***Avisos***
- Esse é um fanfic baseado na série Sailor Moon, antes que alguém me
pergunte :P
- PODE CONTER LEMON! (Pronto, agora todo mundo lê :P)
- É minha primeira tentativa de escrever uma saga, dêem um desconto...
PIRATE KNIGHTS
por Mistress 9
PRÓLOGO: ESTRANHOS SONHOS, CRUEL REALIDADE
Era uma clareira normal, exceto talvez pelo forte cheiro do sangue que tingia de vermelho o solo e pelos corpos dos guerreiros que pereceram em uma batalha em que muito mais do que suas próprias vidas estava em jogo, mas tudo aquilo em que acreditavam e as pessoas com quem se importavam.
Os olhos vermelhos fitavam todo o ambiente, enquanto a suave brisa servia para balançar de leve os cabelos vermelhos, enquanto uma das mãos da guerreira estava sobre o ferimento sofrido há pouco, talvez porque tivera uma iluminação sobre o próprio destino, talvez pela dor, talvez por todo o calor da batalha.
Quem poderia saber? Não seria ela, que não podia fazer mais do que observar passivamente toda a ação transcorrida naquela noite, que saberia... Isso sem contar que todo o seu mundo estava destruído, todo o seu interior já não importava: a ela, não restava muito mais do que esperar pelo inevitável que ficava mais claro a cada instante.
Mas no momento em que aquele olhar vermelho encontrou seus olhos verdes, parecia ter certeza de todo o planejado, parecia saber de antemão como a batalha acabaria e que ainda tinha parte importante nela.
A ruiva aproximou-se e disse, enquanto colocava a mão que não estava suja de sangue sobre o rosto da jovem:
- Pois bem, minha criança... É chegada a hora de você mostrar a verdadeira razão de estar aqui entre nós, criança predestinada... Não deixe que os fatos ocorridos durante este dia caiam no esquecimento, não deixe com que todo esse sangue tenha sido em vão! Criança, minha criança, cabe apenas a você a memória desses fatos, cabe apenas a você levá-los ao futuro!
A jovem de olhos verdes olhava assustada para a bela e imponente mulher em sua frente, enquanto, apesar de bastante assustada por toda a situação, pensasse que talvez não houvesse mesmo outra solução e o sangue derramado durante aquela noite precisasse de suas forças para ser vingado, vinha de seu corpo a força necessária para pôr um fim a aquele massacre.
- Sei que é capaz de entender seu destino, sei que já sabe o que está por vir muito depois de tudo isso estar encerrado, em um futuro muito distante... É por esse futuro, para garantir que se torne real, que deve aceitar e agir como esperado.
A mulher ruiva acariciava levemente o rosto da jovem, o que limpava suas lágrimas e começava a enchê-la de um calor forte, mas ao mesmo tempo suave, que a preenchia por completo, que a tornava mais forte, que a fazia sentir-se capaz de realizar o que fora escrito e determinado para ela...
Como queria ser forte para escapar do destino que ajudara a escrever com suas próprias ações! Porém, de uma coisa tinha certeza naquele momento: fora forte, o suficiente para escrever sua própria trilha e no meio de todo aquele sangue e dor, era seu consolo e sua força. Sempre questionara suas verdadeiras capacidades, mas agora era capaz de compreender, apesar do temor que ainda morava em seu coração: era forte o suficiente para mover a roda do destino com suas próprias mãos.
***
O despertador tocou, o que fez com que um tapa, vindo de uma delicada mão feminina, acabasse com o pequeno martírio matinal poucos instantes depois. Enquanto a dona dessa mão acalmava o coração e os tímpanos, colocava as pernas para fora da cama, para espreguiçar-se e abrir levemente os belos olhos esmeraldinos, apenas para observar todo o ambiente a sua volta.
Levantou-se, rumo ao banheiro, arrumando a camiseta velha usada para dormir, que tinha por papel ocultar a perfeição de seu corpo, enquanto punha as idéias em ordem após a noite de sono. O mesmo pesadelo... Mas afinal de contas, o que eram sonhos? Não eram simplesmente imagens geradas pelo seu subconsciente? Por que estava tão preocupada com um simples produto de sua mente? Mas não deixava de ser estranho... o MESMO pesadelo, do MESMO jeito, as MESMAS palavras ditas, já há sete noites. E, principalmente, como aquele pesadelo, sem nenhuma lógica, sem nenhuma ligação com qualquer coisa que já passara em sua vida, podia atormentá-la tanto?
Balançou a cabeça negativamente, como se quisesse livrar-se das agruras de sua mente fisicamente. Mais um dia de sua vida se iniciara e que dia... O céu estava tremendamente azul, com um Sol brilhante e nenhuma nuvem, o que tornava o dia muito mais belo de se admirar do que se preocupar com besteiras, como procurar significados em um pesadelo... A jovem caminhou em direção ao banheiro e, ao entrar no cômodo, tirou a camiseta que usara para dormir e atirou-a em um canto, aproveitando para ligar a banheira. Banho refresca o corpo e a alma, diriam alguns. Talvez precisasse mesmo refrescar a alma em um banho, principalmente após os pesadelos que já estavam tornando-se rotina.
Após o banho, enrolada em uma toalha azul, voltou para seu quarto. Abriu o guarda-roupa, afinal queria preocupar-se com alguma outra coisa para tirar idéias sem sentido de sua mente... E por que não, para isso, pensar um pouco mais na roupa que usaria nessa manhã tão bela? Não que se importasse muito com moda, mas estar bem arrumada era um bom começo se queria subir a auto-estima... Escolheu uma de suas roupas prediletas, um vestido azul de alças que batia nos joelhos, acompanhadas de um par de sandálias de amarrar da mesma cor. "Até parece que vou a um shopping", pensou, mas continuou com a roupa que escolhera para passar o dia.
Sentou-se no banquinho que acompanhava sua penteadeira para olhar-se no grande espelho, que deveria ter mais de um século de idade. Ele fora passado de geração em geração em sua família, desde uma antepassada que vivera na corte da rainha Vitória. Quantas mulheres esse espelho já não devia ter refletido? Lembrava-se de quando era criança e gostava de subir na penteadeira de sua mãe e usar sua maquiagem, mesmo que essa pequena travessura merecesse uma grande bronca. Não pôde deixar de sorrir ao pensar nisso, nada melhor do que lembranças boas para preencher a cabeça após um pesadelo. Escovava os cabelos de um louro escuro que batia no meio das costas, lisos na raiz e com cachos nas pontas, enquanto pensava o quanto algumas mulheres passavam horas em salões de beleza para terem um cabelo parecido com o que tinha naturalmente, prendendo-os com um prendedor em forma de coração azul. Após arrumar seu cabelo, arrumou sua cama. Estava na hora do café da manhã, tanto o seu como o de seu peixe de estimação, Sweet Joe. Pegou um copo de leite na geladeira e enquanto bebia seu conteúdo, começou a recolher as revistas que deixara espalhadas na sala no dia anterior para coloca-los em uma gaveta da estante de sua sala e tirar de outra delas um pacote de ração para o peixe que a alegrava com suas evoluções em dourado e laranja no pequeno aquário... Não podia deixar de pensar também que tinha de agradar o único ser vivo com quem dividia o apartamento... Então por que não um pouco de ração para começar o dia? Tinha de cuidar de seu estômago e alimentação também, por isso logo após pôr a ração no aquário, voltou para a cozinha comer alguns biscoitos, afinal a fome ainda não estava saciada e queria sair rápido, afinal queria que aquele dia acabasse logo... Era estranho como às vezes a mesmice de seu cotidiano se parecesse tão insuportável... Como queria libertar-se de sua rotina! Meneou a cabeça, enquanto dava uma última passada no banheiro antes de sair de casa. Devia agradecer por ela, isso sim... Ao chegar no saguão do elegante prédio situado em um bairro igualmente elegante de Tóquio, percebeu que o motorista que a levaria já estava ali. Não estava indo para a escola, como a maioria das garotas de quinze anos estariam fazendo àquela hora do dia, mas indo para o trabalho. Ela tinha capacidades surpreendentes, mas não gostava muito do rótulo que desde bebê ganhara: gênio. Era uma palavra pesada, além do que o fato de ser uma superdotada não lhe fazia mais feliz, muito pelo contrário... Ser considerada um gênio jogava a jovem em um imenso abismo, afinal de contas, não se relacionava com pessoas de sua idade, na verdade, não se relacionava com quase ninguém, vivendo solitária desde a morte dos pais, há alguns anos.
