Eu não faço nada que você não mereça, Laxy.

Laxus grunhiu em discordância. Duvidava muito que entrar na guilda com os pés sujos de barro ou deixar cair algumas cinzas de charuto na mesa eram motivos válidos para ser esfolado vivo pelo Satan Soul.

– Você está destruindo todas as minhas roupas. – E a porta. E o sofá. E a minha sanidade.

– Se você não fosse um menino tão malcriado, não teria que ser punido. – Mirajane encolheu os ombros como se não pudesse fazer nada em relação àquilo, empregando certa inocência em sua voz que só serviu para deixá-lo ainda mais enraivecido.

– Tampouco Macao e Wakaba me parecem o melhor exemplo de bom comportamento. – Queixou-se, incapaz de conter sua indignação, mas se arrependeu quase que instantaneamente, receoso de ter dado idéias para a mulher. Por mais que abominasse suas punições, a mera menção a uma Mirajane seminua nos braços de outro homem já era o suficiente para fazer com que o sangue fervesse em suas veias.

Ela, contudo, jogou a cabeça contra seu ombro e riu como se fosse a coisa mais ridícula que já ouvira na vida.

– Punir Wakaba ou Macao não teria nem metade da graça que tem atormentar o grande, poderoso e inabalável Laxus Dreyar. – Explicou ela, ainda risonha. Ele – quer dizer, o álcool – lhe respondeu com um sorriso torto, inclinando a cabeça para que pudesse encostar levemente os lábios na orelha dela, o que fez com que o ar de riso desaparecesse completamente do rosto da maga.

– Pois eu acho – Começou ele, a voz baixa e grave, o que a fez estremecer, e ele se viu satisfeito com aquela reação. – que é porque você me quer, diaba.

Mirajane hesitou por um momento, deslizando a língua pelos lábios para umedecê-los. Aquilo não passou despercebido aos olhos do Dragon Slayer, que comemorou internamente por ter acabado com a atitude petulante com que ela o vinha provocando.

– E eu acho que você está muito convencido hoje.

– Ora, vamos, Mira, – Ele sugou o lóbulo de sua orelha e moveu as mãos pelo corpo dela, fechando-as em sua cintura. – nós dois sabemos que você morre de ciúmes do meu fã-clube.

Agora, uma coisa muito importante a ser notada aqui é que, se não estivesse tão bêbado, ele nunca teria mencionado outras mulheres. Apesar de achá-las na maior parte do tempo enfadonhas, Laxus era 1) um homem, 2) solteiro (?) e 3) ávido para provar a si mesmo que podia sim fazer mulheres sucumbirem ao seus desejos. Como muitos dos trabalhos requeriam que ele ficasse fora por longos períodos de tempo, por vezes buscava uma distração feminina em bares – quando a própria já não vinha em sua direção.

Não se sentia particularmente culpado por ter relações sexuais com outras mulheres, afinal não fizera nenhum acordo de monogamia – se é que prender e flagelar um ser humano contava como um tipo de relacionamento, para começo de conversa – com Mirajane, mas sabia que ela detestava quando ele se enfiava entre as pernas de outra mulher simplesmente porque estragava todos os seus planos de mantê-lo sexualmente frustrado. Ainda que não dissesse absolutamente nada a ninguém sobre seus encontros casuais, ela era capaz de farejá-los assim que ele punha os pés na guilda, como se tivesse a habilidade de ler mentes, o que em seguida resultava em uma punição muito mais violenta e dolorosa.

Laxus sentiu o corpo feminino enrijecer em contato com o seu ao ouvir a palavra 'fã-clube' e soube instantaneamente que ela estava furiosa. Mirajane se desvencilhou do seu aperto com certa rispidez e se ergueu, girando para encará-lo com uma das suas famosas expressões demoníacas. Ela inclinou o corpo lentamente para frente, apoiando as mãos nas pernas dele.

– O que você quer dizer com isso, Laxus? – Perguntou ela em uma voz ameaçadora, enterrando as unhas em suas coxas. Seus rostos estavam tão próximos um do outro que suas respirações se mesclaram.

– Que você precisa parar de ser covarde. – Respondeu ele igualmente sério, mas antes que ela pudesse fazer qualquer movimento, Laxus a agarrou pela nuca e colou seus lábios nos dela.

Os beijos que eles compartilhavam eram sempre ásperos e urgentes, com um tentando sobrepujar o outro, e este não fora diferente dos demais. Mirajane subiu as mãos de forma provocante pelo seu corpo até chegar ao pescoço, fechando os dedos na gola da sua camisa. Puxou-o para frente, fazendo com que ele se levantasse, e o conduziu para o canto mais afastado do segundo andar para que não houvesse chance de serem vistos pelas pessoas no andar de baixo.

