Disclaimer: Lost e seus respectivos personagens não me pertencem, essa fanfiction é totalmente sem fins lucrativos.

Categoria: Romance/Drama.

Censura: M.

Sinopse: James Sawyer Ford e Ana-Lucia Cortez pertencem à mundos diferentes, mas isso não os impedirá de viver uma tórrida paixão.

Nota: A trilha sonora é importantíssima nessa fic, não deixem de ouvir as músicas sugeridas durante as cenas.

LA PASIÓN

Capítulo 1

A primeira coisa que Ana-Lucia Cortez faz todas as manhãs bem cedo ao acordar é ligar o pequeno rádio do seu quarto, estrategicamente pousado em uma banqueta ao lado de sua cama. Seu irmão mais novo com quem divide o quarto já está até acostumado e nem acorda, mesmo com as cornetas barulhentas dos merengues tocando na estação local.

Depois de ligar o rádio e entrar em sintonia com a música é que ela pode dizer que de fato está começando seu dia. Levanta, se alonga, toma um banho rápido e frio, prepara o café da manhã da família, coloca comida pro cachorro e segue para o trabalho. O primeiro de dois empregos, mas com certeza o trabalho que ela mais ama: dançar. Ana-Lucia é professora de dança na Austen Dance School. Ritmos latinos, contemporâneos, agitados, lentos, à exceção do ballet ela gostava de dançar praticamente tudo.

James Sawyer Ford, totalmente ao contrário de Ana-Lucia Cortez, odiava acordar cedo. Amaldiçoava a humanidade quando era obrigado a fazer isso. Música logo cedo então, nem pensar, o simples barulho de um alfinete caindo no chão poria seus nervos em frangalhos. Mas nos últimos dois meses ele vinha sendo forçado a acordar cedo; seu pai, o rico empresário dono de uma poderosa indústria de peças para carro, Anthony Ford falecera de um ataque cardíaco e Sawyer como filho único teve que assumir tudo, embora odiasse trabalhar nesse ramo. Gostava mesmo era de Literatura, Filosofia e Arte, cursos em que se formara com louvor pela Universidade de Haward.

Mas a burocracia com a fábrica era necessária porque era com esse dinheiro que ele mantinha o império Ford e sustentava os seus luxos e os da família. Seu ritual para acordar também era bem diferente do de Ana-Lucia. Ele levantava depois de praguejar umas dez vezes por ter de acordar cedo, tomava um banho quente, comia o delicioso café da manhã cheio de guloseimas caras que o mordomo servia em seu quarto, vestia-se impecavelmente com um de seus ternos de grife e entrava em sua Ferrari esporte prateada rumo à Fábrica Ford.

Ana-Lucia não tinha carro, se um dia quisesse mesmo ter um carro como o de Sawyer teria que economizar o salário de seus dois empregos durante uns vinte anos. Mas ela não se importava com isso; há algumas semanas havia sido premiada com uma bela bicicleta em uma rifa da igreja do bairro onde morava. Isso facilitara e muito sua vida, já que podia utilizá-la como meio de transporte para quase tudo, inclusive para ir à academia de dança. O único lugar para onde não podia ir de bicicleta era a Fábrica Ford que ficava do outro lado da cidade e onde ela trabalhava no turno da noite. Largava o emprego na fábrica de madrugada e pegava o último ônibus para o bairro latino onde morava, rezando para chegar sã e salva por causa da violência que vinha acometendo a cidade de Los Angeles nos últimos tempos.

Sawyer poderia chegar cedo na fábrica, por volta das oito e meia da manhã, mas largava o expediente umas duas horas depois deixando todo o trabalho chato, como ele costumava dizer nas mãos de seu gerente geral, John Locke, o homem mais trabalhador e inteligente que já conhecera em toda a sua vida. Locke fora o braço direito de seu pai desde a inauguração da fábrica e era por causa dele que o empreendimento ainda existia. Ele tinha boas ideias sobre como estar sempre investindo e melhorando as coisas com os negócios.

A única coisa que Locke e o velho Ford não concordavam era no que dizia respeito ao tratamento dos funcionários. Anthony Ford cresceu nos negócios explorando os negros, imigrantes latinos, brasileiros, chineses, árabes refugiados entre outros povos. Além de pagar salários miseráveis, ele não proporcionava boas condições de trabalho e segurança aos seus empregados.

Sawyer não fazia a menor ideia sobre isso, também jamais se importara com os negócios da família antes. John Locke tentava conversar com ele a respeito desses assuntos desde que assumira a presidência da fábrica, mas Sawyer estava mais interessado em sua vida pessoal do que em qualquer outra coisa.

