Todos os direitos autorais reservados a Massami Kurumada 'Sensei', criador de Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco), Toei e Shueisha. Trabalho sem qualquer fim lucrativo (como o de estagiário do MP), mas faço de pura diversão.

Este fanfic foi baseado nos filmes "Leis da Atração", um pouco de "A guerra de Hart" e no meu júri simulado de primeiro ano de faculdade.

RESUMO: Um crime cruza os destinos de dois advogados: um meticuloso e frio, o outro: não convencional e apaixonado. Mu e Shaka terão que superar diferenças se quiserem que seus destinos continuem lado a lado. YAOI.

PRÓLOGO

UM ANO E MEIO ANTES:

NOITE DE ANO NOVO.

Pessoas passavam alegres por ele, algumas cantando felizes, outras por estarem bêbadas e sorriam com os rostos avermelhados e expressão afogueada, se divertindo pelas ruas da cidade. Luzes! Havia luzes por toda parte: brancas e coloridas, piscantes e fixas. Vez ou outra fogos de artifício iluminavam o céu escuro da noite alta com uma profusão de cores alegres, formas e sons.

Mas havia quem não apreciasse nada do espírito da última festa do ano, a festa de ano novo, naquele momento. Um espírito atormentado pela dor e pela dúvida. Traição? Mentiras? Loucura? Olhou no relógio mais uma vez. Quinze minutos para o fim do ano. Deu uma tragada no cigarro de palha artesanal que sempre carregava consigo, e a brasa que se acendeu era a única coisa que denotava a sua presença, oculta pelas sombras daquele canto, na lateral de um caro hotel. Vez ou outra sua figura era iluminada pelos faróis altos de algum veículo. Pessoas passavam por ele mas não pareciam notar sua presença.

Suas intenções?

Eram um mistério até mesmo para ele próprio. Razão e emoção travavam um embate feroz dentro de si, enquanto os pensamentos lhe pregavam peças remetendo-o ao passado vivido alegremente, durante a mais tenra infância, lembrando-se do primo e melhor amigo: Jabu.

Jabu era o primo que morava na capital, um metropolitano nato, mas que sempre costumava passar as festas de fim de ano com ele, longe da grande agitação da cidade. Brincavam, iam até a cachoeira, acampavam, pregavam peças um no outro e nos outros. Podia-se dizer que fizeram todo tipo de molecagem a que tinham direito, e até as que não tinham! Cresceram da mesma forma, tornando mais forte o laço de amizade que os unia. Eram como irmãos.

"Amigo é um irmão que agente escolhe!" - dizia Jabu, há muitos anos atrás.

Eram tão próximos que Seiya, quando se casou com Saori não pensou em mais ninguém que quisesse como seu padrinho, apenas o primo.

Saori era a mulher de sua vida, e soube disso no instante em que seus olhos caíram sobre ela pela primeira vez, ainda no colégio. A mãe de seus três filhos, com quem vivia e formava uma grande e feliz família.

Sorriu ao se lembrar dos bons momentos que todos viveram juntos. Era como se aquelas pequenas lembranças de sorrisos, como fragmentos de sonhos, pudessem aliviar a pressão que sentia se acumular em seu interior. Ainda podia ouvir o 'sim' dito por Saori no altar, o som de ambas as vozes fazendo juras de amor eterno sob as árvores ao fim da tarde. Risos altos nas festas, como as de fim de ano... sentiu a lágrima morna correr por seu rosto à medida que as lembranças tomavam forma. Apenas uma solitária e amarga gota. Amarga quase tanto quanto seus sentimentos naquela noite. Suspirou quando os risos que sua mente ouvia se transformaram em palavras. Secou o rosto com as costas da mão num gesto rápido.

Palavras. Palavras proferidas por línguas ferinas.

"Fica de olho na tua mulher e no teu primo, rapaz." – Advertiam alguns de seus amigos e parentes mais chegados, além de ser o comentário preferido das velhas fofoqueiras 'cabeça de botão' – aquelas que vivem com a cabeça fora de casa. Durante muito tempo não lhes deu ouvidos. Fechou os olhos apertadamente quando um carro de faróis altos e potentes passou por ele na rua, lentamente, ao que pareceu.

"Desgraçado. Acha que só ele tem o direito de enxergar?!" – resmungou num rosnado inteligível a quem quer que não lhe emprestasse um par de ouvidos bem treinados e atentos.

"Tem marido que é cego!" - As palavras fizeram livre associação naquele momento, ecoando em sua cabeça como se tivessem sido ditas naquele instante exato. Sentiu raiva da dúvida que lhe assolava as idéias. Teriam algum fundamento aquelas palavras? Que razão lhes assistia? Onde há fumaça há, realmente, fogo? Ou será que tudo não passava de inveja de seu casamento feliz? Palavras amargas proferidas por pessoas infelizes e mau amadas, que sentem prazer com o sofrimento e em fazer intriga da vida alheia?

Jogou a bituca do cigarro no chão, apagando-a com o pé, num gesto de insatisfação, que mostrava, além disso: impaciência e raiva.

Respirou fundo outra vez... isso estava se tornando um hábito! – e olhou para o enorme relógio que se erguia imponente e iluminado no alto da torre de um prédio, um pouco ao longe mas perfeitamente visível. Dez para meia noite. O ano estava chegando ao fim. Fogos podiam ser ouvidos com mais frequência, agora. Era como se estivessem em contagem regressiva dos minutos faltantes para o novo ano.

Pensou no que poderia haver, tentando juntar as peças do quebra cabeças que lhe diziam uma coisa, enquanto seu coração desejava outra.

O que significava a carta?

Uma carta de amor de Saori para seu primo?!

Estariam os dois lhe traindo?! Desde quando?