Laxus foi jogado sem cerimônias contra a parede dura e fria e ele teve que escorregar um pouco o tronco para que ela conseguisse juntar suas bocas novamente. Suas mãos desceram pelas costas de Mirajane até o traseiro, apertando-a de forma possessiva, ao mesmo tempo em que mordiscou o lábio inferior dela, fazendo-a arquejar em resposta. Ela, por sua vez, resvalou os dedos até o zíper de suas calças e o desceu com destreza, deslizando a mão para dentro da cueca para massageá-lo, o que resultou em uma onda de calor que se espalhou pelo seu corpo como fogo em palha seca.

O Dragon Slayer puxou o vestido dela para cima com a intenção de despi-la das roupas íntimas, porém a maga o afastou levemente para se ajoelhar no chão. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Mirajane abaixou suas calças e o envolveu com a boca. Laxus grunhiu, sentindo a onda se intensificando até dominar todos os seus sentidos, deixando-o entorpecido.

Sem conseguir desgrudar os olhos por um instante sequer, observou-a movendo a cabeça para frente e para trás, sugando-o sem qualquer traço de hesitação, e quando ela se inclinou sutilmente apenas para que seus olhares se cruzassem, a cena ficou permanentemente impressa em sua mente. Os orbes azuis dela eram dois cristais liquefeitos, inocentes como o de uma donzela virgem, o que fez com que a situação em que se encontravam parecesse mil vezes mais indecente do que inicialmente. Provavelmente nunca mais conseguiria receber um oral de outra mulher sem se desvencilhar da imagem de Mirajane Strauss agachada entre suas pernas, estimulando-o com voracidade.

Laxus grunhiu mais uma vez, sentindo o coração martelar com fúria contra sua caixa torácica. Sua cabeça estava completamente anuviada pelo prazer – e talvez um pouco pelo efeito do álcool – e ele fechou os dedos nos cabelos dela com urgência, pressentindo que estava quase no seu limite.

Foi aí que ela se afastou de súbito, ignorando a confusão que se fez presente no semblante dele. Pondo-se de pé, Mirajane colou os lábios em sua orelha de modo semelhante ao que ele fizera anteriormente, e sussurrou, a voz soando como uma advertência:

– Não me diga o que fazer, Laxy.

E saiu andando em direção às escadas, largando-o rijo e ofegante para resolver a situação sozinho.

– Ah, – Ela parou, sem se virar para encará-lo, parecendo se lembrar de alguma coisa. – só vim para te avisar de que não há missões rank-S novas hoje.

Laxus ficou parado por um longo momento, apenas observando as costas dela sumirem degraus abaixo, até que a compreensão do que tinha acontecido o atingiu em cheio. Segundos depois, pessoas no andar de baixo gritavam e corriam, tentando fugir das dezenas de lâmpadas que estavam misteriosamente estourando em suas cabeças.

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As pessoas costumavam achar que Bickslow era mais um desses caras estúpidos e desligados, com os cérebros do tamanho de uma ervilha, que estavam sempre fazendo piadas e falando coisas idiotas.

Por detrás de seu capacete, contudo, ele observava tudo com olhos de rapina. Notava Evergreen ajeitando o cabelo antes de entrar no salão da guilda quando constatava que Elfman estava presente. Notava Freed disfarçando os suspiros quando saíam em missão com Laxus. Notava Droy roubando as batatinhas de Jet quando achava que ninguém estava vendo, e notava o exato momento em que Natsu arquitetava alguma artimanha para arranjar briga com Gray.

Notava, acima de tudo, quando o mau humor de Laxus não era o seu habitual.

Por vezes, ele se mostrava mais quieto e rabugento do que o normal e o Raijinshuu tinha que se reunir para discutir os possíveis motivos para a volta da "carranca mais feia da história do universo". Freed não tinha a menor idéia e chorava, desesperado, com a possibilidade de ser culpa dele o desagrado de seu maior ídolo, e cada vez que o fazia Bickslow tinha vontade de enfiar aquela espada que ele sempre carregava no rabo dele para parar com o escândalo. Evergreen talvez desconfiasse de algo, embora nunca parecesse se importar com nada desde que pusera os olhos no debilóide do Elfman, saindo dos seus devaneios eróticos apenas para xingá-lo em voz alta de vez em quando. Já Bickslow tinha certeza de que o problema se tratava de uma mulher...

