Disclaimer: Naruto não me pertence u.u Pronto! Admiti! ù.u
Sinopse: É na vingança que encontramos forças para fazer aquilo que considerávamos impossível, para vencer aqueles que considerávamos invencíveis e para lutar pelo que jamais desejaríamos. Mas, acima de tudo, para amar aquele que desejamos odiar.
Depois de ter seu clã destruído, Sakura passa a treinar arduamente com o objetivo de se vingar. Só não esperava que seu treinador e presa fosse alguém tão irresistível.
Caso haja perguntas (sim, eu sei que isto está realmente confuso u.u), fiquem a vontade em faze-las, pois responderei na medida do possível (sim, a divisão territorial está complicada de entender pra quem não está dentro da minha cabeça u.u). E –gota- está meio OOC, apesar de eu não ser muito fã disso u.u.
Haru no Omoi (Memórias da Primavera)
Capítulo I – As cores da Primavera
Abriu a aporta da casa simples dando passagem para o homem logo atrás de si entrar, auxiliando-o na caminhada. Com o som de passos acompanhados pela batida oca de uma muleta no piso, uma mulher, ajeitando um coque mal feito, apareceu descendo as escadas de madeira, correndo. Passando o braço direito do senhor que adentrava no recinto por sobre seus ombros para poder ajudá-lo a alcançar o sofá já desbotado no centro da sala.
Com o novo apoio oferecido pela esposa e a mão esquerda segurando a muleta, foi capaz de sentar-se. Soltando logo em seguido um suspiro de cansaço e ao mesmo tempo alívio. Sorriu agradecido à mulher, e viu-a, feliz, retribuir-lhe o gesto. Ajeitou-se melhor, esticando a perna há tanto tempo ferida, voltando seu olhar para a porta que separava o cômodo da cozinha, vendo sua filha carregar um copo de água.
-"Está com sede, papai?" - perguntou docemente, com um leve esticar de braços, oferecendo-lhe o recipiente.
Acenou com a cabeça, tomando o copo para si. Aquela pequena caminhada que ele e a filha realizavam todo o fim de tarde estava deixando-o mais cansado que o esperado. Observou a esposa passar apressada próxima a eles, ainda lutando contra os fios bordô de seu cabelo que insistiam em fugir do coque, parando logo em seguida, apenas para olhá-los novamente, com uma mancha de preocupação estampada nos orbes ametista.
Virou-se para frente, verificando se a filha notara o mesmo que ele. Suspirou a notar que sim, depois teria que conversar com a esposa sobre o motivo de tal preocupação.
-"Mamãe está estranha..." - comentou, direcionando os olhos esverdeados para o pai. Recebeu um sorriso de conforto, e sentiu o pai afagar-lhe os cabelos róseos. Fez um pequeno bico. Ela estava falando sério! Será que seu pai poderia por alguns minutos parar de tratá-la como criança e conversar direito?
Estreitou os olhos para o homem com orbes tão verdes quanto os seus e exclamou um tanto quanto irritada:
-"Pára de me tratar como criança, papai!" - O homem apenas sorriu, passando a mão por cima dos fios castanhos de seu cabelo, tentando não rir da cara zangada que sua menina fazia.
-"Mas ainda tens dez anos apenas, como queres que eu te trate?".
Ela parou durante alguns instantes para pensar, levando o dedo indicador graciosamente até os lábios.
-"Hum... Pensando bem, podes me tratar como uma garotinha"- concluiu resignada, ao perceber que realmente ainda não tinha idade suficiente para aquilo –"Desde que em determinados assuntos o senhor me leve a sério" - concluiu altiva, arrancando uma gargalhada de seu velho pai.
-"Mas, afinal, tu és a nossa única criança, e acredito que tenhamos tido filhos muito tarde, é normal que nos preocupemos tanto contigo" - respondeu, esfregando a mão no topo de sua cabeça, como a um cachorrinho.