Enquanto o carro percorria as movimentadas ruas de Tóquio, a garota esquecia um pouco de sua solidão para olhar a paisagem. Um verdadeiro formigueiro humano, composto de milhões de pessoas que estavam indo trabalhar, estudar, às compras ou o que fosse. Era o que se costuma chamar de hora do rush, mas o carro não ficou preso em nenhum congestionamento e em quinze minutos alcançou seu objetivo: um belo laboratório, um prédio que ocupava um quarteirão inteiro, um dos mais renomados da comunidade científica: o Laboratório Tomoe.
A jovem andava pelos iluminados corredores do décimo segundo e último andar. Apesar de um laboratório particular, o prédio poderia muito bem estar em algum campus de universidade, um grande departamento de pesquisas de melhoramento genético. O prédio tinha uma bela arquitetura, havendo doze andares, divididos cada um em três blocos unidos por corredores com paredes de vidro que se uniam em um quarto bloco, no centro, menor do que os outros, onde os elevadores e salas de recepção ficavam. Em cada um dos andares de cada um dos blocos, havia algum tipo de pesquisa. A loira parou ao chegar no andar com uma placa indicando "Controle Genético de Pragas". Não que pragas agrícolas não fossem algo a ser combatido, mas ela preferiria trabalhar com outras coisas... Estava estudando uma transferência para outra seção do laboratório. Talvez a seção de estudos de vírus, que lhe parecia muito mais excitante, afinal tinha uma aplicação prática muito mais próxima a sua vida do que estudar pragas de plantações!
Após atravessar uma das muitas portas, observou um armário, como os usados nas escolas para guardar o material dos alunos, ao lado da porta de entrada. Abriu o gabinete que estava indicado com seu nome. Beckham Cassandra. "Que nome ridículo, eu odeio meu nome. Onde meus pais estavam com a cabeça para colocarem esse nome horroroso em sua única filha?", a garota não deixou de pensar. Porém, era hora de trabalhar, não de questionar o bom-gosto de seus falecidos pais. Tirou do armário um jaleco e colocou sua bolsa ali, afinal teria um longo dia de testes pela frente e era bom que começasse logo com eles.
Depois de organizar alguns papéis que se amontoavam em sua mesa, começou a observar amostras no microscópio, quando foi interrompida pela entrada de um homem alto, de cabelos grisalhos apesar de jovem, usando óculos, em sua sala.
- Ohayo, Cassie-chan.
- Ohayo, Tomoe-sensei.
- Vejo que está concentrada em seu trabalho.
- Estou, senhor! Finalmente consegui ver algum resultado nas minhas amostras! Depois de duas semanas em que minhas experiências sempre falhavam, finalmente consegui notar algum resultado!- A garota não conseguia disfarçar a alegria e empolgação na voz. Afinal de contas, quanto mais rápido terminasse sua experiência, mais rápido se transferiria de seção.
- Quantas vezes preciso te dizer para não me chamar de senhor? Pode me chamar de você.
- Desculpe, Tomoe-sensei, mas para mim não é muito fácil, é uma questão de costume e respeito.
- Deixe disso, Cassie-chan, afinal não sou tão velho assim para ter toda a austeridade de alguém que precisa ser chamado de senhor!
- Anoo... eu tenho muito a fazer, senhor, e penso que o senhor também tem, por isso eu poderia adiantar minhas pesquisas? Quero entregar seus resultados o mais rápido possível.
- Não precisa se desgastar muito com isso... É muito jovem e linda para se desgastar com prazos, deixe isso com os adultos, minha criança.
Tomoe aproximava-se da jovem, colocando suas mãos em seus ombros, o que fez com que Cassie arredasse sua cadeira para trás para escapar daquele carinho e cuidado exagerados. Disse, com a voz firme, como se quisesse escapar de uma grande ameaça ou mesmo de um maníaco psicopata: - Eu tenho que acabar de analisar meu experimento e o senhor PODERIA DAR LICENÇA?
Tomoe afastou-se da jovem ao mesmo tempo em que uma exuberante mulher, com longos cabelos ruivos presos em um rabo, um vestido vermelho que deixava muito pouco a imaginar por baixo de seu jaleco entreaberto, entrava na sala. Sorriu ao ver o chefe:
- Tomoe-sensei! Sabia que estava aqui.
- Então, Kaori-san?
- Já está tudo pronto para a experiência e tudo está confirmado, será nessa tarde. A equipe já está esperando e todo o material está pronto e conferido.
- Muito bem. Você é a secretária mais eficiente que conheço, Kaori- san.
Tomoe saiu da sala para verificar pessoalmente os últimos preparativos para sua experiência, enquanto a secretária ruiva, corada pelo elogio, estava parada no meio da sala. Ao perceber onde estava, Kaori recompôs-se e disse, olhando para a jovem cientista em sua frente:
- Sempre me pergunto... O que uma criança está fazendo trabalhando aqui? Deveria estar na escola, não fazendo o serviço de adultos. Cassie ficou observando enquanto a secretária de Tomoe saía da sala, enquanto pensava um pouco sobre o comentário que acendera uma chama de raiva em seu interior. Era sempre assim, sempre fora e sempre seria, os comentários de Kaori,a superproteção de Tomoe-sensei, a falta de credibilidade pela pouca idade vinda de seus colegas. "Por que as coisas têm de ser assim, por que não posso ser uma menina normal que vai para a escola todos os dias, convive com outras pessoas de sua idade e suspira por garotos tolos? Por que não tenho uma vida normal?". Era a vida... Não pudera fazer muita coisa para impedir ou mudar os rumos de sua vida, simplesmente fora assim e permanecera dessa forma... Frequentar uma escola com pessoas de sua idade era um sonho impossível, pois sempre se destacara, mesmo na escola para superdotados se destacava, sempre fora a mais rápida, sempre já tinha aprendido tudo antes que os outros sequer olhassem para a matéria. Cumprira cada série escolar em poucos meses, com notas máximas em todas as matérias, entrara na Toudai sem problemas, concluíra a universidade em pouco tempo e também com notas excelentes... Era o mascote da turma, se é que conseguira ficar em uma turma alguma vez em sua vida por culpa de seu ritmo forte de aprendizado...
Depois, por intermédio de seus pais também cientistas, começou a trabalhar no laboratório e já virara rotina ser tratada pelos "adultos" como "garotinha que está aqui para ver o trabalho dos pais". Principalmente após a morte de seus pais, o que mais apareciam eram superiores com ares paternais ou maternais. Era sempre a garotinha, sempre a poupavam do trabalho pesado, sempre queriam fazer o serviço por ela. E isso a punha nervosa, principalmente quando tinha de agüentar cantadas de alguns superiores não se preocupando muito com conceitos como "pedofilia" ou o ar de proteção intensa se seu chefe, Tomoe Souichi.
Os olhos muito verdes observavam a bagunça de papéis, amostras, substâncias químicas e equipamentos de análise em sua mesa e, em um momento em que queria descontar todo o seu descontentamento com os rumos de sua vida, deu um soco na mesa, apenas para cair em si segundos depois. O que era aquilo agora, uma prova irrefutável de infantilidade? Quase jogara o trabalho de um mês literalmente no lixo por culpa de um descontrole! Deveria ser fria, afinal sua pesquisa eram muito mais importantes do que seus conflitos internos, além do que se queria, aliás, se precisava estar no mundo dos adultos, era bom ser fria como qualquer um deles. Respirou calmamente por algum tempo para se acalmar, afinal não tinha o direito de ter ataques de nervos, sob pena de nunca deixar de ser vista como "garotinha que está aqui a passeio".
