Título: Temptation

Shipper: Hermione e Lucius

Tipo: Short-Fic

Classificação: M


Disclaimer: As personagens pertencem exclusivamente à escritora J.K Rowling. Se pertencessem a mim, Lucius Malfoy usaria sua varinha em outra pessoa.


Temptation

Parte I

Hermione suspirou e tombou o livro no sofá, enquanto revirava os olhos ao escutar a campainha tocar pela terceira vez em um intervalo de vinte minutos. Ela não precisava abrir a porta para saber quem era, mas ela sabia que se ignorasse do mesmo modo que fez anteriormente, a campainha não ia lhe dar sossego.

Levantou-se do sofá, fechando novamente o penhoar de seda branco em seu corpo enquanto caminhava em direção à porta em passos largos. Ela não se surpreendeu ao ver o elfo-doméstico conhecido novamente a sua frente. Ele carregava um buquê de orquídeas vermelhas, dessa vez maior que o anterior. A pequena criatura sorriu para ela antes de entregar as flores e o cartão, depois, com um estalo, desapareceu de sua porta. Hermione bufou de raiva e fechou a porta com um pouco de força. Ela jogou o buquê de flores junto com o cartão ao lado dos outros dois, sabendo que não precisaria colocá-los em algum jarro com água. As flores enfeitiçadas nunca iriam morrer.

Ela voltou a se sentar no sofá, pegando a xícara de café que estava sobre a mesa de centro. Tomou um gole da bebida quente e pousou o pires no sofá, olhando para o relógio que ficava em cima da lareira. Faltavam exatamente trinta minutos para o relógio marcar nove horas da manhã. Espreguiçou-se, tomando o cuidado de colocar a xícara novamente na mesa para não derrubá-la. Olhou para o livro trouxa que estava lendo e ponderou se poderia se dedicar mais dez preciosos minutos do seu tempo para ler o próximo capítulo.

Seus planos morreram instantaneamente quando a campainha tocou novamente. Ela repreendeu um grito que queria sair de sua boca e se levantou com falta de paciência. Ao abrir a porta, o elfo-doméstico estava a olhando como se estivesse pedindo desculpas pela interrupção. Não carregava nenhum buquê de flores, mas apenas uma rosa. Ele a entregou para ela junto com um cartão, e sumiu novamente. Ela olhou para a rosa, um pouco surpresa ao constatar que ela não tinha uma cor específica, mas as pétalas interiores eram amarelas, enquanto as pétalas mais maduras eram de um tom dourado. Hermione nunca havia visto algo parecido, e, mesmo que repreendesse sua própria atitude, colocou a flor peculiar dentro de um vaso comprido.

Ela correu as mãos pelo cabelo já arrumado e olhou novamente para o relógio, descobrindo que tinha apenas vinte minutos para se arrumar e ir para o trabalho. Foi até o quarto, colocando o vestido preto e comportado que havia separado na noite anterior. Complementou o visual com um scarpin preto de salto alto. Depois de uma maquiagem leve e alguns acessórios como brincos e anéis discretos, se contemplou no espelho e ficou satisfeita com o resultado. Pegou sua bolsa e sua varinha, rumando para a lareira da sala e enchendo sua mão com Pó de Flu.

Antes de jogar o pó nos seus próprios pés, ela olhou para a sala, se certificando de que havia fechado todas as janelas. Seus olhos castanhos pousaram em sua mesa, fitando momentaneamente os três buquês de flores que estavam jogados ali.

Respirou fundo para continuar calma. Lucius Malfoy estava ultrapassando seus limites.

- Ministério da Magia.

Disse o local desejado ao mesmo tempo em que jogava o Pó de Flu em seus pés, sendo engolida pelas chamas imediatamente. Sentiu seu corpo sendo puxado, mas já estava acostumada com a sensação. Mesmo que ainda fosse para a casa dos pais dirigindo um carro trouxa, a lareira era a opção mais prática para quem quisesse chegar a tempo no trabalho.

