Figuras Sagradas
Naked in midwinter magic
Lies an angel in the snow
The frozen figure crossed by tracks of wolves
An encounter symbolic yet truthful
With a hungry choir of wolves
An agreement immemorial to be born
Quando ela decidiu deixar Braavos jamais poderia imaginar que acabaria em Ponta Tempestade. Se esgueirar pelas sombras do castelo que foi o lar dos Baratheon por gerações foi algo simples, conseguir trabalho nas cozinhas também e, ironicamente, fez com que ela se lembrasse dos dias em Harenhall.
Ela levava recados, esfregava o chão e quando não havia muito o que fazer vagava pelos estábulos. Naquela noite em particular, ela caminhou até o bosque sagrado, apenas para ouvir o som do vento passando entre os galhos da árvore-coração. Trazia alguma paz falar com os deuses antigos.
Arya se sentou ao pé da árvore, encarando o rosto esculpido, o mesmo rosto para o qual seu pai havia rezado tantas vezes e não foi capaz de salvá-lo da morte. Mas deuses eram deuses e devem ser respeitados ainda que ela não entendesse os planos misteriosos que estavam traçados para ela. Ás vezes ela até duvidava da existência dessas coisas, mas ensinaram-na a rezar quando pequena e ela manteve o habito, porque até agora ela havia sobrevivido e aparentemente este era um sinal da bondade dos deuses.
Ela ouviu da boca das criadas a história daquele bosque. Antigamente não passava de um lugar abandonado que ninguém se importava, já que os Baratheon eram seguidores da religião dos sete, mas quando Robert Baratheon estava noivo de Lyanna, ele ordenou que o lugar fosse revitalizado em honra à noiva. Enquanto Renly governou, ele manteve o bosque porque era um lugar agradável e agora o novo Lorde de Ponta Tempestade mantinha a tradição, mas ninguém sabia exatamente o porque.
Ela não sabia até então quem era o lorde, sabia apenas que era jovem e muitas das criadas suspiravam por ele as escondidas. Arya acha irritante a maior parte do tempo ter de ouvi-las suspirar por algum lordezinho qualquer, como Sansa costumava fazer. Não importava quem vivia ali, contanto que não se metesse no caminho dela.
Aquele lugar havia sido feito para homenagear sua tia, uma Stark como ela, e isso bastava para que Arya sentisse que era bem vinda ali. Ela fechou os olhos e tocou o tronco nodoso. Não havia flores vivas ali por causa do inverno, mas havia um perfume distinto ainda impregnado. Sândalo...
Foi quanto o som de passos bruscos fez com que ela se virasse para encarar a figura que se aproximava na noite. Ela levou a mão até o cabo de Agulha e se preparou para espetar qualquer um que se metesse na frente dela, mas aquela silhueta era familiar de mais para ser ignorada.
Foi com estranheza que se olharam. Ele parecia pelos menos cinco centímetros mais alto do que ela se lembrava e os músculos eram ainda mais impressionantes agora. A barba por fazer e os cabelos desarrumados tornavam-no mais ameaçador do que sempre foi. Gendy havia se tornado um touro, quase que literalmente.
- Achei que estivesse vendo uma miragem. – ele disse sério e a voz era mais grave do que ela se lembrava – Mas vi a sombra de uma Doninha, exatamente como suspeitava. – ela riu do comentário e ele a acompanhou.
- Queria me matar de susto? Eu poderia ter te furado inteiro antes de reconhecê-lo. – ela disse relaxando mais o corpo – Achei que ainda estivesse com a Irmandade. É o ferreiro de Ponta Tempestade agora? – sem perceber ela estava sorrindo. Era bom encontrar um rosto familiar depois de tanto tempo.
Gendry coçou atrás da cabeça e pareceu sem graça. Daquele jeito ele não parecia tão intimidador e sim um rapaz jovem e um tanto ingênuo.
- É uma longa história. – ele disse sem jeito – Quase tão longa quanto a sua, eu acho. – ele a encarou pelo canto dos olhos. A atitude dele fez com que ela notasse algo estranho. Gendry normalmente usava roupas rústicas, próprias para aprendizes de forja, mas mesmo no escuro ela ainda conseguia distinguir a diferença entre um avental de couro fervido e uma túnica de veludo escuro. As botas eram impecáveis e o cinto que ele usava preso à cintura parecia ter detalhes em ouro. Bordadas em suas vestes estavam a figura de um veado coroado e um touro. Não eram roupas de um ferreiro de forma alguma.
