Notas: Ok, fazem uns dois anos que eu não escrevo Naruto, mas depois do 590 ficou simplesmente impossível deixar meu OTP de lado. O Itachi sempre foi meu personagem preferido de todos os fandoms que eu já fiz parte e considero a minha volta a esse fandom como uma homenagem a ele. Todos os que esperam pela Second Movement, podem ficar tranquilos: o próximo capítulo está pela metade e eu pretendo terminar em breve. Espero que gostem dessa história nova!

Betado por dandiwinchester


To Forgive Is To Suffer

Prólogo


Sabia exatamente porque estava parado àquela porta.

Todos os anos que passara fugindo de seu passado, tentando esconder tudo o que sentia, tentando odiar seu irmão para apagar sua própria dor, haviam sido em vão. E, sobretudo, haviam destruído sua vida.

Queria culpá-lo. Queria jogar na cara dele tudo o que lhe incomodava, que fazia com que suas entranhas se contraíssem em pura agonia enquanto passava noites e noites acordado. Mas nada daquilo adiantaria de alguma coisa para sua mente.

A culpa não era de seu irmão, como se fizera acreditar durante tantos anos. A culpa não era dele, por mais que doesse aceitar tal fato.

A madeira polida da porta o distraía, enquanto seus pensamentos continuavam a vagar. A casa era grande demais para uma pessoa só, mas a verdade era que não sabia se seu irmão ainda morava sozinho. Talvez houvesse se casado e criado uma família, apesar de duvidar muito de tal fato. Itachi era uma pessoa solitária por natureza, ainda mais depois do que acontecera há anos atrás.

Não tinha vontade de novamente pensar naquilo e permitir que sua mente voltasse a se espiralar em um ciclo interminável. Este não fora o motivo de sua visita. Tinha outros objetivos e não pretendia desviar-se de seu caminho por causa da mentira que resolvera contar a si mesmo para aliviar seu sofrimento. Itachi não merecia que o fizesse.

- Pai, você vai apertar a campainha ou quer que eu aperte para você? – A voz suave e baixa, apesar de infantil, surgiu ao seu lado em uma impaciência sincera, porém, velada. Aquilo o trouxe de volta a realidade, fazendo com que voltasse os olhos para a criança ao seu lado.

- Vou, só estou pensando um pouco. – Respondeu, em reprimenda, após franzir o cenho.

- Você está 'pensando um pouco' o dia todo.

Pensou em repreendê-lo novamente por sua ousadia, mas não o fez. Seu filho estava certo; passara o dia inteiro lhe dando a mesma desculpa para sua distração e falta de palavras. Mas não era uma mentira, apesar de tudo. Sua mente voltava a vagar, por mais que tentasse doutriná-la a permanecer na realidade, no momento atual. Era como uma espécie de tortura muda que impunha a si mesmo, mas aquilo já tinha ido longe demais.

Perguntava-se o que Itachi diria ao tomar conhecimento da existência de seu filho e de seu casamento destroçado. Havia excluído totalmente o irmão de sua vida durante os últimos sete anos e agora se encontrava em sua porta, com uma criança ao lado e malas no chão, questionando-se se tinha o direito de estar ali.

Sair de casa não havia sido algo fácil, mas não teve dor alguma em seu divórcio. Nem de sua parte, nem da parte de Sakura. Depois de tudo o que fizera a ela, queria dar-lhe a chance de recomeçar sua vida com alguém que pudesse nutrir suas necessidades como ele jamais pudera.

A culpa não havia sido de Sakura, na realidade; ele estivera perdido demais em seu próprio sofrimento para se dar conta de qualquer outra coisa a sua volta. A única coisa que o mantivera no limiar da sanidade fora a chegada de seu filho, Susanoo. A criança havia sido como uma espécie de luz para sua mente perturbada e apenas por ele se mantivera casado por tanto tempo.

Mas o fato de Sakura ter se apaixonado novamente lhe dera a oportunidade de finalmente romper com aquele vínculo. Com muita dificuldade, conseguira a guarda do garoto, tendo então a motivação que precisava para finalmente retomar o passado e perdoar os erros de seu irmão. Não queria que Susanoo vivesse ao lado de um pai que mais parecia uma sombra, e não mais pretendia sofrer por algo que nunca existira a não ser em sua própria cabeça.

Os olhos verdes do filho o fitavam em expectativa, fazendo-o querer sorrir. Aqueles sérios olhos de um verde escuro, como o mar em tormenta, haviam lhe inspirado para dar o nome à frágil criança. Susanoo nascera prematuramente, antes que ele e Sakura estivessem preparados para sua chegada. A verdade era que Sasuke sequer se dera conta de que havia criado um novo ser, uma nova vida, antes de finalmente ter a criança em seus braços. Era como se tudo não passasse de pura especulação, como uma realidade distante, que tomara forma quando o choro de agonia preencheu seus ouvidos e aqueles olhos verdes de tormenta o fitaram totalmente desamparado.