Ela abriu os olhos e reconheceu o átrio do Ministério da Magia. Bruxos e bruxas andavam apressados pelo piso de mármore negro, enquanto alguns conversavam animados sobre diversas notícias rotineiras. Definitivamente o mundo bruxo estava mais tranquilo depois que Voldemort tombou.

Ela ajeitou o vestido e passou a mão pelo cabelo, certificando-se de que ele continuava arrumado. Caminhou em direção aos elevadores e aproveitou que um estava com as grades douradas abertas, esperando passageiros. Entrou no elevador, sendo acompanhada por vários bruxos, cada um com uma expressão diferente no rosto; sono, estresse, tranquilidade. Ela se afastou de um bruxo que carregava uma gaiola contendo um diabrete um pouco estressado.

"Nível Três. Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas."

A voz mágica anunciou e ela empurrou um pouco as pessoas para sair do elevador quando as grades se abriram novamente. Seus saltos faziam barulho quando entravam em contato com o chão. Ela caminhava em direção à sua sala quando avistou William, seu assessor, andando apressado para falar com ela.

- Ainda bem que chegou. Charlie está a esperando na sala dele.

Hermione não entendeu o motivo de seu chefe estar chamando-a em sua sala, mas não pensou duas vezes em caminhar até lá. William a seguia, um pouco curioso. Ela sabia que o rapaz era novo e nunca havia trabalhado na subdivisão do Departamento de Reversão de Feitiços Acidentais ainda. Ela via um pouco dela no menino que era apenas dois anos mais novo. Quando ela começou a trabalhar como Obliviadora no Ministério, cada caso era único. Saber o que um trouxa viu no mundo bruxo era curioso e engraçado.

Hermione entrou na sala de Charlie e se surpreendeu ao ver a pessoa que estava sentada na cadeira em frente à de seu chefe. Amos Diggory a olhou um pouco confuso, mas não disse nada. Rodava o chapéu nas mãos e parecia pensar em algo. Ela conteve um sorriso que queria aparecer no seu rosto. Charlie a cumprimentou com educação e apontou para Diggory, indignado.

- Quatro anos depois da Guerra e ainda temos isso?

Hermione sorriu para Charlie, sabendo que com esse gesto deixaria o chefe um pouco mais calmo. William estava ao lado da garota e parecia ávido para mais informações. Ela sacou a varinha de dentro da bolsa e olhou para seu chefe.

- Muito forte?

Charlie começou a ficar vermelho e ela percebeu que se não revirasse o feitiço, seu chefe iria colocar o Departamento inteiro atrás do responsável.

- Hoje era seu dia de folga! Ele não se lembra o que veio fazer no Ministério da Magia!

Ela assentiu com um gesto, apontando a varinha para Diggory e murmurando o feitiço certo. A expressão do Sr. Diggory começou a desanuviar e sua testa ficou lisa quando ela guardou novamente a varinha na bolsa.

- Sr. Diggory?

Charlie chamou e o bruxo parou de rodar o chapéu nas mãos, fitando com atenção o chefe de Hermione. Ele parecia confuso, mas depois de sofrer o Feitiço da Memória duas vezes, isso era algo comum.

- O que veio fazer aqui hoje?

- Pegar alguns livros para minha esposa.

Ele respondeu convicto e Charlie sorriu, gesticulando para dizer a Diggory que ele podia ir. O bruxo colocou o chapéu novamente na cabeça e se virou.

- Bom dia, Hermione! Bom dia, William!

Hermione sorriu para o homem antes que ele caminhasse para fora da sala. Depois que a porta foi fechada, ela virou-se novamente para seu chefe e respirou fundo quando viu o pescoço de Charlie começar a ficar vermelho.

- Acalme-se, Charlie, pode ter sido uma brincadeira.

- Brincadeira? O Ministério já deixou bem claro que é proibido usar o Feitiço da Memória em bruxos sem a devida autorização!

- Tenho certeza de que iremos achar o responsável. Eu me encarrego disso.

Charlie sentou-se novamente na cadeira e ela olhou para William, fazendo um gesto com a cabeça para ele a seguir. Deixaram a sala de Charlie e ela retirou a bolsa do ombro, jogando-a para William, que a pegou no susto.

