Prologo

- Espere um pouco – ele disse, bruscamente, sem pensar. – Estamos esquecendo de alguém!

- Quem? – perguntou Hermione.

- Os elfos domésticos, eles estão todos lá embaixo na cozinha, não estão?

- Você quer dizer que nós devemos mandá-los lutar? – perguntou Harry, com uma sombra de indignação na voz. Ron nem quis ver o que seria a expressão de Hermione antes de se explicar.

- Não – ele disse, séria e calmamente. – Quero dizer que devemos falar para eles irem embora. Nós não queremos mais nenhum Dobby, né? Não podemos ordenar que eles morram por nós…

Rony não pode completar o que dizia, o som seco das presas batendo o chão chegou ao ouvido dele, que logo se virou para verificar se algo havi acontecido com Hermione para que ela as deixasse cair. Para a supresa do garoto, ele a viu caminhar tão decidida em sua direção que acabou por deixar que tudo que tinha seguro em seus braços fosse ao chão por puro instinto, este que só se confirmou correto ao ter a garota lhe envolvendo o corpo. Mas o que mais o surpreendeu fora os lábios dela colados aos dele, em um beijo que ele nunca imaginará receber de Hermione, principalmente em uma ocasião como aquela. A surpresa fora tamanha que Ron havia até esquecido de corresponder ao ato. Por um misero segundo sentiu que ela se afastava dele, mas não permitiu aquilo, envovelndo o corpo magro e perfeito ao toque com tanta vontade que chegou a temer machuca-la.

Nada mais importava no mundo. Nem aquela guerra idiota, as horcruxes, ou qualquer imbecil que tentava conquistar o mundo bruxo com poderes das trevas. Não, nada ali importava além dele e de Hermione. O cheiro adocicado lhe envolvendo de um jeito novo, junto com o gosto viciantes da boca dela, que finalmente se misturava com o dele, o carinho que ganhava na nuca, o roçar das unhas contra a pele, o fazendo arrepiar. Aquilo tudo era perfeito demais, e tudo que queria era que aquele momento não acabasse, que ficasse ali para sempre nos braços da pessoa que amava, se sentindo desejado, e acima de tudo isso, sentindo que seu sentimento, de alguma forma, era correspondido...

... As lembranças do beijo ainda continuavam vivas na mente de Ron, ainda que já tivesse se passado várias horas, e todas as outras recordações daquela noite tivessem se acumulado na mente dele.

Não podia mentir que aquela imagem era a única coisa que o mantinha ainda em pé, e durante todo o evento que se seguiu a morte do Lord das Trevas. Tudo ainda se encontrava recente demais, e ainda mais forte depois de tudo que Harry havia contado a ele e a Hermione a caminho da sala dos diretores de Hogwarts.

Não queria pensar que não ouviria Fred fazer uma piada, ou até um comentário sarcastico quando soubesse do beijo que havia trocado com Hermione, não queria, ainda por cima, pensar que não ouviria mais as indiretas dele sobre o relacionamento dos dois.

Estava sentado na cozinha desde que havia desistido de ficar na cama, onde o sono parecia não lhe ajudar a dormir, mesmo com as mais de vinte quatro horas sem nem mesmo um descanço. Imaginava que os outros também não estariam dormindo, mas talvez não tivessem tido coragem de levantar da cama. O dia havia sido pesado para todos daquela familia, que continuaram na escola durante o resto do dia, ajudando as pessoas que se encontravam machucadas, e os preparativos para o funeral dos que haviam sido levados pela guerra. Ao anoitecer os Wesleys estavam se despedindo do filho que tinha lutado bravamente contra os comensais, mas a sensação de perda parece ter ficado ainda mais intensa.

A imagem do relogio da familia a frente parecia o assombrar de tal forma que fazia com que o estomago do garoto girasse e torcesse ao ponto de se sentir enjoado. O ponteiro de Fred não se encontrava mais ali... O ruivo respirou fundo, desviando o olhar para a janela da cozinha, fitando algumas estrelas que tinham ao longe... O único consolo era que todo o pesadelo da guerra tinha finalmente acabado.