Capítulo I:
Eu estava nervosa. Nunca na minha vida inteira, que se resume apenas aos meus dezesseis anos, havia saído da minha cidade natal. Eu nasci em Laredo, Texas, e jamais havia viajado de avião, até este momento em que me encontro sentada ao lado da Assistente Social designada para cuidar do meu caso pelo meritíssimo juiz da vara de família. Por certo ele ficou com receio que eu pegasse a minha passagem e mudasse subitamente o seu destino, para sei lá tipo, Carmel na Califórnia. Pelo menos lá não chove o ano todo e é tão quente quanto o Texas.
Laredo era uma cidade povoada por descendentes dos nativos americanos e dos pioneiros que fundaram a cidade em busca do ouro e da fortuna, mas também tinha uma considerável população originária das fronteiras mexicanas. Minha amiga Jeenna era uma prova viva disso, com seus longos cabelos negros e a pele de uma cor de bronze fundido arrasava nas festas da escola e nos festivais promovidos pela Comissão de Senhoras da cidade, ao contrário de mim: branca como uma folha de papel no meio de tantos frutos da miscigenação texana.
Bem, o fato é que estou indo morar com Charlie Swan, e vocês devem estar se perguntando o porquê disso.
Charlie é o meu pai biológico. Nós nunca nos vimos antes. Ele desconhecia a minha existência até um mês atrás, apesar de eu saber exatamente quem ele é desde os meus três anos quando minha mãe me mostrou uma foto dele.
"Este é seu pai, Alex." - Minha mãe segurava uma foto já meio que amarelada com mãos trêmulas me segurando em seu colo depois de eu ter perguntado por que todo mundo do parquinho e da creche tinha pai menos eu. E desde esse dia eu percebi que minha mãe sofria em silêncio. Não pude entender exatamente por que. Afinal, eu só tinha três anos.
Mas conforme o tempo ia passando e eu fui entendendo o mundo que nos cerca, pude perceber o quanto minha mãe sofria e se sacrificava para cuidar de mim e de minha avó doente. Do seu olhar triste, do seu semblante cansado, das roupas gastas ou compradas em liquidação e principalmente de como ela parecia cada vez mais sozinha. Minha mãe ainda era apaixonada por ele...
E isso me fazia detestá-lo.
Por que ele não vinha buscá-la?
Por que ele não ligava?
Por que ele não escrevia?
Por que ele ainda amava a sua ex-esposa. Foi o que a minha avó, Amy, me disse na mesa do jantar de Ação de Graças quando ela achou que eu tinha idade suficiente pra entender as armadilhas do coração. Ou seja, isso foi no ano passado. E eu nunca vou entender...
Esse também foi o nosso último jantar de ação de graças. Vovó se foi logo depois.
E há um mês atrás mamãe foi ao seu encontro vítima de um câncer que talvez tenha sido desenvolvido por causa da vida corrida que levava, ou da depressão que sofria.
Pra mim ela se foi por causa do desamor. Minha mãe morreu aos poucos a cada ano. Por causa do seu amor não correspondido pelo meu pai.
E é por isso que eu jurei pra mim mesma que iria embora de Forks assim que completasse a maior idade. Que eu só tinha que ficar por dois anos. Dois anos e eu estaria livre pra fazer o que bem entendesse.
E que jamais eu vou entregar o meu coração pra alguém desse jeito.
Dois anos... Setecentos e trinta dias. Era essa a minha pena.
E eu já estava infeliz.
Infeliz por que eu ia ter que conviver com um homem que eu não conheço e que não queria conhecer. E de quebra uma meia-irmã que recebeu todo o afeto e carinho do "nosso pai".
Tá certo que isso não aconteceu em tempo integral. A Isabella ou Bella só foi morar com o Charlie depois que a mãe dela se casou com um jogador de futebol. E por viajar tanto atrás do marido a minha meia-irmã foi morar com ele quando tinha a minha idade. Conheceu um carinha na escola e casou-se aos dezoito anos. Apavorante, não!