Naquele momento, Sasuke sentiu-se invadido por uma espécie de amor que jamais imaginaria existir, algo que o faria trocar a própria vida de bom grado pelo bem estar daquele ser tão vulnerável que aconchegava delicadamente a seu peito.

A criança era uma parte de si, era sua responsabilidade, e Sasuke pretendia fazer que a vida dele fosse repleta de alegrias e realizações, ao contrário da sua.

- Pai? – O questionamento do garoto voltou a tirá-lo de seus pensamentos, percebendo que havia preocupação em seus olhos.

- Faz muito tempo que eu não vejo seu tio. – Explicou-se, precariamente. – Eu nem sei se ele ainda quer me ver.

- Por quê?

- Porque adultos são complicados.

Susanoo franziu o cenho suavemente, respirando fundo em exagerada exasperação. Apesar de ser uma criança séria e madura demais para sua idade, sua clara infantilidade o deixava adorável, com aquela expressão aborrecida e impaciente.

- Adultos são chatos. – Ele respondeu, tomando a iniciativa e tocando a campainha, sem que Sasuke pudesse ponderar por mais um segundo sequer. A atitude o sobressaltou um pouco e quase o irritou, mas o olhar do filho o faz calar-se imediatamente. – Ele pode não querer te ver, mas ele ainda não me conhece e eu quero conhecer ele.

Não teve tempo algum de replicar, pois passos foram ouvidos no corredor, antes de a porta de madeira, a qual fitara por tantos minutos seguidos, se abrir, revelando a figura que fez com que Sasuke prendesse a respiração momentaneamente.

Itachi...

Seu irmão não mudara em absolutamente nada. Os longos cabelos negros caiam elegantemente por seus ombros, emoldurando o rosto delicado, porém, marcado por longas linhas que o acompanhavam desde sempre. Ele estava mais magro, mas com aparência saudável apesar da palidez de sua pele.

Não sabia o que dizer. Depois de tanto ter ensaiado mentalmente sobre o discurso que planejava recitar ao irmão, as palavras lhe haviam sido roubadas diante da presença dele. Itachi sempre tivera esse efeito em si, sem que soubesse exatamente o porquê.

- Quem é? – A voz grossa reverberou por seus ouvidos, trazendo à tona um choque que Sasuke sequer foi incapaz de mascarar.

Seu irmão não o estava reconhecendo? Será que havia mudado tanto nos últimos sete anos ou ele simplesmente estava fingindo não conhecê-lo? Tal pensamento o encheu de revolta e dor, mas, antes que pudesse reagir, percebeu que o olhar de Itachi não estava preso em sua face, mas sim em algum ponto atrás de si. Virou-se em curiosidade, percebendo apenas a rua deserta, e voltou o rosto novamente em direção ao irmão, em pura confusão.

- Eu sou Susanoo e você é meu tio. – Seu filho respondeu, rompendo o silêncio efetivamente e fazendo com que as sobrancelhas de Itachi se erguessem em surpresa.

- Oh. Sasuke?

Ao som de seu nome, Sasuke sentiu o coração acelerar. Aquela voz rouca e forte soara tão hesitante, tão esperançosa, que o mais novo sequer conseguiu esboçar reações ao perceber o irmão se aproximando de forma vacilante, tateando a sua procura, e pousando as mãos, delicadamente, em seu rosto.

Seu choque se intensificou quando os dedos finos traçaram cada centímetro de sua face, com uma avidez que o surpreendeu, ao mesmo tempo em que o fez entender toda a situação.

- Você não pode ver? – Susanoo perguntou, apesar de não aparentar confusão alguma. – Na minha escola tem uma menina que não pode ver, ela também faz isso quando conhece alguém novo. Ela diz que pode ver com as mãos, mas eu nunca consegui ver nada assim.

Sasuke percebeu um pequeno sorriso adornar o rosto de Itachi, fazendo com que ele retirasse as mãos de sua pele e virasse em direção a voz do sobrinho, repetindo o mesmo processo de reconhecimento com ele, mas dessa vez com mais firmeza.

- Você parece com seu pai. – Ele concluiu, após tocar-lhe o rosto e os cabelos por alguns segundos. – Eu posso te ensinar a ver com as mãos se você quiser.

- Eu quero! – Susanoo exclamou, empolgado com a perspectiva de aprender algo novo. – Posso pai? Posso?

