Domo pessoal

Eu sei que vivo reclamando que não tenho tempo para nada, mas eu sempre arrumo para escrever e 'Ao cair das Folhas' é um projeto muito especial para mim, pois é um presente para uma pessoinha super especial que vem me acompanhando desde cedo e que merece isso e muito mais.

Essa fic já era para ter sido lançada a mais de dois meses, mas com toda a correria que tem sido minha vida nos últimos dias, o projeto acabou atrasando. Então lhes apresento 'Ao cair das Folhas', preparem-se para serem transportados de Atenas ao Brasil novamente, numa viagem por Campos do Jordão que vocês jamais imaginaram ver antes.

Agora estamos no inverno, quer época mais aconchegante e romântica para visitar um lugar que todos se transformam em pessoas radiantes e mais bonitas do que já são é claro. Mas dessa vez, o cicerone de vocês será Minos, mostrando o final que todos estão curiosos para saber sobre a história dele.

Então, boa leitura!

n/a: Fic em homenagem a Flor de Gelo.

.::Ao Cair das Folhas::.

By Dama 9

Capitulo 1: O primeiro passo.

.I.

Um novo clique foi ouvido e um fleche disparou depois de alguns segundos. O barulho automático do filme rodando lhe chamou a atenção. Mais lento; ela pensou dando um baixo suspiro.

Olhou a sua volta, vendo que o movimento estava mais tranqüilo aquele dia, atravessou a rua indo sentar-se em um banco de cedro em frente ao Vileto. Colocou a mochila a seu lado, enquanto a abria e vasculhava dentro dela o que precisava.

Ainda tinha muito o que fazer, mexeu de um lado e do outro da mochila até encontrar um frasquinho preto. Chacoalhou-o ouvindo um barulho lá dentro. Ótimo, estava cheio; Larissa pensou, acomodando a máquina em seu colo e ativando o rebobinador, começou a abrir o vidrinho com o novo rolo de filmes.

Tudo bem que o mundo agora só funcionava na base da alta tecnologia, mas infelizmente ou não ainda apreciava a arte de tirar fotos ao natural e não, concertá-las no photoshop depois. Tirar fotos, retratar momentos, sentimentos e pessoas requeria técnica e não apenas o fogo do momento.

Depois de alguns segundos, reabastecida com um novo filme, continuou sua caminhada pelas ruas de Campos do Jordão. O dia ali era muito agradável e isso refletia-se até mesmo na face das pessoas que passavam por si.

Sorriu, cumprimentando um casal de idade que passou por si. Eles estavam passando um tempo, no mesmo grupo de chalés que estava.

Continuou descendo a bulevar principal, passando pelo 'Bigorna', um restaurante bastante peculiar, principalmente se levar em consideração à imensa bigorna que havia na frente.

Olhou para o relógio de pulso, ainda tinha tempo de almoçar e dar uma volta pela cidade antes de ir até o teatro, onde continuaria trabalhando; ela pensou.

-o-o-o-o-o-

Recostou-se melhor no banco do automóvel, enquanto reduzia a velocidade para passar pela guarita logo na entrada da cidade. Fazia pouco tempo que havia deixado Atenas.

Precisava daquela folga longe de todos, onde pudesse aprender a suportar alguns sentimentos que não teriam mais vazão e quem sabe, encontrar o que realmente buscava.

A idéia de voltar ao Tártaro e continuar como juiz não era mais tão atraente como no começo. Desde que Radamanthys e Aiácos partiram, não tinha muito o que fazer. Lune já era suficiente para colocar ordem nas coisas, sua presença ali era praticamente inútil.

Encostou a cabeça no suporte atrás de si, abaixando o vidro para que o ar gelado da manhã entrasse dentro do carro. No banco do passageiro, um mapa e o endereço de onde iria se hospedar.

Perguntara a Isadora antes de partir qual seria o melhor lugar para se hospedar e ela lhe falara de um chalé nas montanhas. Era um lugar calmo, reconfortante, bem o que desejava. Só precisava encontrar a avenida principal e alguém que lhe indicasse o caminho certo.

Nunca estivera no Brasil antes, Eliot lhe falara para fretar um helicóptero que chegaria bem mais rápido e com menos possibilidades de se perder, mas não queria nada que lhe aborrecesse, queria apenas tranqüilidade e também, suas mãos não iriam cair apenas por dirigir duas horas da capital até Campos do Jordão e mais alguns minutos até o chalé.

As ruas estavam calmas, pelo horário as pessoas deveriam estar almoçando. Virou numa rua qualquer encontrando um flanelinha vestido de laranja, indicando um estacionamento logo a frente.