Quer dizer, eu não pretendo seguir os passos dela. Não de jeito nenhum. Quanto mais cedo eu pular fora daquela casa e daquela cidade melhor.
Ainda de quebra tive que deixar para trás os meus amigos: Jeenna, Ian, Marc, a minha escola e os meus amigos do restaurante em que minha mãe e eu trabalhávamos desde que eu tinha doze anos. Ela como cozinheira e eu como aprendiz.
Até o meu cachorro, Jolly, eu tive que deixá-lo com o Ian e o meu cavalo coyote, bem ele não era exatamente meu, mas era como se fosse, já que Judd sempre me deixava cavalgá-lo quando eu ia com a Jeenna no rancho dele e da esposa nos fins de semana.
Se eu tivesse dezoito anos... Tudo seria diferente... Eu não estaria indo pro matadouro agora. Eu me sinto como um dos touros do Rancho do Judd sendo levada para aquele corredor onde deixam os animais aguardando a hora do abate.
Quando o avião aterrissou senti que começava a entrar em pânico. Tive que frear o meu desejo de continuar dentro da aeronave escondida em algum canto até que ela levantasse vôo novamente e retornasse para San Antonio, depois ligaria pro Marc e imploraria que ele viesse me buscar, em troca eu faria todos os seus deveres de espanhol por um ano, a segunda língua obrigatória na Laredo Highs.
Mas havia uma senhora me olhando por cima dos seus óculos, vestindo um terninho e com cabelos presos em um coque elegante dizendo que eu deveria esquecer esse meu plano de fuga.
Suspirei e me coloquei em movimento.
Passamos pelo portão de desembarque sem nenhum problema. Eu não tinha muitos pertences.
Não havia muitas pessoas aguardando no salão de espera e logo avistei Charlie Swan parado em um canto segurando um cartaz com o meu nome. Meu Deus! Meu próprio pai não sabe como eu sou.
Fui arrastada pela Assistente Social ao seu encontro.
_ Senhor Swan?
_ Sim, sou eu. A Senhora deve ser a Srt. Brawn.
_ Sim. Bem, aqui está sua filha, Alex. Qualquer coisa entre em contato conosco.
_ Certo. - Charlie me olhava atentamente. - Como vai Alex?
_ Bem, eu acho.
_ Então, acho que meu trabalho terminou aqui, boa sorte Alex. - a apertou o meu ombro tentando me transmitir coragem e se afastou em direção ao embarque, fiquei vendo seu corpo distanciar-se através das portas de vidro que levavam ao balcão destinado ao checkin. Ela era a última coisa que me ligava ao Texas e estava indo embora.
_ Vamos? - Voltei às costas dando de cara com o meu pai desconhecido com quem agora eu teria que morar. Joguei minha mochila nas costas enquanto ele pegava as outras duas bolsas de viagem e fomos caminhando em direção da saída do pequeno aeroporto de Port Angeles.
E qual não foi a minha surpresa quando avistei Charlie colocando as "minhas malas" no banco de trás de um dos carros patrulhas da cidade.
_ Eu não acredito. - Murmurei pra mim mesma. - Eu mereço. - Sentei ao seu lado cruzando os braços sobre o meu peito após ter colocado o cinto de segurança.
_ Como foi a viagem? - Já estávamos em movimento quando Charlie resolveu quebrar o meu gelo.
_ Normal. - Eu não estava muito a fim de falar e queria que isso ficasse bem claro pra ele.
_ Você deve estar chateada com todas essas mudanças, acredite eu entendo você.
"Não, você não entende."
Eu virei o rosto para observar a paisagem local. O tempo estava nublado e frio. A vegetação verde era um contraste aos meus olhos acostumados ao clima seco e quente e as savanas de Laredo.
