Doors
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Jamais seria seu pai. Mas talvez, com o tempo, aprendesse que um pouco de dedicação era tudo de que precisava para aproximar-se dele.
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Presente de aniversário para Smart Angel.
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Mortos.
Essa palavra ecoa por sua mente enquanto segura o telefone perto de seu ouvido. A pessoa ao outro lado da linha ainda diz algo (diz muitas coisas, na verdade) no qual ele não consegue prestar atenção. Apenas essa palavra:
Mortos.
Sua primeira reação é ficar em choque. Claro, quem não ficaria? Mas então ele se olha no espelho que se encontra na parede oposta e começa a rir. Rir, rir de chorar, porque isso não pode ser verdade. É apenas uma brincadeira, pensa ele. Porque seu irmão, aquele cheio de sorrisos e animação, não deveria morrer. Aquilo estava errado. Yoh e Anna jamais deveriam ser assassinados. Jamais.
Enquanto pensa nisso, ele encara a própria imagem no espelho. O reflexo do desespero com um acréscimo de gargalhadas. Quando fora mesmo a última vez que se encontrara com o irmão? Hao não conseguia se lembrar. Mas então a pessoa ao outro lado da linha diz algo que o atinge. Algo que não poderia dizer. Algo que mudaria tudo.
"Eles tinham um filho, Hao. E a única família que resta a ele agora é você."
Aquilo, definitivamente, só podia ser uma piada de muito mau gosto.
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Isso não pode ser verdade, repete para si mesmo, enquanto dirige até o aeroporto. É lá que seu sobrinho (ele nem sabia que tinha um) o estará esperando, acompanhado da assistente social. Segundo o que a mesma havia lhe dito no telefone, o nome dele era Hana Asakura e tinha cinco anos.
Disse também que ele era mudo, mas que isso se devia ao fato de ter testemunhado tudo com os próprios olhos.
"Foi há duas semanas atrás e tivemos muito trabalho para encontrá-lo, senhor Asakura. Procuramos por outros membros da família, mas ao que consta em nosso relatório, você é o único membro ainda vivo da família Asakura."
Isso era verdade. Seus pais haviam morrido em um acidente de carro quando ainda eram crianças e foram criados pelos avós, Kino e Yohmei, até que os mesmos vieram a falecer. Hao nunca compareceu ao enterro, pois havia saído de casa aos dezesseis anos por não suportar o fato de que seus avós simplesmente o odiavam por ser quem era.
Desde então, perdera todo o contato com a família, até mesmo com o irmão gêmeo, pelo qual nutria um carinho especial. Depois de sair de casa, havia se encontrado com ele em apenas duas ocasiões: em seu noivado com Anna e no casamento com ela.
Hao já a conhecia de outros tempos, pois os três haviam estudado juntos na única escola de Izumo antes que Hao se mudasse para Tókyo. Os três costumavam ser bons amigos e Hao sempre dissera que no futuro casaria com Anna se Yoh não o fizesse logo. Felizmente, o mais novo tomara coragem e a pedira em casamento depois de longos anos de noivado.
Depois daquilo, havia perdido contato com os dois, mas jamais imaginou que teria se tornado tio. E agora, com 23 anos, Hao se via na pior situação possível, pois jamais, em toda sua vida, se imaginara cuidando de uma criança.
Um suspiro abandona seus lábios e Hao se dirige para o portão onde o vôo já deve estar chegando. Ele não faz idéia de como agradar uma criança, então traz consigo apenas um urso de pelúcia (seria bom que tivessem um começo razoável) e um pouco de coragem. Seus olhos procuram rapidamente por qualquer vestígio de familiaridade até que o avista ao longe. Loiro e de olhos negros assim como a mãe. Um macacão azul e uma expressão fechada no rosto.
Hao inspira o ar lentamente e começa a caminhar naquela direção. A assistente social o reconhece imediatamente da única foto que possuíam em seu registro.