Mas para piorar ainda mais a bagunça em sua mente, ainda tinham os pesadelos, ou melhor, o pesadelo, já que era sempre o mesmo, que a atormentava há uma semana. Mas afinal de contas, por que iria se curvar à vida? Não! Ela era Beckham Cassie, como preferia ser chamada, enfrentava as agruras da vida sozinha e sobrevivia por seus próprios esforços... Não iria se curvar ao destino, iria enfrentá-lo!
Com essa força para enfrentar o destino, recomeçou a analisar suas amostras que finalmente mostravam resultados, assim como sua vida entraria nos eixos dentro de breve. Afinal, a maior força que tinha era aquela de fazer o próprio destino!
A jovem arregalou os olhos após aquele pensamento. Que diabos era isso de destino? Era uma cientista, não estava ali para perder tempo com crendices.
Dez e meia da manhã. Após mais de duas horas ininterruptas de análise de amostras, a jovem Cassie alongava os músculos antes de levantar e, como era sua rotina, tomar uma xícara de chá na cozinha do laboratório, alguns andares abaixo. Enquanto atravessava os corredores, não podia deixar de pensar no quanto o dia estava bonito, mesmo com algumas nuvens que apareceram no céu e, enquanto esperava o elevador, olhava para algumas flores em alguns vasos que enfeitavam o hall de entrada do seu andar; brotadas a partir de sementes desenvolvidas por uma das equipes que dividia o sexto andar, não pôde deixar de pensar, enquanto entrava no elevador. Cassie, após sair do elevador, foi andando calmamente pelos corredores do andar em que a cozinha se localizava, observando a paisagem, até chegar ao ambiente mais popular entre os funcionários do prédio. Todos se encontravam ali para tomar chá ou café e conversar, tornando o ambiente ainda mais alegre e descontraído do que já era pelas grandes janelas que o iluminavam. Lá, algumas pessoas preparavam café, outras saboreavam alguma bebida e uma garotinha olhava para tudo com um grande interesse.
- Hotaru-chan? Não sabia que estava aqui.
- Oi, Cassie-san! Olha só, a Kyu-chan ganhou uma roupa nova!- Hotaru, a garotinha, disse apontando para a boneca que carregava.
- Estou vendo... Ela está linda!
A graciosa garotinha de cerca de seis anos estava ali para acompanhar seu pai nas pesquisas, sendo um motivo de descontração no laboratório, já que todos os cientistas gostavam de brincar com ela e a paparicavam sempre que vinha visitar o pai. Cassie não podia deixar de pensar que para eles na ohavia muita diferença entre uma menina de seis anos e uma adolescente de quinze...
- Ela está aqui porque quero que ela veja a experiência que faremos nessa tarde.
- Tomoe-sensei?
Tomoe e Kaori estavam na frente de Cassie e Hotaru, a secertária anotando coisas em uma prancheta e o cientista pegando a filha no colo, fazendo com que a loira seguisse para o fogão e pegasse um pouco de chá dentro de um bule para depois voltar, com sua xícara na mão, para junto de Tomoe e Kaori. O cientista disse:
- Finalmente vou poder realizar minha experiência, depois de meses de trabalho! Vou tentar mapear o genoma daquele corpo estranho.
Cassie sorriu, enquanto tomava mais um gole de chá. Sabia o quanto essa experiência era importante para seu chefe, para o laboratório, para toda a comunidade científica internacional. A ciência não era mesmo maravilhosa?
Porém, a visão da jovem turvou-se e sucessivas imagens começaram a se projetar em sua mente: o laboratório, Tomoe-sensei, Hotaru... uma explosão. Logo após, os escombros do laboratório destruído e uma belíssima jovem, com um longo vestido preto e os cabelos enormes. Ela tinha um olhar extremamente diabólico e sorria ainda mais diabolicamente. Essa jovem tinha os traços de Hotaru, mas como isso poderia ser possível? O céu estava com a cor do sangue e as ruínas se espalhavam por toda Tóquio, tendo sobrado apenas ela e a bela jovem demoníaca. Uma frase acompanhava a visão: "O Silêncio chegará em breve", assim como a certeza de que nunca vira e nem sentira algo tão assustador.
O som de uma xícara que se espatifa no chão ecoou pela sala, o que fez com que todos voltassem os olhos para uma garota em pânico apoiada em uma parece. Um dos cientistas, o mais próximo da cena, perguntou:
- Beckham-san? O que foi?
- Está tudo bem com você?- Uma cientista perguntou.
- Não foi nada... Já passou.
As pessoas que estavam na sala tinham feito com que Cassie se sentasse e tomasse um copo de água e após a jovem se acalmar um pouco Tomoe perguntou:
- O que houve?
- Eu vi... o laboratório vai ser destruído! Tomoe-sensei... Kaori- san... todos vocês... Hotaru-chan... todos correm perigo!
Olhares desconcertados eram trocados entre os ouvintes. Pois é... a garotinha estava tendo pesadelos. Vai ver tinha ficado impressionada com algum filme que vira na noite anterior, no mínimo.
- O que é isso, jovem Cassandra? Nós estamos em um laboratório científico, não em uma escola de videntes!- Kaori comentou, sarcasticamente.
- Mas vocês não entendem? Todos corremos perigo, o laboratório e tudo o que está dentro dele serão destruídos!
- Acalme-se, Beckham-san. Foi só uma ilusão, não vai acontecer nada de mal - disse a cientista que estava próxima.
- Acho que seria bom se tirasse uma tarde de folga. Vá passear um pouco no shopping, como uma garota de sua idade normal faria. Vá relaxar um pouco. - Disse o primeiro cientista que tentara socorrê-la.
- É o que eu vivo dizendo... Crianças não devem fazer o trabalho de adultos - Disse Kaori enquanto mexia os ombros em desacordo.
Cassie levantou-se e disse, olhando diretamente para o chefe:
- Tudo bem... Tomoe-sensei, se o senhor não se importar...
- Não me importo, Cassie-chan. Só gostaria que você também assistisse à experiência, mas será impossível pelo que estou vendo.
- Até amanhã então para todos... Ah! Hotaru-chan, amanhã você vai ter que me contar tudo o que aconteceu na experiência do seu pai, por isso preste bastante atenção!
- Tudo bem, Cassie-san. Até amanhã.
A loira, enquanto andava pelos corredores, podia ouvir a conversa na cozinha:
- Ela quer atenção. Geralmente quando crianças querem atenção inventam histórias mirabolantes- disse um dos cientistas que estavam na cozinha.
- Ela já não é tão criança, mas não é por isso que não pode criar seu mundo interior e achar que ele é real- disse outro.
- Já não é a primeira vez que isso acontece. Há três meses atrás ela se recusou a tomar um avião para Boston, e tivemos de cancelar o embarque. Incrivelmente esse avião explodiu após a decolagem e nós teríamos morrido se estivéssemos lá - disse a cientista.
- Para mim tudo isso não passa de manha - disse Kaori.
- Já estou estudando a possibilidade de mandá-la para umas férias em alguma casa de repouso para que se acalme- disse Tomoe.
Cassie andava chocada pelo corredor, enquanto refletia que qualquer pessoa com uma mínima dose de ceticismo não acreditaria em histórias sobre previsão do futuro, mas nunca tivera uma visão tão apavorante antes, apesar de não ser a primeira vez que tinha uma visão do tipo. Essas visões, por mais estranhas que pudessem parecer, SEMPRE se realizavam. E ninguém NUNCA acreditava nela. Bom, vai ver esse fosse o mal de conviver com cientistas. Lembrava-se de algumas das coisas que previra: a morte dos pais, o atropelamento de uma coleguinha de escola na primeira série, a explosão do avião... Também não era sensato que ela ficasse contando as visões que tinha para as pessoas, afinal ninguém nunca acreditava, além do que era uma estupidez falar sobre isso, não queria ser conhecida como "gênio com parafusos soltos".
