1. Figuras de linguagem (Brasil) ou figuras de estilo / figuras de Retórica (Portugal) são estratégias literárias que o escritor pode aplicar no texto para conseguir um efeito determinado na interpretação do leitor.
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Eu ainda era pequeno quando isso começou. Ou, melhor dizendo, quando eu comecei a compreender a grandeza da linguagem que nos cerca. Como era complicado não apenas entender as palavras, mas pegar no que mamãe, muito gentilmente e com um tom de riso gozador na face, chamava de entrelinhas.
Foi aí que eu comecei a entender que o "Que bonitinho" dela quando eu quebrava alguma coisa não era exatamente um elogio.
Eu sabia que o tom dela não era o mais carinhoso do mundo, tudo bem. Mas ela me pegava no colo logo em seguida, com um aceno de varinha consertava meu 'pequeno grande estrago' e voltava a me contar a história de como meu ancestral conseguira aquela capa que ela não me deixava usar – ela me contara essa história também. Algo como "James, quando você tinha quatro anos desapareceu por quase um dia inteiro, uma grandeza diretamente proporcional à quantidade de comida que desaparecia do armário e de risadinhas que você dava por aí. Mas, mesmo que soubéssemos onde você estava, não vou deixar seu senso de grandeza subir de novo".
Quando eu voltei da escola no meu primeiro ano, e isso só para citar um exemplo, a senhora Potter jogara toda a culpa pelas minhas dezenas de detenções nessa cena de impunidade.
A primeira vez que eu reconhecia, de verdade, o que era ironia fina. E a primeira vez também que eu, decididamente, achava graça em alguma coisa sem ser seres do sexo oposto ou meu crescente interesse por álcool e cigarros trouxas.
E eu estava apenas iniciando, veja só, porque ainda tinha mais.
Muito mais.
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Eu tinha três anos quando vovó soltara que eu seria a pessoa mais 'exageradamente exagerada' que ela poderia conhecer. Seis quando eu descobri o poder dos advérbios, e nove quando Petúnia, com um sorrisinho de escárnio nos lábios e um lápis tamborilando nos dedos enquanto fazia a lição, que eu tinha tudo para ser uma pessoa hiperbólica.
A pele exageradamente branca, ela dissera. Os olhos incrivelmente verdes e os fios entre o liso e o ondulado pendendo para o ruivo mais forte que qualquer um já vira na face da Terra.
É isso aí. Eu descobrira de um jeito amargo e decepcionante como as palavras más e cruéis do ser humano podem se esconder por detrás de sorrisinhos e expressões com fins traiçoeiros e, aparentemente, sem lucro algum para quem fala sem ser o prejuízo para quem escuta.
O vil prazer em causar dor em alguém, pelo visto. E a covarde determinação de quem sofre com palavras más de irmãs trouxas de provar que sabe mais que ela.
É, essa sou eu. Devo me apresentar?
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2. Subdivididos em figuras de palavras e figuras de construção, mas com a mesma tarefa de ajudar e complicar, simultaneamente, a vida humana.
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É, essa idéia é maluca, mas eu, quando a tive, achei extremamente divertido procurar e pesquisar sobre como a língua influi no nosso cotidiano ;) E eu, que me achava mestre em português - embora odeie - descobri figuras de linguagem que ninca antes tinha ouvido falar. Por exemplo, eu não fazia a menor idéia que nós tínhamos um nome em português para 'Flashbacks'.
Espero, sinceramente, que apoiem essa idéia maluquinha. Não vão se decepcionar. ;3