"Vou sentir tanta falta de casa. Das visitas ao Racho Dunn, de Cristy, dos gêmeos, de ver os cavalos sendo treinados na Fazenda Hurt. Da música alegre... Eu quero ir embora!"
_ Sua irmã quer lhe conhecer.
Eu virei o rosto na direção dele. Ele estava nervoso dava pra perceber pelo modo como escolhia as palavras antes de dizê-las. Eu virei meu rosto pra janela de novo, como se eu não tivesse ouvindo nada do que ele dizia. Procurei meu Mp4 no bolso do casaco de lã de carneiro, presente da Cristy no meu almoço de despedida, coloquei no ouvido na forma mais discreta que encontrei para dizer a ele que eu não estava nem aí para aquela conversa.
_ Ela quer marcar um almoço na casa dela, o que você acha do próximo fim de semana?
Dei de ombros.
_ Ela é quem vai receber, não eu. - O restante da viagem permanecemos em absoluto silêncio. Até que Charlie se virou pra mim e disse:
_ Mas antes tem algumas coisas que você precisa saber sobre a Bells e a família dela.
Bells?! Ora, eu não quero saber de nada que diz respeito à Bells!
Revirei os olhos. Aquilo tudo era tão nojento pra mim. Bells... Tenho ânsias de vômito só em pensar em ter que pronunciar isso.
_ Não está curiosa?
_ Não. - O carro-patrulha havia parado em frente a uma casa de dois andares. Era a casa que Charlie comprou depois que se casou com Rennée. A casa onde a Bells viveu até bem pouco tempo.
Sai do carro jogando a velha mochila jeans no ombro. Fechei os olhos tentando não pensar na mamãe nessa hora, mas era inútil, o que ela acharia se estivesse aqui comigo. Será que ficaria feliz em finalmente estarmos vindo morar com o seu grande amor. Certamente que sim.
Estacionado em frente à casa havia um fusca amarelo com a placa local. Devia ser do final dos anos 60.
_ Alex... - eu parei em frente à porta da casa esperando que Charlie abrisse. - Você não quer ver o seu carro novo?
Carro novo? Onde?
_ O que?
_ Eu tomei a liberdade e comprei esse carro pra você como presente de boas-vindas, sei que você não ia querer ir todo dia no meu carro pra escola. Venha ver a sua máquina. - E me jogou as chaves que eu peguei no ar. Às vezes desconfio que Charlie gostaria de ter tido filhos ao invés de meninas.
Eu me aproximei do fusca. Era antigo, a lataria estava inteira, mas arranhada em alguns lugares, os bancos eram forrados de couro vermelho!! Meu Deus que contraste amarelo com vermelho. Bem pelo menos eu não ia pagar o mico de chegar à escola todo dia num carro patrulha. E aquela coisa parecia realmente que andava.
_ Ah, valeu, Charlie.
_ Diga, obrigada pai. - Ah, não força! Acabamos de nos conhecer, você não espera que eu te chame de papai assim logo de cara. - Não há de que. - ele disse após o meu silêncio. - Além disso eu fiz o mesmo pela Bells, só não encontrei uma caminhonete que funcionasse pra dar a você...
Aquela frase destruiu a simpatia que eu estava começando a desenvolver por ele ter se preocupado em comprar um carro pra mim. "Bells... fiz o mesmo por ela!"
_ Uma bicicleta era o suficiente pra mim. Não precisava comprar um carro, muito menos uma caminhonete...
_ São três quilômetros daqui até Forks High, você teria que madrugar todo dia se quisesse chegar a tempo da primeira aula, Alex.
_ Se é assim, aceito a Cléo sem nenhum problema.
_ Você chamou o seu carro de que?
_ Cléo. - pelo menos é melhor do que chamar de coisa.
_ Bem, seu quarto é o primeiro do corredor. - Ele ia subindo as escadas na minha frente. - Foi o quarto da Bells, agora é seu. - Eu parei de chofre.
