Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei.

Era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei.

E ela estava ali, envolta nos seus braços. Ele, que quase nunca sorria, sorriu. O sorriso que só ela conhecia e tinha direito de tomar posse. Ele ainda achava que ela não o merecia, claro que não. Como alguém como ele, Sirius Black, um dia pensara estar tão envolto em alguém, que o mundo de fora lhe parece nulo e desprezível? Logo Sirius Black, que sempre optou por ele mesmo antes de tudo?

Ela fazia muitos planos, eu só queria estar ali.

Sempre ao lado dela, eu não tinha aonde ir.

Eles brigavam, claro, como todo par – ele preferia não usar a palavra casal. Ela tinha um jeito difícil, não aceitava as coisas facilmente, e ele menos ainda. Odiavam-se e amavam-se ao mesmo tempo, de um modo que nem seus melhores amigos podiam entender. Ninguém nunca os entendeu, nem eles mesmos. E quando estavam juntos, pareciam bobos. Bobos loucamente apaixonados.

Mas, egoísta que eu sou, me esqueci de ajudar a ela como ela me ajudou.

E não quis me separar.

Mas chegou o dia em que nada fez sentido, nem o próprio amor que os mantinha firmes e unidos. Ela queria ir, mas ao mesmo tempo não queria. Ás vezes não tinha certeza do que sentia, e outras vezes era tão forte que não havia meios de largar. Um dia ela se sentiu confusa. Ela podia ter o resto do mundo, mas por que não queria?

Ela também estava perdida, e por isso se agarrava a mim também.

E eu me agarrava a ela porque eu não tinha mais ninguém.

Ele nunca foi ou sentiu-se capaz de ajudá-la da maneira que ela merecia. Ele nunca foi perito nisso. Mas ela era. E enquanto aos seus olhos ela era o projeto perfeito de tudo que ele sempre cobiçara em ter, para ela ele se tornou um amor. O primeiro amor. E também, assim como ele, não sabia lidar com isso.

E eu dizia: - Ainda é cedo

cedo, cedo, cedo, cedo.


Sei que ela terminou o que eu não comecei.

E o que ela descobriu, eu aprendi também, eu sei.

"Vamos esperar". Ela pediu, numa tarde qualquer. Ele não entendeu, mas sabia que era o certo a se fazer. E foram assim, por muito tempo, amigos. Houveram outras na vida dele, e outros na vida dela, mas nenhum tão grande quanto foram um dia um para o outro. E nesse instante, eles compreenderam o que achavam ser tão oculto que, em momento algum, podia se manifestar.

Ela falou: - Você tem medo.

Aí eu disse: - Quem tem medo é você.

E nunca souberam de quem era a culpa da separação. Não foram os mesmos de antes. Os olhares inocentes e ao mesmo tempo maduros se tornaram distantes e comuns. Se viam como deviam se ver amigos. Os amigos que agora se tornaram. Afinal, o ser humano sempre ignorou aquilo que não conseguiu compreender.

Falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém.

Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu sinto por você.

Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.

Jamais voltaram a se falar. Eram indiferentes um ao outro. Não mais amigos, só colegas. Ela, brilhante, magnífica, inteligente, sensata. Ele, impulsivo, vagabundo, não tinha mais emoções além da insensatez. Marlene McKinnon se tornou o que ela sempre aspirou a ser. E Sirius Black também. Ela nunca o esqueceu, foi seu primeiro amor. Porém, mais tarde, se tornou só outro alguém que ela conheceu no mundo.

Mas para ele, ela continuava sendo o mundo que ele, um dia, conheceu.

E eu dizia: - Ainda é cedo

cedo, cedo, cedo, cedo.


Minha segunda songfic, viciei em Legião e achei essa música a cara da Lene e do Sirius. Não me matem pelo final trágico, mas a Lene morre, e pela personalidade que eu imagino pra ela, ela não vai pro túmulo com situações não-resolvidas. Thank's.