Disclaimer: Naruto não me pertence e blá blá blá!
Mas o Neji é todo meu! ù.Ú


Sinopse: Durante alguns minutos ele correspondera aos beijos com ardor, saboreando os lábios doces e trêmulos...


Lembranças

by Hayka_san

Foi em um daqueles dias abafados, característicos do final da primavera, que Hyuuga Neji começou a se sentir inquieto outra vez. Trabalhar para a agência de detetives tinha sido excitante e interessante a princípio, mas agora o desejo de voltar a viajar parecia não lhe dar mais paz.

Pela janela aberta do escritório ele podia ver o parque que havia em frente, onde a figura de uma mulher caminhando ao lado de um cachorrinho peludo logo lhe chamou a atenção, pois o fez lembrar-se de Tenten.

Mitsashi Tenten. Nos últimos meses Neji evitara pensar nela por causa do que acontecera quando ele e sua prima, Hinata, haviam ido pra casa, pouco antes das festas de fim de ano. Não fora surpresa nenhuma descobrir que Tenten também estava na cidade e que todos tinham sido convidados para a mesma festa de reveillon. Afinal, Tenten e Hinata eram amigas de infância e não perderiam uma oportunidade para ficarem juntas.

Não passara despercebido a Neji o interesse com que Tenten o fitara durante toda a festa, nem o modo como apenas duas taças de ponche a tinham deixado com a cabeça nas nuvens. Com certeza a amiga de sua prima não estava acostumada a beber, o que ficara provado quando ela praticamente se atirara em seus braços, num cantinho da varanda, começando a beijá-lo.

Durante alguns minutos ele correspondera aos beijos com ardor, saboreando os lábios doces e trêmulos, mas não demorara muito para afastar-se e exigir uma explicação.

Ainda um pouco tonta por causa da bebida, a garota havia lhe havia dito que os dois seriam muito felizes juntos e que sempre soubera que ele viria procurá-la quando estivesse pronto para assumir um compromisso definitivo.

Neji não tinha idéia de onde Tenten tinha tirado aquelas idéias absurdas. Ele já pensara em aproximar-se dela com intenções românticas, mas isso fora há muitos anos... Portanto, Ao ouvir tamanhos disparates, perdera por completo a cabeça e dissera-lhe coisas horríveis, até vê-la abandonar a festa correndo, com o rosto delicado e triste banhado de lágrimas.

Pouco tempo depois ele fora para casa, a fim de arrumar as malas para partir. Embora não tivesse contado uma palavra à Hinata sobre o acontecido, supunha que Tenten o houvesse feito. Desde então, nunca mais a vira. Arrependia-se das coisas que lhe dissera, mas achava difícil procurá-la para pedir desculpas.

Uma repentina batida à porta arrancou-o de seus devaneios.

— Você já se decidiu? — Hinata perguntou, entrando no escritório. Neji virou-se lentamente, os olhos olhos de um perolada tão gritante quanto o da prima. contrastando com os cabelos muito escuros.

— Sim.

— Vai fazer o que lhe pedi? — ela indagou com um sorriso.

— Já pensei sobre o assunto e a resposta é não, não vou fazer.

— Neji, por favor!

— Não insista, Hinata. Você terá de conseguir sua informação de outra maneira.

— Oh, você precisa me ajudar! Afinal, sou sua familia, já esqueceu?

— Na verdade, não — resmungou ele com total indiferença. Havia momentos em que Hinata gostaria de torcer o pescoço de seu querido e teimoso priminho, mas se o fizesse só lhe restaria o noivo, Naruto, como companhia.

— Além de ser o único ex-agente do FBI que trabalha aqui na agencia de detetives, você tem contatos nos lugares certos. Bastaria alguns telefonemas... — resmungou ela.

Neji e Hinata encararam-se por alguns segundos. Fisicamente, eram bastante parecidos, tinham olhos brancos, caracteristicos dos Hyuugas, nariz reto e expressão decidida, mesmo em Hinata que parecia ser mais delicada. Neji, entretanto, sempre fora mais introvertido e calado.