_ Tem sótão aqui?
_ Temos, por quê? Você quer trazer algumas coisas da sua mãe pra cá? - Ele virou pra mim ao mesmo tempo em que abria a porta do quarto e eu pude ver o chão de madeira, o teto inclinado e cortinas brancas de renda.
_ Sim, eu quero trazer algumas coisas da mamãe, se eu puder, mas não quero dormir nesse quarto.
_ O quê? Mas aonde você vai dormir?
_ No sótão. Eu quero o sótão pra mim.
_ Mas aquilo lá está uma bagunça! Você não pode ficar lá!
_ Eu quero o sótão.
_ Mas Alex, a Bells trocou as cortinas pra você. Seria uma desfeita com ela...
_ Eu prefiro o sótão...
_ Mas o quarto foi limpo e arrumado pra você!
_ Charlie eu não vim aqui pra ocupar o lugar de outra pessoa.
_ Mas eu não estou pensando dessa forma.
_ Já que eu vou ter que ficar aqui pelos próximos dois anos, eu quero o meu próprio espaço!
_ Mas você já tem o seu espaço e é este quarto.
_ Não, esse é o espaço dela! Eu quero o meu espaço. Eu quero o sótão!
_ Tudo bem, já que você insiste. Mas hoje você vai ter que se contentar com o quarto. - Ele entrou e jogou as bolsas de viagem em cima da cama forrada com uma colcha rosa. Presente da Bells, aposto!
"Veremos, Charlie!"Se ele acha que eu vou dormir aqui tá muito enganado.
O sofá da sala serviria pra mim até o sótão ficar pronto. Sentei na cama e fiquei olhando o quarto que pertencera a Isabella quando bebê. Até que era jeitosinho; havia um computador de última geração novinho em cima da escrivania conectado a um telefone sem fio, deveria ter sido instalado há pouco tempo, e eu me perguntava se também teria sido ela quem providenciara aquilo. Eu estava resoluta em não usar nada que viesse dela, mas nesse caso eu podia abrir uma exceção quando não tivesse dinheiro pra ir até a lan house mais próxima, se é que aqui havia alguma...
Num canto havia um armário de três portas todo branco, senti uma vontade enorme de abri-lo e ver o que havia dentro dele, mas me contive.
Fui até a janela, o céu já estava escurecendo com as esparsas nuvens, não iria demorar muito a chover aumentando as minhas saudades e a depressão que ameaçava tomar conta de mim. O que será que a Jeenna está fazendo agora?
_ Alex, o jantar está pronto... - a voz de Charlie vinda de algum lugar lá de baixo me trouxe de volta a realidade.
_ Já vou... - desci as escadas sem muita vontade encontrando-o na pequena cozinha que ficava ao lado da sala de estar. Olhei os armários pintados de amarelo, numa clara tentativa de trazer luz e calor ao ambiente, as paredes escuras e a mesa com três cadeiras diferentes.
Charlie tirava uma travessa de macarronada do microondas colocando-a na mesa, em seguida colocou dois omeletes de queijo nos pratos que estavam dispostos um do lado do outro.
_ Sente-se, você deve estar com fome. Comida de avião geralmente não é muito boa...
_ Não tava tão ruim assim. - Comemos em silêncio, e de vez em quando eu pegava Charlie me examinando com seus olhos castanhos escuros. - Que foi?
_ Você se parece com a sua mãe, mas tem os olhos e os cabelos da Bella, quero dizer você se parece comigo também...
_ Você tem alguma dúvida quanto a eu ser sua filha? - Eu queria que ele dissesse que sim, e que me mandasse embora, de volta para Laredo, para minha escola e os meus amigos.
_ Não, nenhuma, o teste deu positivo, e mesmo que não tivéssemos feito bastava olhar pra você e saber...Está animada pra amanhã?
_ É só uma escola, Charlie...