"Hao Asakura?" Pergunta, olhando na direção dele.
"Sim. E você deve ser Hana, certo?" Seus olhos se voltam na direção do garotinho e ele se agacha, estendendo-lhe o urso.
Os olhos negros de Hana o encaram por alguns instantes (ele não tem medo e faz questão de demonstrar isso), talvez surpresos pela semelhança que ele tinha com seu pai. Mas ele sabe que Hao não é ele. A expressão é diferente. O jeito também.
"Como eu te disse, ele... não fala." A assistente social responde por ele. "Hana, ele é o seu tio Hao e, daqui em diante, é com ele que você vai ficar, está bem? Seja um bom garoto." Ela sorri gentilmente, entregando a mão de Hana para ele e também uma mala que trazia consigo.
O garoto, ainda invocado, pega o urso e recusa a mão de Hao.
"Ele está assim desde que ficou aos meus cuidados." Ela suspira. "Aqui estão os horários nos quais ele costuma comer e ele gosta bastante de desenhar. Não o deixe ficar na tv por muito tempo, está bem? O meu telefone está no cartão, se precisar de algo, basta me ligar."
"Obrigado... senhorita Satti." Diz, após ler o nome dela no cartão. "Farei o máximo possível para seguir suas recomendações." Ele esboça um sorriso gentil e então pega a mão de Hana. "Vamos, Hana."
Sati os observa ir embora com uma expressão preocupada. De alguma forma, ela sente que aquilo não dará certo.
X
Enquanto dirige, Hao volta a atenção para Hana poucas vezes, prestando atenção em suas atitudes. Ele se parece muito com a mãe, pensa ele, apesar de ser fisicamente uma cópia do pai e, conseqüentemente, sua.
Hao não é bom com sentimentalismos, mas ele imagina o que o garoto deve estar passando, já que, de sua própria maneira, Hao sente muito pela perda de seu irmão e de Anna. Talvez não tanto quanto Hana, mas ele sente.
"Esse urso era do Yoh." Diz, parando no farol. "Ele não conseguia dormir sem ele quando éramos mais novos."
Em resposta, Hana apenas aperta mais o urso de encontro ao seu corpo. Hao estava certo: não sentia tanta falta deles como Hana sentia. Ou talvez ainda não tivesse se dado conta da situação. E ele não fazia idéia de como lidaria sozinho com uma criança.
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O trânsito faz com que demorem para chegar até o prédio onde Hao mora. Com isso, ele resolve que o melhor a fazer é passar no Mc Donald's ou não jantariam hoje.
"Boa noite, qual é o seu pedido?"
"O que você prefere? Um lanche de verdade ou Mc lanche feliz?" Ele pergunta, parando no Drive Thru.
Obviamente, Hana não responde, mas não parece sequer reagir. Hao simplesmente se esquece que ele não pode falar.
"Um número um com batatas grandes, coca-cola e um Mc lanche feliz, por favor. O brinde pode ser qualquer um."
"Aguarde um momento, ele está sendo computado... ... ... Sigam em frente e peguem o pedido."
Hao pagou ao caixa e retirou os pedidos, jogando-o no banco de trás do carro.
"Você vai mesmo continuar agindo dessa maneira comigo? Assim não conseguiremos estabelecer uma boa relação, Hana." Ele suspira, dirigindo de volta para o prédio e entra na garagem, acenando sutilmente para o porteiro.
Hana apenas abaixa o olhar para o chão, apertando o ursinho de pelúcia. Ele não entende. Ele jamais entenderá a sua dor. Então é melhor ficar em silêncio, porque ele não quer se relacionar com esse adulto idiota que se parece com seu pai. Não quer.
"Tudo bem então, como quiser." Hao estaciona o carro e abre a porta, pegando os lanches e a mala de Hana.
