Título: Remissão
Sinopse: Porque as Artes das Trevas eram perdoáveis, mas a omissão, não.
Aviso: Drabble SiRem, e com uma inédita intromissão de Dumbledore.
Sacolejou na cadeira em frente à mesa de Dumbledore, naquela noite que superara todas as expectativas de Remus de que algo desse errado – não que isso fosse novidade nos tempos atuais. Os olhos do diretor eram pungentes e até mesmo ele sentia-se ligeiramente incomodado se era prolongado por muito tempo.
– Então, Sirius não era o traidor. Fascinante – foi apenas um murmúrio, como se o depoimento de Remus encerrasse para sempre a questão.
Bom, Remus não podia concordar mais, ainda embasbacado pela idealização de que Sirius voltara. Bom, em partes, mas era inocente. Seu coração, que pesava muito mais do que chumbo desde que tivera a notícia, pareceu se esvaziar de repente. E, então, tornou-se extremamente pequeno diante da abstração que se tornara sua realidade, seu mundo. Tinha olheiras profundas, e sabia que não eram despercebidas pelo diretor. Talvez, só talvez, Remus as visse nele também. O lobisomem rangeu os dentes, os olhos perdidos em algum lugar do passado. O tempo perdido preenchia o peito de amargura, subia pela garganta, sufocava.
– Não deve se culpar. Não havia prova alguma a favor de Sirius.
– Eu deveria saber – Remus balançou a cabeça – Devia saber, devia pelo menos ter desconfiado. Quer dizer, era Sirius...
– Se te consola, eu entendo perfeitamente o que se passa na sua cabeça agora – Dumbledore sorriu educadamente – A ideia de perder alguém para as Artes das Trevas é inenarrável.
Remus não achava que o diretor realmente entendesse. Aliás, não achava que ninguém seria capaz.
– Ah, sim. No meu caso, foi tudo perdido – porque o outro expressou dúvida – Tive de deixar para trás e, digo mais, combater alguém que eu tinha em alta estima – ele sorriu, embora fosse penoso.
Um silêncio desconfortável se seguiu, em que Remus não conseguia achar que aquilo se assemelhava a sua dor, embora soubesse que estava sendo apenas egoísta.
– No seu caso, seu objeto de afeição continua intacto, Remus – ele ponderou por um minuto – Bom, talvez não intacto depois de Azkaban, tenho que concordar, mas puro. É o mesmo, embora talvez você demore a absorver isso inteiramente; tem total permissão para amá-lo.
Remus riu diante da palavra puro adjetivando Sirius Black, antes de acrescentar, sem poder se conter:
– Como se amor precisasse de permissão – Remus murmurejou, com uma pitada de ironia na voz. Porém, sorriu.
Olhou pela janela, o pensamento fixo do que diria. Se Sirius o perdoaria pela dúvida. Dumbledore o olhava como se não tivesse dúvida. Se ele era capaz de absolver Grindelwald, certamente Sirius encontraria uma maneira.
NA: Primeira vez que sequer cito Grindelwald em uma história. O sentimento de Dumbledore por ele, considerando que é legítimo na história original, me deixa meio estagnada quando tento por em palavras. Eu não sei, mas não é meio difícil imaginar o velho Dumbledore nesse tipo de relacionamento? De qualquer forma, por que não? Espero que gostem.
