Papel Timbrado

(By Lithos of Lion)

Capítulo 1O som do Silêncio.

Silêncio.

Esse era o único som que ouvia... E este era o mais tenebroso de todos os sons. Sua mente se calara, seu coração emudecera e ele estava ali, completamente sozinho.

Notou então, pela primeira vez, que tinha medo. Sim, medo. Aquele papel amarelo em suas mãos, timbrado com as marcas do laboratório o intimidava, o assustava e ele não conseguia fazer nada. Não conseguia fazer nada para que aquele terror diminuísse.

Levantou os olhos do papel timbrado, seus olhos violetas observaram as pessoas que passavam pela praça. Apressadas, sérias, algumas sorridentes... Ao longe, algumas crianças brincavam felizes e suas gargalhadas inocentes ecoavam pelo ar.

Viu a vida presente naquele local. As árvores estavam em um verde fantástico, os pássaros cantavam alegremente, o ar era puro e o vento soprava cálido; como se cantasse a mais doce das canções.

Se estivesse em outro momento, aquela cena lhe inspiraria em mais uma composição. Mas, não naquele dia...

Naquele dia, tudo que ele tinha era o silêncio de sua alma e um papel timbrado em suas mãos.

Chorou.

As lágrimas desceram aos poucos, solitárias, para depois se transformarem em um soluço intenso, incontido. E as lembranças dos últimos acontecimentos vieram-lhe a mente. E a dor o invadiu... Forte, tão forte quanto naquela noite.

Yuki Eire chegou em casa, estava agitado, nervoso, passou pela sala direto para o escritório, mal reparara se ele estava ali, se Shindo o estava esperando.

Sentou-se a mesa e pegou o envelope da pasta, leu e releu inúmeras vezes o conteúdo. Não tinha jeito, era mesmo verdade, já tinha feito e refeito inúmeras vezes aquele teste e o resultado era o mesmo. Era o fim...

Agachou-se ao chão, tentando driblar as lágrimas, a tristeza, a culpa... Um turbilhão de sentimentos passava por seu corpo. Vomitou... Era sangue...

Sangue!

Não se assustou, sabia que aquilo ocorria toda vez que seu strees se elevava ao máximo, limitou-se apenas a limpar os lábios com a manga da camisa e seguiu para o seu quarto.

Começou a arrumar as malas, jogava suas roupas, suas coisas, tudo ao mesmo tempo e de maneira desorganizada. Só precisa sair dali, sair dali o mais depressa que pudesse. Sair antes que ele chegasse... Simplesmente não queria vê-lo...

Ouviu um barulho vindo da porta, não se virou.

- Yuki? – Shindo disse a voz doce emanando um tom preocupado. – O que houve?

Sentiu o sangue gelar... O que diria a ele? Não tinha justificativas, não tinha motivos... Não queria realmente ir embora. O amava...

- Por que está fazendo as malas, vai viajar? – Shindo perguntou, se aproximando devagar.

Droga, droga... Sempre a mesma inocência, a maldita inocência... Yuki pensou, em desespero. O que tinha feito com aquele que amava?

- Não vou viajar Suichii. – disse seco.

- Então... Para onde vai? – a pergunta tinha a sonoridade do medo.

- O que uma pessoa faz quando arruma as malas sem ser para viajar? – disse cínico. – Estou indo embora Suichii, indo embora dessa casa. Não quero mais morar aqui, não quero mais ficar com você. – olhou-o nos olhos, pois sabia que só assim, o outro acreditaria em suas palavras. – A brincadeira me cansou. Você já é um brinquedo sem graça. – fechou a mala, o outro o olhava atônito.

- Eu não acredito! – disse, a voz doce demonstrando irritação. – Por que está mentindo pra mim Yuki? Eu sei que não sou uma brincadeira, que sou muito mais que isso... Nós nos amamos. – segurou o outro, que tentava passar pela porta.

- Não, você talvez possa me amar. Mas, eu não te amo! Estou indo embora, com ela... – os olhos violetas do outro se assustaram e deram passagem a Yuki.

Yuki sentiu seu coração apertar ainda mais... Era o melhor que ele fazia? Deixa-lo sozinho?

Parou.

O tempo de voltar para trás e dar o último beijo no garoto... No seu garoto, no seu Suichii.

Apenas um beijo...

- Nossa despedida. – disse tornando a correr, rumo a saída, deixando para trás um Suichii assustado, com os olhos cobertos de lágrimas.

Shindo Suichii ainda olhou o quarto vazio a sua volta, algumas roupas jogadas na cama, roupas esquecidas... O que ele lhe dissera mesmo? Estava indo embora... Embora com ela? Mas, ela não estava com Hiro?

Não quis, nem tentou entender... Deixou o corpo cair devagar, ficando de joelhos no chão, segurando uma camisa que ficara para trás. Tinha algo errado ali... Era só isso que ele imaginava.

Quantas horas que ficara no chão frio? Nunca soube ao certo, apenas que uma coragem súbita o fez levantar. Precisava confirmar aquela história, precisava saber o que realmente acontecia.

Caminhou em direção ao escritório, como que por instinto, abriu a porta devagar... Talvez, esperasse que ele estivesse ali e que tudo não passara de uma brincadeira sem graça. Mas, ele não estava ali. Tudo o que viu foram papéis jogados no chão e uma mancha de sangue sobre eles.

Gelou!

Yuki passara mal antes de sair, muito mal, pelo que podia notar pelo estado do escritório. Caminhou devagar e passou a observar os papéis jogados no chão. Um, em especial, lhe chamou a atenção.

A cor amarelada do papel, o timbre do laboratório, as marcas de sangue que Yuki deixara nele. Abriu devagar, leu... E conforme lia, mais nervoso ficava e mais as lágrimas lhe escorriam pela face. A sentença final daquele exame era definitiva.

- Soro Positivo! – disse em choque.

Continua...