Capítulo I
Leicester, Inglaterra, 1892
Pansy Malfoy chegou com um dia de atraso para as festividades na casa de campo de sua amiga Emilia. Uma serie de acontecimentos ocasionaram isso. Ainda naquela manhã ela precisou despachar a filha para a escola interna e também despedir-se dos pais, que regressavam à Irlanda. Além disso, a viagem de trem de Lodres para o Noroeste levara mais tempo do que o habitual, devido a problemas com a locomotiva. Pansy sentia-se exausta e esforçava-se para não perder a paciência com a criada, que a ajudava a arrumar-se para o chá.
Momentos depois entrava no grande salão decorado de verde e prata, e reunia-se aos outros convidados. Pansy teve que resistir ao desejo de gritar de pura frustração. Hermione Weasley, atriz, atual esposa de lorde Ron e amante de vários homens importantes, inclusive de seu marido Draco, dominava a cena.
Pansy temeu enfrentar o fim de semana. Estava cansada da longa viagem e desgastada com acontecimentos recentes em relação a seu casamento, por isso não se achava disposta a trocar farpas com Hermione, que sempre procurava atingí-la com comentários rudes.
Fatigada, desculpou-se com Emilia, dejando repousar um pouco até o jantar. Emilia mostrou-se bastante compreensiva, conhecia os dilemas da amiga. Dali a instantes Pansy subia novamente a imponente escadaria de mármore, rumo aos seus aposentos. Descansada, seria mais fácil para ela ignorar o descaramento de Hermione Weasley. Não que não estivesse acostumada ao comportamento devasso e desregrado dos membros de sua classe social. Pecados amorosos eram comuns, mesmo entre suas amigas. E embora ela própria jamais houvesse sido infiel, não se julgava particularmente virtuosa, ou moralista. Cada qual lidava com a vida conforme desejava. Seu casamento assemelhava-se a qualquer outro de seu círculo. Tinha uma filha maravilhosa e apesar de Draco ser muito diferente daquilo que imaginara, conformara-se há tempos, afinal, não existiam maridos devotados.
Ao chegar no alto da escada, Pansy inspirou fundo e percorreu o corredor elegante apressadamente. Olhou as portas e certa de estar diante da porta de seu quarto abriu-a sem bater. Chocada, estacou, os olhos arregalados.
A baronesa Daphne, sua melhor amiga, agarrava-se a um homem branco, de cabelos negros e musculoso, as pernas alvas enlaçando-o pela cintura. Com o torso nu, o desconhecido a sustentava nos braços, a calça de couro arriada até as coxas.
Com a entrada de Pansy, Daphne deixou escapar um gritinho de surpresa. O homem, contudo, após breve hesitação, murmurou algo no ouvido da parceira e retomou as investidas ritmadas. Imediatamente Pansy fechou a porta e se afastou, feliz por não haver ninguém no corredor para testemunhar seu embaraço. Como nenhum dos dois se lembrara de trancar a porta? Teria que se desculpar com Daphne, apesar de a óbvia indiferença do cavalheiro sugerir que aquela não havia sido a primeira vez em que fora pego em flagrante.
Localizando, enfim, seus aposentos, Pansy suspirou aliviada, perseguida pelos gemidos de prazer de Daphne. Sabia que esses divertimentos eram comuns, mas nunca havia presenciado algo. Perturbada, Pansy percebeu que a possibilidade de conseguir dormir estava agora descartada, considerando o fato de ocupar o cômodo adjacente ao dos amantes e saber exatamente o que eles faziam. Pelo menos tinha como se desculpar pelo equívoco, entrara na porta ao lado do seu quarto, um engano compreensível numa mansão de quarenta dormitórios.
Sabendo não poder retornar ao salão depois de haver se queixado de forte dor de cabeça, Pansy passou a hora seguinte bombardeada pelos ruídos do êxtase da amiga e do estranho, até que, graças aos céus, o silêncio aconteceu.
Abandonando o livro com o qual tentara se distrair, deitou-se na cama e fechou os olhos. Todavia seu descanso durou pouco. Dali a minutos, Daphne aparecia, um sorriso resplandecente no rosto.
— Vim lhe dizer que acabei de contemplar as glórias do paraíso, minha querida. Ele é inacreditável...
Dando seu repouso por encerrado, Pansy sentou-se na cama.
— Por favor, desculpe-me a intromissão.
— E desculpe-me pelos gritos — devolveu a baronesa Daphne, rindo e jogando-se sobre uma cadeira. — Na verdade, você não precisa se desculpar. Seu aparecimento não nos atrapalhou em nada, porque Harry é tão focado. E muito, muito, muito melhor do que qualquer mulher pode imaginar. Acredite-me, os comentários sobre seu desempenho sexual, por mais extraordinários que sejam, não lhe fazem justiça. O homem é fantástico!
— Então o marquês é superior ao seu prezado Frederick?
— Não há a menor comparação! Meu querido Harry é um deus!
— Então é querido Harry agora — Pansy a questionou, erguendo uma das sobrancelhas. — Suponho que, devido às circunstâncias, uma certa... intimidade seja permitida.
