Entre deuses e dinossauros

Autor (a): Phoenix

Comentários iniciais:

Na história que se segue, todos os personagens da série Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World estarão presentes, não estando o enredo relacionado, portanto, a nenhuma temporada. Além disso, aqui serão citados deuses da mitologia grega, assim como lendas e mitos relacionados a eles; gostaria de ressaltar que isto será feito com o devido respeito dispensado a todo tipo de crença ou fé, partilhando-se delas ou não.

CAPÍTULO 1

Amanhecia no plateau, aquele parecia ser mais um dia como qualquer outro; um a um os moradores foram acordando; dentro de pouco tempo, todos estavam dirigindo-se à mesa para tomar café. Malone acomodou-se tranqüilamente, como sempre, dando bom dia a todos, especialmente à Verônica que acabava de chegar de seu banho de rio matinal. Finn levantou com a preguiça de sempre; tentou virar-se na cama e ficar por mais um tempo, mas os primeiros raios de sol não lhe permitiram lograr êxito em sua tentativa. Roxton acordou com um humor especialmente ácido aquele dia, e logo foi procurando sua vítima preferida: Marguerite. Ele sabia que tinha uma enorme capacidade de irritá-la, mais do que qualquer um ou qualquer outra coisa. Challenger levantou-se com o entusiasmo que só um cientista devotado poderia ter. Faltava apenas uma pessoa; Marguerite costumava ser a última a levantar, mas naquele dia parecia estar demorando um pouco mais.

"Marguerite, não adianta tentar dormir mais.... porque não vem se juntar a nós e partilhar este delicioso café em família?". Gritou Roxton com um tom altamente sarcástico.

"Eu não vou lhe responder a altura Lord Roxton, porque é cedo demais para dizer palavrões..."

"Ora Marguerite! Olhe só este dia que coisa maravilhosa! Olhe este céu, nem assim você se anima?". Verônica cutucou mais um pouco, com o mesmo risinho de canto de boca que os outros moradores também tentavam disfarçar.

"Me digam uma coisa: para que acordar tão cedo? Só terei mais tempo de não fazer nada!"

"Nada? Se você chama moer o café de nada....". Murmurou Malone.

"O que disse nobre jornalista??"

"Ele disse que hoje é seu dia de moer café...... não é?". Disse Finn com seu jeito descontraído e sarcasticamente inocente de sempre.

"O que??". Inquiriu Marguerite com as mãos na cintura.

Antes que ela começasse a falar cobras e lagartos e despejasse toda a sua fúria matinal nos pobres moradores, eles foram levantando da mesa e cada um dirigiu-se à atividade que lhe havia sido designada naquele dia. Além de acordar cedo, enfrentar as piadinhas de todos logo na hora do café da manhã, Marguerite ainda teria que realizar uma atividade desprezível, como ela classificava toda e qualquer atividade braçal: moer o bendito café. Definitivamente aquele estava sendo um péssimo começo de dia para Marguerite, já que seu prazer em tomar a bebida não era acompanhado pelo prazer em fazê-la.

De repente viu-se um raio extremante forte, um clarão tão poderoso que, os aventureiros, ainda na casa, correram à varanda para ver o que havia acontecido e ficaram sem enxergar por um tempo tamanha a intensidade da luz. Após alguns segundos, com a visão recuperada, eles olharam para todos os lados, mas não viram nenhum indício do que poderia ter sido aquilo. Como a ocorrência de eventos estranhos naquele lugar era a coisa mais comum, depois de um rápido burburinho e troca de hipóteses sobre o acontecido, eles voltaram à suas atividades.

O que nossos aventureiros não sabiam é que o misterioso clarão era só o começo das coisas estranhas que ainda aconteceriam naquele dia. Aquele intrigante acontecimento significou nada mais, nada menos que a passagem da deusa Eos, responsável por anunciar o dia, segundo a mitologia grega. Esta deusa é representada sobre o carro da luz, guiando os cavalos, com uma tocha na mão. Surpreendentemente ela havia passado pelo plateau, exatamente em cima da casa da árvore, mas o porque seria bastante complicado de explicar, até mesmo para uma deusa.