Enquanto divagava sobre as visões do futuro que já tivera, Cassie andava nervosamente pelo laboratório. Largou o jaleco no armário e pegou sua bolsa. Ainda tremia quando o elevador descia rumo ao térreo. O porteiro perguntou se estava tudo bem e a jovem respondeu que sim com a cabeça, embora fosse visível que não havia nada bem por ali.
Andava pela rua, mas nem prestava atenção no trajeto do laboratório até sua casa, como sempre fazia. Essa visão em especial a atormentava muito mais do que todas as outras que já tivera. Não era só o laboratório que seria atingido, mas todo o mundo. "O Silêncio chegará em breve". O que era "Silêncio"? Era algo horrível, tinha certeza. Mas o que exatamente? O que vinha a ser "Silêncio"?
Sem nem notar, a loira já estava na porta do prédio onde morava, nunca estivera tão ansiosa para voltar para casa, para deitar em sua cama, ou mesmo para acreditar que tudo não passara de apenas mais um pesadelo. O que estava acontecendo com ela? Por que estava acontecendo com ela? Qual era o número do analista mesmo? Ela só podia estar enlouquecendo, era a única explicação possível para a maré de coisas estranhas que inundara sua mente.
Após um refrescante banho e um almoço rápido, Cassie atirou-se no macio sofá da sala. Passaria a tarde assistindo o que quer que passasse na TV, precisava encher a cabeça com qualquer besteira, queria estar sedada... Ao achar um filme B em um dos canais, resolveu que aquele seria o programa de sua tarde. E com certeza sua mente daria um bom roteiro para um filme desse estilo...
Na metade do filme, a programação foi interrompida por uma notícia de última hora:
- Atenção. Interrompemos a programação para comunicar que aconteceu uma explosão há alguns instantes no centro de Tóquio, no Laboratório Tomoe. Aqui podemos ver algumas imagens do local, que como podem ver está completamente destruído. Equipes de resgate estão trabalhando no local da explosão e ainda não há um número exato de vítimas, mas sabe-se que o renomado cientista Tomoe Souichi e sua filha Tomoe Hotaru sobreviveram milagrosamente à explosão. A causa do acidente permanece desconhecida. Mais informações a qualquer momento, Shidou Hikaru da ZFR.
Cassie estava em choque. Sua visão se realizara mesmo... pelo menos em parte. O laboratório havia sido destruído e todos estavam mortos, exceto Tomoe-sensei e Hotaru, como sabia que iria acontecer... Era o destino. Podia mudar o que quisesse no mundo, menos o destino.
O quê? O que havia pensado? Destino? Nada disso, apenas uma coincidência. Coincidência? Não existem coincidências, apenas o inevitável. E o acidente era inevitável. Não poderia impedi-lo, apenas saber que aconteceria.
Cassie balançou a cabeça, tentando novamente expulsar com o esforço físico seus pensamentos. Estava chocada, tinha que sair um pouco, respirar um pouco, pôr suas idéias em ordem. Suas pernas a levaram para uma praça.
Algumas crianças estavam desenhando ali, acompanhadas por uma professora. Uma confusão de tintas, papéis e risadas felizes tomava o ambiente, fazendo com que Cassie aproximasse-se da alegre agitação, mesmo que sua indisfarçável tristeza destoasse no feliz ambiente das crianças numa atividade extra-classe. Com os olhos lacrimejantes, podia distinguir uma garota com um penteado estranho... Ela usava duas longas tranças e o cabelo preso em forma de "odangos". Uma sensação de déjà vu... A garotinha aproximou-se, como se tivesse adivinhado seus pensamentos:
- O que foi, moça? Por que está chorando?
- Ora, garota... Problemas... terríveis problemas.
- Você está triste porque ficou de mal com sua amiga?
Cassie sorriu para a garota que a olhava com curiosidade. Disse:
- Vá brincar, aproveite seu passeio, faça um desenho lindo...
- Eu estou desenhando um coelhinho! E você não pode ficar triste, porque hoje é aniversário da minha mãe! Tenho de fazer um coelhinho bem bonito para ela e não quero ver ningupem triste! Você promete que não vai ficar triste?
- Prometo... Agora o que acha de acabar seu coelhinho?
- Boa idéia, moça! Gostei de você!
- Qual é seu nome?
- Usagi... Tsukino Usagi...
- Vá se divertir com seus amigos, Usagi-chan!
Usagi saiu correndo pela praça, voltando para onde tinha largado seu desenho. Cassie não pôde deixar de pensar que talvez houvesse mais tinta no uniforme da garota do que no papel, mas isso era só um detalhe, o importante é que essa garota que nunca tinha visto antes mas parecia-lhe muito familiar se divertisse.
A jovem cientista enxugou as lágrimas que estavam em seu rosto. Nada impedia que sentisse muito por seus colegas mortos, mas não era por isso que tinha que se afogar em um mar de depressão. Era melhor voltar para casa...
De volta a seu apartamento, Cassie jogou-se na cama, tinha que ordenar suas idéias um pouco. Aquele laboratório era de certa forma uma extensão de seu lar, era uma lembrança viva de seus pais. Agora não tinha mais nada, mais ninguém. A inglesa nascida no Japão estava confusa... Voltaria para Manchester, onde o que restava de sua família vivia? Não... Não queria abandonar o país onde nascera, onde fora criada. Permaneceria em Tóquio, passado o choque inicial pela tragédia, sua vida se ajeitaria. Com certeza se ajeitaria. Mas enquanto isso não acontecesse, preferia ficar na sua cama dormindo...
***
Um palácio feito com cristais negros, que não era tão esplendoroso quanto o Palácio Real lunar, mas não deixava de ser maravilhoso. Para dar um toque ainda mais mágico no enorme Palácio feito inteiramente de cristais negros, o satélite chamado Caronte brilhava intensamente no céu e refletia seu brilho nas torres do Palácio Real de Plutão.
Naquela que era a sala em que a família real se encontrava para seus serões particulares, aonde o rei e a rainha cuidavam e conversavam de seus filhos e outros parentes próximos, um homem de muita idade estava sentado em um divã e suas duas netas, uma garota de longos cabelos esverdeados, já entrando na adolescência, e uma garotinha loira.
- Minhas queridas, como sabem, uma de vocês será uma Sailor Senshi, fará parte da mais nobre das divisões do exército do Milênio e representará nosso planeta, Plutão. Como Sailor Pluto, a escolhida também terá a missão de guardar o Portal do Tempo, que leva a Passado, Presente e Futuro e terá acesso ao Limbo, várias dimensões paralelas onde a ordem dos fatos é definida e as marcas de tudo o que acontece ficam registradas para todo o sempre, como as linhas temporais de cada indivíduo. E é uma responsabilidade muito grande.
- Sabemos disso, vovô- disse a garota loira.
- Vocês duas foram muito bem treinadas, sei que se sairão muito bem no destino que já foi reservado a vocês desde muito antes de nascerem. Setsuna... Cassandra... as princesas de Plutão. Amanhã mesmo partirei com vocês até a sede do Milênio de Prata, o Palácio Real lunar, afinal foram chamadas pela Rainha Serenity. Moira, irmã de minha mãe, a Sailor Pluto, está perto de encerrar seu ciclo e precisa de uma sucessora Moira já está perto de cumprir seu ciclo. Aprontem suas malas, meninas, iremos amanhã bem cedo. Estejam prontas.
- Certo, vovô. Boa noite- disseram Cassandra e Setsuna em uníssono.
As duas meninas foram correndo para seus quartos. Porém, Cassandra parou. Sua visão turvou-se. Estava vendo... o palácio de cristal tombando... a Rainha usando todo o poder do lendário Cristal de Prata... corpos para todos os lados...
***
Olhos verdes olhavam para o quarto escuro. Pois é... mais um sonho estranho, Cassie pensou. Mas ao contrário do apavorante pesadelo que a perseguira por sete noites, esse sonho fora diferente... Era como se tivesse sido levada a uma terra que era ao mesmo tempo estranha e familiar...
