Dizer que eu estava entediada era a maior descoberta da humanidade desde a invenção da roda; era mais do que um fato. Seja lá como isso é chamado.

- Por que eu não posso ir agora? – eu reclamei para minha mãe naquela tarde de julho. – Ainda está cedo, não acho que Voldemort vai aparecer no meio da rua em plena luz do dia.

-Alexis, eu não estou para brincadeiras. Você pode ir à casa da Jennifer, mas pelo amor de Merlin, espere até que seu pai e seu irmão cheguem, porque eu não vou deixar você ir sozinha e estou muito ocupada agora. – mamãe disse pela milionésima vez.

-Não é como se ela morasse do outro lado da cidade! É DO OUTRO LADO DA RUA! – eu gritei já perdendo a paciência. – EU NÃO AGUENTO MAIS FICAR CONFINADA NESSA CASA! SERÁ QUE NINGUÉM ENTENDE? – e então subi as escadas batendo o pé. Depois desse showzinho, eu não queria ficar lá em baixo pra saber o que sobraria de mim quando minha mãe resolvesse me acertar com qualquer coisa que estivesse na mão dela. Naquele momento era uma varinha, o que não era um bom sinal.

Desde que Voldemort mostrara a cara no Ministério mês passado, as coisas estavam um saco; bom, pelo menos agora todo mundo acreditava em Harry, mas o mundo bruxo vivia num pavor constante: mais trouxas morrendo a cada dia, bruxos de alto escalão desaparecendo, Beco Diagonal sendo atacado...

Para falar a verdade, acho que o que me preocupava mais eram os ataques no Beco Diagonal. A loja de Fred e George era lá, que a propósito eu ainda não tinha ido visitar. Também, com essa mãe paranóica e esse pai com mania de perseguição que eu tenho...

Houve uma batida na minha porta.

-Alexis? – minha mãe disse abrindo um pouco a porta e colocando a cabeça para dentro. – Posso entrar?

Eu apenas murmurei qualquer coisa e não tirei os olhos da janela. O dia estava nublado e eu via todo mundo lá fora, despreocupado, apesar de estar um frio intenso em pleno verão. Será que eles não sentiam o perigo?

-Eles não percebem, não é? – eu perguntei, ainda virada para a janela, vendo a senhora Pease cuidar do jardim insistentemente.

-Você sabe como as coisas funcionam para eles, Alexis. – mamãe disse se aproximando de mim. – Acham que é só uma frente fria e que já vai passar; acham que o mal-humor e a tristeza são provenientes do clima.

-Parece errado em tantos níveis. – eu comentei olhando ao redor.

-Eu sei, querida, mas estamos fazendo o possível. – ela disse olhando para mim e me abraçando.

-Mas... Já pensaram tê-lo derrotado uma vez e ele voltou. O que te faz pensar que desta vez vai ser diferente? – eu perguntei soando como uma garotinha de cinco anos assustada.

-Eu sei que desta vez vai ser diferente, Al.

A campainha tocou lá em baixo. Eu suspirei e desci as escadas para atender a porta. Era Jennifer.

-Ah, é só você. – eu disse desapontada.

-Nossa, é bom ver você também amiga. Eu estou bem e você? – Jenny respondeu rolando os olhos.

Ela era minha amiga desde que nos mudamos para Londres. Eu não me lembro de nada em Godric's Hollow, por isso minha primeira memória era lá em Linsey Street, brincando no contorno que a rua fazia em seu final com Jennifer e Ginny.

-É que eu esperava que fosse outra pessoa. – eu respondi dando espaço para que ela entrasse na sala.

-E por que eu ainda não conheci esse seu namorado que você tanto fala? – ela perguntou apertando os olhos. – Será que ele é real mesmo?

-Jenny! Como você se atreve a pensar que eu mentiria sobre ter um namorado? – perguntei alarmada. – Eu não tenho culpa se ele trabalha, ok?

-Que belezinha, é um menino responsável! – ela disse tirando sarro. Você não sabe o quanto irresponsável ele é, amiga. – Sério, Al, você não acha que ele é velho demais para você? Ele até já trabalha.

-Quem é você? – eu perguntei subindo as escadas e indo para o meu quarto novamente. – Meu pai?

-Eu acho que ele tem razão. – ela retrucou.

-Mas nem ele se importa mais com isso.

-Jennifer, querida, como está? – minha mãe perguntou assim que entramos em meu quarto.

-Estou bem, Sra. Potter, obrigada. – ela respondeu educadamente.

-Quem vê pensa você é tão educada assim. – respondi rolando os olhos.

-Ah, cale a boca! – ela disse dando-me um soquinho no braço esquerdo.