Roxton tinha balas para forjar e outras pequenas tarefas, mas decididamente não estava com disposição de fazer nada daquilo. Ele até pensou em tomar para si a tarefa de sua querida Lady Krux, mas isso não estaria de acordo com as regras do grupo, então deixou que ela cumprisse sua parte. Ficou um tempo na sala, procurando o que fazer; na verdade fingindo fazer alguma coisa, tempo suficiente para que Marguerite terminasse sua ingrata tarefa e entrasse exausta em casa e com cara de poucos amigos. Tentando compensar o esforço dela e com segundas e, por que não dizer, terceiras e incontáveis intenções, Roxton resolveu fazer um convite, supostamente irresistível, para Marguerite:

"Marguerite, já terminou de moer o café?"

"Roxton, por favor, eu já não comecei o dia da maneira que mereço, então não me provoque...."

"Mas o que é isso? Eu fiz uma pergunta inocente e você...."

"Nada em você é inocente Lord John Roxton... muito menos as perguntas!"

"Ora Marguerite....."

"Diga logo o que você quer!"

"Já acabou ou não?"

"Um, dois, três...."

"O que você está fazendo Marguerite?"

"Tentando me controlar.......mas sem sucesso.....respondendo a sua pergunta: sim! Eu terminei de moer o café. Porque??"

"Por nada..... eu só achei que você poderia querer dar uma volta depois de tanto esforço e..."

Como num passe de mágica a irritação da herdeira desapareceu, afinal de contas não era toda hora que ela poderia ficar a sós com Roxton. Normalmente ela preferia ser a caçadora, mas em relação à Roxton, ela preferia sempre ser a caça, mesmo que disfarçasse isso muito bem, de forma que ele raramente desconfiava disso.

"Roxton, já que você começou a falar então termine!"

"Eu pensei que talvez você quisesse ir à praia comigo..... faz tanto tempo que não vamos lá... e todos estão tão ocupados...."

"É..... talvez você tenha razão....vamos logo, antes que alguém arranje alguma coisa para eu fazer......"

"Ótimo, deixe só eu pegar a cesta ....."

"Cesta?!"

"É, como eu sabia que você não recusaria meu convite, eu preparei um lanche pra gente"

"Você está querendo dizer que eu sou previsível??"

"Não....."

Marguerite e Roxton continuariam com aquela discussão vazia por um longo tempo se eles não tivessem sido interrompidos por Challenger, que saía de seu laboratório e vinha até a sala.

"Marguerite, será que você poderia me ajudar aqui....". Pediu Challenger sem tirar os olhos do livro que trazia nas mãos.

"Não George, infelizmente eu não posso lhe ajudar, porque Roxton já havia me pedido para ajudá-lo".

"Ajudá-lo em que??". Interrogou Challenger, com uma sobrancelha levemente levantada.

"Em nada que seja da sua conta, mas vamos logo Roxton....".

Marguerite saiu arrastando Roxton por uma mão e a cesta, que ela havia tomado dele, na outra. Deixou para trás um Challenger absolutamente atônito, pensando sobre de que forma e em quê Marguerite poderia ajudar Roxton. Vendo-o demorar, Finn, que estava ajudando Challenger no laboratório, resolveu ir até a sala ver o que havia acontecido.

"Challenger, o que houve??"

"Challenger??". Insistiu Finn, pois não obteve resposta da primeira vez.

O cientista virou-se sobressaltado, pois havia se distraído com seus pensamentos depois da intempestiva saída dos dois.

"Nada Finn..."

"Você não ia pedir ajuda de Marguerite??"

"Ia, mas ela teve que sair..."

"E os outros??"

"Todos estão fora de casa: Roxton foi com Marguerite, Malone foi copiar uns símbolos que encontramos em uma caverna não muito longe daqui, mas deve levar boa parte do dia fora; Verônica foi até Zanga buscar algumas coisas de que estávamos precisando há tempos.... restamos nós."

