Sigo meu caminho
Voldemort. Chega e tortura Lily. Tortura Harry. Faz-me sofrer. Tira a vida dos que mais amo. Um feixe de luz verde e...
O choro estridente tira-me de meu pesadelo. Com um suspiro agradecido, passo a mão pela testa molhada de suor frio e caminho até o berço. Enquanto embalo o pequeno garotinho enrolado em um cobertor verde, os devaneios tornam a me ocorrer.
A pergunta é porque? Porque todo esse sentimento com relação ao perigo que corro? Porque essa sensação de estar totalmente protegido quando preferia lutar?
Conheço a resposta, e ela me surpreende. Em meu interior regem esses sentimentos, pois agora não sou mais aquele garoto confiante e sorridente que se divertia com Sirius há alguns poucos anos atrás. Acho que nem Sirius é mais desse jeito. Ele também mudou, também cresceu, também amadureceu. Agora somos todos adultos, responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer, e acima de tudo, eu sou responsável por uma família. Pela minha família.
Quando Lily ficou grávida, ainda me lembro claramente como se fosse um retrato gravado em minha retina, foi o ápice de minha felicidade, seguido pelo ápice de minha tristeza. Tristeza, pois dias depois fomos alertados de que Voldemort procuraria a tal criança. Em meio á guerra, nasceram Harry e Neville. Uma felicidade e uma lástima para acrescentar em meu interior, já que a criança corria perigo.
Agora, mais do que nuca, eu necessito de Lily. Preciso dela como preciso de ar, preciso de chão. Preciso dela aqui e agora, e é isso que importa. Entre minhas tentativas de passar uma aura confiante á ela e ao bebê, todas são débeis e falhas. Os sorrisos não mais chegam aos meus olhos, os passos não mais soam tranqüilizadores. O abraço é dado por braços amortecidos, a vontade de continuar se esvai a cada morte, a cada amigo perdido, a cada minuto.
Dentro de mim permanecem em constante conflito o ato corajoso e digno de continuar lutando, e a fácil válvula de escape da desistência. Ultimamente tenho vivido em um caminho que não escolhi para mim, um triste e tortuoso caminho que me leva a um lugar desconhecido. Metaforicamente, aos meus lados seguem as conseqüências da guerra, a saudade dos amigos e conhecidos mortos, a sensação deserta de não ter mais a quem recorrer. Ás minhas costas, fica uma outra vida, uma vida feliz e simples em que o ápice de minha preocupação é em pensar para onde iremos durante a próxima lua cheia. E á minha frente, somente vejo uma névoa densa que ofusca minha visão do futuro. Somente isso é o que posso ver, e nada mais posso esperar do amanhã.
Mas, se tudo der certo, haverá uma luz puxando-me para o resto do caminho.
- James? – Ouço a voz sonolenta de Lily me trazer de volta á realidade, soando abafada por debaixo dos cobertores.
- Hm? – Sussurro de volta.
- Harry acordou?
Aceno com a cabeça e coloco o bebê, agora dormindo profusamente, de volta no berço. Ao me virar de volta, constato que Lily já está sentada na ponta do colchão, do meu lado da cama. Olho interrogativamente para ela, erguendo as sobrancelhas.
- Já são oito horas da manhã, James.
- Ah, certo. – Murmuro em resposta, surpreso pelo horário.
- Feliz Halloween. – Ela diz enquanto me abraça.
- Hm, pra você também.
- Venha, vamos descer.
E eu sigo pelas escadas segurando firmemente sua mão direita, com a certeza de que o que tiver que acontecer acontecerá, e não há nada que eu ou qualquer outro alguém possa fazer para impedir.
E já que é assim, melhor aproveitar os momentos únicos que tenho ao lado das pessoas que mais amo.
Voldemort visitava a casa dos Potter horas depois.
.fim.