Buscava sempre por algo em tudo isso que lhe dissesse um sonoro 'NÃO' como resposta, mas as imagens que surgiram no pensamento explodiram diante de seus olhos eram diferentes da realidade por ele pretendida.

Sim... era esse o motivo dele estar ali. Jabu estava hospedado naquele hotel pois participava de uma competição de artes marciais naquela cidade. Ia conversar com ele, saber, em nome de sua longa amizade o que estava havendo, aproveitando que Saori estaria passando a festa de fim de ano com os pais em outro lugar.

Por uma estranha precaução, cuja origem lhe era desconhecida, mas não menos desconfortável – aliás era bastante incômodo – procurou um advogado para saber sobre separação e guarda de seus filhos. Era quase como admitir para si mesmo que havia algo em tudo isso. A traição da qual tinha sido vítima, mesmo sem ter uma certeza que fundamentasse tudo. Nada que restasse comprovado, apenas presumido como verdade já era o suficiente para ter lhe roubado algumas noites de sono.

Este pensamento fería-lhe o coração e a alma, de tudo o que pensou que poderia ser vítima nessa vida, jamais ocorreu-lhe que as duas pessoas que mais amou na vida pudessem apunhalá-lo pelas costas.

Queria e precisava conversar com Jabu, de homem para homem. O farol de um carro que se aproximava lentamente ganhou sua atenção pelo canto dos olhos, à medida em que estacionava frente ao hotel. Observou o motorista num uniforme impecável e negro como uma noite sem lua sair e dar a volta, abrindo a porta da enorme van, de onde o primo desceu, sendo prontamente cumprimentado pelo porteiro.

Quando ia surgir das sombras e clamar por uma longa e decisiva conversa congelou no passo. A voz morreu antes de chegar-lhe a garganta ao ver Jabu estender a mão e de dentro do veículo sair sua esposa!

Ela deveria estar em outra cidade passando as festas com os pais! O que fazia chegando a um hotel quase à meia noite? E com um homem que não era seu marido?!

De um segundo para outro o sangue gelado, que lhe proibia até os movimentos – fazendo do ato de respirar uma tortura – se tornou fervente pelo ódio da revelação tão atirada em sua face ao logo de anos, para a qual fechou os olhos. E o ódio se transformou em ira ao ver seus filhos saindo do carro, acompanhados de sua cunhada, irmã de Saori.

A cena estava montada em sua cabeça: Saori e Jabu iam sair para fazer sabe Deus o que, e a cunhada ficaria a cuidar das crianças, acobertando tudo!

Sentiu-se tão ofendido que mal conseguia raciocinar. Apenas retirou do bolso o pequeno canivete que carregava sempre consigo, aproximando-se do primo que quando o avistou demonstrou certa surpresa, mas prontificou-se a cumprimentá-lo.

Não sabia mais o que estava fazendo quando cravou-lhe a lâmina no ombro esquerdo e observou-o se afastar com espanto no olhar, recostando-se contra o carro. Segundos que pareceram uma eternidade, o som dos gritos de todos presentes no local, o porteiro e os seguranças buscando afastá-lo do ferido, mas por quê?

Não seria capaz de dizer, por mais que pensasse. Apenas ficou encostado na parede, aguardando até que a polícia o pusesse dentro de uma viatura, sem show, sem fugas e perseguições mirabolantes, sem resistência, sem nada.

Apenas queria ser preso. Essa a vontade que o dominava a cada segundo que repensava seus atos naquela noite. Atos que transformaram um pacato cidadão em um criminoso. Estranhamente não sentia arrependimento.

Novamente observou as luzes da cidade, agora em tons de azul e vermelho que ofuscavam sua vista, além de pequenos flashes brancos dos fotógrafos locais, que vez ou outra tiravam uma saraivada de fotos. Os sons dos fogos foram substituídos pelas sirenes da polícia e da ambulância, os gritos cessaram, dando lugar a questionamentos dos policiais que faziam uma prévia de perguntas e recolhiam nomes de testemunhas do fato. Vozes outrora alteradas substituídas por sussurros, e o choro insistente de sua esposa.

"Ele se foi." – o mundo e os sons cessaram atividades quando aquela frase foi dita pelo paramédico que atendia o primo ainda deitado no chão. O que aconteceu? Não tinha intenção de matá-lo. Ou tinha? Como? Olhou a sua volta... nada lhe dava as respostas que buscava.

Na delegacia relatou todo o ocorrido ao delegado. Não sentia arrependimento. O homem o olhava pasmo, sem saber direito o que pensar sobre sua conduta. O que isso importava? Sua vida estava desfeita dali para sempre.

Era só do que se lembrava daquela noite de ano novo. Estranhamente gostava de se lembrar das luzes. Mas o motivo... não era capaz de dizer.

Olhou à sua volta mais uma vez. Agora estava sozinho, sua família o havia abandonado. Não tinha posses o bastante para pagar um advogado particular que o tirasse de lá.

Por ser réu primário, de bons antecedentes, não oferecer resistência nem se evadir do local do crime e, além de tudo confessar sua prática ilícita, ter residência fixa foi autorizado a responder seu processo em liberdade. Que liberdade? Parecia que todos o apontavam na rua, no que quer que fizesse.

Nesta data conversou com um jovem defensor público que lhe foi designado pelo Estado, mas não esperava muito. Sabia que na mesa dele seria apenas mais um caso dentre tantos aos quais ele deveria designar a mesma atenção e pouco tempo. Não sabia se podia esperar algum acordo, pois sabia que as famílias de Saori e Jabu pagariam algum advogado para atuar no processo. Realmente, de todas as burradas que achou que tinha feito na vida, essa foi a pior.

Olhou em volta mais uma vez. Não havia muito o que fazer por lá.

CONTINUA...