Em seguida, dá a volta, mas antes que segure a mão de Hana, ele se dirige na direção do elevador. Sua frustração é visível quando, ao entrarem, ele simplesmente não alcança o botão de onde Hao diz morar.
"Você um dia vai conseguir apertar sozinho." Diz ele, pressionando o botão que os levaria até a cobertura.
Hao sinceramente não sabia como lidar com crianças, pois jamais se imaginara em uma situação como essa. Assim que desceram do elevador, abriu a porta que ficava de frente para o elevador, empurrando-a com o ombro.
"Seja bem vindo ao seu novo lar, Hana." Hao caminha até o sofá, deixando a mala de Hana sobre este e então se volta para a mesa onde coloca os pedidos do Mc Donald's.
Hana sente-se inicialmente deslocado, pois nem mesmo a casa na qual vivia com seus pais era tão grande assim. Seus olhos correm por todas as pinturas, os quadros, vasos e estátuas, até uma escada que leva para o segundo andar. A sala onde Hao havia colocado sua mala tinha uma tv tão grande que ele mesmo conseguiria entrar dentro dela.
Mas não quer parecer muito animado, pois não está ali para se divertir. Imediatamente, lembra-se de seus pais e estremece com aquela visão. Tudo é turvo em sua memória.
"Hana?" Hao o chama, tirando-o do transe. "Venha, vamos comer."
Ele suspira, tentando parecer forte e vai até a mesa, sentando-se sozinho em uma das cadeiras. Hao arruma os pratos sobre a mesa e se senta ao seu lado, encarando-o por alguns instantes antes de tirar os lanches do pacote.
"O que foi?" Pergunta, ao ver Hana inquieto, mexendo os pezinhos que sequer alcançam o chão. Tudo o que ele faz é erguer as mãos. "Ah, claro, como pude me esquecer?"
Hao se ergue lentamente e pega Hana no colo, conduzindo-o assim até o banheiro. O menino se debate, até que cheguem na pia, onde Hao liga a torneira, entregando-lhe o sabonete.
Tudo poderia ter ido bem se Hana tivesse pego o sabonete, lavado as mãos e ido sentar-se à mesa, mas ao invés disso, ele mira o jato de água da torneira na direção de Hao, ensopando sua camisa nova.
"Ah, maldito!" Diz entredentes, soltando-o.
Hana apenas abre um sorriso matreiro e sobe no vaso sanitário, lavando as mãos sozinho. Hao sente o ímpeto de enforcá-lo. Qual seria a pena por matar seu sobrinho atrevido? Enquanto se seca, ele consegue pensar em muitas maneiras de matá-lo, mas apenas faz um negativo com a cabeça, lavando as próprias mãos e tirando a camiseta molhada, vestindo outra em seguida.
"Pensarei nisto depois de comer." Se diz mentalmente, sentando-se ao lado de Hana que, como um bom diabo comportado, está comendo seu lanche.
"Você podia simplesmente dizer que queria ir sozinho ao invés de me ensopar. Se continuar desse jeito, não será nada divertido morarmos embaixo do mesmo teto." Hao diz, dando uma mordida no próprio lanche.
Hana apenas dá de ombros, como se não se importasse com aquilo. Ele não se importa mesmo. Não quer que um estranho simplesmente tenha dó dele por tudo o que aconteceu. Ele não quer a compaixão de ninguém. Pensando nisso e em completo silêncio, termina de comer e já está saindo da mesa quando escuta a voz de Hao.
"Onde você pensa que vai? Aqui nós temos regras e você as aprenderá desde já." Hao se ergue, pegando os pratos. "Venha comigo."
Hana encara Hao com certa desconfiança, mas sabe que de nada adiantará fugir dele naquela ocasião e o segue até a cozinha. Diferentemente de toda a casa, é um cômodo pequeno, onde há apenas a geladeira, a pia e os armários. A dispensa ficava nos fundos, de modo que assim mantivesse melhor controle das coisas que consumia.
