you belong in my dearest memories
Snape nunca teve muitas memórias alegres para guardar. Também nunca teve pessoas com quem as quisesse compartilhar.
Se ele fizesse um esforço, podia se lembrar de uma época em que os dias eram quentes, o céu era claro, as árvores eram enormes (suas raízes sempre fizeram o esconderijo perfeito), e o sol iluminava todos os caminhos. O vento soprava o perfume das flores de encontro à sua face, e ele se sentia simplesmente bem por estar onde estava. Mas nada seria tão agradável assim se ela não estivesse ao seu lado.
Pequenos insetos passeavam naturalmente entre os dois e cruzavam por cima deles. Mas era aquele cabelo alaranjado que prendia sua atenção. Deitada na grama, os longos fios se esparramavam no solo, fazendo-lhe um halo escarlate ao redor do rosto fino e sardento. O sol não precisava se pôr para que Severus soubesse a exata cor dos cabelos de Lílian então. Ele podia vislumbrá-los perfeitamente e inclusive imaginar como seria o toque sob seus dedos. Mas ele não iria tão longe assim. Lily era preciosa demais para ser tocada dessa maneira. Ela era a única capaz de compreender seus silêncios, suas palavras ríspidas e de buscar o próprio Snape por trás daquele olhar insensível; ela fora a única que não o olhou com raiva ou receio. Ele podia confiar a Lily coisas que certamente não contaria a mais ninguém, sem precisar temer suas reações. O que Severus sentia por ela – ele sabia – ia muito além da amizade de criança, e ele tinha a esperança de que isso fosse para sempre. Era como se eles tivessem sido feitos do mesmo tipo de barro especial, e isso os unia de uma forma inexplicável.
Seus caminhos haviam se cruzado ao acaso e, desde então, tudo o que enfrentaram juntos se tornou ecos de histórias não contadas. Snape sempre teve medo de perder a menina dos olhos verdes e por isso as memórias com ela eram as únicas que realmente lhe importaram e as que ele guardaria somente para si. O passado era o único resquício de Lily que ele ainda possuía, e Snape não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Seu coração fica cada vez mais apertado – e ele sabe que não é de tristeza. Seu peito dói porque todas as memórias lhe trazem alegria, e isso é tão raro que é como se tocasse num ponto extremamente sensível. Ele precisa se sentar. Talvez seu corpo esteja farto de correr atrás do passado e sua mente esteja esgotada de pensar naqueles olhos verdes tão próprios. Mas ele não quer esquecer e afastar estes pensamentos como sempre fazia. Snape quer se entregar a eles e abraçar aquilo que lhe é mais precioso. Já faz tempo que ele habita um mundo frio e incolor, onde lágrimas não têm força contra as maldições. Ele quer reencontrar aquilo que perdeu e voltar para quando a vida ainda fazia sentido. Quer voltar para o tempo de suas memórias, porque lá Lílian Evans estaria sempre viva.
(Now I know we'll carry on.)
N/A: Ficou meio largada, mas é o que uma estreia de HP me faz.
