"Ha-chan!", chamou-o Ayame, indo em sua direção.
Hatori fechou os olhos e sentiu vontade de dar meia-volta quando viu Ayame e Shigure sentados, tomando chá.
Eu mereço esses dois idiotas...
"Que esplêndida hora tu chegaste, meu caro companheiro de juventude. Queres tu acompanhar-nos em um passeio para conhecer jovens e belas damas, assim como nos velhos tempos?"
"Nunca existiu esse momento nos velhos tempos e nunca me rebaixaria a fazer isso com vocês, além do mais, eu vi aqui ver como Yuki está."
"Ah, Ha-chan, como você é frio!"
É melhor ignorá-los. Assim, posso fazer o que vim fazer e ir embora.
"Com licença, Shigure.", Hatori ia subindo as escadas quando se lembrou: "Ah, Shigure, Akito quer vê-lo."
"O que nosso querido deus deseja?", pergunto-lhe Shigure.
"Você deve imaginar..."
"Ha-chan! Não seja assim. O que você precisa é arranjar um amor. Eu tenho excelentes vestidos na minha loja que lhe agradariam."
Hatori o olhou com desprezo: "O que isso tem a ver?"
"Tudo! Os meus belíssimos artigos exalam amor. Nenhuma mulher no mundo resistiria a tanto amor reunido!", e Ayame realmente parecia exalar amor e coisinhas brilhosas das mãos...
"Só em seus devaneios.", Hatori subiu as escadas em silêncio, ignorando o outro, que, nesse momento, espalhava o pó do amor pela casa.
"Vá, Ha-chan, salve o meu adorado irmão dos males que o atormentam!"
Hatori resolveu que era melhor subir o mais rápido possível, senão, Ayame ia começar de novo a devanear e nunca mais conseguiria sair dali.
Shigure sorria de tudo aquilo e sorvia um gole de chá. Nada como começar o dia com alegria! Aquele sorriso era para disfarçar a sua preocupação. Sabia o que Akito queria. Fechou os olhos e sorriu. Sorriu.
Segundos depois, Kyo entrou em casa, destruindo a porta da frente.
"Não destrua a minha casa!", gritou Shigure para ele, "Você vai pagar pelos consertos."
"Tanto faz.", respondeu ele, indo para o seu quarto, antes que mais alguém, principalmente Ayame, dirigisse-lhe mais alguma palavra.
***
Apesar de todo o seu sentimento para com Akito, Gure-san sentia uma forte opressão no peito toda vez que se aproximava dela. Todos, de certa forma, sentiam isso. Ela tinha a incrível capacidade de distanciar as pessoas ao seu redor. Ele, por sua vez, compreendia-a, apesar de ser uma tarefa muito difícil, mas tinha de fazê-la, afinal, era a pessoa mais próxima de Akito, a despeito de ela nunca ter assumido isso. Ele a amava.
Akito precisava de Shigure, ela era dependente da sua atenção, demonstrava toda essa dependência de uma forma estranha: machucando a pessoa amada. Ela também amava Shigure, só não sabia disso ou não deixava demonstrar, escondia, revoltava-se contra esse sentimento. Feria Shigure. Humilhava Shigure. Queria Shigure por perto. Queria poder apoiar a sua cabeça no seu ombro, mas... a maldição não deixava... essa maldição que fazia toda a família infeliz. Não eram para serem felizes? Não eram para viver em festa? O que há de errado, então?
Shigure ficou ao lado de Akito, enquanto ela colocava flores no túmulo. Por uma fração de segundo, ele pôde perceber a mão dela vindo na direção da sua. Ele percebeu que ela precisava dele. Ele também precisava dela. Então, Shigure pôs a mão na cintura de Akito e a puxou dali.
"Vamos, Akito. Já está tarde.", disse ele, quase em seu ouvido, sentindo o seu cheiro.
Ele quis abraçá-la, mas a maldição não deixou. Retirou a sua mão dela e se distanciou. Já fez o que pôde por hoje... Amanhã, daria mais um passo em direção a sua liberdade.