-"Papai!" - retorquiu irritada.
Ele apenas lançou um doce sorriu, usando as mãos para ajeitar melhor a perna dolorida.
Os olhos verdes e infantis seguiram os movimentos do pai, parando logo em seguida na marca mais forte de seus anos de missões, a falha na perna esquerda. Realmente, seu pai já era um senhor de idade, seus cinqüenta anos estavam bem marcados em sua face, diferentemente da mãe, que escondia muito bem seu quarenta e dois.
Engoliu em seco quando o pensamento de perdê-los passou-lhe pela mente. A saúde dos dois pouco a pouco definharia até que restaria apenas ela e as doces lembranças dos tempos que haviam passado juntos.
Sorriu para o pai, e com movimentos leves e um tanto quanto atordoados subiu as escadas. Abriu a porta do próprio quarto e encostou-a atrás de si, caminhando para próximo da janela até que seus olhos alcançassem a visão das primeiras cerejeiras a florescerem naquela primavera. Era inevitável pensar na relação que seu próprio nome tinha: Haruno Sakura, flores de cerejeiras da primavera.
Deu um pequeno sorriso, e abriu a janela, sentindo o vento passar docemente por seus cabelos compridos, podia senti-lo trazer o perfume das flores que desabrochavam na vila pertencente ao Clã Haruno. Diferentemente dos outros clãs, o Haruno encontrava-se a pouca distância da vila principal, Konoha, separado por uma floresta densa e úmida. Passou os olhos por todas as casas, um tanto quanto distantes da residência, a sua, ao que parecia, era a última, a mais distante da entrada.
Buscou mais adiante, por sobre a floresta que rodeava a aldeia, mantendo-a escondida de qualquer possível invasor. Com sua pouca idade, já tinha noção de todo o sistema que os ligava à Vila da Folha Oculta: o Clã fornecia ninjas qualificados, para poderem trabalhar como médicos e até mesmo na ANBU; enquanto Konoha oferecia o dinheiro necessário para sustentar o complexo sistema educacional, necessário para capacitar cada vez mais ninjas. Sabia da troca de favores que realizavam, e pretendia o quanto antes ser capaz de unir-se a essa responsabilidade, quem sabe, assim, ajudando os próprios pais.
Pretendia tornar-se médica, e era por isso que estudava tanto, não gostava de admitir, mas não era a mais popular da turma, suas responsabilidades para com os pais, e o próprio desejo de querer ajudá-los a afastava consideravelmente de uma vida social mais efetiva.
Segurou a cortina que com o vento balançava, rosando em seu rosto. Ao fundo o sol começava a se pôr, e, distraidamente, ela observava a mistura de cores que os tons alaranjados provocavam nas pétalas das flores. Os tons amarelos, laranjas, vermelhos, rosas e roxos se fundiam de uma forma reconfortante.
Focalizou os olhos numa frondosa árvore que, apesar da distância, vinha-lhe fixamente aos olhos. Seu tom vermelho se destacava mais que os outros naquela aquarela pintada no fim da tarde. Observou maravilhada enquanto o tom rubro tornava-se cada vez mais escuro, um vermelho forte, vermelho sangue.
Espremeu os olhos tentando identificar se sua visão borrara. Era apenas impressão sua ou as flores haviam aumentado consideravelmente? Piscou enquanto tentava engolir o bolo que se formara nem sua garganta.
De uma forma assustadora aquela cor de sangue estava se espalhando por entre as ruas. Soltou o ar rapidamente, e virou-se assustada para a porta quando sua mãe apareceu correndo. Os gritos distantes já começavam a chegar a seus ouvidos, e isso só colaborou para aumentar o medo latente em seu peito.
A passos rápidos, chegou à porta, e desceu as escadas correndo junto com a ente materna. Nenhuma palavra foi trocada, não era necessário.