Ao longo dos anos, Neji viajara bastante a trabalho, como agente do FBI, enquanto Hinata continuava seus estudos em Washington. Por causa disso os dois já haviam passado meses, às vezes mais de um ano, sem se encontrar.

E então Neji recebera um convite de Sasuke, um velho amigo, para pertencer ao quadro de detetives particulares de sua recém-criada agência. Ele não hesitara muito em deixar o FBI e mudar-se da capital para o iinterior do Texas. Levara Hinata consigo, como sua assistente, pois depois de dois anos freqüentando a escola comercial a jovem estava apta a ocupar a posição. Era bom os dois poderem ficar juntos outra vez, pois seus pais já haviam falecido e eles não possuíam outros parentes , além de Hanabi a caçula dos Hyuugas que ainda curçava o colégio interno em New Jessy.

Ao mudar-se, Hinata sentira muita falta de Tenten, sua amiga desde a infância. Para matar as saudades, as jovens se correspondiam, embora Tenten tomasse o cuidado de jamais mencionar o nome de Neji em suas cartas. Pelo jeito, suas lembranças da festa de reveillon deviam ser ainda bastante dolorosas.

— Não — repetiu Neji por fim. — Não vou telefonar para o pessoal do FBI.

— Então contarei tudo — ameaçou Hinata.

— Contará o quê?

— Direi a Sasuke que você foi almoçar com aquela loura maravilhosa em vez de trabalhar no caso para o qual foi designado.

— Vá em frente, conte tudo. A tal loura é um dos meus contatos. Não costumo misturar trabalho e diversão, sabia?

— Ainda assim você se diverte bastante — Hinata argumentou, subitamente séria. — E nunca leva as mulheres a sério.

— Não me atrevo a tanto. Afinal, não fui feito para o casamento, para a vida em família. Gosto de viajar, de me envolver em casos perigosos e excitantes. E também aprecio uma ou outra loura bonita, quando não estou trabalhando.

— É uma pena. Você daria um ótimo marido.

— E quem iria me querer?

Hinata estava a ponto de mencionar o nome de Tenten mas lembrou-se de que da última vez em que o fizera Neji quase subira pelas paredes de tanta raiva. Embora os dois já tivessem voltado a Washington depois da fatídica noite de reveillon, para resolver problemas relacionados ao aluguel da casa que lhes fora deixada de herança pelos pais, Neji nunca comentara o ocorrido entre Tenten e ele. Não admitia sequer que Hinata tentasse tocar no assunto.

— Neji, os inquilinos já deixaram a nossa casa. Dessa vez eu não posso ir a Washington para resolver o assunto na imobiliária. Você pode? — indagou Hinata, de repente.

— O que a impede de ir? — ele perguntou, irritado.

— Estou noiva, meu caro, ao passo que você é livre e desimpedido. Além disso você está planejando há meses tirar alguns dias de folga, e podia aproveitar a chance para resolver o problema da casa.

— É, suponho que sim — Neji murmurou de má vontade, olhando para a porta. — Aí vem o chefe, Hinata. Acho melhor eu ir andando agora e deixá-los a sós.

— Algum problema? — Sasuke perguntou ao entrar na sala e notar a expressão contrariada dos dois irmãos.

— Nenhum chefe — Hinata respondeu sorrindo. — Neji e eu discutíamos banalidades. Ele já está de saída, por sinal.

Neji assentiu com um gesto de cabeça e saiu do escritório.

— Muito bem, como está indo a investigação do caso ? — indagou Sasuke em seguida.

— Preciso de uma determinada informação e não consigo obtê-la. Ninguém parece disposto a falar sobre a ligação entre Yakumo e o FBI, e Neji se recusa a me ajudar — respondeu Hinata.

— Mas Neji conhece todo mundo no FBI .