Ou então de um animal selvagem porque, para cobri-lo com aquele tipo de arranhões, Senhor, não podia ser um ser humano comum. Laxus disfarçava com suas habituais camisas sociais, mas se olhasse com atenção, era possível ver marcas avermelhadas – por vezes arroxeadas – em sua nuca, próximas ao colarinho. Coincidentemente, sempre que o mau humor aparecia, aliado a uma poderosa onda de bebedeira, era acompanhado das misteriosas marcas.

O patrão devia curtir umas paradas hard core na cama, pensava, porque nunca, em uma situação ordinária, ele se permitiria ser atacado daquela forma. Bem, quem era ele para julgar as excentricidades dos outros?

Bickslow não era do tipo que dava conselhos e o Dragon Slayer não era do tipo que pedia, então se limitava a esperar que a fase emburrada simplesmente passasse. Ultimamente, entretanto, percebera que os arroubos de rabugice estavam cada vez piores, e quanto mais trombudo Laxus ficava, maior era a choradeira de Freed. E quanto maior a choradeira de Freed, maior era o seu ímpeto de matá-lo, atear fogo em seu corpo e enterrar os restos em uma vala bem longe de si.

Então, em prol da saúde mental dos homens do Raijinshuu, ele incluído nessa contagem, decidiu interferir. Indiretamente, é claro.

A missão do dia não havia sido tão difícil, apenas cansativa. Eles foram encarregados de investigar um suposto ataque à jovem esposa de um comerciante influente, mas no fim das contas, tudo fora forjado pela própria mulher porque, aparentemente, ela não estava recebendo tanta atenção do marido. Mesmo assim, seus numerosos cúmplices na farsa ainda tinham que ser detidos e levados às autoridades locais e o grupo se focou nessa tarefa, apesar de nenhum deles possuir poder mágico suficiente para ser um verdadeiro empecilho.

Evergreen e Freed já haviam se recolhido para dormir, restando apenas ele e Laxus, que estava sentado na varanda com cara de quem havia chupado limão azedo. Bickslow pegou dois copos e uma garrafa de uísque, movendo-se para se sentar na cadeira ao lado dele. Seus bebês tencionaram segui-lo, mas achou melhor desativá-los para evitar acidentes.

– Dia cheio, hein, boss? – Disse, enchendo um dos copos e entregando para ele, que o aceitou sem agradecer. Serviu-se com o outro. – E tudo por culpa de uma mulher louca.

– Hn. – Respondeu ele, bebendo o líquido em apenas um gole.

Bickslow encheu ambos os copos novamente e eles permaneceram por longos minutos em silêncio, apenas virando uísque goela abaixo.

– Não entendo as mulheres. – Continuou ele após quatro ou cinco doses, já tinha perdido a conta. – Quer dizer, no que raios elas estão pensando o tempo todo?

– Ninguém entende. – Resmungou Laxus, com a língua um pouco enrolada, estendendo o copo vazio para ser novamente preenchido.

– Se sai pra trabalhar, elas reclamam. Se fica em casa, elas reclamam.

– Hn.

– Se abre a boca, é só pra falar as coisas erradas. Se não fala nada, é porque não se importa. – Bickslow tropeçava nas palavras, já não sabendo mais se estava falando coisas que faziam sentido, mas Laxus grunhia e concordava com a cabeça, então concluiu que estava funcionando. – Mas sabe, boss, eu descobri que a melhor maneira de lidar com mulheres é...

Ele fez uma pausa dramática, tentando inventar algo que parecesse plausível, mas seu cérebro alcoolizado não estava muito disposto a cooperar.

– É... fazer exatamente o oposto do que elas esperam. – Huh?

Laxus franziu o cenho enquanto contemplava o jardim do hotel, parecendo considerar o que havia acabado de ouvir. E então ele se endireitou em seu assento e seu semblante mudou subitamente, como se tivesse acabado de ter uma idéia genial. Seu trabalho estava oficialmente cumprido.

– Bem, – Bickslow se levantou, as pernas um pouco moles. – Nós deveríamos dormir. O trem sai amanhã de manhã.

E torceu para que os ataques de pelanca do patrão fossem extintos de vez.

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Era quase hora do almoço e apenas metade das mesas estava ocupada, o que tornava a guilda consideravelmente menos barulhenta do que o usual. Ótimo, pensou, assim poderia ser ouvido em alto e bom som sem que parecesse ser essa sua intenção. Olhou em volta e constatou que Bobalhão Strauss não estava ali, o que era um bônus, já que ele poderia prejudicar seu plano.

Freed acenou da mesa onde o Raijinshuu estava acomodado quando viu que ele havia entrado, mas Laxus o ignorou, caminhando diretamente em direção ao balcão, onde Mirajane enxugava distraidamente um copo. Bebê Strauss estava ao seu lado, organizando alguns papéis.