- Coloque isso na minha sala. Volto em instantes.

- Aonde vai?

- Vou ter uma conversa que já está sendo adiada há muito tempo!

Com isso, caminhou em passos decididos para o elevador e apertou o botão que queria. Ela pôde ver William entrar em sua sala antes que as grades douradas se fechassem e o elevador começasse a se mexer. Estava sozinha, o único barulho no interior do elevador era o do pé de Hermione batendo impaciente enquanto o elevador chegava ao seu destino.

"Nível Um"

Escutou a voz mágica anunciar e as grades se abriram, revelando o andar mais importante do Ministério da Magia. O chão era de um mármore negro reluzente. Havia escrivaninhas de mogno escuro em frente a cada porta grande. As secretárias escreviam em pergaminhos com rapidez. Hermione pôde contar três portas negras em cada lado, mas ela não pôde deixar de admirar a porta dourada que estava no centro. Ela sabia que era ali que ficava o próprio Ministro da Magia. Ela viu uma porta ao fundo do corredor e soube que ali era Comissão de Registro dos Nascidos Trouxas. Mas não era isso que a interessava.

Ela andou decidida em direção a uma escrivaninha, passando diretamente pela sala de espera e pelas lareiras privadas. Uma ruiva estonteante a olhou quando a garota se aproximou. Ela parou de escrever calmamente, pousando a pena na mesa, e sorriu.

- O que deseja?

Hermione tomou fôlego, tentando manter a raiva encubada. Ela retribuiu o gesto para a secretária e sorriu.

- Gostaria de falar com Lucius Malfoy.

A secretária assentiu e se levantou, caminhando em direção à porta do meio que ficava à esquerda. Cinco segundos depois, ela saiu do escritório sorrindo, a pose elegante. De repente Hermione se sentiu feia ao lado da mulher.

- O senhor Malfoy a espera.

Ela deixou a porta aberta e Hermione travou o maxilar, caminhando em direção ao escritório. Ela escutou o barulho suave da porta se fechando atrás dela e andou mais um pouco para adentrar o cômodo totalmente. A raiva que antes estava encubada aflorou rapidamente quando ela fitou Lucius escrevendo na escrivaninha. Ele estava com uma calça social preta, que combinava perfeitamente com sua blusa preta. Os cabelos longos e claros contrastavam com toda sua roupa. Ela pôde observar a bela mão do homem escrevendo em um pergaminho grosso. Ele usava um anel que continha uma esmeralda. A varinha estava ao lado de sua mão, pousada na mesa. Perfeito e aristocrático.

Pena que a imagem de Malfoy não combinava nem um pouco com o seu caráter.

- Srta. Granger.

A voz arrastada do homem chegou aos ouvidos dela antes mesmo de ele levantar a cabeça. Depois de alguns segundos, Malfoy parou de escrever, enrolando o pergaminho e lacrando com um feitiço simples. Ele a fitou pela primeira vez e ela quase desistiu da ideia tola de estar lá quando o olhou dentro dos seus olhos cinzentos.

- Malfoy.

Ela respondeu com a voz firme. Ele inclinou-se para a poltrona de veludo preto, demonstrando que estava totalmente à vontade com a presença da garota. Malfoy juntou as mãos pálidas e fortes e arqueou as sobrancelhas para ela.

- Em que posso ajudá-la?

Para qualquer um que entrasse no escritório, isso seria uma pergunta inocente. Mas ela não pôde acreditar no cinismo do bruxo quando ele lhe perguntou tal coisa. Ela deu um passo em direção à escrivaninha de Malfoy e fechou as mãos em punhos.

- Por onde quer que eu comece? Pelo seu elfo-doméstico tocando minha campainha de vinte em vinte minutos ou pelo Feitiço da Memória usado em Diggory?

A expressão dele não se alterou, mas o bruxo perguntou-se mentalmente como ela sabia que ele estava ligado ao caso Diggory. Suas suspeitas foram confirmadas logo quando a bruxa abriu a boca.

- Eu já sei, Malfoy.