- Quem realmente é você? – ela perguntou arqueando a sobrancelha – Por que está usando o símbolo dos Baratheon? – ele soltou uma risada nervosa.
- Você entende mais dessa história de símbolos do que eu. – ele disse sem jeito – Acho que as respostas para essas perguntas acabam no mesmo ponto. Meu nome sempre foi Gendry, mas acharam por bem acrescentar o sobrenome Baratheon a ele.
- Como? – ela perguntou ansiosa.
- Por causa do meu pai. – ele disse estufando o peito e realçando ainda mais os símbolos em suas vestes – Eu sou o filho de Robert Baratheon, o primeiro de seu nome. Sou o senhor de Ponta Tempestade, ou pelo menos foi isso o que me disseram. – ela precisou de um instante para assimilar a informação.
- E também herdeiro do trono, agora que os Lannister caíram. – ela completou. A respiração ficou em suspenso por um momento.
- Há muitos reis para um trono só. Eu não quero me sentar nele, mesmo com tanta gente dizendo que eu devo. – ele a encarou sério – Eu sou só um ferreiro, não um rei. Já terei trabalho suficiente sendo um lorde.
Dulcet elvenharps from a dryad forest
Accompany all charming tunes
Of a sacrament by a campfire
A promise between the tameless
And the one with a tool
Tonight the journey from a cave begins
Ela não o questionou quanto a isso. Entendia perfeitamente a idéia de não se encaixar num determinado papel. Sansa sempre foi uma lady, mas Arya vivia aos tropeços com os deveres da nobreza. Não era sua natureza agradar e seguir ordens, não sabia cantar, nem recitar versos. Sua vida era regida por impulsos e pelo sangue do lobo que corria em suas veias. Gendry não era mais rei do que ela era lady.
Arya sentiu uma simpatia ainda maior por ele. Gendry fez com que ela se lembrasse de Jon e da forma como eles se entendiam por serem os excluídos da família. Nunca se encaixando em lugar nenhum e sempre prontos para compreender um ao outro. Ela olhou novamente para a árvore-coração.
- Por que cuida do bosque? – ela perguntou num tom vago, mudando totalmente de assunto. Gendry ergueu os olhos para o rosto esculpido.
- Eu nunca aprendi a rezar aos sete, não sei cantar para eles e nem gosto do cheiro de incenso. Os deuses antigos sempre pareceram menos complicados. – ele respondeu sério – Dizem que meu pai construiu este lugar para uma donzela que amava. Uma donzela do Norte, que rezava para os deuses antigos. – ele a encarou e sorriu para ela – Manter o bosque acabou trazendo você até aqui, então imagino que isso seja uma coisa boa.
Ela não soube o que responder. Gendry desviou os olhos e ficou encarando a árvore. Ele tinha um bom coração e era um amigo leal, como ela havia comprovado várias vezes no passado, mas naquele momento ela o amou por aquele gesto. Ainda que não fosse algo que ele tivesse feito para ela, Arya considerou aquilo como um presente quase tão valioso quanto Agulha.
- O que está fazendo no castelo? – ele quebrou o silêncio por fim.
- Esfregando seu chão, ao que parece. – ela disse séria e ele riu.
- Uma vez Doninha, sempre Doninha. – ele disse com um aceno negativo de cabeça – Uma senhora não limpa o chão.
- Não sou uma senhora. – ela retrucou.
- Seu pai era um lorde, você cresceu em um castelo e nós já tivemos esta conversa antes. – ele disse com um sorriso simpático – Ninguém vai persegui-la aqui se descobrirem quem é. Enquanto eu for o Lorde de Ponta Tempestade e senhor deste lugar você estará sob minha proteção, mas não como uma criada qualquer. Aqui você será uma convidada a altura de seu nascimento. Talvez seja hora de voltar a ser Arya Stark.
Arya fechou os olhos por um momento. Ás vezes tinha dificuldades de reconhecer o próprio nome e o que ele significava. No passado o pai dela era um lorde, seu irmão Robb foi lorde depois dele e assim por diante. Ela ouviu os rumores de que Bran havia ressurgido das cinzas, com uma história mirabolante sobre como escapou do ataque dos Bolton e dos Greyjoy. Agora ele se sentava no cadeirão de Winterfell e o que se dizia é que o exército do Norte estava se reagrupando novamente, mas ninguém sabia ao certo por que.