– Olá, Laxus, – Lisanna foi a primeira a perceber sua aproximação (ou a primeira a demonstrar, pelo menos) e cumprimentou-o com um sorriso amigável. – você quer olhar os pedidos que acabaram de chegar?

– Só as rank-S. – Replicou ele ao se sentar sobre um dos bancos, e a garota lhe entregou um maço de folhas. Uma xícara de café fumegante se materializou à sua frente sem que tivesse pedido, porém ele a aceitou de bom grado, tomando um gole enquanto analisava um trabalho em particular.

– Missão solo, Laxus? – Mirajane comentou casualmente, concentrada em seus afazeres. Se achou estranho o fato dele estar ali no bar, conversando normalmente ao invés de se isolar em algum canto com o Raijinshuu ou sozinho no segundo andar, ela não demonstrou. – Freed estava ansioso para sair com você.

– Mimar crianças as deixa muito dependentes. – As garotas acharam graça naquela resposta, rindo levemente. O Dragon Slayer terminou sua bebida e aproveitou a distração delas para olhar discretamente para os lados. Wakaba e Macao estavam acomodados em uma mesa próxima à sua direita, falando baixo e por vezes o espiando, desconfiados. À sua esquerda, Levy estava entretida com algum livro qualquer enquanto Gray e Wendy conversavam sobre seus respectivos encargos do dia. Era hora de agir.

– Mira, vou pegar esse. – Disse Laxus de forma descontraída, empregando certa força em sua voz para parecer mais audível, porém não fora do normal. Separou uma das folhas e a entregou, puxando uma nota da carteira e depositando sobre o balcão antes de se levantar.

– Você parece bem disposto hoje. – Mirajane interrompeu suas tarefas para pegar o livro de registros, sorrindo da sua forma habitual, porém empregando um tom provocativo que ele sabia ser perceptível apenas para ele. – A noite foi boa?

Laxus aproveitou a deixa e se inclinou lentamente sobre o balcão, o que despertou a curiosidade da maga. Ao perceber a atenção dela voltada para si, encarou-a profundamente nos olhos, totalmente sério, sem qualquer traço de malícia no rosto.

– Não, nada em particular na noite anterior... porém, – Ele fez uma curta pausa para umedecer os lábios. – esta noite seria ótima se você aceitasse jantar comigo.

As mesas mais próximas deles caíram subitamente em um silêncio sepulcral e os únicos sons que puderam ser ouvidos foram o baixo ruído do charuto de Wakaba caindo no chão e um leve guincho proveniente de Lisanna. O sorriso de Mirajane se plastificou, vagarosamente diminuindo com descrença.

Ele a pegara de surpresa. E todo mundo presenciou ele a pegando de surpresa.

Podia senti-la analisando-o minuciosamente à procura de algum ardil, algum plano diabólico para enganá-la e se vingar por todas as vezes em que havia o abandonado com as calças arriadas, mas ele lutou para se manter calmo e confiante, sustentando seu olhar.

Uma súbita onda de nervosismo se apoderou de si com a possibilidade de seu plano sair pela culatra e Mirajane simplesmente rejeitar seu convite da mesma forma displicente com que contornava outros assédios masculinos. Assumira que ter outras pessoas presentes quando lhe fizesse a proposta de modo honesto, sem margens para ser confundido com um flerte descompromissado, a compeliria a aceitar sem quaisquer transtornos (vulgo Demônios). Mas não.

Francamente, a idéia soara muito melhor em sua cabeça quando estava podre de bêbado.

Lisanna, que até aquele momento se encontrava petrificada em um estado de perplexidade, abriu o mais largo dos sorrisos e enlaçou o braço da irmã, quebrando o entrave mental que estava acontecendo entre eles.

– Mira-nee, olha só que ótima oportunidade para você tirar aquela folga que conversamos! – Exclamou ela, empolgada, e voltou o rosto na direção dele, os olhinhos brilhando. Céus, obrigado, Lisanna. – E o Laxus pode te levar naquele restaurante novo perto de casa, não é, Laxus?

– Mas é claro. – Respondeu ele, sem desviar a atenção de Mirajane, que mordiscava o lábio inferior, ainda desconfiada. Lisanna notou a hesitação dela e deu um leve apertão no pulso da irmã, que tencionou abrir a boca para protestar, mas por fim resignou-se, suspirando.

– Tudo bem... eu acho.

– Ótimo. – Laxus bateu os punhos levemente no balcão em tom de quem finaliza a conversa, se afastando para sair. – Pego você às oito.

Foi só quando virou as costas e começou a andar em direção à porta que notou que as palmas de suas mãos estavam encharcadas de suor.