_ Eu sei que essa situação é nova pra você, mas sei que nos daremos bem, com o tempo...
_ Hum. Eu vou tentar colaborar...
_ E quanto a sua irmã?
Minha irmã, aquilo soava no mínimo estranho para alguém que durante dezesseis anos se considerava filha única. Minha mão parou no ar segurando o garfo em direção a minha boca. - Posso avisá-la que iremos visitá-la no sábado?
_ Talvez...
_ Vou ligar pra ela daqui a pouco...
_ Eu vou dormir mais cedo, sabe como é, cansaço da viagem.
_ Boa noite, então, filha... - Sai o mais rápido que pude da cozinha, subindo as escadas correndo. Chegando no quarto peguei uma das bolsas atrás do pijama e da nécessaire com as minhas coisas pessoais e rumei para o banheiro. Depois de tomar um banho demorado voltei para o quarto, secando os cabelos com a toalha que vovó havia bordado pra mim.
Olhei para o computador de Bella dividida entre usá-lo ou não, bom, eu não poderia sair mesmo, já era tarde e eu não conhecia ainda a cidade, então por que não usá-lo... Sentei diante do PC prometendo a mim mesma que não faria daquilo um hábito e que a primeira coisa que faria amanhã depois da aula seria descobrir onde ficava a lan house e a biblioteca pública...
Acessei a internet que não demorou quase nada pra que eu entrasse no meu e-mail e visse as três mensagens de Jeenna, as duas de Ian, uma da Cristy e uma do Marc... Abri logo a da Jeenna; ela me fez prometer que nos falaríamos todos os dias pela net e nos finais de semana no telefone já que a mãe dela ia fazer um escândalo se a conta do telefone dela ultrapassasse a média que ela havia estabelecido. A mãe de Jeenna gostava de impor limites aos rompantes consumistas da filha, diferente da minha que já via na nossa situação econômica limites impostos a mim mesmo sem querer...
Oi, Alex... e aí como foi a viagem, tinha algum hubba-hubba no avião, como é o seu pai,
e a sua irmã, e o seu cunhado????
Eu ri da expressão usada por ela quando queríamos falar de algum carinha bonito.
Abri a outra mensagem dela só tinha cinco minutos de diferença do envio da primeira. Jeenna era assim, ansiosa por natureza.
E aí como é Forks? Já conheceu alguém? Já estou com saudades de você
Quando você vai voltar!!!
A terceira mensagem só tinha um minuto de diferença da segunda e traduzia o nervosismo da minha melhor amiga em ter que nos separar.
Alex, se você não responder logo juro que fugirei de casa e irei pra Forks no próximo final de semana!!!!! Mesmo que mamãe não queira!!!
bjs.
Jeenna.
Tratei logo de responder a mensagem e acalmar a minha amiga antes que ela fizesse uma grande besteira e ficasse de castigo e sem net por um mês. Afinal com quem eu iria conversar no MSN se ela ficasse sem a net dela...
Oi, Jeenna,
A viagem foi tranqüila e chata ao mesmo tempo e não, não havia nenhum hubba-hubba no avião e mesmo se houvesse eu não estava com muita cabeça pra isso. Bem, o Charlie parece ser legal e não eu não conheci a Isabella e nem o marido dela...
Forks é estranha, parece que fui abduzida por aliens; é muito verde aqui e chove o tempo todo!
Também estou com saudades de vocês e Jeenna não faça nenhuma bobagem como fugir de casa, não dê motivos para sua mãe te deixar sem net!! E Jeennna peça a Judd que cuide bem de coiote pra mim, ah, por favor não deixe que Marc e Ian briguem por qualquer besteira, ok, conto com vc pra mantê-los fora de encrencas...
bjs
Alex.
Diga a Ian que Jolly não gosta de rações de filhote e que ele não gosta de dormir sozinho.
