O pequeno menino de cabelos azuis estava exausto. Havia, de fato, mais massa de biscoito em seu rosto- e no chão - do que na assadeira a sua frente. Na verdade, ele só conseguira o suficiente para um biscoito, mas era só o que ele precisava. Botou a assadeira, com cuidado, dentro do gigante forno da cozinha d'A Toca. Enquanto esperava ansiosamente o estalo que indicava que seu maior orgulho estava pronto, ele pensou no que falaria para Victoire. A linda menininha de cabelos loiros de quem ele tanto gostava. Seus olhos, por um instante, focalizaram nuvens negras no céu, mas que logo foram esquecidas, e deram lugar a lembrança de que ele deveria se limpar. Com pequenos pulos,ele conseguiu alcançar o pano que Molly pendurara acima de sua cabeça,seus pequenos dedinhos amarrotando o tecido fino e úmido. Limpou o rosto e pensou que depois limparia o chão da cozinha. Seus olhos cintilavam a medida que via o biscoito dourando na frente do fogão. Ele planejara aquele momento já havia dias,e mal podia esperar para que acontecesse.O barulhinho insistente e esperado tirou-o de seus devaneios. Ele então, com o mesmo pano úmido, tirou a assadeira do forno. Contemplou sua obra por alguns segundos e então pegou confeitos coloridos e começou a decorar o pequeno biscoito.
Era um dia fresco de verão, a brisa suave corria livre pelos jardins d'A Toca. Os Weasley se reuniam no lado oposto ao que a pequena criança de cabelos loiros se encontrava. Ela corria e saltitava contente, parecendo quase voar. Seus olhos claros, levemente escondidos pela franja loira, brilhavam toda vez que seus pés saiam do chão, na esperança de que eles não voltassem a tocá-lo. Esse fora o sonho da menininha desde que entendera o que era magia. Voar sem vassoura. Em um de seus pulos alegres em direção ao infinito ela caiu. Seu delicado foguete tombou de volta a Terra. Victoire, então, sentou-se no chão e fitou o machucado - uma manchinha ralada, vermelha e dolorida contra sua pele alva -. E chorou. Chorou baixinho, silenciosa, pois a mãe escandalosa daria um ataque, já que uma pequena gotinha de sangue invadiu o tecido do vestido rosa que usava naquela tarde. Ainda sentada, contemplando chorosa o seu joelho, ela ouviu passos contra a grama verde que se estendia atrás de si. A garota viu Teddy, singelo, chegar perto dela com algo nas mãos. Ele desamarrou a fita azul, que vou sem vassoura pelo céu tão azul quanto ela mesma. Ele, então, estendeu as mãos em palma aberta e entregou um biscoito confeitado para a garota de olhos molhados, que por fim, deu uma mordida. Seu sorriso de aprovação escondia as lágrimas teimosas, e era exatamente o que Teddy queria ver. Sua felicidade era plena, e seus chocantes cabelos azuis passaram para um tom púrpura avermelhado, para a surpresa da garotinha, que gargalhou contente enquanto devorava o biscoito. Por fim, ele tirou um curativo de dentro do bolso do macacão e colou sobre o machucado de Victoire. Ela olhou-o sorrindo, enquanto a última lágrima insistente corria por sua bochecha, e estendeu sua mão a ele. Teddy a pegou e ajudou Victoire a se levantar. Ele por um instante pensou ver novas lágrimas brotando nas bochechas rosadas de Victoire, mas era só a chuva, que chegara ansiosa, querendo brincar também.
E então eles correram e saltaram felizes pela toca, sonhando voar sem vassoura pela eternidade.