— Ainda assim ele não pretende cooperar. — E eu não posso obrigá-lo a fazê-lo. Neji nunca fala sobre o período cm que trabalhou para o FBI. Provavelmente não quer ter mais nenhum contato com a agência.

— É possível. Bem, acho que vou apelar para Kiba. Ele conhece uma ou duas pessoas que podem nos ajudar.

— Ótimo, fale com ele.

— Ok. E como estão Ino e o bebê?

— Ino está ótima, mas o bebê chora a noite toda. O pediatra disse que isso é normal e que essa fase logo vai passar. Até lá, porem, Ino e eu seremos obrigados a ficar acordados, pajeando o bebê — concluiu Sasuke, com um suspiro resignado.

— Não se faça de vítima — brincou Hinata. — No fundo, você adora cuidar do seu filho, não é mesmo?

— Claro que sim. Eu seria capaz de viver sem respirar, mas jamais conseguiria ficar longe da minha família.

— Pois é... Quem diria que um solteirão como você acabaria por se render aos encantos da vida familiar? Bem, dê lembranças minhas à Ino e ao bebê. Agora, se me der licença, vou trabalhar.

Hinata pegou suas coisas e rumou para a sala de Inuzuka Kiba, desejando ter tempo disponível para visitar a esposa de Sasuke. Elas eram boas amigas, mas desde que o bebê havia nascido Ino se distanciara um pouco de Hinata e aproximara-se mais de Sakura, uma outra amiga que também dera à luz.

Kiba ouviu o pedido de Hinata e, depois de um único telefonema para o escritório do FBI, obteve a informação que ela desejava com tanta ansiedade.

— Belo trabalho! — exclamou Hinata entusiasmada. — Obrigada, Kiba.

— Disponha. Ouça, que tal irmos tomar um drinque hoje, depois do expediente? Sei que você está noiva, portanto não precisa se preocupar, este é apenas um convite de amigo. E então, aceita?

— Aceito, desde que você não faça questão de pagar a conta sozinho.

— Combinado — respondeu ele, conduzindo-a até a porta. Hinata afastou-se sentindo uma certa pena do colega, pois sabia ele era um homem solitário, sedento de companhia.


— Sobre o que você e o Inuzuka estavam conversando? — Neji perguntou, surgindo de repente por detrás dela.

— Que susto! Não o ouvi chegar — reclamou Hinata.

— Claro que não ouviu. Sou um detetive particular, treinado para espreitar pessoas sem ser notado.

— É mesmo? — indagou Hinata, irônica, o comportamento timido da adolescência a muito não se fazia presente. Neji as vezes sentia falta disso... — Grande novidade.

— Agora conte-me, o que estava fazendo na sala de Kiba, irmãzinha? Tentando fugir às tentativas de aproximação dele?

— Não seja cruel, Neji, Kiba é um sujeito legal.

— Eu também acho, só que ele costuma grudar nas pessoas e nunca desconfia quando está sendo inconveniente,

— Ora, que maldade — ela comentou, rindo.

— Você sabe que tenho razão. Embora seja boa pessoa, ele muitas vezes é um chato. E então, conseguiu a informação que queria?

— Sim. E sem contar com a sua ajuda.

— Eu preciso mesmo ensiná-la a ser auto-suficiente. Afinal, não estarei sempre por perto.

— Neji... Está com algum problema? — Hinata indagou, preocupada.

— Calma, não estou doente e nem prestes a morrer. Estou apenas ficando inquieto. Talvez eu me mude em breve.

— Vontade de viajar, outra vez?

— Ficar num mesmo lagar por muito tempo sempre me deixa entediado.

— Por que não vai para a nossa casa em Washington? Tire férias. Relaxe.

— Férias em Washington? Engraçadinha!

— Neji, você sabe que nossa casa fica num bairro calmo, cheio de paz e quietude. É o lugar ideal para quem precisa de alguns dias de descanso e solidão.

— Solidão? Com Tenten vivendo na casa ao lado?