Reduziu a velocidade, até parar do lado do mesmo.

-Boa tarde; o rapaz de cabelos castanhos o cumprimentou, lançando um olhar curioso ao cavaleiro de melenas prateadas.

-Boa tarde; Minos respondeu, um pouco incerto quanto a pronuncia das palavras.

-Temos vaga aqui senhor, se estiver procurando um lugar para almoçar, posso lhe recomendar o Villa Di Phoenix, é logo ali; ele falou, indicando um restaurante em estilo holandês, como tudo ali, mas com ar bastante receptivo.

-Uhn! Acho que vou até lá; Minos falou desligando o carro e saindo. –Pode cuidar pra mim?

-Claro senhor; o rapaz apressou-se em dizer.

Pegando o necessário, vestiu uma jaqueta de couro que descia pouco abaixo da cintura e aguardando nos bolsos internos a carteira e o celular. Rumou até o local indicado, depois de receber um tíquete do flanelinha do estacionamento.

Entrou no restaurante, sendo rapidamente abordado pelo gerente.

-Boa tarde!

-Boa tarde; Minos respondeu.

-Mesa para um, senhor? Ou espera alguém? –o senhor perguntou, notando que o cavaleiro era turista ali.

-Para um; o espectro respondeu.

-Prefere na ala de fumantes ou de não fumantes? –o garçom indagou.

-Não fumantes; o cavaleiro respondeu. –De preferência no segundo andar; ele falou. Pelo menos de lá, teria uma vista boa da cidade.

-Por aqui, por favor; o senhor pediu, seguindo com ele para uma escada interna no restaurante. Saindo da movimentação do primeiro, onde alguns garçons quase batiam uns nos outros, para atender todos os pedidos. –O senhor, não é daqui, não?

-Não; Minos respondeu. –Cheguei há pouco;

-Espero que goste de sua estadia aqui em Campos do Jordão; ele falou cordialmente, enquanto indicava-lhe a mesa e lhe estendia um cardápio.

-Qual a especialidade da casa? –Minos perguntou.

-File de franco, com molho branco. Temos como guarnição batata frita, arroz e salada; o garçom explicou.

-Pode ser;

-Algo para beber?

-Um suco de laranja, natural; o cavaleiro falou vendo-o anotar tudo em um palm top que tinha em mãos. Oh modernidade; ele pensou balançando a cabeça levemente para os lados.

-Só um momento, já trago seu pedido; ele falou antes de se retirar.

Recostou-se na cadeira, sentindo vários olhares sobre si, passou a mão levemente pelos cabelos, mas parou ouvindo o barulho de algo relativamente pesado caindo no chão.

Olhou por sobre o ombro, vendo numa mesa não muito longe, uma garota levantar-se. Ela parecia um pouco atrapalhada com uma mochila que tentava pendurar na cadeira.

Abaixou os olhos, vendo algo rolar até seu pé. Inclinou-se pegando um tubinho preto. Olhou-o com atenção, enquanto a garota de melenas loiras, quase acinzentadas praguejava uma infinidade de impropérios por causa do pequeno deslize.

Levantou-se e com passos calmos aproximou-se dela. Ela mantinha-se ainda abaixada, recolhendo tudo que havia caído. Eram filmes, pilhas, capas de filmes e mais algumas coisas usadas em uma máquina fotográfica.

Viu uma sombra projetar-se atrás de si e quando sentiu um toque suave em seu ombro virou-se rapidamente, mas ao erguer a cabeça acabou por batê-la na base da mesa.

-Ai; Larissa resmungou, mais essa agora; ela pensou aborrecida.

-Você esta bem? –Minos perguntou, abaixando-se.

-Estou, porque não estaria? –ela rebateu mal humorada. Primeiro a cadeira cujo pé vacilava e derrubava tudo, agora o galo que certamente iria se formar em sua testa. Não poderia estar melhor; a jovem pensou com os orbes azuis faiscando perigosamente.

-Desculpe, não foi minha intenção assustá-la; Minos falou calmamente. –Vim apenas devolver isso. Caiu perto de mim; ele falou estendendo-lhe o potinho.

-Uhn! –Larissa murmurou virando-se para ele, vendo-o estender o potinho cujo rotulo dizia claramente 'Parque das Cerejeiras'. Se perdesse aquele filme teria sérios problemas. –Obrigada, céus, se eu o perdesse; ela murmurou pegando o potinho e guardando na bolsa com os demais. –Desculpe se fui um pouco... Bem, costumo ficar de mau humor quando essas coisas acontecem; a jovem falou com um sorriso sem graça.

-Não tem problema; Minos falou , estendendo-lhe a mão para que pudesse se levantar.