"Você terá de aprender desde cedo que aqui nós lavamos a nossa própria louça, entendeu?"
Dizendo isso, Hao coloca uma escadinha até que Hana alcance a pia e lava primeiro o próprio prato, como se quisesse demonstrar ao sobrinho a maneira certa de fazer. Hana fica em silêncio, a cabeça baixa, os olhos ardendo em lágrimas, mas antes que Hao possa de fato questionar o que há de errado com ele, o garoto começa a lavar o próprio prato, como se dele fosse a culpa por todo seu sofrimento.
Hao suspira, secando o próprio prato e também o de Hana quando ele lhe passa, colocando-os no lugar certo. Pensa em oferecer ajuda para Hana descer, mas sabe que ele se negará piamente a aceitar, então simplesmente se atém a pegar as coisas dele sobre o sofá e guiá-lo na direção do quarto.
Não é um quarto infantil, sequer tem decoração infantil. É apenas um quarto de paredes brancas e sem graça que sempre ficou vago na casa dele e que agora, por ironia do destino ou o que quer que se chamasse aquilo, tinha como dono seu vizinho. Somente as vezes uma ou duas pessoas o ocupavam, mas isso era irrelevante agora.
"Aqui será o seu quarto, o meu é na porta aos fundos." Diz, apontando para trás. "A empregada virá arrumar suas coisas pela manhã, então você não precisa se preocupar com isso ou com refeições, está bem? Já tomou banho hoje?"
Hana afirma positivamente com a cabeça e passa por ele, indo até a sala para pegar seu urso de pelúcia.
"Ótimo, isso nos poupa trabalho. Já está tarde hoje, então é melhor que vá dormir." Hao o deita na cama e apaga a luz, deixando o quarto para trás.
Pensa em ler um livro na sala ou fazer qualquer outra coisa, mas tudo o que quer agora, é dormir. Então, ignorando o livro que repousa sobre o criado mudo, se joga na cama, sem nem sequer trocar de roupa.
Agora, voltando os olhos na direção das estrelas, se pega imaginando que Yoh gostaria disso. Só então a falta do irmão parece ascender em sua mente. Jamais poderão observar as estrelas juntos outra vez.
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N/A:
Esse é o primeiro capítulo da fanfic.
Sinceramente, eu pensei muito antes de começar outra longshot no fandom de Shaman King, porque, porra, ninguém vai ler.
É fato, é irrevogável e vai acontecer.
Mas quer saber? Eu quero mais é que vocês que lêem e não deixam review se fodam e isso vale pra qualquer um, até pra você, Smart, e olha que eu to te presenteando com a fic 8D
Então você vai, vocês vão mandar review, porque eu quero saber a porra da opinião de vocês, caralho!
Se eu não quisesse, não postava a fic, deixava ela acumulando poeira na minha HD.
Agora deixando o meu discurso belo de lado, vamos dar três vivas e comemorar o aniversário da Bel. Viva!
Bom, como você não gosta de HaoAnna, eu não gosto de YohAnna, mas como nos gostamos e você me deu uma fic tão legal de aniversário, eu decidi te dar essa que você queria que eu escrevesse e eu decidi fazer mesmo sabendo que a probabilidade de conseguir reviews nela é zero.
Esse é um U.A onde o Yoh e a Anna morrem assassinados (Orly?) e o Hana, tendo presenciado tudo, além de única testemunha, ficou tão traumatizado que ficou mudo. Pois é, não consegue falar nem o próprio nome.
Com o tempo, vou desenvolvendo isso e vai ficar mais fácil de entender a história. E no meio dela, também revelarei mais do passado dos gêmeos, porque o Hana vai querer saber do pai dele, right?
Não sei se a narrativa vai permanecer no presente, maybe.
Mas enfim, a N/A já ta extensa e não, não sei quantos capítulos terá. Depende da minha imaginação.
Enfim.
Até o próximo capítulo.
Como já disse, quero reviews.
