Esclarecimento: Os personagens de Gundam Wing são de propriedade de Sunrise Co. e Bandai Entertainment®. Todos os direitos reservados.

Nota: Quando o CN exibiu Gundam Wing pela primeira vez, não me interessei muito. Achava um desenho muito masculino, afinal todos aqueles supermechas, armas, guerra... Não dei a atenção devida... Ainda bem que as coisas mudam! Pois bem, aqui estou eu, dando início a um novo fic, um universo alternativo com os personagens deste anime. A idéia, mais uma vez, veio por meio de um fanart: Duo vestido de cowboy. Espero que gostem dessa história. Boa leitura!

OESTE SELVAGEM

Por Andréa Meiouh

Prólogo

Nova Yorque, 1825.

"Vamos lá, Sarah! Respire fundo! Agüente firme", ordenou a parteira à jovem mulher que sofria com as dores de um parto complicado. O bebê estava sentado e, se não tivesse sorte, poderia perder tanto a mãe quanto à criança.

Sarah fez o que lhe foi pedido, sentindo as mãos fortes da outra apertando sua rija barriga. Aquilo era um castigo, um castigo por ter fugido de casa e se entregue a uma vida desregrada. Mulheres como ela não podiam ter filhos. Aos olhos da sociedade, aquela criança seria um bastardo, fruto da união de um bandido e uma prostituta.

"Mais uma vez, Sarah", exigiu novamente a parteira, sentindo o bebê mexer-se. "Agora faça força!".

Sangrando muito, a pobre mulher fez um último esforço, sentindo seu corpo rasgar-se para que seu primeiro e único filho viesse ao mundo. Sua consciência foi aos poucos desaparecendo conforme o bebê nascia. Ouviu ao longe a voz da parteira, dizendo que dera a luz a um menino robusto. Sentindo-se fraca, deixou-se levar pela escuridão que a envolvia.

Embora tivesse muita experiência em fazer partos, a mulher olhou para a prostituta ensangüentada que jazia na rota cama de palha. Sentiu o coração apertar ao olhar para o pequeno. O que faria com aquela preciosa vida?

"Vou levá-lo até o padre Maxwell, criança... Ele saberá o que fazer...".


Berlim, 1829.

Ralf Schbeicker admirava o pequeno ser que sua pálida esposa amamentava. Martina estava exausta, mas radiante. Fitava o bebê com devoção, passando as mãos calejadas pelo trabalho duro no campo delicadamente pelo acanhado tufo de cabelos negros da cabeça da criança.

"Como iremos chamá-la, Ralf?", perguntou ela, mirando o marido com seus imensos olhos azuis.

"O nome dela será Hilde, como minha mãe...".

Anuindo com a cabeça, Martina sorriu. "Certo... seja bem vinda à família Schbeicker, Fräulein Hilde".


Nova Yorque, 1833.

O orfanato Maxwell fervilhava naquela manhã de inverno. As crianças brincavam no pátio, contentes após a primeira noite de neve do ano. Um dos mais animados era Duo. Os intensos e brilhantes olhos azul cobalto irradiavam uma alegria incontida enquanto corria, lançando bolas de neves nos amiguinhos. Embora fosse um dos menores, era o mais animado, atirando suas 'balas' geladas para todos os lados. Uma delas acertou as pernas do padre Maxwell, que se aproximava acompanhado de um outro homem.

"Oh, tinha que ser você, Duo...", sorriu o bom senhor. "Tem ótima mira, pequeno".

Duo cruzou os braços atrás da cabeça. "Desculpe aí... Foi sem querer, Pe. Maxwell".

Conhecendo bem o garoto, o padre resolveu não replicar. Apontando para o cavaleiro que o acompanhava, olhou grave para o menino. "Este homem quer falar com você, Duo. Por que não nos acompanha?".

Seguindo atrás do homem que o criara e do desconhecido, Duo ia pensando nas coisas que fizera. Não tinha arrumado mais nenhuma encrenca com os moleques da escola que freqüentava. Então por que aquele estranho estava ali? Acompanhou os dois adultos até o escritório do padre e ficou em silêncio, aguardando a bronca que viria. Ela sempre vinha, mesmo que não tivesse feito nada, estava acostumado.

"Duo", começou o padre. "Tenho boas notícias, meu caro... Este homem é seu pai".

O menino ergueu o olhar e sentiu um arrepio na espinha ante o olhar frio do outro. "Você não é meu pai", replicou entre dentes, tomado de uma súbita coragem.