Naquela manhã quente de julho, depois de realizar todo o seu ritual até chegar à fábrica, Sawyer estava sentado na cadeira da presidência na sala de reuniões com os olhos inchados de sono. Havia passado a noite na farra, traindo sua noiva com todas as mulheres bonitas que pôde conhecer nos clubes noturnos de LA. Dizia para si mesmo que depois que se casasse com Shannon ser-lhe-ia eternamente fiel, mas enquanto isso...

- Não acha, Sr. Ford?- indagou Hugo Reys, contador da fábrica.

Todos os olhares se voltaram para ele na mesa retangular, Sawyer aplumou-se na cadeira, não fazia a menor ideia sobre o que estavam falando. Esfregou os olhos e disse:

- Me desculpem, sobre o que estávamos tratando mesmo?

John Locke revirou os olhos, o velho Anthony Ford poderia ter sido um carrasco com seus funcionários, mas pelo menos se importava com os negócios. James, seu filho, parecia se importar muito mais com a quantidade de gel que lustrava seus cabelos loiros do que com o total líquido de lucros que a fábrica produzira no último trimestre.

- Estávamos falando sobre os lucros e dividendos da fábrica no último trimestre, James.- respondeu Locke.

- Ah sim, os lucros! Essa é a parte boa não é, John? Pois bem, se querem saber a minha opinião, está tudo indo às mil maravilhas, tá todo mundo de bolso cheio e os negócios estão prosperando, continuem assim! Por ora, eu dou a reunião por encerrada, bom trabalho pessoal!

Os acionistas e os altos funcionários da fábrica se entreolharam irritados. James Sawyer Ford jamais deveria ter assumido a fábrica pois nunca levava nada a sério. Hugo Reys balançou a cabeça negativamente e cochichou com outro funcionário: - Esse cara é um tremendo idiota!

Mas Sawyer não estava mais na sala de reuniões, já estava se dirigindo para sua confortável sala no último andar da empresa seguido de perto por John Locke.

- James, precisamos conversar!

- Outra hora John, agora eu tenho umas coisinhas pra fazer!

- Coisas mais importantes que falarmos sobre problemas urgentes da fábrica?

- De certa forma.- Sawyer respondeu sem dar muita atenção a Locke. Pegou o elevador e dirigiu-se para o quinto andar.

Passou pela secretária, a Sra. Henderson, deu-lhe bom dia e já ia entrando em sua sala quando a velha senhora o chamou.

- Sr. Ford?

- Yeah?

- A Srta. Rutherford o aguarda na sua sala.

- Obrigado, Sra. Henderson.- respondeu Sawyer um pouco irritado. Shannon tinha uma péssima mania de gostar de lhe fazer surpresas fora de hora. Ensaiou um sorriso falso e quando abriu a porta e se deparou com sua linda noiva sentada no confortável sofá de seu escritório, caminhou até ela e a tomou nos braços sem dizer qualquer palavra.

- Oi amor, que saudade!- exclamou Shannon quando Sawyer a soltou.

- O que a traz aqui tão cedo, meu bem?- ele indagou acendendo um cigarro.

Shannon tirou o cigarro da boca dele. Sawyer franziu o cenho.

- Oh James, não me olhe assim! Você sabe muito bem que fumar faz mal! E eu quero ter você comigo muito bem e saudável pra sempre!

Ele revirou os olhos quando a sentiu dando pequenos beijos em seu pescoço.

- Mas me diga, querida, foi só a saudade do seu "mozão" que te trouxe aqui?

- Na verdade querido, vim te pedir um favor!

- O que você quiser princesa.- disse ele, acariciando as pernas esguias de Shannon.

- Eu quero que você arranje um emprego aqui na fábrica pro meu irmão, Boone. Ele acabou de se formar em engenharia de produção e você sabe como o papai é. Mesmo que a minha família seja rica, o velho Adam Rutherford jamais irá admitir que seus filhos sejam uns parasitas. Por isso pretendo arranjar algo pra mim em breve.

- Você quer ser a minha secretária?- ele indagou com olhar malicioso.

Shannon riu.

- Hum, seria muito divertido trazer cafezinho pra você todo dia, Sr. Ford, mas eu não passei anos aprendendo ballet pra nada. Pretendo arranjar um emprego numa academia de dança aqui em LA.

- Academia de dança?- retrucou ele. – È bem a sua cara mesmo!

Ela sorriu sensualmente e o puxou para si usando as longas pernas, entrelaçando-as com as dele.

- E então, vai conseguir alguma coisa pro meu irmãozinho?

Sawyer pensou por alguns segundos, conhecia Boone o suficiente para saber que o cara levava as coisas ainda menos a sério do que ele. Mas, por Shannon, ele iria arriscar.

- Você venceu baby, mande o "filhinho da mamãe" vir falar comigo amanhã de manhã porque por hoje encerrei o expediente.

