Fic: Olhe para trás
Capitulo 1: O sonho.
Era uma daquelas tarde de verão, o calor intenso fazia com que os aventureiros tomassem atitudes sensatas para o momento. Era mais um dia no lago. Já havia uma semana que passavam a tarde ali, em busca de sombra e água fresca e, claro um pouco de diversão.
Finn era a que mais se divertia, mas depois daquele pulo mal sucedido resolvera sentar e descansar um pouco. Verônica, Mallone e Challenger continuaram se refrescando nas águas frias do lago.
Marguerite não largava do livro que lia com atenção, enquanto Roxton tentava sem sucesso levá-la para dentro d'água.
M: Não estou afim... por que não vai você... por acaso estamos grudados???
R: Bem que eu queria...
Madge fingiu nem ouvir o comentário dele e continuou lendo o livro.
Finn: Vocês não vão nadar não??? A água ta uma delicia...
R: É isso que estou tentando fazer...
Finn não entendeu.
R: Quer saber... estou cansado de sempre não fazer nada por causa de você!!!
M: Pelo que eu saiba nunca te pedi isso...
R: Só quero que aproveite mais a vida...
M: E acha que não estou aproveitando???
R: Vive lendo este livro... existem outras coisas pra se fazer aqui!!!
M: Não sou como vocês... me divirto do meu jeito!!!
R: Sempre assim né??? Sempre fugindo...
V: Vocês ainda brigando???
M: Não estamos brigando...
R: Como assim???
M: Não mais...
Marguerite levantou-se pegando suas coisas.
N: O que está havendo aqui???
M: Pelo visto todos tiraram um tempo pra vim ver o que eu estou fazendo...
C: Resolveram fazer uma reunião familiar???
Era a primeira vez em três anos que Madge ouvira aquela palavra. Sentia-se estranha, alheia aquela situação.
R: Aonde você vai???
M: Pra casa... quero tomar um banho e descansar!!!
R: Vou com você!!!
M: Não precisa... é só que... preciso ficar um pouco sozinha!!!
Roxton fez menção de perguntar alguma coisa, porém Verônica interveio antes de qualquer coisa.
V: Se é assim que quer tudo bem... não vamos causar problemas... qualquer coisa use os sinais com espelho.
M: Obrigada...
Logo após se retirou indo para a casa. Assim que se perdeu de vista.
R: O que pensa que está fazendo???
V: Será que não percebe...
N: Não vão brigar agora vão???
R: Não... mas, é perigoso ela andar sozinha pela selva!!!
V: Ela não está bem...
Finn: Como sabe???
C: Há muito tempo Madge deixou de ser um baú fechado!!!
R: Isso eu sei... então por que a deixou partir sozinha???
V: Ela sabe se cuidar muito bem e, além do mais não precisa de nenhuma babá!!!
Todos riram.
N: Ela ta assim já tem alguns dias...
Finn: Será que está aprontando algo???
C: Espero que não...
R: Por que ela não nos conta???
V: Já se passaram três anos e ainda tem esperanças dela se abrir conosco???
Finn: Somos a família dela... o que tem demais???
N: Não é tão simples assim... não para ela!!!
V: Vamos ficar aqui discutindo ou vamos nos divertir???
Todos voltaram para o rio. Roxton abaixou a cabeça. Porém antes de entrar Verônica sorriu.
V: Não se preocupe... ela está bem... já deve estar em casa!!!
Roxton olhou para a selva.
R: Você tem razão...
Neste instante, Verônica empurrou Roxton, que caiu com tudo na água e, logo depois pulou entrando na brincadeira.
Na casa da árvore.
Madge estava totalmente aérea. Mal sabia como havia chegado bem em casa.
M: Pra eles é fácil...
Madge relembrava de seu passado. Como queria que fosse diferente. Tinha umas duas semanas que tinha o mesmo sonho, todas as noites.
Uma criança sozinha, andando pelas ruas escuras da cidade. Estava suja e faminta. Implorava por um pouco de atenção, mas parecia que nem existia. Bom, era o que queria pelo menos o que achava que queria.
M: Acho que sou igual a esta criança do meu sonho... sempre sozinha... bom, pra mim é assim que deve ser!!!