Assim que pôs o pé direito no último degrau, já pode avistar seu pai, em pé, próximo a porta. Antes que ela mesma percebesse, estavam saindo. O homem, com um braço apoiado na esposa, andava na direção da saída, enquanto a garota carregava uma sacola qualquer que a mãe colocara em seus braços.
Olhou, assustada, os dois entes, inquirindo por onde deveriam seguir. Se a chacina acontecia a partir da entrada, supostamente deveriam tomar o rumo contrário. Aquele era um clã pacífico, sem grandes ninjas matadores, isso ficava claro só pelo fato de permanecerem protegidos no meio de uma floresta. Criavam bons médicos, não bons assassinos!
Seu peito subia e descia numa velocidade que ela jamais imaginou ser possível. Tinha que pensar em algo! A mãe caminhava no passo mais rápido possível, tentando auxiliar o marido. Cabia a ela fazer alguma coisa.
Pôs a sacola sobre os ombros, passando o nó pelo pescoço, e pulou sorrateiramente num dos telhados. Tinha que se esforçar ao máximo para não ser vista. Afinal, seria uma garotinha contra um provável exército ninja.
Pegou-se imaginando como uma quantidade tão grande de pessoas passara pela sede sem que esta fizesse nada. Balançou a cabeça afugentando pensamentos desse tipo. Não era hora para questionamentos, e sim para ações. Deixou que apenas o topo de sua cabeça, a partir dos olhos, ficasse a mostra.
Analisou o que acontecia mais adiante, buscando uma rota de fuga. Assustou-se ao perceber que os assassinos estavam mais perto do que imaginara. Eram rápidos. Buscou o ponto onde atacavam no momento, e concluiu que não estavam em grande número, apesar do estrago que haviam feito.
-"Sakura!" - Olhou para baixo, avistando seus pais assustados. Saltou e passou a guiá-los pela rota mais segura que pudera traçar, nos poucos minutos em que ficara lá em cima.
-"Parece que são poucos..." - comentou, sussurrando, querendo informar aos pais como estava a situação.
-"Onde estão?" - Ouviu a voz de seu pai soar um pouco mais temerosa que o normal.
-"Próximos ao prédio escolar" - respondeu, enquanto espichava mais o corpo para olhar qualquer coisa que estivesse por vir.
Um pequeno silêncio se fez enquanto as informações eram digeridas.
-"São rápidos..." - a mãe comentou algum tempo depois, no mesmo momento em que apoiava melhor o corpo do marido contra si.
-"E fortes,"- incluiu –"podemos ser um clã de basicamente médicos, mas deveríamos ter força suficiente para pelo menos uma defesa para poucos homens" - concluiu, duvidoso pelo que estava por vir.
Sakura parou por alguns instantes, sentindo os dois atrás de si fazerem o mesmo. Deveriam tomar o rumo contrário ao da entrada. O rumo contrário... Mas como fazer isso se sua única salvação seria chegar à sede da vila, passando assim pela porta principal?
Trancou a respiração, colocando uma mão para trás em sinal de alerta. Havia escutado algo. Analisou sua situação, passando os olhos pelas ruas. Não via sangue por enquanto, eles ainda não haviam passado por ali. E isso não era bom.
Apressou o passo, torcendo para que os pais pudessem acompanhá-la, vez ou outra, lançava olhares para trás, na direção deles. Escondeu-se, olhando pela esquina de uma casa qualquer, observando o que estava por vir.
Levou uma mão à boca tentando abafar um grito, sem sucesso. Puxara o ar de tal forma desesperada, que soara como um ganido. A respiração ficou descompassada novamente, enquanto tentava digerir a imagem que via.
Pedaços de corpos e restos de armas se mesclavam sobre um fundo vermelho, enfeitando o solo. Podia ver, ao fundo, a escola onde estudara. Alguns corpos jaziam no chão, enfeitando o cenário quase demoníaco. Olhou para trás, rígida, querendo ter certeza de que seus pais ainda estavam ali.