— Minha amiga está namorando um historiador, parece que o compromisso é sério. Sendo assim, você não precisará se esconder ou evitá-la.

— Mas ela não estava namorando ninguém quando estivemos cm Washington no começo do ano — observou Neji, mau humorado.

— Muita coisa pode acontecer em poucos meses. Tenten tem vinte e dois anos e um bom emprego. Sonha em casar-se e ter filhos.

Neji ficou em silêncio durante um momento, sentindo-se traído, embora não conseguisse entender porquê. Tentando aparentar indiferença, resolveu mudar de assunto.

— Então, você conseguiu a informação que desejava através de Kiba?

— Sim, e agora poderei dar o caso por encerrado. Sasuke acredita que conseguiremos livrar nosso cliente do processo.

— Ótimo. — Neji tocou o rosto dela de leve, numa carícia terna. — Por acaso você pensou que eu me recusei a entrar era contato com o pessoal do FBI por que tinha bons motivos para me manter afastado?

Hinata permaneceu calada e fitando-o fixamente, apreciando a beleza do rosto de traços másculos e marcantes.

— Por que você está me olhando desse jeito?— indagou ele.

— Estava apenas pensando que você e um pedaço de mau caminho — respondeu ela, sorrindo. — Você se parece com seu pai, sabia? Não é de se estranhar que as mulheres se joguem aos seus pés. Quanto ao FBI, imagino que você evita falar sobre os anos em que trabalhou lá porque sente saudades.

— Realmente, às vezes sinto falta daquela vida, mas não é boa idéia falar do passado. Há feridas que nunca cicatrizam.

— Sim, suponho que esteja certo.

— Ok, que tal sairmos para comer algo enquanto decidimos o que fazer com a casa em Washington? Estou ficando cansado dessa história de aluguel. Talvez fosse melhor vendê-la.

— Vender a casa? Ficou maluco, Neji?

— Eu sabia que você ia reagir assim. Venha, vamos comer. Poderemos brigar durante a sobremesa.

Neji levou-a a um restaurante luxuoso especializado cm frutos do mar. Hinata hesitou por alguns segundos antes de entrar, sentindo-se deselegante no seu velho conjunto de moletom cinza.

— O que foi, agora? — indagou Neji, impaciente.

— Não estou vestida de maneira adequada para um lugar como este. Será que não poderíamos ir a um restaurante mais barato?

— Mais barato?

— Uma lanchonete, por exemplo. Pediríamos hambúrguer, cachorro-quente, batatas fritas...

— De jeito nenhum. Vamos entrar, garota.

Neji a conduziu até uma mesa para dois e brincou: — Espero que você não seja do tipo que só come pizza, pois não há esse prato no cardápio.

— Se quer saber a verdade, Naruto e eu já estamos um pouco cansados de pizza e sanduíches.

— Gosto do serviço daqui — comentou Neji, apreciando a atmosfera aconchegante criada pela suave música ambiente. — Além disso, a comida é deliciosa.

Uma garçonete loura aproximou-se e entregou-lhes o cardápio, castanhos fixos em Neji.

— Obrigado, Say.

A mulher sorriu e afastou-se, lançando um olhar invejoso para Hinata.

— A garçonete parece gostar de você, irmãozinho.

— Eu sei. Gosto dela também, mas não passa disso. A propósito, Hinaa, pare de bancar a casamenteira. Você apenas complica as vidas das pessoas.

— Isso é uma indireta? Do que está falando, afinal?

— Na última vez em que fomos a Washington, você praticamente jogou Tenten em meus braços durante a festa de reveillon, dizendo a ela que eu tinha vindo apenas para vê-la.

— Não pensei que alguém fosse sair magoado — murmurou Hinata, notando a amargura na voz do irmão.

— De onde Tenten tirou a idéia de que meus sentimentos haviam mudado e que eu buscava um relacionamento sério? Confesso que fui pego de surpresa e disse-lhe coisas pouco delicadas, fazendo-a chorar. Desde que conheço Tenten, aquela foi a primeira vez em que a vi em prantos. Ainda me sinto mal quando penso no acontecido.