Talvez ela devesse aceitar a hospitalidade de um velho amigo e depois pedir por uma escolta segura até Winterfell, onde era seu lugar. Uma impostora havia se passado por ela e por muito pouco o Norte não foi entregue ao bastardo de Roose Bolton justamente porque achavam que ele estava casado com a verdadeira Arya Stark. Talvez fosse o momento de acabar com qualquer outra farsa neste sentido e apenas retomar seu lugar ao lado da família.
- Você me mandaria de volta a Winterfell? – ela perguntou solene. Gendry ponderou por um longo minuto.
- As estradas até o Norte são perigosas agora. Seria arriscado tirá-la daqui. – ele disse sério – Mas eu avisaria a sua família de que está em segurança e no momento Ponta Tempestade está em melhores condições de mantê-la protegida do que as fortalezas no Norte. E quanto for prudente, eu a mandarei de volta pra casa.
Ela encarou a árvore-coração mais uma vez. Havia razão no que ele dizia, mas ao mesmo tempo não lhe agradava a idéia de viver na dependência dele, ainda que fossem amigos. Estranhamente, ela sentiu o peso daqueles anos turbulentos pesar sobre suas costas e tudo o que ela mais queria era poder se dar ao luxo de ser a irmã de alguém, a filha de alguém, ou a amiga de alguém que pudesse protegê-la do mundo. Uma cama confortável, comida boa, proteção e a chance de ser frágil de novo.
Um nó se fez na garganta dela, suas mãos tremiam e com espanto ela levou a mão aos olhos úmidos. Ela estava chorando pela primeira vez em anos e seu coração doía de saudade. Ela queria seu pai e sua mãe de volta, queria abraçar os irmãos e, por tudo o que era mais sagrado, ela queria ver Jon Snow outra vez e sentir a mão dele bagunçando seu cabelo. Arya não sabia quanto tempo ao certo vinha guardando tudo isso, mas obviamente era tempo de mais.
I want to hunt with the tameless heart
I want to learn the wisdom of mountains afar
We will honor the angel in the snow
We will make the streams for our children flow
Ela sentiu um par de braços fortes se fecharem ao redor dela num abraço desajeitado e antes que percebesse Gendry fez com que ela encostasse a cabeça no tórax dele e apenas chorasse. Arya o abraçou, como se o chão estivesse prestes a se desfazer de baixo de seus pés. Ele acariciou o cabelo dela.
- Eu não sei o que dizer. – ele disse baixo, com sua voz grave – Não sei lidar com uma mulher chorando. Grite, tente me bater, seja a Doninha que sempre foi, mas não chore. Eu não sei o que fazer com você assim. – e ele estava sendo sincero. Era tão fácil ceder a tudo aquilo que ele estava oferecendo.
- Não precisa fazer nada. – quando ela disse isso, Gendry se calou e num movimento preciso ele a pegou no colo como se não passasse de uma boneca de pano. Ela escondeu a cabeça contra o tórax dele, enquanto o senhor de Ponta Tempestade a levava de volta para o castelo.
Enquanto ele caminhava pelos corredores do castelo os criados lançavam olhares estranhos a ele e a garota magricela que ele carregava nos braços. Sussurravam entre si comentários venenosos a respeito de como ele se parecia com o pai. Gendry sabia que o antigo lorde teve mais mulheres nos braços do que as más línguas eram capazes de contar, mas aquela era Arya e ele devia algum respeito a ela.
Levou-a para um dos quartos que normalmente eram usados por hóspedes, deitou-a na cama e a cobriu com peles. Ela sempre foi uma garota forte, mas por algum motivo que ele desconhecia, ela parecia mais desesperada por ajuda do que ele poderia imaginar. Gendry pensou que talvez nem mesmo ela tivesse consciência daquilo e aquele breve momento foi tudo o que ela precisou para desmoronar. Se ela precisava de proteção e de um ombro para chorar, ele poderia dar isso a ela. Talvez os deuses antigos a tivessem trazido até ele por este motivo.
Ela acabou caindo num sono exausto enquanto ele a observava em silêncio. Com Arya por perto talvez ele conseguisse aprender melhor o que o Maester tentava ensinar a ele e com certeza ela seria uma companhia mais divertida do que o septão, o castelão e os empregados. Eram várias as pessoas que dependiam dele agora e Gendry não fazia a menor idéia de como ser um lorde. Talvez Arya soubesse dessas coisas.
Quando a noite já ia alta, ele deixou o quarto onde ela dormia. Caminhou pelos corredores tentando encontrar seus próprios aposentos, mas antes que conseguisse Maester Rodrick o interceptou, causando um sobressalto ao jovem lorde.