Paralisou ao notar que, além deles, outra figura se aproximava. Seu olhar assustado atraiu a atenção dos entes.
Um sorriso sádico aparecia nos lábios finos da figura recém chegada. Com um bolo preso na garganta, Sakura não foi capaz de fazer nada além de amparar o pai nos braços, quando a mãe largou-o para defendê-los.
Duas kunais voaram em direção ao intruso. De certa forma um aviso pelo que estava por vir. Não foram necessários muitos movimentos para desviar das armas. E, levemente surpresa, a senhora Haruno percebeu que o jovem que se encontrava a sua frente era muito mais habilidoso do que ela imaginara, na verdade, era muito melhor que ela própria.
Numa posição de defesa, com uma kunai na mão direita, deu uma última olhada para trás. O resultado da luta já estava traçado, e ela desejava com o fundo do coração que sua família entendesse o seu recado e fugisse o mais depressa dali. Apertou os lábios ao ver o sinal negativo do marido. Pode jurar vê-lo sussurrar um "Não agora" e ela sabia o que significava isso.
Voltou-se para frente, na direção do atual inimigo, ele os fitava divertido, observando a cena, a despedida realizada pelo casal. Olhou-o decidida. Eles eram dois, de alguma forma deveriam conseguir derrota-lo, e assim, salvar a pequena Sakura, que no momento se encontrava atrás do pai, agarrada às suas vestes.
-"A ceninha acabou?" - foi a perguntava feita, de forma sarcástica, pelos lábios finos e secos.
Não ouvira o que fora perguntado, apesar de ter visto claramente a boca se mover. Seus sentidos estavam falhos pela apreensão, sabia que nesse estado não seria nada além de um estorvo, mas o medo falava mais alto que a necessidade.
Respirou fundo, e pensou na família atrás de si. O marido não poderia fazer muito com o defeito na perna que conseguira na sua última missão há alguns anos. Sakura ainda não tinha força ou conhecimento suficiente para lutar. Estava tudo em suas mãos.
Engoliu o bolo formado na garganta, e concentrou-se no inimigo à frente. A resposta à pergunta feita anteriormente foi um olhar seco e fulminante.
O braço direito estava próximo ao corpo, perpendicularmente ao tronco. A perna esquerda encontrava-se mais atrás, reta, dando equilíbrio; a outra se encontrava ligeiramente dobrada. Com um impulso lançou-se na direção do rapaz. Sabia que não poderia fazer muita coisa, sentia o chackra fora do normal que ele possuía. Tinha absoluta certeza de que o marido não se afastaria, e sua filha estava assustada demais para sequer pensar em se mover.
Assim que chego a milímetros dele, o mais velozmente que poderia, desviou-se, preparando-se para pegá-lo desprevenido por trás. Assustou-se quando deu de cara com aquele sorrisinho matreiro. A mão que segurava a kunai foi presa bruscamente, sendo logo em seguida torcida em suas costas. Fazia anos que não lutava, e nem ao menos estava mais na idade. Parara seus estudos como kunoichi ainda nova, para dedicar-se a casa, e agora se arrependia mortalmente disso.
Sentiu o gosto de terra, e a falta de ar atingir-lhe bruscamente. Ergueu o rosto o máximo que podia, e notou que um dos pés dele estava contra suas costas; as mãos femininas presas para trás.
Uma das mãos dele foi em direção a sua cabeça, apertando-a contra o chão. Lágrimas se formaram em seus olhos quando sentiu o nariz ir com toda força em direção ao solo. Espremeu os olhos, tentando evitar que a poeira que se levantara entrasse neles. Sentiu as pedrinhas afiadas começarem a marcar sua pele com a pressão que ele lhe impunha.