-Obrigada; Larissa respondeu, com um leve rubor a tingir a face alva, quando a mão dele fechou-se sobre a sua.

-Disponha; ele falou numa breve mesura. –Com licença; Minos completou antes de se afastar.

Assentiu silenciosamente, acompanhando-o com o olhar, de onde aquela encarnação de Deus Grego viera? –ela se indagou. Cabelos prateados, orbes em tom dourado. Definitivamente ele não era desse mundo. Jamais vira um homem com tamanha presença como ele; a jovem pensou desviando o olhar quando o mesmo sentou-se.

Estava chamando atenção daquele jeito, terminou de organizar tudo na mochila e sentou-se. Era melhor se concentrar em seu almoço e não pensar naquele Deus Grego, se bem que era muito difícil; ela concluiu, vendo que o resto da população feminina que jazia no restaurante deveria pensar da mesma forma, pois não tiravam os olhos do rapaz.

.II.

Andavam de mãos dadas pelas ruas que aos poucos ganhavam mais movimento, parecia um dia comum, mas diante de tudo que estavam vivendo ali, não poderiam desejar mais nada.

-Aonde vamos almoçar? –a jovem de melenas lilases perguntou.

-O que acha do Ville De Phoenix? –Aioros sugeriu.

-Ótimo; Saori respondeu sorrindo, enquanto se encaminhavam para o restaurante.

-Boa tarde, mesa para o casal? -um garçom perguntou os abordando.

-Sim; eles responderam juntos.

–Preferem no segundo andar, ou aqui?

-No segundo; Saori respondeu.

-Me acompanhem, por favor; ele pediu, indicando-lhes o caminho.

-o-o-o-o-o-

Estava a mais ou menos meia hora almoçando ali e estava começando a ficar realmente aborrecido com aqueles olhares. Levou o copo de suco de laranja aos lábios, deixando o liquido adocicado correr pela garganta.

Olhou para o relógio, o horário que iria entrar no chalé estava perto, era agora apenas o tempo que tinha de terminar o almoço e seguir viagem.

Chamou o garçom com um aceno, antes de levar o guardanapo de linho branco aos lábios.

-Pois não, senhor?

-A conta, por favor; Minos falou, retirando a carteira de dentro do bolso interno da jaqueta.

-Um minuto; o garçom falou afastando-se rapidamente, para buscá-la.

Recostou-se na cadeira, dando um baixo suspiro. Virou-se para a janela, vendo o movimento lá fora aumentar, provavelmente as pessoas que estavam almoçando já voltavam à caminhada.

Depois precisava ainda visitar algumas lojas de chocolate, ainda tinha bastante tempo antes de pensar em voltar a Atenas de novo, mas aquele amigo maluco da prima, que ela insistia em dizer que era extremamente parecido com Aiácos, havia lhe intimado a trazer-lhe no mínimo umas vinte barras de chocolate de Campos do Jordão.

Voltou-se em direção ao garçom que se aproximava e falava com outro, que acompanhava um casal. Forçou a visão, sentindo sua mente se recusar a processar aquela nova informação. O que aqueles dois estavam fazendo ali? Minos se perguntou.

Duas pessoas que jamais pensou que fosse topar algum dia, estavam coincidentemente em Campos do Jordão também.

-o-o-o-o-o-

-Que coincidência; o garçom falou sorrindo. –Hoje temos bastantes turistas por aqui, mas um rapaz chegou aqui também e ele não parece ser americano, diria que ele é inglês;

-Pessoas dos mais variados lugares vem conhecer Campos do Jordão, pelo visto; Saori comentou.

-Certamente senhorita, nós temos o clima europeu, mas o coração latino; o senhor falou.

-Minos; Aioros falou parando de andar.

-O que? –Saori perguntou voltando-se para ele, mas parou seguindo seu olhar, compreendendo o porquê do choque dele. –Minos?

-O que ele está fazendo aqui? –o cavaleiro se perguntou, com o cenho franzido.

-Ah, vocês conhecem aquele senhor. Era dele que eu estava falando; o garçom comentou animado com a coincidência.

-Pode se dizer que sim; Saori murmurou, dando um cutucão no namorado, pois estavam chamando a atenção parados ali, olhando para a mesa do espectro.

-Bom,vamos almoçar então; Aioros falou dando a entender ao garçom que não iriam se aproximar da outra mesa.

.III.

Suspirou pesadamente, vendo-os se distanciarem. Definitivamente, estava do outro lado do mundo com a intenção de se desprender do passado e de tudo que lhe ligava aquela parte que queira enterrar e a presença daqueles dois ali só iria atrapalhar; ele pensou sentindo o celular vibrar em seu bolso.