Ele mexeu a boca milimetricamente. Um gesto que passou despercebido aos olhos de Hermione. Recompôs a feição em um segundo e sorriu para ela.

- Sabe do que, Srta. Granger?

Ela bufou sem paciência, demonstrando pela primeira vez que não estava tão indiferente com o resultado de tudo aquilo.

- Da aposta ridícula que você, McGraien e Baker fizeram.

Malfoy se limitou a sorrir, não respondendo o que ela havia lhe falado. Ela se aproximou mais dois passos em direção à escrivaninha dele e se inclinou para ele. Os olhos cinzentos do ex Comensal fitaram discretamente o decote dela, antes de ele olhá-la diretamente nos olhos.

- Se continuar com isso...

Ela estava o ameaçando? Uma garota da idade do seu filho estava tentando colocá-lo com receio? Granger tinha apenas vinte e cinco anos, não sabia do que estava falando.

- O quê?

Ele perguntou, o tom de ironia e incredulidade soando claramente junto à pergunta. Ele observou o rosto dela ficar mais vermelho, e podia jurar que era de raiva.

- Vai se arrepender, Malfoy.

Antes que ele lhe respondesse, ela saiu do seu escritório batendo os saltos altos com força pelo chão de mármore. Ele revirou os olhos e abriu a gaveta prateada da escrivaninha de madeira escura. Escreveu uma longa carta para McGraien e Baker, xingando-os educadamente pelo trabalho mal feito em Diggory.

Se a bruxa já sabia da aposta, isso ia ficar um pouco mais complicado. Ele sorriu ao concluir isso. Adorava jogos, e depois da queda do Lorde das Trevas, o mundo bruxo havia ficado tedioso. Que mal havia em apostar quem a conquistaria primeiro? Lucius sabia que Granger era uma sangue-ruim, mas isso infelizmente estava ficando tão comum no mundo bruxo, que agora não importava tanto. Ele usaria todos os artifícios para conseguir algo dela. Era famosa por ser exigente com o trabalho e um pouco fechada desde que aquela vergonha para os bruxos que ela chamava de amigo, Ronald Weasley, havia se casado.

Seria divertido. Poderia obter algo com isso? Ele se perguntou, inclinando-se novamente na poltrona de veludo. Certamente que sim. Ele não tinha uma mulher na cama desde que Narcissa havia morrido na guerra, dando sua vida em troca da vida de Draco. Malfoy já havia superado a perda, mas Draco não poderia saber da aposta, ou iria querer participar.

Já era sexta feira e o jantar do Ministério seria no dia seguinte. Ele havia sugerido ao Ministro que fosse em sua mansão, com um número menor de convidados. Uma festa mais privada e seletiva. Ele não havia discordado, e Lucius já escrevia um convite para Charlie, sabendo que o chefe da garota praticamente a obrigaria a ir. Um sorriso maldoso nasceu nos lábios de Malfoy.

Isso seria muito divertido.


Hermione estava sentada na sua escrivaninha preenchendo os últimos papéis do dia - para arquivar tudo o que havia feito no trabalho -, quando escutou a porta de madeira do seu escritório se abrir levemente. Ela levantou a cabeça e fitou William, que entrava calmamente pela sala. Ele exibia um sorriso contido e ela franziu o cenho ao perceber o gesto incomum no rosto do menino. William parou em frente à escrivaninha e se abaixou como se fosse contar um segredo.

- Sabe quem está lá fora conversando com Charlie?

Ela apenas gesticulou negativamente com a cabeça e ele sorriu, satisfeito por contar algo inédito para uma bruxa que sabia de tudo. Ele se sentou em uma cadeira de frente para ela, apoiando o cotovelo direito em cima da escrivaninha.

- O assistente de Malfoy.

A curiosidade dela se elevou. O que Peter Walker estava fazendo no andar de Hermione? Pior! O que Walker estava conversando com Charlie? Ela não conseguia achar uma resposta satisfatória, mas escondeu as feições curiosas e deu de ombros, ignorando o comentário de William e voltando a escrever no pergaminho.

- Haverá um jantar na casa do Malfoy amanhã. Charlie está sendo convidado.