-Está vendo o que eu quero dizer? – cometei rindo.

Mais uns quinze minutos depois, e minha mãe ainda estava no quarto conosco, papai e Harry entraram também.

-Mas estão achando que isso aqui é festa? – perguntei abrindo os braços.

-Eu vou simplesmente te ignorar. – Harry disse passando por mim e bagunçando meu cabelo. – Oi Jenny.

-Oi. – ela respondeu meio envergonhada. Ah, mas era tudo que eu precisava! Outra amiga minha apaixonada pelo meu irmão, mas me desculpe Jenny, Harry já vai ficar com Ginny!

-Onde vocês estavam? – mamãe perguntou.

-Precisamos fazer compras para escola. – papai respondeu.

-COMO ASSIM? – eu exclamei alterada. – E nem me chamaram? – Eles tinham ido até o Beco Diagonal sem mim? Revoltante.

-Nós não fomos onde você está pensando. – Harry disse rolando os olhos. – Mas adivinha quem encontramos lá! – ele disse divertido.

-Quem? Quem? Viktor Krum? – perguntei sorrindo.

-Eu vou simplesmente ignorar esta pergunta. – papai disse rolando os olhos.

-Espere até Fred saber disso. – Harry disse e eu simplesmente rolei os olhos. – Foi o George.

-Georgie? Que saudades dele! – eu exclamei sorrindo. – Desde que ele e Fred saíram da escola eu não os vi mais. – e me virando para Jenny completei: - Eles são irmãos.

-Você está com saudades do seu cunhado? – Jenny perguntou confusa. – Isso é suspeito.

-Diga o que quiser, mas ele é o meu melhor amigo, ok? – respondi fazendo bico. – Por incrível que pareça eles vão fazer falta lá na escola.

-Nossa, falando em escola, a minha irmã recebeu uma carta tão chata hoje. – Jenny disse cortando o assunto. – Tipo, eu sei que ela é meio esquisitinha, que não tem muitos amigos coisa e tal, mas zoar com ela daquele jeito foi demais.

-O que aconteceu? – mamãe perguntou preocupada. Anne, a irmã mais nova de Jenny, era uma belezinha, tinha uns 11 anos e era super legal. Eu nunca entendi como ela podia ser tão impopular.

-Ah, alguém sacana pra caramba mandou uma carta pra ela lacrada e do lado de fora tinha um escudo estranho e estava escrito A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. – neste momento meus olhos arregalaram-se. Todo mundo voltou o olhar na direção de Jenny. – Sacanagem chamá-la de bruxa porque ela é quietinha na dela.

-JEN, SUA IRMÃ É UMA BRUXA! – eu exclamei exaltada. – Cara, isso é tão legal!

-Alexis, acabei de falar que é vacilo fazerem isso com ela e você ainda concorda com esses babacas? Fala sério! – Jennifer disse balançando a cabeça de um lado para o outro.

-Jennifer, querida, não é bem assim que funcionam as coisas. – minha mãe disse chegando perto dela. – Ser aceito em Hogwarts é uma coisa muito boa.

-Até a senhora, Senhora Potter? – Jennifer perguntou incrédula.

-Mas, Jen, nós não estamos tirando sarro da sua irmã. – Harry disse dessa vez. – Hogwarts existe. Onde você acha que nós vamos durante todo ano?


-Então deixa eu ver se entendi. – a senhora Monroe disse depois que fomos até em sua casa explicar tudo sobre magia. – Bruxos existem. Dos 11 aos 17 anos eles vão para uma escola chamada Hogwarts onde eles aprendem a dominar seus poderes e aprenderem feitiços, descobrem sobre o mundo mágico e tudo que tem nele? É isso mesmo?

-Certo. – papai disse sorrindo. – Não se preocupe Sara. Hogwarts é a melhor instituição que temos e tenho certeza de que Anne irá gostar muito de lá.

-Mas isso é tão legal! – Anne exclamou se levantando do sofá e dando pulinhos de alegria.


-Posso chamar a Ginny para vir aqui em casa? – eu perguntei mais tarde quando já estávamos em casa.

-Pode. Mas vai lá rapidinho. – papai disse.

-É incrível como eu não posso ir do outro lado da rua, mas posso ir para A Toca que é em outra cidade.

-Levando em conta que você não vai sair de dentro de uma lareira até faz sentido. – Harry disse passando por mim. – Quando estiver por lá, chame Ron também.

-Pode deixar. – eu respondi pisando dentro da lareira com uma mão cheia de Pó de Flu. – A Toca! – exclamei em alto em bom tom.