"Bom, então você fica aqui terminando o experimento que eu vou procurar as ervas que você precisa... certo?"

"É.... acho que não temos outra opção... vou continuando enquanto você vai.... por favor não demore e tome cuidado"

"Não se preocupe, eu vou num pé e volto no outro"

"Finn.... espere um pouco!"

"Que foi Challenger? Vai querer mais alguma erva??"

"Não... pensei melhor e acho que hoje vou me dedicar a outra experiência.....vamos preparar um almoço surpresa para nossos amigos!"

"Almoço? Nós dois?"

"É sim, alguma coisa errada??"

"Não, é que só não sabia que você cozinhava...."

"Não costumo cozinhar mesmo, mas vou encarar isso como mais uma de minhas experiências e você verá que vai dar tudo certo!"

"Se você diz, eu confio! Vamos lá!"

"Preciso que você vá até a horta e pegue algumas coisas...."

Assim que Challenger terminou de explicar o que queria, Finn voou para o elevador; ela sempre tinha pressa para fazer qualquer coisa que fosse.

Enquanto isso, em uma caverna não muito longe dali:

A coluna de Malone já doía bastante, tamanho o tempo em que ele já estava mal acomodado naquela pedra copiando cuidadosamente aqueles desenhos nas paredes. Na verdade, "desenhos" era como ele os havia chamado no início, pois àquela altura já eram rabiscos miseráveis e infindáveis, que impediam-no de aproveitar aquele maravilhoso dia de sol no plateau.

"Eu devo ter algum certeza... porque só alguém com problemas estaria em uma caverna úmida e escura, além de fedorenta, copiando uns malditos rabiscos de não sei quem! E tudo isso para que? Para que a honorável Lady Marguerite Krux não tenha que vir até aqui para traduzi-los...sempre a irritante senhorita Krux!"

Malone resmungava sozinho, jogando pragas até 10ª geração de Marguerite por estar ali e não desfrutando das belezas e prazeres de um dia tropical, quando ouviu um ruído estranho. O barulho parecia o que havia ouvido pela manhã; apesar do susto que levou naquele momento, só lembrou deste acontecimento agora. Rapidamente fechou o diário onde estava copiando os símbolos, colocou-o na mochila e se dirigiu à saída caverna para ver o que tinha acontecido.

"Mas que droga terá sido isso? Espero que não seja um TRex ou coisa do tipo, só me faltava isso!"

Pé ante pé, Malone foi se aproximando da entrada da caverna; como não ouviu mais nada, arriscou-se a por a cabeça para fora e dar uma olhada em volta. Tudo o que viu foi uma mulher de costas; suas vestes eram diferentes: eram de uma cor suave e tão leves que a mulher parecia levitar acima das folhas secas da mata. Malone ficou intrigado com aquela presença:

"Olá?"

A mulher virou-se e então ele ficou extasiado com a beleza que se revelou naquele ser. Sua feição era extremante delicada, os traços eram perfeitos como se a mulher tivesse sido esculpida por um talentoso artesão. Seus olhos brilhavam como duas pequenas estrelas e seu sorriso parecia iluminar todo o seu ser.

"Olá..... quem é a senhorita?"

"Senhorita?". A mulher deu um discreto sorriso, abaixando levemente a cabeça.

Antes mesmo que ela dissesse seu nome outro estrondo foi ouvido, mas desta vez vindo de dentro da caverna. Os dois correram para ver o que havia acontecido, mas a fumaça que tomou conta do lugar não deixava que vissem nada. Quando a fumaça se dissipou um pouco, viram um homem alto e imponente vir na direção deles.

"Você também está aqui?". Disse a deusa surpresa.

"Aqui fica exatamente aonde?". Respondeu o homem.

"Não sei ao certo, mas talvez este rapaz possa nos explicar..."