^.^
AAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!! Estou tentando fazer uma saga! Será que conseguirei? O que está achando do meu texto? Mande sua opinião para:
mis9_fics@hotmail.com
Estou esperando!!! Sua opinião é muito importante!!!
PIRATE KNIGHTS
por Mistress 9
PRÓLOGO: ESTRANHOS SONHOS, CRUEL REALIDADE
Era uma clareira normal, exceto talvez pelo forte cheiro do sangue que tingia de vermelho o solo e pelos corpos dos guerreiros que pereceram em uma batalha em que muito mais do que suas próprias vidas estava em jogo, mas tudo aquilo em que acreditavam e as pessoas com quem se importavam.
Os olhos vermelhos fitavam todo o ambiente, enquanto a suave brisa servia para balançar de leve os cabelos vermelhos, enquanto uma das mãos da guerreira estava sobre o ferimento sofrido há pouco, talvez porque tivera uma iluminação sobre o próprio destino, talvez pela dor, talvez por todo o calor da batalha.
Quem poderia saber? Não seria ela, que não podia fazer mais do que observar passivamente toda a ação transcorrida naquela noite, que saberia... Isso sem contar que todo o seu mundo estava destruído, todo o seu interior já não importava: a ela, não restava muito mais do que esperar pelo inevitável que ficava mais claro a cada instante.
Mas no momento em que aquele olhar vermelho encontrou seus olhos verdes, parecia ter certeza de todo o planejado, parecia saber de antemão como a batalha acabaria e que ainda tinha parte importante nela.
A ruiva aproximou-se e disse, enquanto colocava a mão que não estava suja de sangue sobre o rosto da jovem:
- Pois bem, minha criança... É chegada a hora de você mostrar a verdadeira razão de estar aqui entre nós, criança predestinada... Não deixe que os fatos ocorridos durante este dia caiam no esquecimento, não deixe com que todo esse sangue tenha sido em vão! Criança, minha criança, cabe apenas a você a memória desses fatos, cabe apenas a você levá-los ao futuro!
A jovem de olhos verdes olhava assustada para a bela e imponente mulher em sua frente, enquanto, apesar de bastante assustada por toda a situação, pensasse que talvez não houvesse mesmo outra solução e o sangue derramado durante aquela noite precisasse de suas forças para ser vingado, vinha de seu corpo a força necessária para pôr um fim a aquele massacre.
- Sei que é capaz de entender seu destino, sei que já sabe o que está por vir muito depois de tudo isso estar encerrado, em um futuro muito distante... É por esse futuro, para garantir que se torne real, que deve aceitar e agir como esperado.
A mulher ruiva acariciava levemente o rosto da jovem, o que limpava suas lágrimas e começava a enchê-la de um calor forte, mas ao mesmo tempo suave, que a preenchia por completo, que a tornava mais forte, que a fazia sentir-se capaz de realizar o que fora escrito e determinado para ela...
Como queria ser forte para escapar do destino que ajudara a escrever com suas próprias ações! Porém, de uma coisa tinha certeza naquele momento: fora forte, o suficiente para escrever sua própria trilha e no meio de todo aquele sangue e dor, era seu consolo e sua força. Sempre questionara suas verdadeiras capacidades, mas agora era capaz de compreender, apesar do temor que ainda morava em seu coração: era forte o suficiente para mover a roda do destino com suas próprias mãos.
***
O despertador tocou, o que fez com que um tapa, vindo de uma delicada mão feminina, acabasse com o pequeno martírio matinal poucos instantes depois. Enquanto a dona dessa mão acalmava o coração e os tímpanos, colocava as pernas para fora da cama, para espreguiçar-se e abrir levemente os belos olhos esmeraldinos, apenas para observar todo o ambiente a sua volta.
Levantou-se, rumo ao banheiro, arrumando a camiseta velha usada para dormir, que tinha por papel ocultar a perfeição de seu corpo, enquanto punha as idéias em ordem após a noite de sono. O mesmo pesadelo... Mas afinal de contas, o que eram sonhos? Não eram simplesmente imagens geradas pelo seu subconsciente? Por que estava tão preocupada com um simples produto de sua mente? Mas não deixava de ser estranho... o MESMO pesadelo, do MESMO jeito, as MESMAS palavras ditas, já há sete noites. E, principalmente, como aquele pesadelo, sem nenhuma lógica, sem nenhuma ligação com qualquer coisa que já passara em sua vida, podia atormentá-la tanto?
Balançou a cabeça negativamente, como se quisesse livrar-se das agruras de sua mente fisicamente. Mais um dia de sua vida se iniciara e que dia... O céu estava tremendamente azul, com um Sol brilhante e nenhuma nuvem, o que tornava o dia muito mais belo de se admirar do que se preocupar com besteiras, como procurar significados em um pesadelo... A jovem caminhou em direção ao banheiro e, ao entrar no cômodo, tirou a camiseta que usara para dormir e atirou-a em um canto, aproveitando para ligar a banheira. Banho refresca o corpo e a alma, diriam alguns. Talvez precisasse mesmo refrescar a alma em um banho, principalmente após os pesadelos que já estavam tornando-se rotina.
Após o banho, enrolada em uma toalha azul, voltou para seu quarto. Abriu o guarda-roupa, afinal queria preocupar-se com alguma outra coisa para tirar idéias sem sentido de sua mente... E por que não, para isso, pensar um pouco mais na roupa que usaria nessa manhã tão bela? Não que se importasse muito com moda, mas estar bem arrumada era um bom começo se queria subir a auto-estima... Escolheu uma de suas roupas prediletas, um vestido azul de alças que batia nos joelhos, acompanhadas de um par de sandálias de amarrar da mesma cor. "Até parece que vou a um shopping", pensou, mas continuou com a roupa que escolhera para passar o dia.
Sentou-se no banquinho que acompanhava sua penteadeira para olhar-se no grande espelho, que deveria ter mais de um século de idade. Ele fora passado de geração em geração em sua família, desde uma antepassada que vivera na corte da rainha Vitória. Quantas mulheres esse espelho já não devia ter refletido? Lembrava-se de quando era criança e gostava de subir na penteadeira de sua mãe e usar sua maquiagem, mesmo que essa pequena travessura merecesse uma grande bronca. Não pôde deixar de sorrir ao pensar nisso, nada melhor do que lembranças boas para preencher a cabeça após um pesadelo. Escovava os cabelos de um louro escuro que batia no meio das costas, lisos na raiz e com cachos nas pontas, enquanto pensava o quanto algumas mulheres passavam horas em salões de beleza para terem um cabelo parecido com o que tinha naturalmente, prendendo-os com um prendedor em forma de coração azul. Após arrumar seu cabelo, arrumou sua cama. Estava na hora do café da manhã, tanto o seu como o de seu peixe de estimação, Sweet Joe. Pegou um copo de leite na geladeira e enquanto bebia seu conteúdo, começou a recolher as revistas que deixara espalhadas na sala no dia anterior para coloca-los em uma gaveta da estante de sua sala e tirar de outra delas um pacote de ração para o peixe que a alegrava com suas evoluções em dourado e laranja no pequeno aquário... Não podia deixar de pensar também que tinha de agradar o único ser vivo com quem dividia o apartamento... Então por que não um pouco de ração para começar o dia? Tinha de cuidar de seu estômago e alimentação também, por isso logo após pôr a ração no aquário, voltou para a cozinha comer alguns biscoitos, afinal a fome ainda não estava saciada e queria sair rápido, afinal queria que aquele dia acabasse logo... Era estranho como às vezes a mesmice de seu cotidiano se parecesse tão insuportável... Como queria libertar-se de sua rotina! Meneou a cabeça, enquanto dava uma última passada no banheiro antes de sair de casa. Devia agradecer por ela, isso sim... Ao chegar no saguão do elegante prédio situado em um bairro igualmente elegante de Tóquio, percebeu que o motorista que a levaria já estava ali. Não estava indo para a escola, como a maioria das garotas de quinze anos estariam fazendo àquela hora do dia, mas indo para o trabalho. Ela tinha capacidades surpreendentes, mas não gostava muito do rótulo que desde bebê ganhara: gênio. Era uma palavra pesada, além do que o fato de ser uma superdotada não lhe fazia mais feliz, muito pelo contrário... Ser considerada um gênio jogava a jovem em um imenso abismo, afinal de contas, não se relacionava com pessoas de sua idade, na verdade, não se relacionava com quase ninguém, vivendo solitária desde a morte dos pais, há alguns anos.
