Crônicas de Nárnia © C.S. Lewis.


Há muitos e muitos anos, a primeira coisa que Eustáquio visualizava ao abrir os olhos e deixar que estes se adaptassem à luz abafada do ambiente era o teto da cabine em que dormia a bordo do Peregrino da Alvorada. Detestava seus primos, assim como aquele presunçoso Caspian, aquela ridícula terra fictícia chamada Nárnia e aquele navio.

Por Aslam – e aí se repreendia por estar começando a falar como eles –, tudo o que ele queria era pôr os pés em terra firme e ir atrás de um Consulado Britânico! Não era pedir demais, era? No entanto, com o passar das semanas, ele aprendera a amar. Amar aquela terra, aquele mar, aquele povo. A si mesmo, também.

E aí ele foi embora.

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Há muitos e muitos anos, a primeira coisa que Eustáquio visualizava ao abrir os olhos e deixar que estes se adaptassem à imensidão cinza sem vida era o teto de seu quarto no internato. Não havia nada que considerasse particularmente especial ou agradável sobre aquele lugar. Ao menos, não até uma certa tarde outonal igualmente cinzenta. Não podia dizer que detestava aquela garota loira que fingia não chorar sozinha, mas a presença dela também não o animava, a princípio.

No entanto, com o passar das semanas, ele aprendeu a apreciá-la por tudo que ela era. Talvez fosse o efeito majestoso que aquela terra mágica exercia sobre ele, ou talvez ele só funcionasse sobre ela daquela vez. De qualquer jeito, foi só uma questão de tempo para que Pole se tornasse Jill – e que a menina solitária se tornasse uma menina com um amigo.

E aí eles foram embora.

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Há nem tantos anos – perdeu a conta e já não tem certeza; talvez sejam muitos, talvez sejam poucos –, a primeira coisa que Eustáquio visualiza ao abrir os olhos e deixar que estes se adaptem ao glorioso brilho matinal do Sol da verdadeira Nárnia é o sorriso de Jill. Ele não se incomoda de ter dormido ao relento, os cabelos cobertos de orvalho e suas roupas com fiapos de grama. Tal coisa não é mais suficiente para deixá-lo irritado, pois preocupações banais como resfriados e coisas do tipo foram abandonadas na Nárnia de mentira, por assim dizer. Mais ainda, não se importa em dormir ao ar livre. Sabe que a garota que o acompanha aprecia a natureza, além de ser um tanto reminiscente dos tempos vividos na terra que não é um décimo da verdadeira.

Com um movimento suave, ele se levanta, percebendo que a loira dormira segurando sua mão. Lá no fundo, ele agradece pela oportunidade que Aslam lhe deu, desde a Nárnia falsa, de aprender a amar, a perdoar – e acima de tudo, de perceber que as três coisas estão intimamente ligadas. Eustáquio retribui o sorriso, ainda pensando em como a felicidade terna e luminosa daquela que, antes de qualquer outra coisa é sua melhor amiga, é vívido e magnífico como a própria terra em que se encontram, fadados a viver não mais do que uma eternidade pacífica.

O jovem abaixa a cabeça apenas o suficiente para que seja capaz de depositar um beijo sutil na testa da garota, que já caiu no sono de novo, e ele não poderia estar mais feliz. Nárnia era tudo aquilo, e Jill também.

A terra e a garota que ele amava, amando-o de volta e ao seu alcance para todo o sempre.


[N/A] Pra início de conversa, Nárnia (e consequentemente, Eustáquio/Jill) é a razão pela qual eu fiz uma conta nesse site e voltei a ler fanfics depois de quatro anos. Assim sendo, tenho muito a agradecer a esse fandom.

Reviews, gente linda?