Sentado, olho o céu negro como o carvão, adornado com milhões de pontinhos brilhantes que guiam o destino do mundo e dos que ele o habitam, pontinhos que traçaram o meu destino. Sentado escuto atentamente o silêncio que traz os risos contagiantes das crianças que trato como filhos, risos felizes, despreocupados e inocentes, porém repletos de tristeza, sofrimento e carência. Foco a minha constelação, touro, como brilha a enorme estrela Aldebaran com aquele brilho tão próprio, tão bonito, tão amigo. No meu profundo íntimo agradeço-lhe com todas as minhas forças por ter colocado na minha vida estas pérolas que iluminam as minhas noites e clareiam ainda mais os meus dias.

Crianças esquecidas pela vida e abandonadas pelo destino entregues à sua coragem e sorte. Todavia, eu Aldebaran contornei os seus destinos e acolhi-as como filhos nos meus enormes e aconchegantes braços. Para mim foi uma grande honra ou talvez mesmo uma dádiva dos céus.

Porém, por mais determinação que eu tenha em contornar o destino ele parece incontornável e destrói tudo aquilo que já construi, rompe com frieza os quentes laços que nos unem. Uma nova Guerra Santa plana sobre nós como uma gigante ave de rapina, enfurecendo as suas garras em direção ao futuro. As minhas pérolas terão que partir para longe, para um lugar seguro onde a morte não as alcance, onde o desespero não as encontre, onde o amor brote do chão como flores. Onde será esse sítio maravilhoso?

A frustração rasga-me o coração como a lâmina de um fino punhal. Espero que algum dia me possam perdoar. O perdão é algo tão insignificante, tão falacioso, tão mascarado que apenas serve para os humanos desculparem os seus monstruosos erros. Porém, apenas me resta pedir perdão. Eu cultivei esperanças de uma vida melhor nos vossos nobres e puros corações, eu plantei amor nos vossos espíritos destruídos, eu devolvi-lhes a vontade de viver, eu esculpi nos vossos rostos angelicais a luz resplandecente dos vossos sorrisos, eu trouxe de volta à vossa mente a coragem de lutar, eu ensinei-vos o significado da palavra pai, eu entreguei-vos ao calor humano. E, num ápice tudo isso derrete como um frágil e frio floco de neve. Perdoem-me minhas pérolas!

As lágrimas escorrem pelo meu enorme rosto, espero que todas elas sejam estrelas para vos guiar na vossa jornada. Desejava ardentemente que vivessem toda a vossa inocente infância em toda a sua iluminada plenitude, porém apenas a vontade não chega para enfrentar o destino e a vossa segurança é mais importante. Como gostava que continuassem a voar na suave brisa dos sonhos! Como gostava que continuassem a saltar através das estrelas douradas da imaginação! Como gostava que continuassem a mergulhar nas correntes oceânicas da fantasia! Como eu gostava que continuassem a pintar lindas paisagens com as águas coloridas de um qualquer riacho cristalino! Como eu gostava que continuassem a dançar nos infindáveis arcos de alegria dos arco-íris! Como eu gostava que continuassem a dormir numa caminha quente e fofa num protector aglomerado de nuvens violeta! No entanto, tudo isto não passa de uma miragem plantada num oásis de felicidade.

Os rostos alegres de todos eles surgem diante de mim, como estão felizes e esperançados. A luz da vontade e da força ainda brilha nas suas almas claras e transparentes, eles ainda acreditam no futuro. Se eles acreditam eu também acredito. Não são apenas crianças que aprendem lições de vida com os adultos, pelo contrário. Eu acredito!

O futuro está apenas a curtos passos de nós. Já escuto do outro lado do tempo a suave melodia entoada pelos milhares anjos celestiais. Ainda existe esperança, luz e verdade no universo.