Em seguida abri as outras mensagens dos meus amigos que também perguntavam à mesma coisa e queriam saber quando eu ia voltar, como se fosse simples e só dependesse da minha vontade; agora eu tinha um pai... Que como todos os outros pais do planeta iria restringir as minhas saídas e controlar os meus namoros... Apesar de que eu não tinha muita experiência nisso, mas poxa eu sou normal, eu vou querer conhecer alguém, e se Charlie fosse do tipo de pai conservador em que a filha tinha que ficar com o namorado em baixo das vistas dele.
Seria esquisito, desconfortável e, ah, acho melhor deixar os planos para namorar alguém depois que eu saísse de Forks e fosse pra Universidade do Texas como havia combinado com meus amigos.
Desliguei o computador após ter acalmado os ânimos dos quatro. Olhei em volta do quarto. Meu corpo já estava pedindo pela cama que parecia me chamar com a colcha rosa. Será que Charlie já foi dormir para que eu possa descer e arrumar o sofá?
Andei até o pé da escada, tentando não chamar a atenção. Ele estava deitado no sofá assistindo a um dos jogos de basquete do campeonato anual. Não pude distinguir qual era o time que estava jogando; tive que retroceder alguns passos para traz ao vê-lo se mover no sofá.
Eu ia ter que esperar o jogo terminar e Charlie ir dormir pra que eu pudesse descer.
Voltei para o quarto e sentei na cama; o vento e a chuva faziam um barulho estranho no telhado como se ele fosse ir para os ares a qualquer momento. Peguei meu mp4 e coloquei na rádio local no volume mais alto que meus ouvidos suportaram, me inclinei na cama procurando uma posição confortável; senti as pálpebras pesadas, não demorou muito para que meus olhos se fechassem por conta própria e o meu consciente mergulhasse na escuridão do sono.
Quando acordei com o barulho da chuva forte no telhado, notei que a luz do quarto havia sido desligada e um edredom jogado em cima de mim. Olhei no relógio da mesinha de cabeceira, eram quatro e quinze da manhã. Droga, eu havia dormido na cama de Bella sem querer. Olhei ao redor do quarto, ainda estava escuro e pelo som que vinha do telhado pude perceber que continuava chovendo.
Ótimo, meu primeiro dia em Forks e a chuva não queria me dar uma trégua.
Fiquei deitada olhando pro teto, sabia que não conseguiria mais pegar no sono e ainda faltava muito pra hora de levantar. Graças ao barulho da chuva eu não iria perder a hora no meu primeiro dia de aula...
Procurei os fones do meu mp4. Eu lembrava de ter dormido com ele ligado quase no volume máximo. Sentei buscando com os olhos pela cama. O aparelho estava em cima do criado mudo, ao lado do abajur. Peguei-o e liguei numa estação qualquer. Uma música pesada invadiu os meus tímpanos, arregalei os olhos de susto, então era esse tipo de música que se ouvia por aqui. Tão diferente da música country. É claro que havia bandas que mesclavam a música country com o rock como o Kansas e o Sammy Haggar.
Fechei os olhos me concentrando na letra, não era ruim de todo; abaixei o volume um pouco tentando me adaptar ao som que teria que ouvir nos próximos dois anos. Eu não tinha muitos cds, só me restava me acostumar com o que se tocava nas rádios ou pedir pra Jeenna e Ian mandarem alguma coisa pelo correio.
Mas isso custaria dinheiro e não seria justo que eles sacrificassem a mesada ou o pouco que conseguiam com trabalhos de meio expediente.
E isso era outra coisa que eu precisava fazer, conseguir um trabalho.
Eu não queria ficar dependendo de mesada ou do dinheiro do Charlie.
Até por que um policial não deve ganhar tanto para dispor de
dinheiro com futilidades adolescentes e o dinheiro que eu receberia
da pensão da minha mãe já estava destinado para cobrir as despesas
da faculdade.