- Meu senhor. – o velho fez uma breve reverência.
- O senhor me assustou, maester. – Gendry disse rapidamente – Há algum problema?
- Não senhor, eu estava apenas cuidando dos corvos quando fui informado de que estava com uma jovem em um dos quartos da torre. – o velho disse – Sei que não é da minha conta, mas o senhor devia evitar envolvimentos com criadas e pensar em arranjar uma esposa de bom nascimento.
- Por que obviamente meu nascimento não é bom o bastante para este castelo e as terras que colocaram ao meu comando. – Gendry retrucou de forma impertinente – Eu não me esqueci de onde vim, mas seria bom se o senhor se lembrasse de que eu sou o senhor do castelo, quer goste ou não. Minha convidada não deve ser incomodada em seu sono e enquanto for do meu agrado será tratada como uma senhora de alto nascimento.
- Isso seria muito inapropriado, senhor. – o maester tentou argumentar. Gendry o encarou com olhos duros.
- Vai fazer o que eu disse e não quero mais ouvir a respeito. Não devia estar discutindo com o senhor meus motivos, mas acho que precisarei de um de seus corvos para enviar uma mensagem. – Gendry disse firme. O maester concordou com um breve aceno de cabeça.
- E para quem devo enviar a mensagem, meu senhor? – o velho perguntou. Gendry respirou fundo e passou a mão pelo cabelo.
- Ao lorde de Winterfell. O rapaz Stark. – ele disse sério. O maester encarou seu senhor com uma boa dose de surpresa.
- E o que eu devo dizer ao Lorde Stark em Winterfell? – o homem perguntou.
- Diga que sua irmã, Arya Stark, é hospede em Ponta Tempestade, que se encontra viva e em perfeita saúde. – Gendry respondeu convicto – Tão logo seja viável, eu a enviarei de volta ao Norte, para sua família, em sinal de respeito e amizade. – o velho encarou Gendry com o rosto perplexo e o lorde teve de conter sua satisfação em calar o maester desaforado. – Feche a boca, senhor. É possível que acabe perdendo o maxilar desse jeito.
- Meu senhor, como tem certeza de que ela é a verdadeira lady Stark? – o velho insistiu em sua curiosidade.
- Eu conheci o pai dela quando ainda martelava ferro para o meu antigo mestre. Eddard Stark sabia quem eu era e dizem que foi o melhor amigo que o senhor meu pai teve em vida. Quando ele caiu em desgraça e foi decapitado nos degraus de Baelor, eu conheci um garoto órfão e magricela chamado Ary, que na verdade era uma garota com sérios problemas que um homem da Patrulha queria ajudar em honra ao pai da menina. O pai dessa menina acabara de ser decapitado e logo todos os soldados Lannister estariam atrás dela, assim como estariam atrás de mim. – Gendry disse sério – Aquela garota era Arya Stark e é a mesma garota que agora está dormindo naquele quarto. Da próxima vez que decidir me questionar, eu o mando de volta para Cidadela e peço os serviços de outro maester, de preferência um que seja mudo.
- O senhor de Winterfell vai querer provas de que está falando a verdade. – o maester falou e Gendry corou por ter se esquecido de algo tão óbvio – Está bem. Diga a ele que a moça que está aqui diz ter tido um lobo gigante como animal de estimação quando criança. O nome do lobo era Nymeria. Isso deve ser o suficiente.
Gendry se preparou para deixar o maester para trás, mas o velho continuou seguindo-o com passos apressados por um longo percurso até que o jovem senhor o encarou mais uma vez.
- O que quer agora? – ele perguntou de forma aborrecida.
- Meu senhor, é meu dever servir como seu conselheiro também. – o velho respondeu ofegante – Se esta jovem é a irmã desaparecida de Lorde Stark, então talvez o senhor devesse mantê-la aqui, ao invés de devolvê-la a família.
- Que tipo de idiotice é esta que está falando? – Gendry estufou o peito e sua postura agora lembrava a de um touro enfurecido. O velho se encolheu um pouco.
- Pense bem, senhor. – ele disse – Uma aliança com a casa Stark seria extremamente desejável. A jovem é de elevado nascimento e o plano de unir as forças de Ponta Tempestade com o Norte é antigo. Seria um casamento vantajoso para ambas as partes.
- Ela deseja voltar para casa e eu a ajudarei nisso tanto quanto possível. – Gendry disse sério – Desconfio que ela preferiria me atravessar uma espada do que se casar comigo.
