RETRATAÇÃO: Saint Seiya não me pertence, todo os personagens contidos neste fanfic são de propriedade material e intelectual de Massami Kurumada e demais empresas detentoras dos direitos de publicação e exibição. Sem fins lucrativos e blá, blá, blá.

Este fic tem muitas situações baseadas em filmes como "O último Samurai", "Memórias de uma gueixa", e do anime "Rurouni Kenshin", que serviram de inspiração e base. Contém Yaoi.

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PRÓLOGO

Oculto

Determinadas histórias se tornam lendas, contudo, seus protagonistas estão fadados ao eterno anonimato, seja pela nobreza de suas ações ou pela natureza mortal de seus crimes. O que vem a ser nobreza ou crueldade é dependente do ponto de vista sob o qual se observa. Foram adorados por uns, temidos por outros, porém, julgados por todos.

Ser ou não um deles não é uma questão de querer. Se nasce predestinado ao ofício. Embora possa soar um tanto sombrio aos que desconhecem o estilo de vida recluso das figuras da noite, se nasce destinado a percorrer os caminhos ocultos pelas sombras, camuflados pela obscuridade. Ninguém sabe seus nomes, ninguém sabe onde vivem, ninguém vê seus rostos, negros são seus trajes... são apenas sombras ágeis na escuridão.

Vermelho. Vermelho é o sangue que banha suas espadas e marca seu caminho. A confirmação do cumprimento do dever demonstrada em cada gota, o seu legado.

Sombras do terror vivo nos pesadelos dos despertos, vultos dos altruístas que lutaram pela modificação da história de um povo sem clamar qualquer reconhecimento para si. A base de sua crença definida em uma única palavra chave: anonimato

Assim somos nós. Aqueles cuja lenda diz que habitavam os bosques do Senhor Sojobo o rei dos Tengu, os pássaros demônio, dos quais descendemos e com quem aprendemos as artes do submundo e do controle do corpo, da mente e da harmonia com a natureza, habitantes das sombras e da névoa, os filhos livres das encostas das montanhas.

O mistério nos envolve, nos criamos nas sombras, nossas glórias são somente nossas, pois o anonimato nos impede de revelar nossos feitos; nos criamos no receio daqueles que não compreendem as técnicas, incitamos a curiosidade e a imaginação de homens e meninos. Nossas habilidades tidas como sobrenaturais.

Porém, o preço para uma vida cheia de aventuras é um aprendizado, por vezes, árduo e doloroso, abdicar da vida comum das demais crianças e percorrer caminhos regidos pela disciplina, treino e meditação constante, perseverança e, acima de tudo, humildade. Esses foram os rígidos princípios com os quais meu Mestre iniciou meu treinamento, muitos anos atrás.

O caminho não precisa ser um calvário, mas sem obstáculos não se cresce. De cada desafio deve-se tirar uma lição e jamais fazê-los maiores do que realmente são. Uma lição que aprendi bem. Não há problema sem solução, assim como não há noite sem o raiar de um novo dia.

Por anos convivi com eles mas custei a compreender, realmente, o que significa ser um ninja. Até que um dia o destino cruzou nossos caminhos, e com meu Mestre aprendi a magia da arte, sua história, seu objetivo.

Isso me causava orgulho e me sentia realmente afortunado por ser o meu Mestre um homem tão generoso, me senti orgulhoso por pertencer à uma classe de guerreiros tão valorosos e habilidosos quanto humildes.

Mas também aprendi que em toda parte há pessoas que corrompem o espírito de uma ideologia em proveito próprio, para instaurar o medo e o terror puro e simples no povo temeroso. Que abandonaram os princípios mais elementares de nossa classe. Treinados da mesma forma como eu fui, mas sem os rígidos mandamentos que meu mestre me incutiu. Se hoje sou quem sou, devo a ele. Ao homem que me tornou mais do que seu discípulo, criou-me como seu herdeiro, mudando meu destino para sempre.

Começo a refletir sobre minha vida desde a noite tempestuosa de verão que me trouxe ao Dojo até o amanhecer de fim de outono em que o deixei: o dia em que também meu Mestre me deixou. Lembro-me como se houvesse acontecido ontem, de cada primeiro floco de neve do inverno sobre as folhas das árvores do jardim do Dojo, já amareladas pelo outono.

Apesar de todos os percalços ocorridos durante os longos anos, agora tão distantes, em que minha vida se resumiu ao internato, treinos e dedicação às artes marciais, tenho lembranças que jamais esquecerei, pessoas de quem sinto falta, e pessoas cuja simples memória me causa o rancor que me consome.

Teria sido o tempo mais feliz de minha vida, não terminasse de forma tão trágica. Muito tempo se passou e os serviços daqueles como meu Mestre e eu se tornaram desnecessários aos fins a que se destinavam. Fomos abandonados à nossa própria sorte, esquecidos por aqueles a quem prestamos serviços. Descartados como objetos sem valor. Por mais que não me conforme com isso, lembro-me de meu Mestre dizendo que deveria ser assim. Jamais trairíamos nossos ideais em busca de qualquer reconhecimento.

O que foi feito passou a fazer parte do passado, e quem olha para trás não enxerga o futuro e deixa de usufruir a vida. Jurei a mim mesmo que aproveitaria a minha ao máximo, em respeito à memória de meu mestre, que faleceu ainda tão jovem buscando me proteger.

A estabilidade econômica se iniciou, assim como a modernização, e aqueles como nós ficaram reclusos e, após todos os esforços que fizemos, do sangue que derramamos para que fosse possível essa realização, vemos nossa arte se dissipar e dar lugar a reles criminosos que se utilizam de nossos trajes e se encobrem com nossa bandeira para cometer crimes sem qualquer contexto ou razão maior. Não que essa seja uma razão que justifique um crime como os que cometemos.

É bem verdade que matamos e enganamos, e não me orgulho disso, mas foi por algo maior do que eu, ou meu Mestre, ou qualquer outra pessoa isolada, fizemos tudo por nossa Nação. O sacrifício de alguns em benefício de muitos.

Minha vida se regeu pelos parâmetros desta vida, que foi a única que conheci realmente. O clã ao qual pertenci há muito se desfez, em meio às chamas daquela madrugada de outono, um amanhecer que jamais esquecerei. Depois disso, daqueles que sobreviveram nunca mais ouvi falar, cada qual seguiu seu caminho, assim como eu segui o meu.

CONTINUA...