— Para qual igreja, mocinha?

Lily acomodou-se no banco de trás, alisando o vestido branco e simples ornamentado com rendas no busto. Viu seus próprios olhos verdes pelo retrovisor do taxista que a observava com curiosidade. Ele devia achá-la louca ou digna de pena: quantas noivas chegavam ao próprio casamento de táxi? Não tinha amigos? Não tinha família?

"Talvez eu não tenha", pensou ela. "Será que ainda posso mudar isto?"

— Senhorita? Para qual igreja? — repetiu ele.

— Antes de qualquer coisa, preciso buscar o meu convidado mais importante. O senhor conhece a Rua da Fiação?

O táxi preto cruzou ruas e avenidas naquela tarde nublada. Era Sirius, seu padrinho de casamento, que devia levá-la até o local da cerimônia. No último instante, Lily lhe enviou uma mensagem através de seu Patrono em forma de corça: "Irei até a capela sozinha. Não se preocupe".

"Uma capela", refletiu com amargura. "Não temos amigos suficientes para encher uma igreja. Minha irmã recusou o convite, e meu melhor amigo...". Ela fechou os punhos com força na seda do vestido.

Quanto mais se distanciavam da cidade, mais estreitas e modestas as ruas se tornavam. Às costas de um rio muito sujo, Lily avistou a alta chaminé da fábrica abandonada apontando para o céu. A desolação daquele lugar sempre causara arrepios em sua irmã Petúnia. Podia ouvir sua voz aguda: "Mamãe me pediu para procurá-la. Nunca mais me obrigue a voltar neste lugar! Você e aquele garoto seboso ficam correndo por aí como dois ratos!".

— Bem, Túnia, parece que vou me sujar como nos velhos tempos! — Lily disse para si mesma, rindo. Adoraria ver a expressão dela se a visse entrar na capela com roupas imundas como um lençol velho.

— O quê? — perguntou o taxista enquanto passavam por casinhas com janelas quebradas, fechadas com tábuas.

— Nada. É ali, senhor. No final da rua.

O homem estacionou, prontificando-se a esperá-la ("O atraso de uma noiva não pode ser demais ao ponto de deselegância!", ele recomendou). Lily saiu do carro e respirou fundo algumas vezes para se acalmar. Queria, precisava ver seu amigo mais uma vez, mesmo que ele não quisesse acompanhá-la, mesmo que seus olhos negros faiscassem de desprezo ao pousarem em seu rosto. Um último olhar para alguém que teve tanta importância em sua vida.

— Preciso de você comigo, Sev. Muito. — murmurou para si mesma enquanto se dirigia até a porta.