Eu já tinha uma experiência com lanchonetes,
pensões e restaurantes, mas será que aqui em Forks eu conseguiria
alguma coisa. Não parecia que havia muitos estabelecimentos
comerciais ali.
Fiquei rolando pela cama tentando não pensar nessa possibilidade e no que eu teria que enfrentar daqui a algumas horas, uma escola nova com trezentos e cinqüenta e sete rostos estranhos; agora seriam trezentos e cinqüenta e oito comigo.
Veja bem, não era o número pequeno de estudantes que me assustava. Laredo Highs também não possuía um número grande de alunos no seu corpo discente. O que me assustava era o fato de que eu iria entrar pra uma escola em que eu não conhecia ninguém ao contrário deles que se conheciam desde bebê, desde o jardim de infância. Provavelmente seus pais se conheciam desde crianças...
Meu estômago revirou com as imagens enviadas pelo meu cérebro ao restante do meu corpo.
Eu não era uma aluna do tipo esportista ou devoradora de livros igual ao pessoal que fazia parte do clube de xadrez ou da matemática. Eu era uma boa aluna, sem nada de excepcional.
Eu era normal, com os meus defeitos e limitações.
Depois de muito me revirar na cama acabei adormecendo e acordando com Charlie me chamando no pé da escada... Ótimo, atrasada logo no primeiro dia!!
Dei um pulo da cama, procurando meu jeans, uma blusa de mangas comprida preta e a minha camisa de flanela xadrez preferida. Vesti tudo no tempo recorde de dois minutos e calcei minhas botas de cano curto. Prendi o meu cabelo num rabo de cavalo. Era o melhor que eu poderia fazer com ele sem me atrasar mais ainda.
Peguei a mochila que eu deixei num canto em cima da cadeira de balanço e desci correndo as escadas.
Charlie estava sentado, tomando café e lendo o jornal na cozinha calmamente enquanto eu procurava as chaves de Cléo na estante da sala onde eu as havia deixado na noite anterior.
_ Alex, aonde você pensa que vai?
Eu me virei em direção à porta da cozinha.
_ Aonde? Ah, pra escola.
_ Você não vai a lugar nenhum sem comer nada.
_ Charlie...
_ Você ainda tem tempo... O seu cereal já está pronto.
Já que ele se deu o trabalho de fazer alguma coisa eu não faria a desfeita de não comer.
Sentei resignada ao seu lado. Comi algumas colheradas para satisfazê-lo antes de levantar e sair correndo.
Ainda pude ouvir Charlie me desejando boa sorte enquanto eu encostava a porta da frente.
Joguei a mochila no banco do passageiro e liguei o motor do meu "novo" carro que fez um som alto e agudo, mas pegou na primeira tentativa. Fiquei com medo de Cléo me deixar na mão no meio do caminho. Liguei o aquecedor também. O tempo continuava nublado e frio me desanimando.
Dirigi o mais rápido que consegui, prestando atenção nas placas sinalizadoras. Também estava de posse de um mapa para o caso de eu me perder no meu primeiro dia na cidade. Mas eu tinha esperanças de não precisar usá-lo.
Depois de dirigir os três quilômetros avistei a placa que dizia: "Escola de Forks". Era um conjunto de "casas geminadas, construídas com tijolos marrons" e cercada de árvores e moitas.
Ou o pessoal aqui é ecologicamente correto e estão fazendo uma campanha do tipo, salvem o planeta ou tem alguma coisa errada com esse lugar; tem verde demais.
Cadê as outras cores, cadê o marrom, o azul, o dourado... Por que tudo aqui tem que ser verde e cinza ao mesmo tempo!
Estacionei Cléo em frente a um prédio com os dizeres de secretaria e logo notei que não havia outros carros ali. Teria que tirá-la de lá antes que fosse rebocada. Sai do calor confortável do meu fusca e caminhei até a entrada do prédio tentando fugir da névoa molhada que já deixava o meu cabelo úmido e escorrido.