Tomara um banho quente e demorado como sempre e, depois se deitou na cadeira na varanda e ficara observando o céu ao entardecer. Aquele era o lugar favorito de Madge, a visão do por do sol a deixava tranqüila. Acabou dormindo. O mesmo sonho a atormentou, porém notou um detalhe que não havia notado antes.
Acordara exaltada, parecia que havia se passado horas. Estava estranha. Sentia vontade de chorar, não sabia o motivo, alias, não precisava deles.
M: O que está acontecendo??? Estes sonhos... será que???... não... não pode ser... mas e se for... então eles significam alguma coisa... mas o que é???
Nem notara que os outros já haviam chegado.
R: Falando sozinha???
Assustou-se um pouco com o comentário de Roxton.
M: Nem vi vocês chegando...
Finn: Você está bem???
M: Por que não estaria???
V: Ta com uma cara...
N: Até parece que viu um fantasma!!!
M: E se eu tiver visto...
C: Sério???
M: Não quero falar neste assunto... vou pro quarto!!!
R: Mas... você tem certeza de que está bem???
Madge balançou positivamente a cabeça.
V: O que está acontecendo com ela???
Finn: Eu é que vou saber???
C: Prefiro lidar com minha ciência a descobrir o que se passa na cabeça de Madge!!!
Todos riram.
A noite todos comeram alguma coisa e foram descansar, aqueles passeios os deixavam exaustos.
Madge revirava de um lado para o outro na cama, alguma coisa a estava atormentando, e não era somente o sonho. Sonho e realidade se chocavam trazendo-a para outro local. Agora se via na pele daquela menina suja e sozinha. De todas as lembranças de sua infância, esta lhe faltara.
O vento frio da noite fazia-a tremer, coberta somente de um casaco velho e sujo, suas mãos tentavam alcançar a campainha. Parecia ser a noite mais escura. As ruas desertas, as luzes fracas iluminavam alguns pedaços do caminho por onde ela andava.
Foi a noite mais demorada, pelo menos para aquela pequena esquecida de todos. A manhã trouxe um sol radiante, mas para ela não havia nada de radiante. Muitos olhares de desprezo a incomodava de forma que abraçou os joelhos escondendo seu rosto e pos-se a chorar.
Um olhar curioso e atento chamou a atenção dela, fazendo-a levantar a cabeça. Uma menina a observava há algum tempo.
Madge: O que você está olhando???
Menina: Por que está ai sozinha???
A mãe da menina vendo aquilo correu para perto da filha.
Mãe: O que está fazendo???
Menina: Mãe??? Por que ela ta aqui???
Mãe: Ela é menina de rua...
A menina se assustou.
Menina: Cadê os pais dela???
Mãe: Não fique perto dela, minha filha!!!
Menina: Por quê???
Mãe: Será que preciso ir ai???
Menina: Ta bom...
Colocou uma das mãos no bolso tirando algo la de dentro.
E com surpresa Madge recebeu o mais forte e puro abraço e ainda um chocolate.
Antes de ir a menina olhou dentro dos olhos de Madge.
Menina: Tudo vai dar certo... tenha fé!!!
Madge a observou andar cantarolando pela rua.
M: Só quero saber quando vai ser isso!!!
Levantou-se e caminhou, tendo novamente aqueles olhares de desprezo.
Sentou-se no banco da praça e ficou observando algumas crianças que brincava ali perto e, mais adiante suas mães conversando animadamente.
Suas pernas estremeceram. Como ela queria estar ali. O mundo que Madge conhecia era diferente, escuro e frio.
M: Por que me colocaram no mundo??? Se não tinham intenção de cuidar de mim!!!
O grito ressoou em sua garganta, mas ninguém lhe deu bola. Era como se estivesse invisível.
Seu olhar foi ao encontro ao chão e ali permaneceu cabisbaixa sem notar que havia um senhor ao seu lado.
Senhor: Por que toda essa tristeza???
Madge o olhou assustada.
M: Não tenho nenhum motivo para sorrir...
Senhor: Eu não diria isso...
Madge o olhou com curiosidade.
M: Todos me odeiam... fingem que não existo...
Senhor: Não é verdade...
M: Você não me conhece!!!