William acrescentou e ela se viu obrigada a olhar para ele. Ele carregava um sorriso de triunfo por ter conseguido a atenção dela, despertando momentaneamente a curiosidade dela. Hermione tombou a pena do Bicuço, que Harry lhe dera no aniversário do ano passado. Olhou para William, o cenho franzido como se estivesse pensando.

- E...?

Ele se espreguiçou na cadeira e olhou para um ponto fixo do teto, cruzou os braços atrás da cabeça e respirou fundo.

- Charlie está sendo convidado para o jantar. Acha que mais alguém do Departamento vai receber um convite? Eu daria tudo para ir...

Ela ignorou o sangue de suas veias que começou a ferver. Então Lucius Malfoy iria dar um jantar em sua gloriosa mansão? Ela tinha plena certeza de qual era o objetivo de Malfoy chamar Charlie, e era apenas questão de horas para seu próprio convite chegar à sua casa. Ou não? Malfoy poderia ter levado a sério sua ameaça...

Bufou e se levantou da poltrona marrom, juntando os pergaminhos que já haviam sido preenchidos e entregando a William, que recebeu e não fez mais perguntas. O processo era o mesmo desde que havia começado a trabalhar no Departamento de Hermione. Bastava entregar para a secretária de Charlie. E o dia da garota havia acabado. Ela só queria tomar um longo banho e aliviar a tensão que estava começando a dar sinais em seu corpo. As costas estavam doendo e os lábios estavam secos.

- Vou indo, William. Quero descansar.

O garoto assentiu e se levantou também, caminhando na frente dela e saindo primeiro. Ela lacrou a porta e jogou a chave dentro da bolsa que havia pegado no cabide.

- Bom fim de semana, Hermione!

William lhe desejou e ela retribuiu o cumprimento, caminhando em direção ao elevador. Antes mesmo de chegar perto do seu objetivo, Charlie lhe chamou, ela virou-se para fitar o seu chefe. Ele caminhava em passos grandes e decididos em direção a ela. Estava com um pergaminho nas mãos e quando ele se aproximou e ela reconheceu o selo, trancou o maxilar.

- Que bom que te alcancei. Walker estava conversando comigo e...

O que Charlie falou em seguida ela não escutou realmente. Sua atenção estava focada no pergaminho aberto que a mão de seu chefe segurava como se fosse um tesouro, um prêmio. As letras douradas denunciavam que o convite estava endereçado apenas a Charlie, o selo de Malfoy gritava para a garota que ele estava a cercando por todos os lados.

- Posso contar com você?

Hermione saiu dos seus pensamentos e olhou para Charlie, seu pescoço estava vermelho, um indício de que se chefe estava nervoso. Ela abriu a boca para responder algo, mas lembrou-se de que não havia escutado nada.

- Contar comigo?

Charlie revirou os olhos e balançou o pergaminho que ela observara segundos atrás. Ela afastou a cabeça milimetricamente para o pedaço de folha não tocar seu rosto. O pescoço de Charlie ficou um pouco mais vermelho.

- Sim, Granger. Walker me disse que Malfoy irá mandar um convite a um assistente meu. Eu indiquei você. Sabe que é a única competente para ir a um jantar como esse...

Charlie a olhou, como se implorasse com esse gesto para que a bruxa aceitasse a oferta. Hermione respirou fundo, tentando se controlar, e assentiu com a cabeça no mesmo momento que trancava o maxilar. Ela sabia que estava caindo em uma armadilha, mas isso envolvia seu chefe, e consequentemente seu trabalho. Lucius Malfoy pagaria por isso.

A expressão de Charlie desanuviou no mesmo momento e ele passou a mão pelos cabelos. Olhou a garota de cima em baixo e franziu o nariz.

- Tente melhorar a aparência, Granger.

Com isso, saiu da frente dela e voltou para o corredor, caminhando em direção à sua sala. Ela bufou de ódio no mesmo momento que a grade dourada se abria e a voz feminina anunciava.

"Nível Três. Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas."

