Capítulo um: O encontro
Capítulo
um: O encontroOs primeiros raios de sol começavam a
surgir no céu. A maioria dos alunos provavelmente nunca soube
que aquela visão era tão magnífica. Todos, menos
um: Ted Tonks. Um rapaz alto, cabelos castanhos e rebeldes, olhos
igualmente claros e belos. Era uma pessoa reservada, gostava de ter
seu próprio espaço. "Tímido até certo
ponto, sonhador até certo ponto, criativo até certo
ponto" ele pensava enquanto escrevia algo em uma caderneta. Aliás,
esse objeto estava sempre com ele. E era ali que ele gostava de criar
suas poesias e expressar seus sentimentos. Naquele momento, Ted não
estava escrevendo nada que fizesse algum sentido. Apenas palavras,
soltas pela ponta de sua pena.
O
rapaz olhou para cima, surpreendendo-se com a velocidade com que o
tempo passara. Era costume para ele acordar ainda na madrugada e
descer aos jardins do castelo, procurando por inspiração
para uma nova estrofe. E se fosse pego? "Antes uma detenção
aplicada a mim do que aos meus pensamentos" ele respondia
categoricamente quando lhe perguntavam. Mas aquela noite estava
diferente. Mais fria, mais escura, mais calma, ele não sabia o
quê. Estava sentindo-se um pouco inconfortável para
escrever. Vez ou outra a tinta chegava a riscar o
papel, mas nada concreto era formado. Falta de inspiração.
Era isso? Caso essa fosse a questão, um dia de descanso
bastaria. Então ele se levantou vagarosamente e foi até
a porta do castelo, parando por um momento para observar o
nascer do sol.O
silêncio sepulcral reinava no dormitório feminino da
Sonserina. As garotas ainda estavam dormindo, mas não por
muito tempo. Uma moça acabara de se levantar e caminhou até
a janela, ainda em tempo de ver algumas montanhas distantes revelarem
uma enorme luz incandescente. O
dia estava amanhecendo.- Algo me diz... – Ted murmurou para
si mesmo quando
o
sol já havia nascido completamente.- Que hoje será
um dia diferente. – Andrômeda falou, como se pudesse escutar
as palavras de Ted no jardim. Mas não podia. Aliás, os
dois nunca sequer tinham se visto alguma vez. Eram desconhecidos.
Desconhecidos que se amavam, mesmo sem saber.
Andrômeda
se vestiu rapidamente. Colocou a roupa que usava para dançar e
sentou em uma cadeira que ficava logo a frente de um grande espelho.
A imagem do jovem rosto de uma garota foi refletida. Olhos grandes e
bem delineados. Negros, como
o
cabelo cacheado que encostava em seus ombros. O
desenho da perfeição, o
desenho do pecado. Após colorir seus lábios carnudos
com um batom vermelho, a moça foi ao armário e logo
encontrou suas sapatilhas. Amarrou-as com uma fita verde e então
decidiu não esperar suas amigas acordarem. Algo parecia estar
vibrando dentro dela, chamando-a para sair do dormitório. E
ela o
fez. Quando chegou ao quadro do Salão Comunal, tomou o
devido cuidado de não fazer muito barulho. Ela subiu as
grandes escadarias que davam para o
segundo andar, que costumava ficar vazio durante os fins-de-semana, e
ao atingir o
patamar, passou a caminhar lentamente. Vez ou outro lançava
olhadelas em direção a uma sala, procurando o
local perfeito para ensaiar. E achou, de fato, uma grande sala
circular e completamente vazia. "Perfeito" ela pensou entrando no
local.Andares abaixo, Ted Tonks caminhava
tranquilamente pelos corredores principais do castelo. Em pouco tempo
conseguiu alcançar a escada de madeira que
o
levaria ao salão comunal da Grifinória. Quando já
conseguia ver o
magnífico quadro da Madame Gorda ele escutou um barulho
distinto. Algo havia caído no chão e quebrado com um
estampido ensurdecedor. E não foi longe de onde ele estava
parado.- Por mil dragões! – Exclamou Argo Filch,
o
zelador de Hogwarts. Mas Ted não ficou no local tempo
suficiente para poder ouvir mais murmúrios. Rapidamente o
rapaz encostou-se à fria parede de pedra que, como ele
conhecia há certo tempo, era uma passagem secreta que levava
ao segundo andar.Andrômeda agora dançava
graciosamente. Seus passos eram executados com perfeição
e leveza. Um rodopio, seguido de um salto curto e os braços da
moça seguiam
o
ritmo daquela canção inaudível. Os olhos
cerrados, os pensamentos difusos. Era assim que ela se sentia quando
dançava: Em elevação. Mal notou quando um rapaz
cruzou o
corredor e a encontrou dançando ali. Era simplesmente a garota
mais bela que ele já encontrara durante toda a sua vida. A
inspiração, que há pouco não chegara à
cabeça de Ted, acendeu-se dentro dele como uma fogueira.
Versos, palavras e letras mudas bombardearam sua mente, fazendo seu
coração acelerar. Ele não podia ficar parado na
porta abobalhado daquela maneira. E se ela o
visse? Não ligava. Observá-la não era uma opção,
era um desejo que não podia ser renegado.Algo na
memória humana é engraçado. Minutos parecem
segundos, horas parecem séculos. Ou, segundos parecem uma
eternidade. E assim aconteceu. Ted não a observara nem por
cinco segundos e pensamentos inundaram sua mente até então
desnorteada. Ali estava ele, jurando amor eterno àquela garota
debaixo de um carvalho em uma tarde de outono. E agora os dois
passeavam de mãos dadas, ambos embaixo de um frágil
guarda-chuva, abraçados para se protegerem do frio. E, em meio
a essa confusão de sentimentos, os sentidos do rapaz foram
retomados e ele continuou a caminhar. Apenas caminhou, sem pensar
onde chegaria e assustou-se quando se encontrou em pé ao lado
de sua cama no dormitório masculino da Grifinória.