— A mais deliciosa das intimidades, eu lhe asseguro — retrucou Daphne, maliciosa, mostrando com as mãos o tamanho daquilo que tanto prazer lhe dera.
— Terei isso em mente quando me deparar com o marquês.
O tom de Pansy indicava exatamente o contrário. Ela e Daphne eram amigas de infância e embora Pansy não aprovasse aventuras extraconjugais, Daphne empenhava-se em lhe contar os detalhes mais picantes de seus relacionamentos amorosos.
— Quando você vai se permitir essa experiência? Maridos, filhos e trabalhos beneficentes não são suficientes! Além disso a vida passa tão depressa, querida. Nós acabamos de completar vinte e cinco anos!
— Estou contente assim. Não preciso da excitação do adultério.
— É porque você nunca encontrou um homem que realmente a excite.
— Talvez. Tampouco espero encontrar, depois de conhecer as centenas de homens desinteressantes que circulam em nosso meio.
— Os quais você sempre rejeitou. Não é normal, Pansy querida, ser tão fiel. Deus é testemunha de que nossos maridos não o são.
— Não comece. Você sabe o quanto detesto esse assunto.
É verdade, pensou a baronesa, entristecida. O Malfoy era tão conhecido por seus incontáveis casos amorosos quanto pelo pouco tempo que passava em casa, ao lado da família.
—Bem, de qualquer forma, você poderá se distrair cavalgando enquanto estiver aqui. Você trouxe Twink?
— E eu deixaria meu cavalo favorito para trás? Meu cavalariço se encarregou de trazê-lo ontem.
— Ouvi rumores de que Draco pretende vir encontrá-la desta vez. — O jovem era francês e raramente se dava ao trabalho de acompanhar a esposa inglesa em qualquer evento, muito menos fora da França.
— É o que ele disse. Meu marido gosta de competir com Harry, portanto creio que aceitará o convite de Emilia para o fim de semana.
— Harry monta tão bem quanto Draco, melhor até. Provavelmente Draco considere o marquês um desafio interessante.
A princesa esboçou um sorriso pálido.
— O marquês poderá estar cansado demais para competir, se você insistir em mantê-lo ocupado na cama.
— Aparentemente ele pode se dedicar a ambos os esportes sem perda de energia. Pelo menos é o que Sophie me disse. Ela conheceu Harry no ano passado e passou um mês de absoluto prazer ao lado dele, percorrendo o circuito internacional de hipismo.
— Pelos céus, Daphne, você precisa encontrar outra forma de se distrair. Além de ter amantes, procura referências dos mesmos!
— Haverá tempo de sobra para isso quando eu ficar velha, querida. A propósito, considerando nossa longa amizade, estou disposta a partilhar o maravilhoso Harry Potter com você. Não tenho dúvidas de que ele será capaz de satisfazer todas as nossas necessidades.
— Apesar de apreciar sua generosidade, o marquês Harry não me interessa. Tampouco desejo ser mais uma na sua extensa lista de conquistas.
— Acho que você não tem um pingo de sangue quente correndo nas veias, querida. Se tivesse, não poderia resistir- lhe — disse sorrindo.
— Concordo plenamente — Pansy falou.
Aquela não era a primeira vez que discutiam o assunto. Há anos Daphne tentava convencê-la, sem sucesso, a experimentar as delícias dos casos passageiros.
— Sua puritana mãe é a culpada por criar uma filha assim.
— Alegremente deixo todas as aventuras adúlteras para você. Não estou interessada em amantes. Tenho uma vida cheia, que me mantém ocupada. Por exemplo, levantei-me às cinco horas da manhã hoje e gostaria muito de tirar um cochilo antes do jantar.
— Então vou deixá-la em paz — concedeu Daphne, levantando-se. — Tomarei um demorado banho enquanto penso numa maneira de estar com Harry esta noite.
— Será um pouco difícil, dividindo a cama com seu marido.
— Talvez Frederick procure a companhia de lady Nott, como fez quando passamos o fim de semana na residência dos Weasley. Lady Nott é uma das convidadas de Emilia.
— Hermione Weasley também — completou Pansy, com um travo de amargura.
— Você tem que ignorar Hermione, querida. Ela adora provocá-la. E se ainda não dormiu com todos os homens aqui reunidos, não foi por falta de tentativas.
— Não me faça pensar nisso. — Os rumores ligando lady Weasley a seu marido, além de insistentes, revelavam a pura verdade.
— Creia-me, ela não significa nada para nenhum deles.
Era isso que Pansy pensava para poder se convencer a continuar naquele casamento infeliz. Nenhuma das amantes de Draco significava algo para ele.
A baronesa caminhou até a porta.
— Portanto, ignore a vadia. É o que todas as outras mulheres farão.
— Enquanto todos os homens a cercarão de atenções - Pansy completou triste.
— Porque Hermione dormirá com cada um deles.
Daphne parou na porta e olhou para Pansy. Vendo a amiga entristecida disse:
— Ouça meu conselho, querida amiga. Prove os prazeres do amor ilícito qualquer dia desses. Não como Hermione, é claro, que passa de mão em mão. Apenas experimente, uma única vez. Vejo-a no jantar.