Cheguei na casa dos Weasley em meio segundo, depois de ter aquela sensação horrível de que não podia respirar sem inalar toneladas de cinzas.

-Olá! – eu exclamei divertida ao ver Ron descendo das escadas sem camisa. – Por Merlin! Cubra este corpo!

-Ah! – ele gritou assustado. – Mas o que você está fazendo aqui? – perguntou tampando o tronco com as mãos.

-Mas que barulheira é essa aqui? – a senhora Weasley perguntou saindo da cozinha. – Alexis, querida, que bom vê-la.

-Olá, senhora Weasley. - eu respondi sorrindo. - Desculpe aparecer sem avisar, mas eu já estava ficando louca lá em casa.

-Sem problemas, querida. - ela disse ainda sorrindo. - Ginny também está reclamando muito sobre isso.

-Eu ouvi meu nome! - Ginny gritou do alto da escada.

-Então por que não desceu ainda, sua traidora do sangue? - eu perguntei fazendo graça.

-Ah, é só você, sua mestiça imunda? - ela respondeu, já no pé da escada, sorrindo.

-Eu sei que vocês estão brincando, mas não digam isso. - a senhora Weasley disse nos olhando feio.

-Desculpe. - dissemos ao mesmo tempo e ela voltou para a cozinha.

-Então, o que você quer? - Ginny perguntou abruptamente e se sentando no sofá.

-Só queria saber se você não me faria o magnificente favor de acompanhar a minha pessoa de volta a minha humilde residência para uma estadia. - eu disse pausadamente, tentando me lembrar de palavras mais rebuscadas.

-Tem lido muitos romances medievais, né? – Ginny disse olhando diretamente para mim e sacudindo a cabeça. Eu apenas concordei. - Tá, eu vou. - ela disse se levantando.

-Você também, Ron. - eu completei me virando para ele.


Acho que as aulas começariam antes de Ron terminar de arrumar suas malas.

-Ronald, sério, não precisa levar sua casa inteira! - eu reclamei entrando em seu quarto.

-Alexis, que saco! Sai daqui! - ele respondeu jogando um travesseiro no meu rosto.

-Grosso! - respondi e joguei o travesseiro nele de volta. - Qual é o seu problema? Tá faltando roupa, é? - perguntei quando o vi só com uma boxer do Chudley Cannons. Duas vezes no mesmo dia? Acho que a imagem nunca mais vai sair da minha cabeça.

Fui para a sala no andar de baixo para evitar qualquer dano maior.

-Olá, Alexis. - o senhor Weasley disse entrando pela porta da frente.

-Olá. - eu respondi educadamente.

-Eu ouvi "Alexis"? - uma voz veio do lado de fora. Posso até estar ficando louca, mas eu juro que era a voz de Fred.

O senhor Weasley sorriu e chegou de lado, dando passagem para quem estava lá fora.

Ok, eu não estava louca. Era mesmo Fred.

Eu abri um sorriso imenso e sai correndo em sua direção e só parei quando pulei em cima dele e ele me segurou.

-Senti tanto a sua falta! - exclamei dando-lhe um beijo bem rápido. Qual é, o pai dele estava lá na sala.

-Também senti muito sua falta. - ele respondeu sorrindo.

-Ah, não! Eles se encontraram de novo! - George reclamou passando pela porta também.

-Georgie, eu sei que você também sentiu minha falta, mas senta lá e fica quietinho que depois eu falo com você, tá? - eu disse segurando a risada.

-Mas não mudou nada mesmo, hein? - ele completou entrando na cozinha seguido pelo senhor Weasley.

-E por que a senhorita ainda não foi lá me ver, hein? – Fred perguntou caminhando até o sofá, comigo ainda enganchada em sua cintura.

-Porque eu estou trancada dentro de casa desde quando eu voltei de Hogwarts. – respondi dando de ombros. – E o senhor, por que não está trabalhando?

-Estava sim. – ele respondeu e eu apenas o olhei, séria. – Mas para a Ordem. – ele explicou.

-Isso faz mais sentido.

-Faz, né? – ele perguntou sorrindo. Eu sorri de volta e me aproximei, passando meus braços ao redor de seu pescoço. Fred passou os seus pela minha cintura. – Você não sabe o quanto eu senti sua falta.

-Eu acho que sei sim. – respondi e então Fred fechou a distância entre nossos lábios e me beijou com vontade, descontando todos esses dois meses em que não nos vimos.


Ahaaha! Acabei de terminar FBH e já terminei o primeiro capítulo de OTSS.

Um pouquinho de Fred e Alexis pra matar a saudade, que tal?

Espero Reviews, ok?

Beijos!