A cabeça foi para trás rapidamente, no mesmo instante que ele a erguia. "Divertido...", era a palavra que rodava na mente dele, explicando o modo como se sentia a respeito daquilo. Puxava-a pelos cabelos, sentindo-a ficar mais tensa ainda. Sorriu, à medida que aproximava seu rosto da orelha dela, ainda mantendo-a com os membros superiores presos, sussurrou-lhe:
-"Achava mesmo que poderia protegê-los?".
-"Não..." – ela respondeu com simplicidade, tentando engolir a saliva, com dificuldade – "Apenas não queria entregá-los tão facilmente".
Ele ergueu uma sobrancelha, e, dando de ombros, jogou-a com força contra a parede de uma casa qualquer, sorrindo mais uma vez ao constatar que estava desacordada, alegrando-se ao notar a rachadura que causara na construção.
Virou-se na direção dos dois que restavam. Encarou o homem com um olhar desafiador, esperando que ele viesse mais para frente para que lutassem.
O senhor, ignorando a face mal-encarada à frente, virou-se na direção da filha, fazendo soltar os dedos presos firmemente no tecido que cobria suas costas e largando sua muleta em um canto qualquer. Segurou suas mãos, observando aos poucos os nós dos dedos voltarem à cor original. Sorriu-lhe encorajadoramente, tentando amenizar o olhar assustado que os orbes verdes exibiam. Abraçou-a docemente, inclinando-se e ajoelhando-se para acomodar o queixo sobre seu ombro, e sussurrar-lhe ao pé do ouvido um fraco e doce "Eu te amo".
Apertou-a contra o peito. Aquela seria sua única chance. Sua menina teria que aprender a perdoá-los por não terem protegido-a o suficiente.
-"Foge" – sentiu-a estremecer, o medo perante a possibilidade de viver sozinha.
Ergue-se, sem olhar novamente nos olhos de seu pequeno anjo, e, mancando, seguiu em direção ao seu adversário, tendo certeza de estar tomando uma distância segura tanto para si quanto para sua filha.
Queria lançar um último olhar à pequena pessoa parada atrás de si, mas precisava se concentrar na luta logo à frente. Concentrou-se, olhando de esguelha para a esposa que jazia no chão próximo a uma casa, pelo menos estava viva.
Seus olhos pousaram sobre o indivíduo mais à frente, e não pode conter a expressão de ódio que se formou em sua face ao perceber que o sorrisinho sarcástico permanecia em seus lábios.
Sakura permanecia na mesma posição em que fora deixara por seu pai. Até agora, não fizera menção alguma a acatar a ordem – que soara mais como um pedido - do pai. Tentou engolir o bolo que se formara em sua garganta, desde que aquele ser entrara em seu campo de visão.
Ergueu os olhos, analisando a situação que se formara. O pai, uns cinco metros mais à frente, encarava um rapaz, com não muito mais que vinte anos, que não demonstrava nada além de divertimento com a situação. Sentiu os joelhos tremerem e a vista sair do foco, mas manteve sua atenção nos dois.
Por alguns momentos, a imagem manteve-se fixa, não sabia se realmente eles haviam parado de se mexer, ou se seu cérebro realmente parara de assimilar tudo que estava acontecendo. Só tinha certeza de que daquela maneira, sem ver a luta – na expectativa dela -, sentia o coração bater apressadamente no peito e o cenário ao redor dos dois ficar embaçado, tornando toda aquela situação, já inacreditável, mais surreal. O medo de que nada desse certo cada vez mais latente em suas veias; o tremor de seus membros, dispersos, cada vez mais forte; a dor que alcançava tanto sua mente quanto seu coração cada vez mais angustiante.
Fitou as costas ainda paradas do pai. Os ombros retesados; a perna direita contraída, provavelmente pela dor; os braços mais afastados do corpo, tentando manter o equilíbrio que as pernas não o proporcionavam. Um único pensamento, frio, porém verdadeiro, passou por sua mente: "Não vai durar muito..."