Enquanto o carro percorria as movimentadas ruas de Tóquio, a garota esquecia um pouco de sua solidão para olhar a paisagem. Um verdadeiro formigueiro humano, composto de milhões de pessoas que estavam indo trabalhar, estudar, às compras ou o que fosse. Era o que se costuma chamar de hora do rush, mas o carro não ficou preso em nenhum congestionamento e em quinze minutos alcançou seu objetivo: um belo laboratório, um prédio que ocupava um quarteirão inteiro, um dos mais renomados da comunidade científica: o Laboratório Tomoe.
A jovem andava pelos iluminados corredores do décimo segundo e último andar. Apesar de um laboratório particular, o prédio poderia muito bem estar em algum campus de universidade, um grande departamento de pesquisas de melhoramento genético. O prédio tinha uma bela arquitetura, havendo doze andares, divididos cada um em três blocos unidos por corredores com paredes de vidro que se uniam em um quarto bloco, no centro, menor do que os outros, onde os elevadores e salas de recepção ficavam. Em cada um dos andares de cada um dos blocos, havia algum tipo de pesquisa. A loira parou ao chegar no andar com uma placa indicando "Controle Genético de Pragas". Não que pragas agrícolas não fossem algo a ser combatido, mas ela preferiria trabalhar com outras coisas... Estava estudando uma transferência para outra seção do laboratório. Talvez a seção de estudos de vírus, que lhe parecia muito mais excitante, afinal tinha uma aplicação prática muito mais próxima a sua vida do que estudar pragas de plantações!
Após atravessar uma das muitas portas, observou um armário, como os usados nas escolas para guardar o material dos alunos, ao lado da porta de entrada. Abriu o gabinete que estava indicado com seu nome. Beckham Cassandra. "Que nome ridículo, eu odeio meu nome. Onde meus pais estavam com a cabeça para colocarem esse nome horroroso em sua única filha?", a garota não deixou de pensar. Porém, era hora de trabalhar, não de questionar o bom-gosto de seus falecidos pais. Tirou do armário um jaleco e colocou sua bolsa ali, afinal teria um longo dia de testes pela frente e era bom que começasse logo com eles.
Depois de organizar alguns papéis que se amontoavam em sua mesa, começou a observar amostras no microscópio, quando foi interrompida pela entrada de um homem alto, de cabelos grisalhos apesar de jovem, usando óculos, em sua sala.
- Ohayo, Cassie-chan.
- Ohayo, Tomoe-sensei.
- Vejo que está concentrada em seu trabalho.
- Estou, senhor! Finalmente consegui ver algum resultado nas minhas amostras! Depois de duas semanas em que minhas experiências sempre falhavam, finalmente consegui notar algum resultado!- A garota não conseguia disfarçar a alegria e empolgação na voz. Afinal de contas, quanto mais rápido terminasse sua experiência, mais rápido se transferiria de seção.
- Quantas vezes preciso te dizer para não me chamar de senhor? Pode me chamar de você.
- Desculpe, Tomoe-sensei, mas para mim não é muito fácil, é uma questão de costume e respeito.
- Deixe disso, Cassie-chan, afinal não sou tão velho assim para ter toda a austeridade de alguém que precisa ser chamado de senhor!
- Anoo... eu tenho muito a fazer, senhor, e penso que o senhor também tem, por isso eu poderia adiantar minhas pesquisas? Quero entregar seus resultados o mais rápido possível.
- Não precisa se desgastar muito com isso... É muito jovem e linda para se desgastar com prazos, deixe isso com os adultos, minha criança.
Tomoe aproximava-se da jovem, colocando suas mãos em seus ombros, o que fez com que Cassie arredasse sua cadeira para trás para escapar daquele carinho e cuidado exagerados. Disse, com a voz firme, como se quisesse escapar de uma grande ameaça ou mesmo de um maníaco psicopata: - Eu tenho que acabar de analisar meu experimento e o senhor PODERIA DAR LICENÇA?
Tomoe afastou-se da jovem ao mesmo tempo em que uma exuberante mulher, com longos cabelos ruivos presos em um rabo, um vestido vermelho que deixava muito pouco a imaginar por baixo de seu jaleco entreaberto, entrava na sala. Sorriu ao ver o chefe:
- Tomoe-sensei! Sabia que estava aqui.
- Então, Kaori-san?
- Já está tudo pronto para a experiência e tudo está confirmado, será nessa tarde. A equipe já está esperando e todo o material está pronto e conferido.
- Muito bem. Você é a secretária mais eficiente que conheço, Kaori- san.
Tomoe saiu da sala para verificar pessoalmente os últimos preparativos para sua experiência, enquanto a secretária ruiva, corada pelo elogio, estava parada no meio da sala. Ao perceber onde estava, Kaori recompôs-se e disse, olhando para a jovem cientista em sua frente:
- Sempre me pergunto... O que uma criança está fazendo trabalhando aqui? Deveria estar na escola, não fazendo o serviço de adultos. Cassie ficou observando enquanto a secretária de Tomoe saía da sala, enquanto pensava um pouco sobre o comentário que acendera uma chama de raiva em seu interior. Era sempre assim, sempre fora e sempre seria, os comentários de Kaori,a superproteção de Tomoe-sensei, a falta de credibilidade pela pouca idade vinda de seus colegas. "Por que as coisas têm de ser assim, por que não posso ser uma menina normal que vai para a escola todos os dias, convive com outras pessoas de sua idade e suspira por garotos tolos? Por que não tenho uma vida normal?". Era a vida... Não pudera fazer muita coisa para impedir ou mudar os rumos de sua vida, simplesmente fora assim e permanecera dessa forma... Frequentar uma escola com pessoas de sua idade era um sonho impossível, pois sempre se destacara, mesmo na escola para superdotados se destacava, sempre fora a mais rápida, sempre já tinha aprendido tudo antes que os outros sequer olhassem para a matéria. Cumprira cada série escolar em poucos meses, com notas máximas em todas as matérias, entrara na Toudai sem problemas, concluíra a universidade em pouco tempo e também com notas excelentes... Era o mascote da turma, se é que conseguira ficar em uma turma alguma vez em sua vida por culpa de seu ritmo forte de aprendizado...
Depois, por intermédio de seus pais também cientistas, começou a trabalhar no laboratório e já virara rotina ser tratada pelos "adultos" como "garotinha que está aqui para ver o trabalho dos pais". Principalmente após a morte de seus pais, o que mais apareciam eram superiores com ares paternais ou maternais. Era sempre a garotinha, sempre a poupavam do trabalho pesado, sempre queriam fazer o serviço por ela. E isso a punha nervosa, principalmente quando tinha de agüentar cantadas de alguns superiores não se preocupando muito com conceitos como "pedofilia" ou o ar de proteção intensa se seu chefe, Tomoe Souichi.
Os olhos muito verdes observavam a bagunça de papéis, amostras, substâncias químicas e equipamentos de análise em sua mesa e, em um momento em que queria descontar todo o seu descontentamento com os rumos de sua vida, deu um soco na mesa, apenas para cair em si segundos depois. O que era aquilo agora, uma prova irrefutável de infantilidade? Quase jogara o trabalho de um mês literalmente no lixo por culpa de um descontrole! Deveria ser fria, afinal sua pesquisa eram muito mais importantes do que seus conflitos internos, além do que se queria, aliás, se precisava estar no mundo dos adultos, era bom ser fria como qualquer um deles. Respirou calmamente por algum tempo para se acalmar, afinal não tinha o direito de ter ataques de nervos, sob pena de nunca deixar de ser vista como "garotinha que está aqui a passeio".
