Destino, algo bem estranho em que se pensar. As pessoas vivem suas vidas sempre cegas de seus futuros, com esperança ou temor. O destino é o desconhecido, o inevitável. Não se pode lutar contra aquilo que não se vê. Logo, só se pode esperar sua chegada.
Há os poucos abençoados que por acaso vislumbram o que há por vir. Estes recebem o poder de mudar a realidade e os cursos da história, reescrever o destino de um mundo. Contudo, nem todos são capazes de tal feito. Os abençoados tornam-se amaldiçoados por conhecer seu próprio e triste fim, incapazes de mudá-lo. E como é belo no final, quando tudo que sobra é a tragédia e a ironia.
Lynx & Harle
I
Wazuki e Miguel
– Ei Wazuki! O que você acha? Vamos enxer essas cestas de peixes hoje? – perguntou Miguel, com um ar bem humorado.
– Isso, só o mar e os deuses podem saber, Miguel – respondeu Wazuki – Mas com nós dois juntos, essas cestas até que são pouco – os dois amigos riram, enquanto rumavam para mais um dia de trabalho.
O Sol se preparava para nascer no céu limpo sobre o grande mar. No vilarejo de Arni as crianças dormiam tranqüilas em suas camas, os anciãos respiravam sadios o ar matinal, as mulheres começavam os afazeres domésticos do dia e os pescadores já içavam as velas de seus barcos na enseada.
A vida de um pescador em El Nido não era das mais fáceis, mas Wazuki e Miguel eram dois dos mais melhores da região. Acordar antes do Sol surgir, ficar horas sobre o mar, esperar, sem a certeza de um bom dia de trabalho, e quase certamente voltar para casa um odor bem característico impregnado no seu corpo. Mas aqueles dois não poderiam pedir outra vida. Assim sendo, subiram em seus barcos e partiram para o mar.
Miguel e Wazuki eram ambos pais de família. Wazuki tinha sua mulher Marge e seu pequeno filho Serge, agora com 3 anos. Miguel também tinha sua esposa Elisa e sua filha Leena, que acabara de completar 2 anos. Nem Marge nem Elisa adoravam a idéia de que seus maridos fossem pescadores. Não eram poucas as famílias de Arni que já haviam perdido alguém para o mar, em alguma tempestade inesperada ou trágico acidente. Todos os dias, quando Wazuki se despedia da família antes de se lançar às águas, Marge ficava com o coração na mão.
– Não precisa se preocupar – ele dizia – se algum dia eu não voltar, é só porque fugi pro continente com alguma velha rica de Termina.
– Seu bobo! Eu só quero que você se cuide. – ela respondia, meio irritada, meio preocupada.
Marge, assim como Elisa, sabia que ele e Miguel eram habilidosos o suficiente para suportar os mares mais bravios. Mas ela não nunca deixaria de se importar com o companheiro de sua vida.
– Vamos lá, Wazuki – disse Miguel, baixando sua vela e pegando um remo sobre seu barco – hora de pegar alguns peixes.
Os dois barcos haviam se afastado da enseada lado a lado. Miguel se aproximou do outro barco remando. Enquanto isso, Wazuki também baixava sua vela e desenrolava a rede de pesca. As duas embarcações emparelharam e os dois amarraram as pontas da rede nas suas bordas. Em seguida foram se afastando uma da outra até que a rede ficou toda esticada. Então abriram novamente suas velas e, com a ajuda do vento, começaram a varrer o mar com a larga rede. Em certo ponto eles paravam, recolhiam-na e tiravam dela todos os seres que encontravam. Uns eles botavam nas cestas emcima dos barcos, peixes e crustáceos na maioria. Outros eles jogavam de volta na água, conscientes de que não deveriam tomar do mar aquilo de que não precisavam. Caso contrário, o mar acabaria lhes tomando algo muito valioso.
Repetiram o processo várias vezes até quase encherem as cestas, quando perceberam que já era suficiente. O Sol já estava bem alto no céu, eles passaram uma boa parte da manhã naquilo. Guardaram a rede e começaram a remar de volta para Arni, de volta para casa. O remo de Miguel era algo bem ordinário, Elisa o fizera. Um cabo resistente de madeira com uma parte mais larga na ponta para empurrar a água. Já o de Wazuki...
– Eu diria que isso é qualquer coisa, Wazuki – comentou Miguel, meio risonho – Qualquer coisa, menos um remo. Ainda não creio que você teve tanta criatividade pra fazer isso.
O remo de Wazuki era mesmo original. Era bem grande, feito com dois ossos gigantes de peixes nas duas pontas, os quais empurravam a água para trás. O próprio Wazuki o fizera anos atrás, depois de lutar contra um enorme tubarão-leão em alto-mar. Miguel presenciou tudo, mas não pôde ajudar por estar muito distante. Durante a batalha Wazuki não tinha mais que alguns poucos elements à disposição, que ele comprara em Arni sem ver muita necessidade. Depois de muitos Aquabeams e Fireballs desperdiçados, conseguiu matar a tubarão. Para ter certeza de que aquilo não se tornaria mais uma "história de pescador", arrastou o animal com seu barco até Arni para que todos vissem e pediu que Belcha, o dono do restaurante, fizesse um belo banquete daquilo para todo o vilarejo. Tudo que queria eram os ossos de volta.
– O meu remo pode ser estranho, mas é capaz de matar – ameaçou o pescador de cabelos azuis.
Miguel novamente deu uma pequena risada, mesmo não tendo certeza se Wazuki estava só brincando. Aquela coisa era mesmo bem afiada. Um símbolo do orgulho daquele homem. Ele a fizera assim para não passar por perigo semelhante totalmente despreparado.
Finalmente chegaram à enseada. Ancoraram seus barcos ali e pegaram as cestas bem pesadas. Parte do pescado do dia seria vendido para o restaurante de Belcha e o restante seria dividido entre alguns dos moradores de Arni.
– Acho que foi um bom dia de pescaria, hein Miguel?
– Com certeza. Mas agora eu só quero um pouco de descanso.
– Wazuki!!! – ouviu-se a voz de um jovem que corria desesperado em direção à enseada – Wazuki!!!
O garoto se aproximou, corado e muito ofegante, mal conseguindo falar.
– Calma. Eu estou aqui, não vou fugir. O que foi? – respondeu Wazuki, tentando acalmá-lo.
– É... na vila... a pantera... – o menino tentava juntar as palavras.
– Pantera? Mas... Pare. Respire. Fale – disse Wazuki, e assim ele o fez.
– É que... Uma pantera-demônio atacou o Serge, senhor... Ele... Eu sinto muito...
O pai abalado teria desabado sobre o chão e se deixado levar pelo baque, se o instinto paterno não o fizesse correr até o vilarejo.
Destino, tão irônico e belamente trágico.
Well well, lá se foi o primeiro capítulo. Os primeiros capítulos vão ser com o Wazuki mesmo, só até o Lynx e a Harle poderem surgir. Não se preocupem, ele não vai ficar por muito tempo como protagonista. Também estou pensando que os próximos capítulos vão ser um pouco mais sombrios, mas sinto que mesmo aí uma piadinha ou outra vai inevitavelmente aparecer. É mais forte que eu! Bom, só vou saber mesmo quando escrever.
Não sei quando vai sair o próximo capítulo. Talvez não demore muito. Mas talvez demore. De qualquer jeito, um dia sai. Até lá!