- Encerrou?

- Aham! Encerrei para passarmos o dia inteiro curtindo!

- Você não presta!

- E mesmo assim você me ama!

- Vem aqui, seu safado!- sussurrou Shannon, beijando-o.

A Sra. Henderson ia entrando na sala quando os viu aos beijos no sofá, balançou a cabeça negativamente pensando que se James Ford continuasse a dirigir a fábrica daquele jeito, logo todos estariam com os pés na lama.

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- Tá legal pessoal, eu quero agora desde o começo! Com muita energia! 5, 6, 7, 8! È isso aí!

O som inconfundível de uma salsa soou no ambiente, seguido da voz pausada e ritmada de Katherine Austen que podia ser ouvida da calçada enquanto Ana-Lucia estacionava sua bicicleta em frente à academia de dança e a prendia com um cadeado.

Entrou no prédio e saudou o porteiro e quebra-galhos da academia, um senhor chamado Bernard. Quando Katherine a viu, abriu um lindo sorriso.

- Bom dia, Ana!

- Bom dia, Kate! Como eles estão indo?- indagou ao ver os diversos pares de velhinhos dançando salsa, muito entusiasmados.

- Eles estão ótimos, cada dia melhores!- elogiou Kate.

- Acho maravilhoso o trabalho que você faz com eles.- comentou Ana-Lucia.

Katherine Austen era uma jovem, no alto de seus vinte e seis anos que havia conseguido coisas boas em sua vida com muito trabalho. Saíra de casa aos dezoito anos para fugir dos abusos do padrasto. O pai morrera quando ela ainda era pequena. Cansada de ser aterrorizada e sem o apoio da mãe, Kate deixou tudo pra trás e correu atrás de seu sonho: dançar. Trabalhou como cozinheira, babá, garçonete, fez de tudo para pagar suas aulas de dança e poupou dinheiro para abrir sua própria academia. No início dava aulas sozinha, um dia conheceu Ana-Lucia.

Ela parou diante da academia de Kate e ficou espiando com olhar interessado. Kate sentiu uma energia positiva que emanava dela, a convidou para entrar, perguntou se ela dançava e se surpreendeu quando Ana-Lucia mostrou o que sabia fazer. Desde então, Ana dava aulas junto com Kate e a academia começava a ganhar nome, embora ainda fosse um tanto modesta porque Kate ao contrário de outros donos de academias de dança tinha muitos projetos sociais em sua academia como ensinar os velhinhos a dançar. Investia muito nisso e conseguia manter os negócios. Se ressentia apenas de não poder pagar a Ana-Lucia o salário que ela realmente merecia. Ana era uma dançarina nata, jamais fizera curso de dança e era mestre na dança de salão.

- Você me parece cansada, amiga.- comentou Kate quando Ana começou a se alongar para dar a próxima aula.

- Trabalhei até as três da manhã noite passada e quando cheguei em casa o Toni tava sozinho e eu tive que ir atrás da mamãe outra vez.

- Ela foi ao bar de novo?

- Vai todos os dias, Kate. Não sei mais o que fazer.

- Ana você precisa descansar. Se ao menos eu pudesse te pagar um salário melhor você não precisaria trabalhar naquela fábrica de exploradores.

- Hey, não se preocupe com isso. O salário que você me paga é o bastante, além disso, eu amo dançar, me faz esquecer aquele serviço horrível na fábrica, mas eu realmente preciso sustentar minha família.

- Eu sei, mas tente não sair tão tarde. Aquele bairro é muito perigoso e você volta sozinha pra casa, de ônibus.

- Eu vou tentar.- Ana-Lucia prometeu.

A música finalizou. Kate e Ana-Lucia aplaudiram os velhinhos.

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Que dia terrível estava tendo, pensou Sawyer consigo, só podia ser um castigo porque não passava tanto tempo na fábrica quanto deveria. Estava em seu iate particular, velejando com Shannon quando recebeu um telefonema urgente de John Locke avisando que um funcionário chamado Michael Dawson havia se ferido gravemente em um acidente de trabalho. Teve que largar tudo para ir resolver o problema.

Providenciou o pronto-atendimento do funcionário e o pagamento das despesas médicas. Mas a burocracia estava longe de terminar. Por causa do acidente, Locke informara que o sindicato dos trabalhadores os procurariam para inspecionar a fábrica e descobrir o motivo do acidente. A fábrica estava cheia de armadilhas e Sawyer precisava resolver tudo antes da inspeção.

Só conseguiu terminar de preencher os papeis e resolver outras pendências mais de meia-noite. Estava exausto. Pela primeira vez em dois meses havia trabalhado de verdade na Fábrica Ford. Desligou o computador em sua sala, esfregou as têmporas para amainar a dor de cabeça que sentia e deixou o escritório.