— Então você perdeu a cabeça...

— Fui pego de surpresa, já disse. Tenten estava falando sobre seu trabalho no departamento de arqueologia da universidade, e de repente começou a falar sobre um futuro a dois.

— O ponche tinha álcool demais — Hinata murmurou, tentando desculpar-se. — E eu servi duas taças a Tenten.

— Só percebi que ela estava ligeiramente alta quando o estrago já tinha sido feito. Aquela súbita demonstração de afeto me deixou em pânico. Tenten é uma boa garota, mas não faz muito o meu tipo.

— E posso saber que tipo o atrai? É inacreditável esse seu apego absurdo à vida de solteiro. Tenten é uma mulher bonita e interessante.

— Mas ela pode muito bem viver sem mim. Uma casa aconchegante e uma vida tranqüila a dois não fazem parte dos meus planos. Quero viajar pelo mundo, é para essa finalidade que venho guardando dinheiro. Além do mais, gosto do meu trabalho de investigador, embora esteja começando a me sentir um pouco cansado.

— Tenten trabalha no ramo de investigação também, sabia? Antropólogos procuram

soluções para mistérios que envolvem civilizações antigas, tentam descobrir como viviam os povos pertencentes a culturas milenares.

— Só que nenhuma múmia de dois mil anos vai levantar do sarcófago e apontar uma arma para Tenten

— Provavelmente não. Mas o fato é que vocês dois gostam de viver em busca da verdade.

— Eu não pretendia magoar Tenten daquela maneira — Neji falou de súbito. — Fui ríspido, insensível.

— Bem, agora isso faz parte do passado. Tenten está namorando firme e você não precisa se preocupar enquanto estiver em Washington, ainda que ela more sozinha na casa ao lado da nossa.

— É, tem razão.

Neji não estava ansioso para rever a morena, e provavelmente ela também não desejava vê-lo nunca mais. Afinal, ambos eram do tipo que não perdoavam a si mesmos quando perdiam o auto controle. Tenten ainda estaria recriminando-se por ter-se atirado nos braços de um homem que não a queria, enquanto Neji não conseguia perdoar-se por ter dito palavras tão duras.

— Tudo dará certo — Hinata falou com suavidade ao ver a expressão preocupada no rosto do irmão.

— Você e sua frase favorita... E se nada der certo?

— Pelo amor de Deus, pense de maneira positiva, Neji! Agora vá comprar uma passagem e embarque no primeiro avião para Washington.


Dois dias depois, com a devida aprovação de Uchiha Sasuke, Neji rumou para a velha casa de sua família, em um bairro residencial afastado do centro de Washington. Tudo estava igual como era antes, pensou ele, enquanto dirigia devagar pela rua calma e admirava as árvores frondosas de tempos de infância.

A temperatura agradável aumentava ainda mais a sensação de paz e bem-estar, fazendo-o perceber pela primeira vez o quanto estava cansado. Estava mesmo precisando de alguns dias de folga, embora a princípio tivesse resistido à idéia.

Ainda faltava muito para o fim do dia, portanto Neji não precisava se preocupar com a possibilidade de ver Tenten tão cedo; ela costumava voltar do trabalho apenas ao anoitecer. Entretanto, a imagem da morena alta, esguia, de cabelos compridos e doces olhos castanhos não lhe saíam da cabeça.

Pobre Tenten. Por que Hinata dera falsas esperanças à amiga, levando-a a agir como uma tola na festa de reveillon?

Embora se conhecessem desde a infância, Neji nunca imaginara que Tenten pudesse alimentar sentimentos românticos a seu respeito. Pelo menos, não até à festa de passagem de ano... Só esperava que o atual namorado dela a amasse e a fizesse feliz, e assim novas cenas constrangedoras seriam evitadas.