- Como quiser, meu senhor. – o maester fez uma breve reverência – Este foi o plano de seu falecido pai. Ele tentou casar a irmã mais velha dela com aquela abominação chamada Joffrey para unir as duas casas, mas o próprio rei Robert uma vez quis se casar com uma Stark. – o velho disse – Aquele bosque sagrado que meu senhor tanto gosta foi feito para agradar Lyanna Stark, a tia da garota. Talvez este seja um bom presságio.
Wrapped in furs beneath the northern lights
From my cave I watch the land untamed
And wonder if some becoming season
Will make the angel melt in shame
Gendry ignorou o comentário infeliz do velho maester e voltou a seguir o caminho que levava ao seu quarto. Uma vez lá, ele se livrou das roupas desconfortáveis e se jogou na cama usando penas as calças e uma camisa folgada.
Era uma idéia absurda pensar em se casar com ela, por mais que ele reconhecesse a necessidade de arranjar uma esposa de bom nascimento. Toda essa história de ser um lorde e ter obrigações a cumprir dava muito mais trabalho do que ele poderia imaginar. Mais de uma vez ele sonhou com a época em que martelar placas de ferro e dobrar aço eram o bastante para ele. Mas ele não era mais um aprendiz de armeiro, era o maldito filho bastardo de Robert Baratheon, o rei gordo, bêbado e mulherengo que provavelmente nem se lembrava do número de bastardos que colocou no mundo quando morreu.
Ele fechou os olhos e lembrou-se da época em que viveu em King's Landing, do dia em que se juntou ao grupo de Yoren e encontrou Arya. Ela era uma coisinha desaforada e encrenqueira naquela época, mas ela tinha algo que o fazia segui-la e atender seus pedidos até quando ele acreditava que aquelas eram escolhas erradas.
Uma vez ela disse que se ele a levasse pra casa, seu irmão daria a ele uma boa posição e Gendry desdenhou da oferta dizendo que ele estaria colocando ferraduras nos cavalos dela, enquanto Arya cavalgaria como a orgulhosa filha de um lorde. O mundo era irônico e agora ela esfregava o chão do castelo dele. Não era algo digno dela, mesmo que ele se lembrasse de quando ela fazia o mesmo em Harenhall. Ela ainda era uma senhora e ele ainda tinha suas boas maneiras.
Ela era a filha de lorde mais estranha que ele já tinha visto na vida, mas ao mesmo tempo era fácil falar com ela. Arya sempre se colocou numa posição igual à dele e quando ele tentou tratá-la com respeito ela tentou lhe acertar um murro. Ela era divertida e Gendry agora percebia que ela foi sua primeira amiga de verdade.
Gendry soube que ela rezava para os deuses antigos do Norte quando estavam em Harenhall. Ele a via se esgueirando até o bosque sagrado e conversando com as árvores quando todo resto do castelo estava dormindo. Quando chegou a Ponta Tempestade e encontrou ali um bosque sagrado também, ir até lá era um meio de se lembrar dela, mesmo que de forma inconsciente.
Arrumou o lugar onde os deuses-árvores viviam e se ajoelhou diante deles um punhado de vezes. O silêncio e o vento frio que passava por entre as folhas eram familiares e traziam paz. Ele rezou por ela, para que ela estivesse viva e bem. Os deuses eram bons e a levaram até lá. Tudo o que Gendry podia fazer era agradecê-los por terem protegido sua amiga e a levado em segurança até ele.
I want to hunt with the tameless heart…
(Sacrament of Wilderness, Nightwish)
Nota da Autora: Pois é, mais uma Gendry e Arya, mas não se desesperem, Jon fará suas aparições (só pq eu quero, posso e tenho um penhasco por Lorde Snow). Eu espero que gostem e comentem. Não sei dizer quantos capítulos a fic terá, mas é uma long, então me ajudem com os meus bloqueios clicando naquele botão ali embaixo e deixando um comentário. No mais um beijo pra todos e só pra deixar claro: NENHUM DOS PERSONAGENS ME PERTENCEM (com exceção dos OC) TÃO POUCO O UNIVERSO DAS CRÔNICAS DE GELO E FOGO (se pertencesse eu não estaria aqui. Eu estaria fazendo exibição da minha figura nas praias gregas, esquiando na Suíça, paquerando na Inglaterra, bebendo ma Irlanda, cantando um italiano, ou qualquer coisa do gênero). Enjoy.
Bjux
Bee