O homem deu um meio sorriso. "Igualzinho à mãe, aquela vadia...". Ouvindo o pigarro do padre, deu de ombros. "Se não quiser acreditar em mim, fedelho, não tem problema... O que importa é que o velho aqui acreditou e você vem comigo".

"Padre?", os grandes olhos de Duo se voltaram para o homem mais velho. "É verdade?".

"Sim, meu menino...", assentiu Maxwell, olhos marejados. Duo fora sua primeira criança. Tinha um mau pressentimento quanto àquela situação, mas nada podia fazer. O homem tinha documentos. "Você tem meia hora para arrumar suas coisas...".

"Eu não quero ir, padre!", exclamou o garoto.

"Não posso fazer nada, Duo!".

E foi entre choros e gritos que Duo partiu do orfanato. Assim que se afastaram das vistas do padre, levou seu primeiro tapa. Engolindo as lágrimas, deixou que seu 'pai' o conduzisse até um grande cavalo negro, que o empolgaria, se não fossem as circunstâncias. Deixando a raiva consumir seu pequeno coração, seguiu para o oeste, rumo ao desconhecido.


Porto de Nova Yorque, naquele mesmo ano.

A família Schbeicker fazia parte de um numeroso grupo de imigrantes que chegavam aos Estados Unidos, a terra da liberdade. Respirando fundo, Ralf ergueu a pequena Hilde nos braços para que ela pudesse ver os prédios da cidade que seria seu novo lar.

"Chegamos, vati?", perguntou ela, os olhos azuis brilhando, cheios de curiosidade.

"Ja, querida", concordou o homem. "Aqui você terá tudo de bom! Irá estudar e se tornar uma grande pessoa! O futuro está à sua frente, Hilde!".

Apática, Martina olhava a interação entre pai e filha, sem controlar o ciúme que a acometia. Depois das duas tentativas frustradas de aumentar a família, o artesão resolvera dedicar-se somente à menina, que era dona de toda a atenção do pai. Apesar de saber que era uma mulher de sorte, Martina não conseguia evitar o ciúme e a mágoa. Sentia-se, na maior parte do tempo, rejeitada. E acabava despejando isso em Hilde.

Aprumou-se quando um dos marinheiros do barco se aproximou deles. Era um homem encorpado, bronzeado e flertava escancaradamente com a alemã, quando o Sr. Shbeicker estava com a garotinha. Acompanhando o desejável marujo com os olhos azuis como os da filha, sentiu o desejo crescer... Pensando em aproveitar sua última oportunidade, afastou-se do marido, seguindo o amante para o convés inferior para uma última 'rapidinha'.

"Teremos uma vida boa aqui, liebling", disse o homem, apontando para os contornos daquela terra prometida. "Seremos grandes, Hilde... Você e eu".

A pequena apenas sacudia a cabecinha, os cabelos pretos presos em duas trancinhas balançando sobre os ombros. Nem sequer reparara a ausência da mãe.


Em algum lugar do oeste, dez anos depois.

"Eles estão prontos, senhor", disse o homem que tempos atrás fora à Nova Yorque, dizendo ser pai de cinco meninos, pegos em orfanatos diferentes.

Doutor J. olhava para suas cobaias, agora homens adultos. Estavam prontos para lutar. Eram verdadeiros soldados.

"Sim... Eles estão mais que prontos, Howard... E farão a diferença quando a guerra chegar... Eles serão imbatíveis".

Fitou mais uma vez os resultados de sua experiência. Heero, Duo, Trowa, Quatre, Wu Fei. Tinha transformado cinco órfãos esquecidos pelo mundo em máquinas de luta.


Nova Yorque, 1850.

"Não acredito que você fez isso, seu idiota!", vociferou Martina ao olhar a escritura nas mãos do marido.

Sem se importar com os resmungos da mulher, Ralf sentou-se diante de Hilde, que sentia o coração pular no peito. Na casa dos Smith, onde trabalhava como babá, a jovem lera diversas histórias sobe o oeste selvagem, sempre sonhando em um dia poder conhecê-lo. Contara o desejo para o pai uma única vez e ali estava ele, realizando sua vontade, a custa de muito suor.

"Negociei um pequeno rancho para nós, Hilde", disse o homem, sorrindo. "Vou montar uma oficina para continuar com meus negócios e você poderá dar aulas ou se casar, se encontrarmos um pretendente digno!".