Mais à frente do senhor Haruno, os dentes brancos ainda a mostra era o que mais a assustava. Era óbvio que ele sabia que a luta estava ganha, assim como ela e seu pai. Mas, ainda assim, era muita prepotência manter aquele sorrisinho. Os olhos ônix permaneciam fixos no adversário, e ela constatava claramente que aquele era o olhar de um assassino, o brilho predatório rondando a orbe, dando a sensação de seguir qualquer movimento alheio. Os cabelos, tão escuros quanto a própria roupa que ele usava, diferiam tanto da pela alva que lhe davam um ar fantasmagórico, acentuado ainda mais pela claridade batendo em suas costas, tornando a face sombria. O porte, elegante, era de um bom lutador, braços e pernas fortes, não ateu-se a mais detalhes.
Não houve tempo. Logo sentiu um corpo pesado ser jogado contra si, deixando-a deitada sobre o chão, imóvel. Antes que pudesse controlar-se, a respiração ficou acelerada, arfante. Os olhos arregalados mostravam o quão assustada estava com tudo aquilo. Detivera-se por tanto tempo na imagem que registrara que a luta que se realizava mais à frente passara completamente despercebida. Conteve um gemido quando identificou o peso a cima de si como sendo o próprio pai.
Virou-se, deitando o ente no solo, e engoliu o bolo que se formava na garganta à medida que via a mancha carmim intensificar-se em seu abdômen. Olhou para o próprio corpo vendo a marca que fora deixada ali. O tom rubro cobrindo o tecido. Fitou o pai, atendo-se em observar a expressão de dor que enfeitava sua face. Com lágrimas contidas umedecendo seus olhos, finalmente tocou sua face, tentando suavizá-la.
Xingou-se dando pequenas bufadas de escárnio, mentalmente. Era realmente uma inútil! Não podia nem ao menos curá-lo. Não tinha chackra suficiente para isso, e mesmo que o tivesse, ainda não havia aprendido nada com relação a jutsus de cura.
O buraco no corpo, estendido, de seu pai era grande. Sentiu o gosto amargo vier-lhe à boca, mas segurou-se, não era hora pra infantilidades. Por entre a fenda, ela podia jurar ver algum órgão. Em meio a tanto vermelho ficava difícil distinguir alguma coisa.
Sobressaltou-se ao vê-lo mover-se. A mão direita, subindo aos poucos, até tocar sua face. Ao sentir os dedos gélidos acariciando-lhe lentamente, as lágrimas até então guardadas, escorreram uma a uma. A voz veio vaga, entrecortada pela dor:
-"Não chora, pequena..."– começou, dando um sorriso fraco –"Vamos ca-"- parou alguns instantes, tossindo, colocando parte do líquido que o enfeitava para fora –"caminhar amanhã, certo?"– sorriu novamente, o brilho de seus olhos não mudara nem por um segundo.
Ela afirmou calmamente, tentando sorrir. Fungou ao sentir-lhe passar a mão sobre seus cabelos, como sempre fazia quando queria irritá-la, grudando algumas vezes quando os fios se ligavam ao sangue entre seus dedos. Um soluço escapou por entre seus lábios ao ver a mão masculina cair com um pequeno baque, sobre o solo de terra sob eles.
Fitou a face, empalidecida, e agradeceu internamente por seus olhos já estarem fechados, não seria capaz de encará-los sem vida. Ergue-se lentamente, mantendo abaixados os olhos e cabeça. Caminhou, sem nem ao menos mostrar notar que não estava sozinha, em direção ao outro corpo estendido no chão.
Inclinou-se. Sua mãe tinha as costas contra a terra, a perna esquerda estava numa posição muito fora do normal, os braços, jogados ao lado do corpo, a parede onde fora lançada quase encostada em seus pés.