-Alô;

-Seu desnaturado; ouviu a voz da prima soar irritada do outro lado.

-Oi pra você também, Isa; Minos falou com um doce sorriso nos lábios, sem perceber um leve 'clique' não muito longe dali.

-Como foi de viagem? –a jovem perguntou com a voz mais amena.

-Bem, apesar de estar um pouco cansado. Você sabe, detesto viagens longas de avião; ele comentou.

-Eu sei, você prefere outros métodos de transporte; ela brincou. –Mas e ai, já chegou à pousada?

-Não, estou no centro almoçando;

-Não deixe de visitar o Horto hein; Isadora recomendou. –O parque das cerejeiras também, caminhar no fim de tarde lá é ótimo;

-Tudo bem, vou me lembrar disso. Estou com o guia que me deu na mala; ele avisou.

-Uhn! O Milo me pediu para lembrá-lo dos chocolates dele; Isadora falou rindo.

-Diga para aquele artrópode pervertido, que se vire sozinho. Não vou ficar contrabandeando chocolate para Atenas por causa dele; Minos falou com ar emburrado, ouvindo-a rir ainda mais do outro lado.

-E eu que pensei que vocês estivessem se dando bem; ela comentou.

-Não se esqueça querida, sempre estaremos em times opostos; Minos a lembrou. –Porém, temos um objetivo em comum;

-Que objetivo?

-Garantir a sua felicidade; o espectro respondeu com ar sério. –Mesmo que seja ao lado do Sushi; ele completou torcendo o nariz.

-Minos; ela falou rindo ao ouvir o apelido tão carinhoso que o primo dera ao cavaleiro de Peixes.

-É verdade; ele ressaltou veemente.

-Me diz, esta bem mesmo ai? –ela perguntou, ainda pouco convencida com a viagem repentina e o 'humor' dele quando deixou Atenas.

-Estou, mas vou estar melhor quando chegar ao chalé e descarregar o carro. Tem certeza que vou precisar de metade daquelas tranqueiras que você me fez trazer? –ele perguntou mudando de assunto.

-Claro; Isadora falou. –Baterias de celular, GPS, lap top com rastreador e mais algumas coisas para garantirem sua segurança, nunca são coisas em excesso.

-Isa, andar com o Sushi esta te deixando neurótica. Esqueceu quem eu sou? –ele perguntou arqueando a sobrancelha.

-Grrrrrrrr;

-Tudo bem, tudo bem... Acredite, estou em Campos do Jordão, não no meio da Amazônia, fique tranqüila; ele falou calmamente.

-Uhn! Menos mal; Isadora falou suspirando aliviada.

-Mas mudando de assunto, sabe quem acabei de ver aqui? –Minos perguntou, com ar enigmático.

-Não faço idéia; a jovem respondeu.

-Aioros e -...;

-SAORI; ela berrou do outro lado.

-Isa, estou do outro lado do continente, mas não precisa gritar para falar comigo; ele a provocou.

-Desculpe, mas o que eles estão fazendo ai? –a jovem perguntou surpresa.

-Almoçando Isa, é isso que se faz num restaurante, se bem que...;

-Para, eu já entendi; ela o cortou, sabendo exatamente que ele estava com um sorrisinho malicioso nos lábios. –Como eles estão?

-Parecem bem; ele falou dando de ombros.

-Você falou com eles? –Isadora perguntou curiosa.

-Não;

-Por quê?

-Porque não; Minos respondeu com simplicidade.

-Mas...;

-Vamos fazer assim, se eles vierem falar comigo, eu respondeu. Simples... Tudo bem?

-Se você prefere assim; ela falou meio amuada.

-Você sabe que eu ainda sou o falcão negro atrás das linhas inimigas; Minos brincou, ficando repentinamente sério. –Mas o pior ainda é não saber a que lado pertence;

-Vai ficar bem mesmo? –Isadora perguntou notando algo estranho no tom de voz dele.

-Vou, mas vou ter de desligar agora, tenho que seguir viagem; Minos desconversou.

-Me liga se precisar de algo, tenho alguns amigos ai que podem te dar uma mão; ela falou.

-Pode deixar;

-Beijo;

-Outro; ele falou desligando.

Guardou o celular no bolso, antes de assinar o bilhete do cartão que o garçom acabara de deixar sobre a mesa e saiu.

Como ela dissera mesmo, ah sim 'quando você estiver chegando, vá sempre em frente, toda vida'; ele lembrou-se, balançando a cabeça levemente para os lados, vai saber o que Isadora queria dizer com isso.

Continua...