A vida doméstica não era para ele, por isso vinha pensando em se candidatar a um cargo na Interpol ou ir trabalhar como fiscal alfandegário. Preferiria morrer a viver amarrado a alguém, sem se sentir senhor de suas ações.

Neji estacionou o carro que alugara defronte à casa onde crescera e permaneceu imóvel, olhando para ela, por vários minutos. Lar. Há anos ele não pensava em como era bom ter um lugar para o qual sempre pudesse voltar. Era estranho como podia prezar tanto a liberdade e ao mesmo tempo gostar de estar ali, sabendo que aquela casa era sua. O sentimento de posse era novo para Neji, assim como a sensação de vazio que o vinha atormentando desde o Natal. Nunca se sentira solitário antes. Por que, agora, tinha a sensação de que lhe faltava algo importante, quando sempre considerara sua vida tão movimentada e excitante?

Ao abrir a porta da frente da casa, Neji sentiu no ar um perfume que lhe falava de infância, de aconchego e amor. Tudo ali permanecia como seus pais haviam deixado ao morrer, nada fora mudado de lugar. Duas vezes por semana uma faxineira vinha cuidar da limpeza, portanto o lugar permanecia impecável, mesmo quando desabitado. Ver-se rodeado por objetos familiares e queridos deu a Neji uma profunda sensação de segurança, sensação que jamais pensara experimentar, pois julgava-se um homem sem raízes.

Vender a casa com toda a mobília lá dentro havia parecido uma boa idéia a princípio.

Agora, ele já não tinha tanta certeza.

Depois de deixar sua bagagem num dos três quartos do segundo andar, Neji foi ao supermercado comprar mantimentos. Ao voltar, reparou num carro azul estacionando na garagem vizinha.

Uma mulher alta e elegante saiu do veículo e, sem sequer lançar um olhar na sua direção, entrou na casa ao lado.

Tenten. Ela não tinha mudado nada, embora Neji a olhasse de maneira diferente agora, sem saber por quê.

Depois de alguns segundos ele entrou também, ajeitou as compras na cozinha, fez café e preparou um jantar simples, bife e salada. Enquanto comia, tentava entender porque Tenten se mostrara tão indiferente à sua presença, pois era impossível que ela não o tivesse visto.

O que acontecera no reveillon fora uma pena. Neji e Tenten conheciam-se há anos, era quase como se fossem da mesma família. Seria bom se pudessem sentar-se à mesma mesa e conversar sobre os tempos de criança, quando passavam horas brincando e correndo juntos pela vizinhança. Agora, porém, era provável que ela nunca mais lhe dirigisse a palavra.

Depois de terminar a refeição, Neji lavou a louça e sentou-se na sala de estar, com um livro de Agatha Christie nas mãos. Não havia nada como uma boa leitura, em lugar dos programas tolos que passavam na tevê.

O toque súbito da campainha, meia hora mais tarde, tirou-o da leitura. Curioso sobre quem poderia estar à sua procura às nove horas da noite, não perdeu tempo em atender.

E lá estava Tenten. Com os cabelos presos num coque severo, os óculos escuros escondendo a beleza dos olhos de chocolate, e uma expressão séria no rosto, ela era a própria imagem da preocupação.

— Olá — Neji cumprimentou-a, sorrindo.

Ela não retribuiu o sorriso, apenas fitou-o fixamente ao dizer:

— Eu não o teria incomodado se conhecesse outros detetives. O fato de você ter vindo para casa hoje é muito providencial.

— É mesmo? Por quê?

— Estou sob suspeita — Tenten murmurou, esforçando-se para manter o auto controle. Num gesto de orgulho, ergueu a cabeça e continuou: —Não peguei nada e ainda não fui formalmente acusada, mas apenas eu tinha acesso ao objeto desaparecido. Trata-se de um pequeno vaso egípcio, com hieróglifos não identificados Acham que fui eu quem o roubou.


Notas finais do capítulo

Espero que seja bem recebida!
Aguardo as criticas construtiva ou não!