Acariciou-lhe a face, afastando alguns fios bordô, para logo depois beijar-lhe a fronte. Levou uma das mãos até o pescoço, querendo certificar-se de que ela estava vida. Poderia ter aberto mais os olhos, afinal, ela estava assustada, mas, naquele, momento, sentia que seu corpo não seria capaz de ter mais nenhuma reação espontânea, não enquanto estivesse fitando a face de sua mãe marcada por tanto sofrimento. Não sabia nem ao menos se deveria ficar feliz, ou triste pelo fato de ainda sentir a sua pulsação. Ele não a deixaria viva, e temia em saber que a ente no estado em que estava, teria uma morte verdadeiramente fria.
Pôs-se em pé, seguindo em direção a ele, com os olhos firmemente fixos em sua expressão. Inspirou, sem se preocupar com a apreciação curiosa que ele lhe dirigia. Nunca lutara seriamente na vida, nem se formara ao menos. Desviou o olhar, concentrando-se durante alguns instantes em somente direcionar o chackra para suas mãos e pés.
Fitou-o seriamente. Sabia que não tinha chance, mas tentaria mesmo assim, seu pai tentara e sua mãe também, e não seria ela a desistir!
Foi à sua direção, o mais rápido que suas pequenas pernas permitiam, e, lembrando-se que sua mãe falhara ao tentar pega-lo pelas costas, deu um soco diretamente. E assim se seguiu, ela desferindo golpes, e ele desviando com uma calma que a irritava. Era óbvio que aquele ser não fazia esforço algum, e que aquele sorrisinho de agora com certeza era de escárnio com relação a ela.
-"Sabe, criancinha"– ele começou, sem se preocupar com a adversária infante que o atacava –"Você não merece nem ao menos ser morta pelas minhas mãos".
Os dentes dela trincaram, e ela ignorou-o sem se preocupar com o que ele queria dizer.
-"Mas, mesmo assim, você foi a única criança que resolveu lutar comigo"– continuou –"as outras se encolheram e choraram até que eu lhe tirasse a vida, sou muito misericordioso."– mais um sorriso sarcástico curvou seus lábios –"E você é muito boa para a sua idade, devo admitir."– viu-a corar pela raiva, e seus movimentos ficarem cada vez mais sem força –"Sem contar, é claro, que você virá atrás de mim"– agora sim ela estava começando a perder a concentração –"Tentará me derrotar, e isso será muito interessante"– disse, com os pensamentos ligados a como poderia usá-la. Sorriu ao pensar que saberia exatamente o que fazer com ela quando se encontrassem novamente, ela seria perfeita para o papel –"Será minha aprendiz, criancinha" – sua sobrancelha ergueu-se ao notar que ela votara a se concentrar-se somente na luta –"Nos veremos, não muito em breve" – falou, aproveitando uma das inúmeras brechas que havia no ataque dela, para por seus dedos sobre seu pescoço, fazendo uma pequena pressão.
Sorriu ao vê-la cair lentamente, até bater contra o chão. Virou-se, sem nem ao menos fita-la novamente, e partiu para terminar seu pequeno serviço. Deixando para trás, ao fim, um clã devastado. Lágrimas de dor e sangue enfeitavam a maior parte dos pontos do que antes fora um vilarejo. Já era tarde quando uma chuva forte começou a cair, era primavera, afinal. No céu, um tom azul-marinho predominava; as poucas estrelas que brilhavam durante aquela noite, nunca pareceram tão aconchegantes, seu tom pacífico acalmando o vilarejo, de certa forma, adormecido. Os passos do único assassino que realmente chacinara a vila saíram calmamente, do mesmo modo que haviam entrado, deixando um coração a ser reconstituído e, a cima de tudo, uma vingança gris a ser saciada.
Continua...
O primeiro capítulo termina por aqui... Antes de finalizar eu gostaria de agradecer a Muri-chan que me obrigou a digitar, e a Kiyuii-chan que me viciou no casal principal n.n
Caso considerem este cap. digno de uma review, ficarei contente em lê-la e responde-la n.n
Beijinhos e tchau, tchau n.n
Gy-chan.