Senhor: Pode ser que sim...
M: Como assim???
Senhor: Você nunca pode dizer que está sozinha, pois não é verdade...
M: Por acaso está vendo alguém do meu lado???
Senhor: Na verdade sim...
Madge arregalou os olhos e olhou em sua volta.
M: Só se for o homem invisível...
Senhor: Tenha fé...
Ele falou apontando para um lugar, Madge virou para olhar.
M: O que tem ali???
Ao virar percebeu que não havia mais ninguém ali. Olhou em sua volta.
M: Mas, pra onde ele foi???... - Se é que ele esteve aqui...
A fome estava apertando, tinha de arrumar algo para comer. Já havia se passado horas, as poucas lojas abertas a tratava de forma indescritível.
Dono da loja: Saia daqui... e, nunca mais quero te ver por aqui... nem na lata de lixo!!!
Madge retirou-se com lágrimas nos olhos.
Andou por uma rua estreita até parar em um beco, sentou-se e continuou chorando.
Permaneceu por toda a noite, dormira pouco. O frio estava bastante intenso.
O sol fraco da manhã mostrava que seria um dia frio. Uma canção a levou para um campo, perto de um lago.
M: Que canção linda... de onde vem???
Alguém: Especialmente para você!!!
M: O que??? Pra mim??? Mas, quem é você???
Alguém: Meu nome é Saulo...
M: E onde você está??? Não consigo te ver!!!
S: Hehe... estou do seu lado!!!
Madge olhou para um lado e para o outro e não viu nada.
M: Você é invisível???
S: Não...
M: Como não consigo te ver!!!
S: Estou aqui em baixo!!!
Ela se assustou ao ver que Saulo era um esquilo.
M: Acho que estou com tanta fome que estou tendo ilusões... só pode ser isso!!!
S: Acha que não sou real???
M: Bom, por acaso já viu algum outro esquilo falar???
S: Er... ahn... ta bom... é anormal, mas isso não significa que não estou aqui!!!
M: Não falei isso!!!
S: Você é Marguerite, não é???
M: Sou... mas, como sabe meu nome???
S: Ele me disse que viria!!!
M: Ele disse??? Ele quem???
S: O lá de cima...
Madge olhou para o céu.
M: Achei que ele tivesse me abandonado!!!
S: Não diga isso... nem de brincadeira!!!
M: Olhe para mim...
S: Não quer dizer que ele te abandonou...
M: A não... ta bom... então, deixe-me pensar... ele só se esqueceu que eu existo!!!
S: Ele me falou que você é cheia de ironias...
M: Será que ele não falou onde está minha família???
Saulo estava desconcertado com tanta pergunta.
S: Você faz perguntas demais!!!
M: Não deveria???
S: Só quero lhe ajudar...
M: Vai me levar pra minha família...
Saulo fez aquela cara de decepção.
S: Na verdade, eu não sei onde está sua família...
M: É... bom, nem sei se tenho uma...
S: Todos nós temos uma família...
M: Só que alguns nunca vão conhecer...
Neste momento, Madge viu outros esquilos chegando perto de Saulo.
Madge percebeu que se tratava da família dele e seus olhos se marejaram.
M: Nem todos nascem com sorte...
S: Tenha fé... e, confie mais Nele la em cima...
Era a terceira vez que ouvia isso. Primeiro a menina, depois o velho e agora o esquilo.
Percebera que estava sozinha novamente.
Caminhara mais um pouco até a praça. Estava deserta.
Só via carros de policia e policiais fortemente armados andando pelas ruas. Uma menina a pegou pelo braço e a puxou até uma casinha abandonada ali perto.
M: O que pensa que está fazendo???
Menina: Quieta... ou quer ser pega pela policia???
M: O que está acontecendo???
Menina: Há rumores que bandidos fugiram da prisão... estão atrás deles!!!
M: Então, por que temos que nos esconder???
Menina: Você quer morrer???
M: Não estou entendendo!!!
Menina: Um menino foi baleado perto daqui... dizem que está acontecendo vários tiroteios entre bandidos e policiais!!!
Madge, por um momento, estremeceu.
M: Como se chama???
Menina: Fernanda... e você???
M: Marguerite...
F: Você deve estar com fome...
M: De onde você é???
F: Moro aqui perto com minha irmã... mas, aqui é o clubinho onde faço parte!!!
M: Clubinho???
F: Você nunca ouviu falar???
M: Não... como funciona???
F: Coma isso... vai se sentir melhor!!!
Madge não pensou duas vezes. Ficaram por horas conversando, até esqueceram que estava a maior bagunça la fora. Um tiro foi ouvido bem perto dali.
M: O que é isso???
F: Um tiro... e esta perto!!!
O medo invadiu sua alma, seu coração estava acelerado, dava para ouvir gritos e os tiros que choviam lá fora.
F: Parece que é o fim do mundo!!!
A tensão estava estampada no olhar de Madge.
Fernanda a puxou para perto de si e a abraçou.
F: Não tenha medo... estou aqui com você!!!
Madge sentiu todo o carinho e a proteção por parte daquela menina que acabara de conhecer.
Longos minutos de desespero e depois só restou o silêncio, só podia se ouvir as fortes respirações de ambas e os batimentos acelerados de seus corações.
M: O que houve???
F: Acho que acabou...
M: Tem certeza???
F: Vou verificar... fique aqui!!!
M: Cuidado...
Fernanda virou-se e riu. Aproximou-se da janela e viu um grupo de curiosos em volta de alguma coisa.
M: O que foi???
F: Já volto...
Fernanda abriu a porta e caminhou em direção a multidão, Madge, não se contendo de curiosidade foi atrás.
Fernanda tentava abrir caminho por entre as pessoas que comentavam algo. Madge estava logo atrás.
Os olhos de Fernanda se paralisaram, e suas pernas estremeceram ao ver sua irmã ali estendida imóvel coberta de sangue. Ajoelhou-se ao seu lado e pos-se a chorar.
M: O que??? Quem é ela???
Homem: É a irmã de Nanda...
Mulher: A única família que ela tem!!!
Madge não sabia o que fazer. Como poderia ajudar??? Nunca tivera família... não sabia o que era isso... sempre esteve sozinha. Chegou perto de Nanda e a abraçou. Um abraço forte e acolhedor. Era o mínimo que podia fazer.
F: Estou sozinha...
M: Não... não está!!! Estou contigo... e sempre vou estar!!!
Passado alguns dias, Nanda havia sido expulsa de sua casa. Não trabalhava, pois ainda não tinha idade. A única que lhe ajudou foi Madge.
Madge, por sua vez, não entendia por que sentia essa vontade de estar ao lado de Nanda. Lembrou-se dos três conselhos que ouvira. Mas, agora isso não cabia a ela e, sim a sua primeira e única amiga.
F: Não tenho mais nada... não tenho mais ninguém!!!
M: Não fale assim... um grande sábio me disse que nunca estamos sozinhas!!!
Fernanda a olhou surpresa.
M: E tem mais... que precisamos ter fé!!!
F: Pra que??? Pra vermos pessoas morrendo???
M: Agora eu entendi...
F: Entendeu o que???
M: A vida somos nós que fazemos... você só estará sozinha se assim o quiser...
F: Mas... eu não tenho mais ninguém em que posso contar!!!
M: Você tem certeza???
F: Acho que sim...
M: Antes de vir pras ruas, me disseram que não existem contos de fadas, que a única coisa que deveríamos nos preocupar é com a vida real...
F: E não é???
M: Não devemos acreditar no que as pessoas nos dizem, só por que elas acreditam nisso... temos de acreditar em nós mesmos... seja verdade ou não... acreditar em sonhos não é conto de fadas...
Fernanda sorriu.
M: Você nunca está sozinha...
F: Eu sei... agora eu entendi!!!
Um grande abraço selou o começo de uma verdadeira e pura amizade.
Madge acordou, estava novamente ao plateau. O que era aquilo??? Sentia-se melhor. Algo dentro dela começou a brotar. Levantou-se e foi para a janela, se espreguiçou e o sol frio da manhã bateu em seu rosto. Por ela, ficaria ali por todo o dia, porém sabia que havia muitas coisas pra se fazer.
M: É vamos la... esse dia promete!!!
Fim do 1º capitulo.