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- Eu já vou indo, Ana-Lucia. Você vem?

Ela voltou seus olhos cansados para Sun, sua amiga coreana, que já estava pronta para ir embora.

- Ainda preciso revisar algumas roldanas.- respondeu Ana-Lucia.

- Mas você pode fazer isso amanhã, já é muito tarde. Não entendo porque se esforça tanto nesse maldito trabalho. Os chefes não estão nem aí pra gente mesmo.

- Gosto de fazer o meu trabalho bem feito, Sun. Não quero que esses calhordas tenham nada a dizer sobre mim no dia em que eu largar essa porcaria de fábrica.

Sun sorriu.

- Está bem, mas me prometa que irá embora em vinte minutos.

- Eu prometo.

Sun a deixou sozinha e Ana-Lucia continuou seu trabalho. Dessa vez não se estendeu mais que vinte minutos como prometera a Sun. Terminou de revisar as roldanas, trocou de roupa e deixou a fábrica. Caminhou três quadras no escuro até a parada de ônibus para esperar o último. O veículo demorou mais de uma hora para passar e quando passou só tinham três passageiros, uma senhora idosa e um casal. Todos eles desceram antes de Ana-Lucia que ficaria na última parada.

Estava tão cansada que seus olhos se fechavam de cinco em cinco segundos.

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- Nãooooooooooo!- gritou sawyer chutando o pneu do próprio carro. O motor tinha pifado e ele estava parado com sua Ferrari caríssima no lugar mais barra-pesada da cidade às portas de um lixão.

Tentou usar o celular para chamar um mecânico, mas a bateria do aparelho havia caído.

- Pra que serve ter tanto dinheiro agora? Só pra ser assaltado e morto, isso sim!- resmungou irado.

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O ônibus começou a andar devagar e nada de chegar ao bairro de Ana-Lucia, a paisagem estava ficando diferente ao seu redor, ela podia perceber mesmo sendo à noite.

- O que está acontecendo? Por que pegamos o caminho errado?- ela indagou ao motorista, na defensiva.

- Fica calma, gatinha. A gente só vai sair do curso um pouquinho depois eu prometo que te deixo na porta da sua casa, princesa.

O motorista estacionou o ônibus em frente à um lixão e se levantou de sua poltrona, caminhando vagarosamente na direção de Ana-Lucia. Ela saltou de sua cadeira e começou a andar para trás.

- Seja uma boa menina e eu prometo que será bem rápido!

- Fica longe de mim!

O homem era asqueroso, com uma aparência suja, modos mal-educados e um olhar aterrorizante.

- Vem aqui bebezinho, estou querendo você desde a primeira vez que te vi entrar no meu ônibus.

Quando ele a encostou no final do corredor do ônibus, Ana-Lucia sentiu o bafo de álcool no seu rosto e gritou, mas o homem tapou sua boca com a mão suja.

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Sawyer já estava começando a praguejar sua má sorte novamente quando escutou um estrondoso grito feminino vindo de um lugar próximo. Achou estranho. Pensou em ir verificar o que era, mas não queria deixar seu carro à mercê de bandidos. Além disso, se alguém estivesse mesmo em perigo como ele poderia ajudar estando desarmado?

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O motorista tentou jogar Ana-Lucia em uma das poltronas do ônibus, arrancou-lhe os botões da blusa expondo-lhe o sutiã e apalpou seus seios, mas ela chutou suas partes baixas e enfiou um dedo com precisão em seu olho direito, empurrando-o de cima dela. O olho do homem sangrou e ele berrou de dor, mas ainda conseguiu correr atrás dela ao perceber que ela fugia do ônibus.

Ana-Lucia corria o máximo que podia, suor frio escorrendo por todo seu corpo. Aquele homem quase a tinha violentado e se ela não conseguisse escapar dele não continuaria ilesa por muito tempo.

- Volte aqui, cachorrinha! Nós ainda não terminamos, eu ia ser bonzinho, mas você quis dificultar as coisas!

Ana-Lucia entrou em desespero, o homem se aproximava cada vez mais dela e não havia onde se esconder, o portão do lixão estava trancado. Ele a encurralou em uma grade que ela não teve tempo de escalar e colocou suas duas mãos pegajosas nas coxas dela quando um homem surgido do nada golpeou-lhe com o que parecia ser um macaco. O motorista caiu desacordado no chão e Ana-Lucia respirou fundo, sentindo-se aliviada.

- Você está bem, moça?

Ela estava tão assustada que sem se dar conta atirou-se nos braços de seu salvador e começou a chorar. O homem a abraçou e murmurou baixinho.

- Calma, vai ficar tudo bem. Eu vou ajudar você.

Continua...