A moça não cabia em si de contentamento. Não se importava com o que o futuro lhes reservaria... Tudo o que importava naquele momento era que iam para o Oeste.

"Seus tolos sonhadores!", a voz de Martina trouxe pai e filha de volta à realidade. "Vocês vão buscar à morte se ousarem partir nessa viagem aparvalhada. Idiotas!". Cruzando os braços robustos, continuou. "Se querem se aventurar nos territórios de índios selvagens e canibais, por mim tudo bem, mas saibam que não vou!".

"Mãe...", Hilde tentou esfriar os ânimos, porém a expressão dura de Ralf a fez se calar.

"Fique aqui então, hündin..." cuspiu a ofensa na cara da esposa. "Fique com seus homens, mulher promíscua... Hilde e eu não precisamos de você. Vamos começar uma vida nova longe daqui, longe dessa pouca vergonha em que você nos rebaixou, cadela!".

Irada, Martina gritou. ""timo! Que partam e morram!". E saiu da sala, batendo os pés.

"Vater...", murmurou a moça, abalada com tudo aquilo. "Não podemos deixar mamãe aqui...".

"Podemos e vamos, liebling", Ralf respirou fundo. "Sua mãe cavou a própria cova... Não farei mais nada por ela. Suportei calado todas as ofensas de Martina por sua causa, meu anjo, porque ela é sua mãe. Agora, você já é uma mulher crescida e está pronta para se casar... Não quero que essa mulher imunda estrague suas oportunidades". Ajoelhou-se e pegou as mãos da filha. "Seu futuro é mais importante que qualquer coisa, Hilde... E, no dia em que pisamos nesta cidade que desgraçou sua mãe, eu lhe prometi que seríamos grandes... E ainda seremos, meu bem. Arrume suas coisas. Partiremos amanh".

Hilde seguiu para o minúsculo quarto que possuía. Vivia com os pais na parte mais pobre da cidade. O emprego de ferreiro de Ralf mal dava para pagar as despesas da pequena família e os estudos de Hilde consumiam a maior parte do dinheiro. Martina costurava para fora, ajudando na renda e acabara colocando a filha para trabalhar cedo também. Hilde não se importava em ajudar o pai na oficina ou a mãe nas costuras. Tinha a mente ágil e faro bom para os negócios, mas a única pessoa que desejava impressionar não reparava em nada disso.

Desde pequena, para a mãe, Hilde era uma rival e era tratada como tal. Os piores serviços da casa ficavam pra menina. O consolo da pequena era o carinho do pai que a amava sem restrições. Sentando-se na cama, pegou um lápis e uma folha de um caderno velho. Escreveu sua despedida entre lágrimas, esperando que um dia a mãe mudasse de idéia e pudesse viver com eles no oeste. Prometeu manter sempre contato e retornar assim que possível.

Na manhã seguinte, Martina acordou com as pancadas na porta. Tinha saído para beber e voltara muito tarde, encontrando todos dormindo. Jogara-se na cama e lá ficara até o insistente barulho começar. Procurou por Ralf e pela magricela, mas encontrou somente a carta de Hilde. Rasgou sem ao menos ler, praguejando contra o marido e o destino. Foi despejada no mesmo dia, passando a viver num bordel de quinta categoria.


O carroção dos Schbeicker seguia lentamente seu caminho, rumo à Sancsville, um pequeno vilarejo texano. Viajavam à várias semanas e de acordo com o guia, estavam perto do Rio Mississipi. Hilde anotava tudo em seu diário, surpreendida pela viagem tão tranqüila. Não sabia se aquilo era bom ou ruim... Pelo que havia se informado, estavam entrando em território índio.

Entardecia quando pararam para o jantar. Hilde pegava as provisões enquanto o pai e o guia juntavam água e lenha para a fogueira. Cortava um pedaço de queijo quando ouviu o primeiro tiro e os galopes. Logo, um grupo de cavaleiros se achegava, rostos cobertos por panos e chapéus.

"Pai!".

Levantando-se, avistou o pai se aproximar correndo, mas outro tiro atravessou-lhe o abdômen, fazendo o homem arregalar os olhos e cuspir sangue. Como se o tempo tivesse se tornado mais lento, viu a pessoa mais importante de sua vida tombar para a morte.

"PAI!", gritou, disparando na direção dele, mas foi cercada e agarrada por trás. Esperneou e berrou até levar um tiro também. Desmaiou, a imagem do pai morto estampada em sua mente.


Continua...