Mas para piorar ainda mais a bagunça em sua mente, ainda tinham os pesadelos, ou melhor, o pesadelo, já que era sempre o mesmo, que a atormentava há uma semana. Mas afinal de contas, por que iria se curvar à vida? Não! Ela era Beckham Cassie, como preferia ser chamada, enfrentava as agruras da vida sozinha e sobrevivia por seus próprios esforços... Não iria se curvar ao destino, iria enfrentá-lo!
Com essa força para enfrentar o destino, recomeçou a analisar suas amostras que finalmente mostravam resultados, assim como sua vida entraria nos eixos dentro de breve. Afinal, a maior força que tinha era aquela de fazer o próprio destino!
A jovem arregalou os olhos após aquele pensamento. Que diabos era isso de destino? Era uma cientista, não estava ali para perder tempo com crendices.
Dez e meia da manhã. Após mais de duas horas ininterruptas de análise de amostras, a jovem Cassie alongava os músculos antes de levantar e, como era sua rotina, tomar uma xícara de chá na cozinha do laboratório, alguns andares abaixo. Enquanto atravessava os corredores, não podia deixar de pensar no quanto o dia estava bonito, mesmo com algumas nuvens que apareceram no céu e, enquanto esperava o elevador, olhava para algumas flores em alguns vasos que enfeitavam o hall de entrada do seu andar; brotadas a partir de sementes desenvolvidas por uma das equipes que dividia o sexto andar, não pôde deixar de pensar, enquanto entrava no elevador. Cassie, após sair do elevador, foi andando calmamente pelos corredores do andar em que a cozinha se localizava, observando a paisagem, até chegar ao ambiente mais popular entre os funcionários do prédio. Todos se encontravam ali para tomar chá ou café e conversar, tornando o ambiente ainda mais alegre e descontraído do que já era pelas grandes janelas que o iluminavam. Lá, algumas pessoas preparavam café, outras saboreavam alguma bebida e uma garotinha olhava para tudo com um grande interesse.
- Hotaru-chan? Não sabia que estava aqui.
- Oi, Cassie-san! Olha só, a Kyu-chan ganhou uma roupa nova!- Hotaru, a garotinha, disse apontando para a boneca que carregava.
- Estou vendo... Ela está linda!
A graciosa garotinha de cerca de seis anos estava ali para acompanhar seu pai nas pesquisas, sendo um motivo de descontração no laboratório, já que todos os cientistas gostavam de brincar com ela e a paparicavam sempre que vinha visitar o pai. Cassie não podia deixar de pensar que para eles na ohavia muita diferença entre uma menina de seis anos e uma adolescente de quinze...
- Ela está aqui porque quero que ela veja a experiência que faremos nessa tarde.
- Tomoe-sensei?
Tomoe e Kaori estavam na frente de Cassie e Hotaru, a secertária anotando coisas em uma prancheta e o cientista pegando a filha no colo, fazendo com que a loira seguisse para o fogão e pegasse um pouco de chá dentro de um bule para depois voltar, com sua xícara na mão, para junto de Tomoe e Kaori. O cientista disse:
- Finalmente vou poder realizar minha experiência, depois de meses de trabalho! Vou tentar mapear o genoma daquele corpo estranho.
Cassie sorriu, enquanto tomava mais um gole de chá. Sabia o quanto essa experiência era importante para seu chefe, para o laboratório, para toda a comunidade científica internacional. A ciência não era mesmo maravilhosa?
Porém, a visão da jovem turvou-se e sucessivas imagens começaram a se projetar em sua mente: o laboratório, Tomoe-sensei, Hotaru... uma explosão. Logo após, os escombros do laboratório destruído e uma belíssima jovem, com um longo vestido preto e os cabelos enormes. Ela tinha um olhar extremamente diabólico e sorria ainda mais diabolicamente. Essa jovem tinha os traços de Hotaru, mas como isso poderia ser possível? O céu estava com a cor do sangue e as ruínas se espalhavam por toda Tóquio, tendo sobrado apenas ela e a bela jovem demoníaca. Uma frase acompanhava a visão: "O Silêncio chegará em breve", assim como a certeza de que nunca vira e nem sentira algo tão assustador.
O som de uma xícara que se espatifa no chão ecoou pela sala, o que fez com que todos voltassem os olhos para uma garota em pânico apoiada em uma parece. Um dos cientistas, o mais próximo da cena, perguntou:
- Beckham-san? O que foi?
- Está tudo bem com você?- Uma cientista perguntou.
- Não foi nada... Já passou.
As pessoas que estavam na sala tinham feito com que Cassie se sentasse e tomasse um copo de água e após a jovem se acalmar um pouco Tomoe perguntou:
- O que houve?
- Eu vi... o laboratório vai ser destruído! Tomoe-sensei... Kaori- san... todos vocês... Hotaru-chan... todos correm perigo!
Olhares desconcertados eram trocados entre os ouvintes. Pois é... a garotinha estava tendo pesadelos. Vai ver tinha ficado impressionada com algum filme que vira na noite anterior, no mínimo.
- O que é isso, jovem Cassandra? Nós estamos em um laboratório científico, não em uma escola de videntes!- Kaori comentou, sarcasticamente.
- Mas vocês não entendem? Todos corremos perigo, o laboratório e tudo o que está dentro dele serão destruídos!
- Acalme-se, Beckham-san. Foi só uma ilusão, não vai acontecer nada de mal - disse a cientista que estava próxima.
- Acho que seria bom se tirasse uma tarde de folga. Vá passear um pouco no shopping, como uma garota de sua idade normal faria. Vá relaxar um pouco. - Disse o primeiro cientista que tentara socorrê-la.
- É o que eu vivo dizendo... Crianças não devem fazer o trabalho de adultos - Disse Kaori enquanto mexia os ombros em desacordo.
Cassie levantou-se e disse, olhando diretamente para o chefe:
- Tudo bem... Tomoe-sensei, se o senhor não se importar...
- Não me importo, Cassie-chan. Só gostaria que você também assistisse à experiência, mas será impossível pelo que estou vendo.
- Até amanhã então para todos... Ah! Hotaru-chan, amanhã você vai ter que me contar tudo o que aconteceu na experiência do seu pai, por isso preste bastante atenção!
- Tudo bem, Cassie-san. Até amanhã.
A loira, enquanto andava pelos corredores, podia ouvir a conversa na cozinha:
- Ela quer atenção. Geralmente quando crianças querem atenção inventam histórias mirabolantes- disse um dos cientistas que estavam na cozinha.
- Ela já não é tão criança, mas não é por isso que não pode criar seu mundo interior e achar que ele é real- disse outro.
- Já não é a primeira vez que isso acontece. Há três meses atrás ela se recusou a tomar um avião para Boston, e tivemos de cancelar o embarque. Incrivelmente esse avião explodiu após a decolagem e nós teríamos morrido se estivéssemos lá - disse a cientista.
- Para mim tudo isso não passa de manha - disse Kaori.
- Já estou estudando a possibilidade de mandá-la para umas férias em alguma casa de repouso para que se acalme- disse Tomoe.
Cassie andava chocada pelo corredor, enquanto refletia que qualquer pessoa com uma mínima dose de ceticismo não acreditaria em histórias sobre previsão do futuro, mas nunca tivera uma visão tão apavorante antes, apesar de não ser a primeira vez que tinha uma visão do tipo. Essas visões, por mais estranhas que pudessem parecer, SEMPRE se realizavam. E ninguém NUNCA acreditava nela. Bom, vai ver esse fosse o mal de conviver com cientistas. Lembrava-se de algumas das coisas que previra: a morte dos pais, o atropelamento de uma coleguinha de escola na primeira série, a explosão do avião... Também não era sensato que ela ficasse contando as visões que tinha para as pessoas, afinal ninguém nunca acreditava, além do que era uma estupidez falar sobre isso, não queria ser conhecida como "gênio com parafusos soltos".
