Agora e Sempre.

Prólogo: O Mundo Não é um Playground.

Desde o momento em que nasci eu já sabia qual seria meu destino. Não o meu, em verdade: o que o mundo guardava para mim não era "meu"; minha sorte estava laçada inexoravelmente à sorte de toda a raça humana. O meu destino era o destino de milhões.

Desde criança, minha mãe – Sarah – me revelou a minha sina: eu estou fadado a virar o "Líder da Resistência Humana contra o Exército das Máquinas", aquele que guiaria a raça humana para a vitória contra os Exterminadores criados pela Skynet.

Sim, eu sei muito bem como isso soa. Durante toda minha vida eu tive que conviver com esse fardo e com modo das pessoas reagirem a ele. Minha mãe internada como louca, eu passando de um lar adotivo para outro. Era um inferno. Até o dia em que "o meu futuro eu" me enviou um presente do futuro: o Tio Bob. Um Exterminador do modelo T-800 reprogramado por mim para me proteger contra outro cyborg enviado do futuro pela Skynet, chamado de T-1000.

Esse dia mudou totalmente a minha vida: eu nunca tinha visto antes qualquer tipo de prova dessa guerra que minha mãe me falava; algumas vezes cheguei inclusive a acreditar que ela era realmente louca. Desde essa data tudo aquilo que ela me dizia aconteceu. Skynet existia e queria me matar. Aqui e agora! E eu teria que agüentar essa Espada de Dâmocles pairando sobre minha cabeça durante toda minha vida.

Vocês podem estar pensando, então, porque eu falei que a vinda do Tio Bob foi um presente; ao que parece, ela só fez virar minha vida de cabeça para baixo ainda mais. Realmente, se eu tivesse tido escolha, não sei se teria escolhido que ele viesse. Mas nós não escolhemos o destino, é ele quem nos escolhe. E ele quis que o Tio Bob viesse, e assim aconteceu. Hoje eu sou grato por isso.

Minha mãe o via como apenas uma máquina (ou assim ela parecia agir), mas para mim ele era muito mais do que isso. Com o pouco convívio que tive com o Tio Bob, tudo ficou muito claro para mim: ele nunca iria me abandonar, ele sempre estaria ali por mim; nunca iria ficar bêbado e me machucar, me magoar ou dizer que não poderia passar mais tempo comigo porque estava ocupado com seu trabalho; ele morreria para me proteger, me manter seguro. De todas "as pessoas" no mundo que poderiam ter sido como um pai para mim, aquela "coisa", aquela "máquina" foi a mais parecida com uma figura paterna que eu tive. No meu mundo insano, foi a escolha mais sã.

Após nós destruirmos o T-1000, o Tio Bob disse que teria de se sacrificar para evitar o Dia do Julgamento. Aquilo partiu meu coração em tantas maneiras que eu não poderia sequer começar a explicar. Eu tentei fazer com que ele não fosse, não me deixasse. Eu cheguei a odiá-lo por não ter me ouvido. Hoje, eu vejo que aquilo foi a maior prova de amor que ele poderia me dar: ele se sacrificou para evitar o Dia do Julgamento e afastar o meu fardo de mim. Ele abriu mão de sua existência por mim; eu não conheço nenhuma outra palavra para descrever isso que não seja amor. O Tio Bob foi uma prova indubitável de que as máquinas podem amar.

Mas o destino não é uma mãe generosa e o mundo não é um playground. Ainda mais para mim. Por muitos anos eu pensei que o Dia do Julgamento tivesse sido impedido pelo motivo mais improvável de todos: o amor de uma máquina devidamente correspondido pelo amor de um humano. Parece clichê, não é?! O amor como a solução dos problemas da humanidade. Neste caso, eu realmente pensei que o amor do Tio Bob por mim tivesse posto fim à guerra que travaríamos no futuro. Mero engano.

Após ter sido arrancado do lugar que eu havia aprendido a chamar de lar (a casa de um então namorado da minha mãe, Charlie), eu fui parar em New Mexico, uma cidade no meio do nada, onde as pessoas usavam botas de cowboy (nossa, como eu odeio botas de cowboy!). Cheguei à escola (sim, na visão de minha mãe o líder da humanidade tem que saber Química, Literatura e essas coisas) e no meio de todos aqueles caipiras, uma coisa me chamou a atenção: uma menina me chamou, perguntando meu nome. Deus, ela era linda, a coisa mais bonita que já havia visto em toda minha vida. Era como se tudo que eu tivesse vivido até ali fosse recompensado por aquele momento, uma inteligência superior tentando balancear todo o sofrimento de minha vida com a visão daquela forma ideal, uma estátua magistral. Na verdade, eu acho que se fosse feita esta compensação entre meu sofrimento e o que eu senti ao ver aquela garota, eu ficaria devendo a Deus. Era como se só por falar comigo ela tivesse lavado tudo aquilo de negativo da minha vida. Seu nome era Cameron. Se eu tivesse tido um pouco mais de coragem, eu a teria pedido em casamento na mesma hora. Parecia ser a coisa certa a fazer.

Mas, novamente, o mundo havia me reservado mais algumas surpresas: quando Mr. Ferguson (meu professor) se revelou um Exterminador, eu soube que o sacrifício do Tio Bob não tinha mudado o futuro o suficiente, já que a Skynet ainda existia e – óbvio – estava tentando me matar. Entretanto, sendo sincero comigo mesmo, eu devo admitir que não foi esse fato que mais me abalou: o que mais me deixou estarrecido e desiludido foi ver a garota – a Cameron – ser baleada pelo Exterminador (salvando minha vida) e logo após, ao ter a arma do maldito robô apontada para minha cabeça, vê-la acertando-o com o carro e dizendo para mim aquelas palavras que desde criança eu tinha guardado em minha cabeça: "Venha comigo se quiser viver!".

Essa frase me fez ver uma verdade que me correu por dentro: aquela linda e doce menina era, em verdade, um robô! Sim, um robô, uma maldita máquina que eu mesmo enviei de volta para me proteger. Aliás, o meu futuro eu deve ser um masoquista ou ter um senso de humor bem distorcido: mandar de volta uma Exterminadora linda, da minha idade e com uma capacidade de se fazer passar por humana que eu nunca tinha visto. É, com certeza ele deve ser um grande apreciador de humor negro: "Ei, já que tenho que mandar um robô para me salvar no passado, acho que vou mandar uma robô bem bonita e com um corpo incomparável para enganar meu 'eu passado' e brincar com seus hormônios. Isso vai ser bem divertido!". Teria sido esse o pensamento dele (quer, dizer, meu)?! É melhor eu nem tentar saber. Às vezes a ignorância é uma benção.

Foi assim que tudo isso começou. Com a entrada dessa máquina em minha vida. Deus, será que nunca vou conseguir ter uma vida normal?