Fitando a cena por alguns segundos e ignorando as perguntas do menor, Sasuke percebeu que nada havia dito ao irmão, deixando que ele e seu filho conduzissem uma conversa sem sua participação. Em parte, estava grato a inocência de Susanoo e ao seu excesso de iniciativa infantil, pois a criança simplesmente aliviara qualquer clima pesado que pudesse se formar entre os irmãos, mas isso retirara todo seu foco. Precisava explicar a Itachi o que estava fazendo ali, desculpar-se por todos os anos de ausência e ódio.

- Itachi, eu... – Começou a dizer, calando-se após perceber que as palavras simplesmente não tomavam forma para o que tinha de falar. Como se um bolo surgisse em sua garganta, impedindo-o de se expressar e dizer ao irmão o quanto sentia por tudo aquilo.

De dizer a ele que, finalmente, o perdoara.

- Entrem. – O mais velho disse, suavemente, abrindo espaço para que passassem e interrompendo sua tentativa de explicação.

Susanoo pegou sua mala e entrou, feliz com a nova situação, mas meio contrariado por ter sido ignorado, enquanto Sasuke se perguntava pela décima vez se havia feito a coisa certa. Talvez Itachi não quisesse recebê-los por muito tempo, ele sequer sabia que estavam com bagagem, mas depois lidaria com isso. Tinha coisas mais importantes para se preocupar no momento.

- À direita fica a sala. Vocês podem me esperar lá. – O mais velho declarou, fazendo com que Sasuke percebesse que aquilo não havia sido um pedido. – À esquerda tem um banheiro, caso precisem.

- Obrigado. – Agradeceu, segurando o filho pela mão e o guiando para o local indicado.

A casa era metodicamente arrumada, num estilo minimalista e prático, monocromático. A mobília exibia bastante espaço entre si, o suficiente para preencher o grande aposento, mas não para se tornar deselegante.

Sasuke imaginou que aquele espaço era para facilitar a passagem do irmão sem que ele esbarrasse ou derrubasse nada, evitando assim possíveis acidentes. Itachi parecia estar adaptado ao fato de não mais enxergar, fazendo com que o mais novo se perguntasse há quanto tempo ele convivia com isso.

Sentou-se ao lado do filho em um dos sofás de tecido negro e macio, sentindo uma pontada no peito ao refletir sobre a situação. Não estivera presente na vida do mais velho para saber sobre o que lhe tirara a visão, obrigando Itachi a lidar com isso completamente sozinho. Perdera tempo demais afogado em suas próprias mágoas, sem se dar conta de que seu egoísmo o fizera perder partes importantes de sua vida e da vida das pessoas que o cercavam.

O som de movimentação o fez virar o rosto para o começo da sala, percebendo a entrada de seu irmão com uma bandeja em mãos. Seu primeiro instinto foi o de se levantar e ajudá-lo, mas parou-se a tempo; tinha certeza de que ele ficaria ofendido se tentasse tratá-lo como um inválido. Duvidava muito que seu enorme orgulho tivesse desaparecido durante os anos.

Resumiu-se a observar a graça que seu irmão exibia ao manusear a bandeja e colocá-la sobre a mesa de centro. Percebeu que havia biscoitos e um copo de leite com chocolate, claramente direcionados a Susanoo, e apenas um copo de água que Sasuke deduziu ser para si. Sabia que não era do feitio de Itachi servir, mas a presença da criança pareceu ter amolecido algo dentro do mais velho.

Ele gesticulou para que se servissem e sentou em uma das poltronas diante do sofá ao qual estavam elegantemente sentados.

- A que devo essa visita?

A pergunta direta pegou Sasuke desprevenido, fazendo com que parasse o copo de água diante dos lábios em surpresa. Recuperando-se, bebeu um longo gole para acalmar seus nervos, que novamente pareciam pretender aflorar-se, antes de repousar o copo sobre a mesa e fitar o irmão intensamente.

- Precisamos conversar. – Respondeu.

Itachi meneou a cabeça positiva e lentamente, sem mais nada dizer. Ele parecia totalmente recuperado de sua reação inicial ao deparar-se com o irmão e o sobrinho diante de sua porta, portando-se com a impassividade e distância de sempre. Claramente aguardando por suas explicações.

Quase havia se esquecido de como ele podia ser intimidador sem ao menos tentar, mas não tinha mais tempo de ponderar sobre isso.

Já havia tomado a iniciativa de estar ali, e não mais poderia recuar. Fora covarde por tempo demais e estava cansado de correr de seus próprios sentimentos.

- Eu te perdoo, Itachi.