Lá dentro estava quente, mais quente do que o interior de Cléo e logo uma senhora ruiva e de óculos veio me atender no balcão no qual eu me encostara.
_ Em que posso ajudá-la?
_ Ah... - Eu estava olhando a coleção de prêmios dispostos nas paredes junto com alguns avisos.
_ Deseja alguma informação?
_ Meu nome é Alexandra Jane Kincaid.
_ Ah, sim estávamos esperando por você. - Isso significava apenas uma coisa, que eu seria o assunto predileto dos professores e funcionários na hora do cafezinho. "Vocês viram a filha ilegítima do chefe de polícia!"
A funcionária me entregou o meu novo horário juntamente com um mapa da escola e um outro papel que eu teria que trazer assinado pelos professores no final do dia.
Olhando-me atentamente explicou o caminho mais rápido para a próxima aula e me desejou boa sorte.
Até que não foi tão mal assim, pensei enquanto levava Cléo para o estacionamento destinado aos alunos. Havia outros carros tão velhos quanto o meu e dei graças aos céus por isso, desligando o motor do fusca para que ninguém notasse o barulho exagerado que vinha do meu carro.
A primeira aula seria de inglês e seria no prédio três ao lado do refeitório. Eu esperava não ter nenhuma surpresa do tipo, trabalho marcado pra entregar hoje. Era péssimo mudar de escola com o ano letivo já iniciado.
Logo achei o prédio com o número três pintado na lateral de uma parede. Fui caminhando até a porta da sala e respirei fundo criando coragem para entrar e me perguntando se eu havia colocado a minha bombinha dentro da mochila.
Eu tenho asma, mas não tinha uma crise há algum tempo.
Entrei na pequena sala sentindo os rostos se voltarem na minha direção e meu rosto esquentar ao entregar o papel ao professor que me olhou por cima dos seus óculos de leitura.
Na sua mesa havia uma placa que dizia: Sr. Mason. Ele assinou o papel e me mandou sentar numa das mesas do fundo, próxima à janela.
Eu tentei prestar atenção na aula, mas o nervosismo não deixou e quando o sinal bateu senti um alívio imenso. A próxima aula seria de História no prédio seis. Tive que pegar o mapa a fim de localizar qual seria o melhor caminho que eu poderia pegar sem dar muitas voltas.
Esse prédio ficava atrás do refeitório, na ala sul, consegui achar a sala sem muito atraso e alguns alunos que estavam na sala de inglês também estavam nessa aula. Alguns se apresentavam e perguntavam como que era o Texas, analisando as minhas roupas e o meu modo de falar.
Me senti como se fosse um bicho em exposição no zoológico.
E assim foi a manhã toda. Se alguém me perguntasse se eu havia aprendido alguma coisa estaria perdida, não consegui assimilar nada. A não ser que a minha bota era uma novidade em Forks High. A maioria usava botas de chuva ou tênis e lá estava eu com a minha velha bota, no estilo country. Daquelas com cadarço na frente e fecho dos lados. Eu gostava dela, era macia e bem feminina, mas pelo visto teria que ser aposentada, ao menos por um tempo. Até eu deixar de ser a novidade por aqui.
Conheci uma garota na aula de matemática. Era simpática, tinha a pele parecida com a de Jeenna e os cabelos negros cortados na altura dos ombros. Ela se apresentou e se ofereceu para mostrar o caminho até o refeitório, no caminho ela foi falando sobre os professores e as matérias. Logo eu estava numa mesa cercada por alguns de seus amigos e que eu já havia visto nas duas primeiras aulas da manhã.
Foi quando eu o vi pela primeira vez.
Sentado ao lado de uma jovem de cabelos cor de bronze encaracolados nas pontas estava o cara mais bonito que eu já havia visto na vida, de uma beleza perfeita demais para ser real.
