Prologo

Estava escuro. Muito escuro. O que aconteceu com as luzes da rua ou das lojas? Era assim tão tarde? Mal sabia por onde ia. . . "Ah que raiva! Onde raio se meteu a desvairada da Ino? Ela vai-mas pagar". Calma Sakura! Calma! Não existe razões para stress. Nada disso.

Segui em frente um pouco mais até chegar a um poste de electricidade. O único! "Finalmente!". A luz apaziguou o meu ser e eu acabei por me sentir mais calma.

Retirei o telemóvel do bolso. "Bolas, não tenho rede aqui!". Mas a luz não existe apenas para poder ver mas também para nos tornarmos visíveis.

-Hey garota! – Chamou-me uma voz grave e meio balbuciante – O que é que andas a fazer por estas bandas?

Virei-me cautelosamente e vi-o. Era um homem não muito velho. Envergava roupas tão negras que se a sua pele não fosse tão branca se confundiria com a noite. Na cabeça tinha um lenço também negro e uns óculos escuros escondiam o seu olhar. Analisei-o cuidadosamente para saber com que tipo de pessoa estava a lidar.

- Então não queres vir dançar aqui com o tio Ebisu? – "Ele está bêbado".

-Não obrigada. – Proferi bastante seria – Tenho dois pés esquerdos. Não sei dançar.

-Oh não faz mal. . . Eu ensino-te.

E sem dizer mais nada o idiota do bêbado agarrou-me e começou a dançar como se eu fosse uma boneca de trapos!

-Larga-me! Solta-me! – Gritei ofegante.

O estúpido do homem rasgou-me a roupa nova! Ainda bem que foi a Ino que gastou o dinheiro e não eu! Ufaa… "Tás parva? Tás quase a ser violada no meio da rua e estás preocupada com a roupa?". Ok desculpa, tens razão. Hora do pânico.

-Larga-me nojento – Aquele bafo a álcool estava mesmo a deixar-me enjoada!

-Não a ouvis-te? Larga-a.

Não vi bem quem dissera tal coisa. O suposto Ebisu atirou-me para os seus pés como se eu fosse um saco de batatas.

-E tu quem és? Tens a mania que és esperto.

Olhei para o rapaz. Estava igualmente de preto á excepção de um cachecol azul que tinha á volta do pescoço. Seu olhar era intenso. Demasiado intenso, mas ao mesmo tempo impenetrável. O seu cabelo era igualmente preto.

Ele não respondeu ao bêbado.

- Olha só – desafiou Ebisu esticando uma mão ao meu ombro e rasgando-me mais um bocado da roupa.

O rapaz caminhou na nossa direcção. Puxou o homem com uma só mão conseguindo levantá-lo do chão. "Como ele é forte". Encostou-o à parede e deu-lhe um murro "muito bem dado".

- Desaparece – Proferiu por fim.

Ebisu obedeceu. "Também que escolha é que tinha?".

O moreno olhou para mim. Eu estava com medo. E se o meu salvador fosse um tarado ainda pior que o anterior? Afinal não o conhecia de lado nenhum.

Estendeu-me a mão. Eu olhei para ele e encolhi-me em sinal de receio e ele entendeu.

-Está tudo bem – disse ainda.

A sua voz era sensual sem duvida mas muito mais que isso era fria. Cada palavra que saía da boca daquele moreno, que aparentava ter a minha idade, cortava-me a respiração. Mas o seu olhar tentava transmitir segurança e eu acabei por aceitar a mão.

-Obrigada – disse.

Ele não me soltou e guiou-me na escuridão da noite. Avistei uma moto numa esquina. Ele parou mesmo ao lado dela, meteu um capacete entregou-me o restante.

-Não deixa. . .

-Preferes ficar aqui? – cortou ele. "Oh meu deus isto não me está a acontecer. Para onde é que ele me vai levar?".

-Iee. . .

-Então fazemos o seguinte: Tu explicas-me onde moras e eu levo-te a casa. – Explicou tentando parecer simpático. Ele parecia estar a fazer um grande esforço para ser compreensivo comigo... Mas algo me fazia acreditar nele. "Claro, deve ser da voz sensual, da estrutura corporal e daqueles olhos lindos!" Cala-te!

-H-hai…

-Vai ficar tudo bem.

Expliquei-lhe onde morava. Ele para meu espanto conhecia a minha rua.

Eu estava com frio. O meu vestido tinha um rasgão tão grande que se via muito mais daquilo que era suposto. Ele reparou mais uma vez na minha reacção.

-Toma – Despiu o seu casaco e entregou-me.

-A-Arigato.

E lá fomos nós na sua mota preta até minha casa. Quando chegamos entreguei-lhe o capacete. E ele preparou-se para arrancar.

-Espera! – Gritei.

Ele obedeceu. Tirou o capacete e olhou para mim. "Oh mãezinha..." Ele era lindo. Agora com outra luz os seus olhos brilhavam. Apesar de manter aquele toque de frieza isso só lhe dava um aspecto mais… misterioso.

-Precisas de alguma coisa? – Ele fez-me acordar do transe.

Comecei a despir o casaco.

-Não. – Cortou ele – Fica com ele. É teu.

Olhei-o mais uma vez. O seu tom de voz mudara. Parecia menos…frio.

-Iee. Só queria…bem… Como posso agradecer-te? – Perguntei. "Uma pergunta um pouco parva"

Ele sorriu. Colocou o capacete e foi-se. Sem dizer mais uma única palavra. Mas aquele sorriso nunca me iria sair da cabeça.