"Ei, ei, ei, esperem um pouco! Vocês se conhecem? Quem são vocês? De onde vieram?". Perguntou Malone com uma expressão absolutamente confusa.

"Antes de qualquer coisa, você poderia ficar calmo e fazer uma pergunta de cada vez....".Falou o misterioso homem com ar entediado.

"Ora Hades! Não seja grosseiro com o rapaz!".

"Hades?!". A confusão de Malone crescia em proporção geométrica.

"Sim! Hades. Qual o seu nome gentil rapaz?". Disse a mulher com um olhar incrivelmente doce.

"Edward Malone".

"Edward Malone, este é Hades e eu sou Afrodite".

"Esperem um pouco, que tipo de brincadeira é esta?! Afrodite e Hades?"

"Algum problema com nossos nomes? Por acaso não gostou?". O homem tinha boa dose de sarcasmo em suas palavras.

"Parem! Vocês aparecem de não sei onde, após um ruído muito estranho. Tem roupas estranhas e vem me dizer que são Afrodite e Hades? E eu posso saber onde está Zeus??"

"Boa pergunta! Gostaria que ele me dissesse por que estou aqui, que não sei nem onde é, respondendo perguntas tolas de um rapaz demasiadamente nervoso!"

"Hades! Desculpe-o, Edward, mas ele não é sempre assim..... é que não gosta de sair de seus domínios......"

"Domínios??"

"Sim, eu particularmente acho o Tártaro um lugar horrível, sombrio....... mas ele parece gostar muito"

"Calma Malone..... você vai fechar os olhos, respirar fundo e quando abrir os olhos novamente verá que tudo isso é fruto de sua imaginação....". O jornalista tentava acalmar a si mesmo. Mas depois de um longo tempo de olhos fechados, ele os abriu e via as duas pessoas que já estavam lá antes de fechá-los.

"Não é possível, eu sabia que não deveria ter saído de casa hoje, mas vou corrigir isso. Vou voltar para casa já!"

"Ótimo! Esta conversa já estava me dando sono mesmo.... vamos". Disse Hades.

"Mas quem disse que você vai??"

"E você vai deixar esta bela mulher aqui? Sozinha??"

"Erhhhh ela pode vir, mas você não....". Falou Malone olhando Afrodite meio sem graça.

"Olha, não podemos ir todos? Afinal nem sabemos onde estamos e seria ótimo se pudesse nos ajudar"

"Não sei...."

"Ora vamos, ou será que está com medo de nós??". Disse Hades aproximando-se de Malone.

"Está bem, mas eu não vivo sozinho..... tem mais gente em casa que não vai entender nada quando eu chegar com vocês..... se bem que eles já estão até acostumados com coisas estranhas".

"Então vamos, estou ansiosa para conhecer seus outros amigos.... se forem tão amáveis e belos como você..."

"Acho que Hefestos não vai gostar nada de saber disso....". Sussurrou Hades enquanto os seguia para fora da caverna e pela mata.

CONTINUA...

Informações adicionais:

Hades: Senhor do reino subterrâneo. Acreditava-se que, com seu carro, viesse ao mundo para buscar as almas dos mortos. Possuía um capacete que o tornava invisível. Somente Hades tinha o poder de restituir a vida de um homem, porém, utilizou-se desse poder pouquíssimas vezes e, assim mesmo, a pedido da esposa. Era o deus das riquezas porque dominava nas profundezas da terra, de onde mandava prosperidade e fertilidade; era considerado um deus benéfico.

Afrodite: Deusa da beleza e do amor, nascida da espuma das ondas do mar. É a a mais bela deusa do Olimpo; foi cortejada por todos os deuses, inclusive Zeus, a quem recusou. Em vingança, este lhe deu em casamento a Hefestos, o mais feio dos imortais. Ao surpreendê-la no leito com o amante, Hefestos prendeu-os numa rede invisível e inquebrável para exibir a traição aos outros deuses do Olimpo.

DISCLAIMER: Os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction.