Por Leona-EBM
Blecaute
Parte I
OoO
"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la". Clarice Lispector
OoO
Os lábios de Yagami resvalaram pelo pescoço de Kusanagi, dando beijos molhados e demorados, aspirando o cheiro daquele homem com quem estava se relacionando há sete meses. No começo havia sido uma descoberta que ambos sentiam interesse pelo outro, mas depois de algumas discussões, olhares duvidosos e beijos roubados, eles acabaram concordando em namorar.
O namoro estava indo de vento e polpa, eles nunca imaginaram que parariam de discutir e acabariam em beijos lascivos. Contudo, por causa da rivalidade e da fama entre Yagami e Kusanagi, ambos acabaram concordando em namorar em segredo. Na frente dos outros, eles eram eternos rivais. Sozinhos, eles eram amantes apaixonados.
- Ah, eu não queria sair daqui. – Kyo resmungou manhoso, deitando sua cabeça no peito desnudo de Yagami.
- Então fique mais um pouco. – falou o ruivo, enquanto acariciava as madeixas castanhas.
Eles haviam acabado de fazer amor e agora estavam descansando na enorme cama de casal que ficava na casa de Iori. O ruivo beijou a cabeça de seu namorado, abraçando seu corpo.
- Eu tenho que ir, Iori. – falou arrastado, sentando-se na cama, sentindo seu corpo se arrepiar só de ficar livre os braços daquele que gostava.
Kyo começou a se vestir, enquanto olhava para Iori, sentindo vontade de tirar toda sua roupa e voltar a se deitar ao seu lado. Contudo ele tinha assuntos a resolver.
- Eu te ligo. – Kyo disse, aproximando-se de Iori, inclinando-se para baixo para lhe beijar os lábios.
O moreno se afastou com um sorriso sexy, deixando Iori a imaginar o que faria com o seu namorado na próxima noite. Ele suspirou e se afundou no travesseiro, sentindo o tédio começar a lhe incomodar.
Ele queria conversar com Kyo há muito tempo sobre a relação deles. O ruivo ambicionava morar com Kusanagi, não se importando com a opinião dos outros, mas o que mais desejava era que ele tivesse mais tempo para ficarem juntos, pois quase sempre que se encontravam acabavam fazendo sexo e não podiam comer, conversar, assistir a um filme, fazer outras coisas juntos.
E como o moreno havia saído com muita pressa, talvez fosse melhor conversar outro dia com mais calma. O ruivo fechou os olhos e depois de um tempo acabou adormecendo.
As horas foram passando e Iori acordou de sobressalto, ele se sentou na cama e olhou o quarto ao redor, e quando viu que estava tudo bem, soltou sua respiração e levantou-se, vestindo uma calça de algodão.
O ruivo olhou para o relógio que marcava dez horas da manhã, ele acabou se assustando com o horário, mas logo deu um sorriso malicioso. Sua noite com Kyo havia sido maravilhosa.
Uma xícara de porcelana foi tirada do armário, nela havia uma grande letra "Y" com algumas chamas em volta. Kyo havia achado numa feira e fez questão de dar de presente para Iori, um presente singelo que causou imensa felicidade no ruivo.
E Yagami apesar da sua pose de durão, tinha suas recaídas. Ele havia comprado uma corrente de prata para Kyo, onde havia um Y e um K fundidos no metal quente. Que também foi recebido com grande amabilidade por Kyo.
O tempo foi passando e o ruivo estranhou que Kyo ainda não havia lhe ligado, ele pegou seu celular e começou a ligar para seu namorado secreto, ansiando por ouvir sua voz. Afinal, eles iam comemorar oito meses de namoro nesse dia.
- "Não vai me dizer que você se esqueceu de um dia para o outro?" – indagou em pensamento.
A ligação foi atendida por uma voz feminina.
- Alô?
- Por favor o Kyo. – pediu num tom sério.
- Ah... é um amigo dele?
- Sim.
- Eu... eu sinto muito. O Kyo sofreu um acidente, ele está aqui no hospital Santa Clara. Se quiser, pode vim visitá-lo para apoiar sua recuperação.
Yagami ficou um tempo em silêncio, processando toda aquela informação. Ele moveu seus lábios e indagou:
- O que houve?
- Ele estava dirigindo na madrugada, um caminhão com o motorista bêbado passou no farol vermelho... deu perda total no carro, mas felizmente ele está vivo. – explicou com uma voz baixa - Qual é o seu nome?
Iori desligou e sentou-se no sofá, deixando o celular cair no chão. Sua mente estava rodeada de palavras desconexas que não se ligavam a nenhuma frase plausível, em resumo, não pensava em nada que não fosse a imagem de seu namorado.
- "Kyo... Kyo...".
O ruivo foi correndo até seu quarto, sentindo seu coração acelerar. Ele vestiu jeans escuro, uma camiseta preta e um par de sapatos escuros. Logo saiu de casa, pegando a chave de seu carro.
Ele dirigiu velozmente até o hospital, mas parou para pensar um pouco quando estacionou o carro na rua. Com certeza toda a família Kusanagi deveria estar naquele hospital.
O ruivo tornou a ligar o seu carro parando num shopping que ficava próximo ao local. Ele entrou nas lojas que lhe interessavam, sem muito ânimo, pois queria ver seu namorado de qualquer jeito.
Numa loja de produtos de fantasia, ele acabou comprando uma peruca muito bem feita com cabelo de verdade da cor castanho escuro. Pagou e saiu da loja.
O ruivo colocou a peruca no carro, sentindo-se ridículo com aquilo, mas tinha que admitir que ficava irreconhecível. Depois colocou o par de óculos escuros e entrou no hospital, perguntando na recepção o quarto de Kyo Kusanagi.
Quando o ruivo passou pelo corredor, sentiu seus pêlos se arrepiarem a ver alguns amigos de Kyo e alguns familiares. Contudo eles estavam voltando para a sala de visitas, e o único que continuava dentro do quarto era Shingo, que estava sendo expulso pela enfermeira.
A porta do quarto foi fechada pela enfermeira que começou a pedir a saída de Shingo. Yagami passou reto, fingindo não querer nenhum quarto daquele corredor e quando viu que a enfermeira se afastou, ele entrou no quarto em passo acelerado, fechando a porta.
O ruivo avançou até o leito, vendo que Kyo estava com os olhos semi cerrados, felizmente ele estava vivo. Ele abriu um largo sorriso e tocou na mão do moreno.
- Quem... é você? – indagou Kyo com uma voz fraca.
- Sou eu, Kyo. – sorriu.
- Essa voz... – fechou os olhos – não pode ser...
- Sou eu, Iori. – falou, vendo a dificuldade do outro em lhe reconhecer.
- Iori... Yagami? – indagou, arregalando os olhos, fazendo sua pulsação subir de repente.
Yagami se assustou com aquela reação, não entendendo o nervosismo de seu namorado, ele tornou a tocar na sua mão, porém Kyo se afastou com dificuldade.
- Vai... embora!
Um enfermeiro entrou no quarto, olhando com desconfiança para Iori.
- Quem é você?
- Um amigo dele. – respondeu, olhando o estado de Kyo.
- O horário de visita acabou.
- O que aconteceu com ele? – Iori indagou.
O enfermeiro pegou a ficha de Kusanagi, lendo-a em silêncio e depois disse:
- Ele sofreu um acidente de carro nessa madrugada, bateu com a cabeça e sofreu um traumatismo. Infelizmente houve um problema cerebral e ele perdeu sua memória de um ano.
- Como assim?! – indagou com os olhos arregalados.
- Ele não se recorda de nada que aconteceu nesse ano, para ser mais exato. – explicou – você o conheceu esse ano?
- Sim... – Yagami falou, olhando para Kyo com preocupação.
Iori conhecia Kyo há muito tempo, o problema era que no passados os dois só se encontravam para alguma luta ou então se agrediam verbalmente.
- Eu não vou fazer nada, Kyo. – disse Yagami, vendo que o moreno lhe olhava com desconfiança.
- O senhor tem que sair agora. Volte amanhã.
Yagami deu mais uma olhada para Kyo e depois saiu com a mente perturbada, ele passou pela sala de visita, observando alguns dos amigos de Kyo conversarem entre si, ouvindo sobre a fatalidade de sua perda de memória.
- "Kyo... você não sabe que eu sou seu namorado. Você não se lembra de nada que tivemos!" – refletiu, entrando em desespero.
No estacionamento, Iori entrou no seu carro e arrancou aquela peruca ridícula e a jogou no banco do carro. Ele abraçou o volante à frente e bateu sua testa duas vezes, gritando e xingando alto.
- "Você não sabe sobre nós...".
E nesse ritmo de desespero passou-se um mês. Iori acompanhava a recuperação de Kyo à distância, esperando o momento perfeito para se aproximar.
Kyo já havia saído do hospital, aos poucos ele estava voltando a sua rotina com ajuda de seus amigos íntimos. Yagami sempre o observava, procurando seguir os passos de Benimaru que vivia entrando e saindo do apartamento do moreno.
Um tempo passou. Era uma sexta-feira quente, o ruivo estava parado na frente do apartamento daquela que dormia em seus sonhos. Estava com os olhos cansados, desejando ver Kyo ao menos uma vez para poder descansar em paz. E para sua alegria, ele havia saído de casa, usando seu jeans surrado e sua jaqueta.
A moto foi ligada e Kyo começou a dirigir pela cidade, todavia dirigia com prudência, uma vez que estava com um pouco de temor de sair. Era a primeira vez que saia de moto desde que foi atropelado pelo caminhão. Por sorte era um lutador e tinha um bom condicionamento físico, o que lhe permitiu fugir do impacto maior.
Iori andava atrás, tentando não se expor para Kyo, porque sabia que o outro teria um pensamento controverso. Quando o moreno estacionou num estacionamento privado, Iori largou seu carro na rua e começou a segui-lo pela calçada escura, estranhando o lugar que Kusanagi estava se dirigindo.
Kyo virou uma esquina e Yagami acelerou o passo, temendo perdê-lo de vista, mas ao virar a rua, ele encontrou Kyo virado na sua direção, com os braços cruzados e uma cara de péssimos amigos.
- Por que está me seguindo, Yagami?
- Kyo, eu queria falar com você. – disse rapidamente, recuperando-se do susto.
O moreno estranhou o fato de Yagami chamá-lo pelo primeiro nome e sem a hostilidade de sempre.
- O que você quer?
- Você perdeu sua memória de um ano.
- Sim, e daí?
- Nós tínhamos parado com essa rivalidade. – falou, controlando-se para não pular e abraçar o homem a sua frente.
- Mesmo? – indagou com surpresa – você só pode estar querendo tirar uma com minha cara.
- Eu estou falando sério.
- Certo. Então eu vou acreditar que somos amiguinhos. E agora?
- Sabe o colar prateado que você usa?
Kyo ergueu as sobrancelhas, prestando mais atenção àquelas palavras.
- O que tem?
- Ele tem um Y e um K. Isso te diz alguma coisa?
A expressão de Kusanagi foi de puro assombro, ele sentiu um calafrio correr por seu corpo. Como Yagami sabia de seu colar? Sua mão tocou no pescoço, sentindo a frieza do metal, tateando o pingente.
- Significa Yuki e Kyo. – falou.
Iori arregalou os olhos com aquela frase. Certo! Isso podia ser verdade. Talvez a ex-namorada do Kyo tivesse lhe dado àquele presente, já que próprio moreno não se lembrava.
- O que tem minha corrente, Yagami?
- Nada, esquece. – respondeu com irritação – eu só queria avisar que não queremos mais nos matar, não nos odiamos mais e conversamos normalmente. No dia do seu acidente, nós marcamos de almoçar juntos, por isso fui lhe ver no hospital.
Kyo não sabia que podia confiar nas palavras de Yagami, ele estava confuso e com medo de ser ludibriado e agredido pelo outro. Ainda estava fisicamente frágil.
- Então somos amiguinhos mesmo?
- Sim. – respondeu seco, odiando o sarcasmo do mais novo.
- E você está me seguindo para me dizer isso?
- Na verdade, eu estava preocupado com você.
- Nossa relação é bem próxima, então! Nós tivemos um caso por acaso? – riu baixinho da sua própria piada, sem sequer suspeitar que havia acertado em cheio.
- Sim.
Kyo engasgou na sua risada, arregalando os olhos, ficando enlevado.
- O-o que?
- Tivemos um caso sim.
- Você está zuando com a minha cara!
- Eu não estou.
- Isso não tem graça nenhuma. Se isso fosse verdade. Por que ninguém me contou?
- Porque decidimos manter em segredo, por você ser um Kusanagi e eu um Yagami. É óbvio que concordamos com isso.
Kyo virou-se de costas e continuou a andar, acenando para o ruivo, falando um "adeus" bem alto, rindo baixinho da ousadia de Iori. O ruivo se enfezou, ele avançou e puxou o braço do moreno, jogando-o contra a parede de concreto.
- Esse é o Yagami que eu conheço, sempre me ataca...
O falatório de Kyo foi interrompido por um beijo carregado de fome, saudade e paixão. A língua de Iori resvalava por toda sua cavidade, retirando qualquer pensamento são da cabeça do mais novo. Quando se separaram, Kyo ficou calado, tentando processar tudo aquilo.
- Isso não é uma piada, Kyo. Se estiver com dúvida, vá até seu apartamento, na segunda gaveta da cômoda vermelha tem roupas minhas. Também tem outra escova de dente no armário, assim como toalhas para mim. – dizia, recordando-se dos objetos que deixou na casa do seu namorado – E sua corrente significa Yagami e Kusanagi, pode perguntar para a Yuki, ela não vai saber de nada.
- Pare... com esse joguinho... – pediu num tom baixo, sem forças para discutir, ele estava atordoado demais com o beijo.
- Eu sei tudo sobre você. Sei que gostava de ficar me observando tomar banho no ginásio, sei que uma vez tentou falar comigo num show da minha banda, sei que foi aprender violão apenas para entender mais de música, tudo isso você já me contou. Só eu sei disso.
Kyo poderia chutar Iori e sair daquele abraço, mas todas aquelas informações eram demasiadas reveladoras. Certamente não havia contado para ninguém sobre o que Iori falava e isso lhe causava assombro.
- Pare... de brincar...
- Eu não estou brincando. Eu tenho cara que fica fazendo esse tipo de brincadeira? – indagou com seriedade – Kyo, eu sei que parece loucura, eu estaria confuso no seu lugar, mas se você observar, alguma coisa na sua vida vai faltar.
- Eu estou perdido, muita coisa na minha vida está faltando. – confessou.
- Olhe minhas roupas, os mantimentos que estão na sua casa, sendo que você não sabe cozinhar, eu cozinhava para você. As roupas que você deixou para eu usar. E temos uma foto juntos que está atrás do porta-retrato que está na sua cômoda.
- Pode me soltar? Eu vejo isso depois.
Yagami se afastou, pois sabia que não podia prender Kyo, conhecia o seu namorado para saber que ele se sentiria pressionado e fugiria. A vontade de beijar aquela boca estava fazendo Iori enlouquecer.
- Venha até minha casa, Kyo. Eu quero te mostrar algumas coisas.
Kusanagi relutou no começo, mas a curiosidade estava começando a lhe tomar a mente. Ele seguiu o ruivo até a casa do mesmo, desejando achar respostas, muitas vezes pensou em desviar do caminho e ir embora, mas se manteve firme.
Alguma coisa estava faltando na sua vida e precisava saber o que era.
OoO
Continua...
Nota: Uma draminha água com açúcar para os amantes de Kyo e Iori. Para quem gosta de um ruivo sofredor. A fanfiction já está terminada, eu só estou colocando em capítulos menores.
Comentários são sempre bem-vindos.
Email/MSN:
21/3/2009
Por Leona-EBM
