Closing In
Slytherin e Gryffindor. A arrogância e a humildade. Essas sempre foram nossas maiores barreiras. A oposição sempre foi o problema. Mas, enquanto era simplesmente físico, não era um problema. Acontece que às vezes uma pessoa pode desejar mais do que a outra pode dar e tudo simplesmente desanda.
Ela virou para os lados, recostando a cabeça no meu peito, sem perceber que me puxava cada vez mais pela lateral, inconsciente em seu sonho. O perfume floral dela era mais doce que o comum. Inevitavelmente, virei o rosto para o lado, procurando sentir melhor.
Incrível quão grande poderia ser o masoquismo de um ser humano, a ponto de gostar de quem provavelmente vai te desprezar, de querer se lembrar de quem te machuca.
Tentei me recordar de quando aquilo começou. Eu lembrava-me dela, e como ela tinha vindo conversar comigo semanas após a guerra, mas era muito vago. Era sobre ajudá-la em uma acusação injusta. Pansy realmente nunca tivera envolvimento com Voldemort, mas eu continuava a desgostar dela. Em um surto de compaixão me rendi.
Agora eu estava deitado em um pequeno apartamento de Londres, com problemas para dormir - por causa do seu perfume – e fazendo amizade com sombras.
Ela se virou para o outro lado - se afastando do meu corpo - e, por um minuto, senti uma parte minha morrer. Ela estava ali, mas ao mesmo tempo eu a sentia dentro do seu muro, sempre me afastando e transformando tudo em sexo. Aquela era a Pansy para mim, Harry Potter, o gryffindor. Alguém que nunca admitiria amar-me, não importa o que sentisse por mim; Alguém que seria leviano quando se tratava dos sentimentos – dos meus sentimentos.
Continuei calado, observando o contorno do corpo dela enquanto ela se mexia na penumbra. Ela virou-se de novo para mim e eu percebi que seus olhos estavam abertos e olhavam fixamente nos meus.
"Posso saber o que você está pensando?" Ela perguntou com voz baixa de sono.
Eu demorei um pouco analisando seu rosto. Os olhos estavam pintados com uma delicada linha que se juntava no canto externo, fazendo um prolongamento, o que deixava seu olhar mais penetrante. Os fios escuros caiam pela bochecha branca e transformavam a boca em um tom mais cereja do que já era. Eu não queria responder, simplesmente não queria quebrar o silêncio, mas seus olhos procuravam resposta.
"Só estou imaginando... Se temos chances." Eu vi o rosto dela embranquecer e seus olhos saírem de foco. Pensei ter visto um resquício de tristeza e dor neles, mas quem acreditaria que a ela sofreria por mim? Eu não.
"Eu... Isso não vai dá certo, Potter." Meu nome voltou a ter desprezo e aspereza em sua voz. "Você quer uma família, você quer uma mulher que te ame, merece uma mulher que te ame. Volte para a Weasley."
"Eu quero você."
"Mas eu não, por favor, não torne tudo mais difícil." Ela sentou na cama, de costas a mim. Os cabelos banhando as costas nuas e, por um momento, pensei ter ouvido soluços baixos.
Naquele momento eu sabia que eu a tinha perdido – e todos os momentos que tivemos. Sabia que ela havia voltado para dentro do muro e não seria eu que a tiraria dali. Naquele momento eu deixei um ser humano ignóbil e decadente sentado na lateral da cama, esperando que um dia ela se tornasse decente.
Naquele momento eu deixei a mulher pelo qual eu me arrisquei, a qual eu amei e que eu não esquecerei.