Enquanto divagava sobre as visões do futuro que já tivera, Cassie andava nervosamente pelo laboratório. Largou o jaleco no armário e pegou sua bolsa. Ainda tremia quando o elevador descia rumo ao térreo. O porteiro perguntou se estava tudo bem e a jovem respondeu que sim com a cabeça, embora fosse visível que não havia nada bem por ali.
Andava pela rua, mas nem prestava atenção no trajeto do laboratório até sua casa, como sempre fazia. Essa visão em especial a atormentava muito mais do que todas as outras que já tivera. Não era só o laboratório que seria atingido, mas todo o mundo. "O Silêncio chegará em breve". O que era "Silêncio"? Era algo horrível, tinha certeza. Mas o que exatamente? O que vinha a ser "Silêncio"?
Sem nem notar, a loira já estava na porta do prédio onde morava, nunca estivera tão ansiosa para voltar para casa, para deitar em sua cama, ou mesmo para acreditar que tudo não passara de apenas mais um pesadelo. O que estava acontecendo com ela? Por que estava acontecendo com ela? Qual era o número do analista mesmo? Ela só podia estar enlouquecendo, era a única explicação possível para a maré de coisas estranhas que inundara sua mente.
Após um refrescante banho e um almoço rápido, Cassie atirou-se no macio sofá da sala. Passaria a tarde assistindo o que quer que passasse na TV, precisava encher a cabeça com qualquer besteira, queria estar sedada... Ao achar um filme B em um dos canais, resolveu que aquele seria o programa de sua tarde. E com certeza sua mente daria um bom roteiro para um filme desse estilo...
Na metade do filme, a programação foi interrompida por uma notícia de última hora:
- Atenção. Interrompemos a programação para comunicar que aconteceu uma explosão há alguns instantes no centro de Tóquio, no Laboratório Tomoe. Aqui podemos ver algumas imagens do local, que como podem ver está completamente destruído. Equipes de resgate estão trabalhando no local da explosão e ainda não há um número exato de vítimas, mas sabe-se que o renomado cientista Tomoe Souichi e sua filha Tomoe Hotaru sobreviveram milagrosamente à explosão. A causa do acidente permanece desconhecida. Mais informações a qualquer momento, Shidou Hikaru da ZFR.
Cassie estava em choque. Sua visão se realizara mesmo... pelo menos em parte. O laboratório havia sido destruído e todos estavam mortos, exceto Tomoe-sensei e Hotaru, como sabia que iria acontecer... Era o destino. Podia mudar o que quisesse no mundo, menos o destino.
O quê? O que havia pensado? Destino? Nada disso, apenas uma coincidência. Coincidência? Não existem coincidências, apenas o inevitável. E o acidente era inevitável. Não poderia impedi-lo, apenas saber que aconteceria.
Cassie balançou a cabeça, tentando novamente expulsar com o esforço físico seus pensamentos. Estava chocada, tinha que sair um pouco, respirar um pouco, pôr suas idéias em ordem. Suas pernas a levaram para uma praça.
Algumas crianças estavam desenhando ali, acompanhadas por uma professora. Uma confusão de tintas, papéis e risadas felizes tomava o ambiente, fazendo com que Cassie aproximasse-se da alegre agitação, mesmo que sua indisfarçável tristeza destoasse no feliz ambiente das crianças numa atividade extra-classe. Com os olhos lacrimejantes, podia distinguir uma garota com um penteado estranho... Ela usava duas longas tranças e o cabelo preso em forma de "odangos". Uma sensação de déjà vu... A garotinha aproximou-se, como se tivesse adivinhado seus pensamentos:
- O que foi, moça? Por que está chorando?
- Ora, garota... Problemas... terríveis problemas.
- Você está triste porque ficou de mal com sua amiga?
Cassie sorriu para a garota que a olhava com curiosidade. Disse:
- Vá brincar, aproveite seu passeio, faça um desenho lindo...
- Eu estou desenhando um coelhinho! E você não pode ficar triste, porque hoje é aniversário da minha mãe! Tenho de fazer um coelhinho bem bonito para ela e não quero ver ningupem triste! Você promete que não vai ficar triste?
- Prometo... Agora o que acha de acabar seu coelhinho?
- Boa idéia, moça! Gostei de você!
- Qual é seu nome?
- Usagi... Tsukino Usagi...
- Vá se divertir com seus amigos, Usagi-chan!
Usagi saiu correndo pela praça, voltando para onde tinha largado seu desenho. Cassie não pôde deixar de pensar que talvez houvesse mais tinta no uniforme da garota do que no papel, mas isso era só um detalhe, o importante é que essa garota que nunca tinha visto antes mas parecia-lhe muito familiar se divertisse.
A jovem cientista enxugou as lágrimas que estavam em seu rosto. Nada impedia que sentisse muito por seus colegas mortos, mas não era por isso que tinha que se afogar em um mar de depressão. Era melhor voltar para casa...
De volta a seu apartamento, Cassie jogou-se na cama, tinha que ordenar suas idéias um pouco. Aquele laboratório era de certa forma uma extensão de seu lar, era uma lembrança viva de seus pais. Agora não tinha mais nada, mais ninguém. A inglesa nascida no Japão estava confusa... Voltaria para Manchester, onde o que restava de sua família vivia? Não... Não queria abandonar o país onde nascera, onde fora criada. Permaneceria em Tóquio, passado o choque inicial pela tragédia, sua vida se ajeitaria. Com certeza se ajeitaria. Mas enquanto isso não acontecesse, preferia ficar na sua cama dormindo...
***
Um palácio feito com cristais negros, que não era tão esplendoroso quanto o Palácio Real lunar, mas não deixava de ser maravilhoso. Para dar um toque ainda mais mágico no enorme Palácio feito inteiramente de cristais negros, o satélite chamado Caronte brilhava intensamente no céu e refletia seu brilho nas torres do Palácio Real de Plutão.
Naquela que era a sala em que a família real se encontrava para seus serões particulares, aonde o rei e a rainha cuidavam e conversavam de seus filhos e outros parentes próximos, um homem de muita idade estava sentado em um divã e suas duas netas, uma garota de longos cabelos esverdeados, já entrando na adolescência, e uma garotinha loira.
- Minhas queridas, como sabem, uma de vocês será uma Sailor Senshi, fará parte da mais nobre das divisões do exército do Milênio e representará nosso planeta, Plutão. Como Sailor Pluto, a escolhida também terá a missão de guardar o Portal do Tempo, que leva a Passado, Presente e Futuro e terá acesso ao Limbo, várias dimensões paralelas onde a ordem dos fatos é definida e as marcas de tudo o que acontece ficam registradas para todo o sempre, como as linhas temporais de cada indivíduo. E é uma responsabilidade muito grande.
- Sabemos disso, vovô- disse a garota loira.
- Vocês duas foram muito bem treinadas, sei que se sairão muito bem no destino que já foi reservado a vocês desde muito antes de nascerem. Setsuna... Cassandra... as princesas de Plutão. Amanhã mesmo partirei com vocês até a sede do Milênio de Prata, o Palácio Real lunar, afinal foram chamadas pela Rainha Serenity. Moira, irmã de minha mãe, a Sailor Pluto, está perto de encerrar seu ciclo e precisa de uma sucessora Moira já está perto de cumprir seu ciclo. Aprontem suas malas, meninas, iremos amanhã bem cedo. Estejam prontas.
- Certo, vovô. Boa noite- disseram Cassandra e Setsuna em uníssono.
As duas meninas foram correndo para seus quartos. Porém, Cassandra parou. Sua visão turvou-se. Estava vendo... o palácio de cristal tombando... a Rainha usando todo o poder do lendário Cristal de Prata... corpos para todos os lados...
***
Olhos verdes olhavam para o quarto escuro. Pois é... mais um sonho estranho, Cassie pensou. Mas ao contrário do apavorante pesadelo que a perseguira por sete noites, esse sonho fora diferente... Era como se tivesse sido levada a uma terra que era ao mesmo tempo estranha e familiar...
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