Em passos firmes, entrou no elevador e fechou os olhos, pedindo a Merlin paciência para aguentar uma noite inteira na mansão Malfoy, com três urubus poderosos a seguindo, tentando ganhar uma aposta ridícula.


As chamas da lareira sumiram e ela abriu os olhos. Saiu da parte de pedra e quando seus saltos tocaram o chão, Hermione tirou os sapatos, colocando-os para o lado enquanto afundava os pés no carpete macio. Paz.

Seu estômago roncou e ela se deu conta da fome que estava. Ela acenou com a varinha para que a cafeteira começasse a preparar o café. Os pedaços de pão voaram para a frigideira. O fogo se acendeu sozinho enquanto ela caminhava para o quarto e entrava na suíte, retirando a roupa apertada do dia. Ela abriu o chuveiro e a água quente correu pelo seu corpo, relaxando-o imediatamente. Hermione tomou um banho longo e demorado.

Depois de cerca de dez minutos, saiu do chuveiro e enrolou-se em um roupão felpudo. Ela voltou para a cozinha e sorriu ao ver seu lanche pronto em cima da mesa. O fogo já estava apagado e a cafeteira cheia. Pegou sua caneca preferida e a encheu de café, seu vício trouxa.

Sentou-se na poltrona e já ia colocar os pés para cima e descansar quando escutou um barulho de algo batendo na janela. Ela se aproximou do vidro e o abriu. Uma coruja negra trazia no bico uma carta. Ela voou pela cozinha, depositando a carta sobre a mesinha. Bicou um pouco da torrada de Hermione e tornou a sair pela janela. Ela fez uma careta para a ave folgada e fechou o vidro.

Ela já sabia de quem era a carta, e só se confirmou isso quando a abriu e reconheceu a letra arrastada e masculina. Um símbolo estava gravado em tinta verde esmeralda. Ele escreveu a dela pessoalmente. Leu o convite e respirou fundo, jogando o pergaminho para o lado e pegando o pedaço de torrada que sobrara.

Charlie a obrigaria a ir, isso era mais que certo. Se ele havia dado o endereço a Malfoy, era porque seu chefe queria sua presença lá, e Hermione como uma boa funcionária faria o que ele queria.

Vestido ela já tinha, ela só teria que dar um jeito em seu cabelo, mas nada que seu cabeleireiro trouxa ou algum feitiço não pudessem resolver. Lembrou-se do que Charlie havia lhe dito antes de ir embora, levou a caneca à boca e tomou mais um gole. Fazia questão de estar deslumbrante no jantar. Ela sabia que todas as mulheres estariam, afinal, um jantar na mansão dos Malfoy não era para qualquer um.

Respirou fundo pedindo paciência a Merlin. Ela sabia que Baker e McGraien estariam no evento, e faria de tudo para fugir deles. Mas a preocupação da garota não era os dois bruxos que participavam da aposta. Os dois eram velhos demais para Hermione, e só dela pensar na barriga de McGraien e nos dentes amarelados de Baker, seu estômago revirava.

Não. Sua preocupação era pelo terceiro apostador. Malfoy não era nem de longe feio. Não aparentava ter a idade que tinha e mesmo com as roupas escuras, ela sabia que ele tinha um físico forte. Afinal, ele era um Malfoy. E seu sangue era puro demais para o homem não andar no mínimo impecável com sua aparência. Os cabelos eram grandes e as mãos masculinas. Os olhos cinzentos pareciam furar os olhos dela toda vez que ele a olhava, o sorriso irônico era ao mesmo tempo irritante e sedutor.

Ela balançou a cabeça para sair dos seus pensamentos e olhou para os buquês de flores que estavam jogados na mesa desde cedo. A flor peculiar havia mudado de cor, ficando em um vermelho berrante, as bordas estavam escuras e ela se perguntou o motivo da troca de cor. Precisaria ter cuidado com Malfoy, ele realmente estava a cercando por todos os lados. Terminou a caneca de café, decidida a sair da armadilha ilesa. Se tivesse que ser grossa com Malfoy, seria. Ele não era tão assustador assim, e ela não tinha medo do homem.

Afinal, Hermione não tinha entrado na Grifinória por qualquer motivo.