TÍTULO: Para Não Esquecer

AUTORA: Crica ( sem Beta, todos os erros são meus e de mais ninguém)

FANDON: Bonanza

CLASSIFICAÇÃO: K+

GÊNERO/CATEGORIA: Western/família/amizade/drama

SINOPSE: Joe andava estranho, muito quieto e com uns ares sombrios sobre a face.

NOTA: Infelizmente, Bonanza e seus personagens não me pertencem, então, aqui está apenas o trabalho de uma fã sem qualquer fim lucrativo. Todos os direitos autorais sobre a série pertencem a David Dortorf, à CBN e à Bonanza Ventures.


PARA NÃO ESQUECER

- Adam, quero que os três vão até a Junção Cothon e arrumem a cerca – Ben estabeleceu a prioridade do dia _ Joshua disse que o gado está escapando naquela região e não podemos perder mais nenhuma cabeça.

_ Pode deixar, pai – o homem sorveu o restante do café que havia em sua xícara _ Hoss, vá buscar o Joe enquanto preparo os cavalos e suprimentos.

_ Little Joe saiu bem cedo – Hoss respondeu ao irmão, levantando-se _ Ainda estava escuro quando ouvi barulho lá fora e olhei pela janela.

_ Mas que diabos esse garoto está aprontando agora? – o pai depositou o guardanapo xadrez sobre a mesa, com força demais, fazendo barulho.

_ Eu não sei, pai – Adam se deteve e voltou-se para perto dos outros _ Ele anda esquisito, muito distraído.

_ É, pai – Hoss completou _ Nem parece o Joe que conhecemos. Tem estado distante, não come direito e passa horas na beira do lago olhando o nada ou trancado no quarto fitando o teto.

_ Vocês tem razão, rapazes... – Com tanto trabalho para a entrega do gado gordo, o patriarca não tinha reparado na mudança de comportamento de seu filho mais moço _ Ontem ele mal tocou no jantar e se disse duas palavras, foi muito.

_ Há dois dias levei um tombo daqueles no curral e fiquei todo sujo de lama bem diante dos seus olhos e, sequer uma piadinha – o filho do meio abriu bem os olhos, demonstrando admiração _ Nem uma risada!

_ O senhor tem que convir que, para Little Joe, isso não é normal, pai.

_ Está certo, Adam – Benjamin ergueu-se, empurrando a cadeira para trás e atendo-se por um instante como se algo lhe ocorresse _ Creio que sei o que está havendo com o irmão de vocês.

O mais velho dos Cartwright atravessou a sala, sentou-se em sua grande cadeira de couro, por trás da mesa do escritório e tomou um dos portarretratos dourados ali depositados, em suas mãos.

_ Hoje é o aniversário da morte de Marie – sua voz ficou atravessada na garganta.

_ Creio que isso explica muita coisa – Adam afastou-se e tomou o chapéu e o coldre _ Acho que sei onde encontrá-lo.

_ Vou com você – Hoss apressou-se.

_ Não, Hoss, deixe-me ir sozinho.

_ Mas, Adam...

_ Por favor, irmão. Está mais do que na hora de eu e Joe termos uma conversa.

_ Adam, o que pensa que vai fazer? – Benjamin interferiu.

_ Ele já está sofrendo, Adam, não vá puxar briga, por favor.

_ Não fiquem preocupados – o rapaz moreno ajeitou o chapéu e atou a fivela do cinto _ Não pretendo brigar nem cobrar-lhe nada, mas preciso ter uma conversa com Little Joe. Sosseguem, está certo?

_ Está bem filho, mas tenha paciência.

Adam sorriu de lado, um sorriso amarelo e saiu, deixando o que restava de sua família para trás; atravessou o pátio e montou seu cavalo, desaparecendo no campo, logo a seguir.

A cavalgada até a margem do lago não demorou mais que minutos e, como previra, Joe estava sentado ao lado da sepultura de sua mãe, absorto em seus pensamentos.

Adam apeou do cavalo a alguma distância e caminhou a passos lentos, matutando uma forma de iniciar aquela conversa sem que seu irmão se ressentisse de sua presença e fugisse enfurecido. Assim era seu irmão mais novo: impulsivo, passional e emotivo até o último foi de cabelo.

_ Joe?

_ Eu não vou demorar, Adam – sua voz partida respondeu, num tom incomum _ Não vou cabular o trabalho, pode deixar – o rapaz completou, sem voltar-se para encarar o irmão.

_ Não estou aqui por isso – o mais velho sentou-se de frente para o mais novo e silenciou por alguns momentos _ Joe? – Não houve resposta _ Eu queria falar com você – Ainda prevaleceu o silêncio _ Eu sei o quanto você está triste, mas...

_ Por favor... – Os olhos de Joe encontraram os de Adam, rasos d'água _ Eu preciso ficar sozinho...

_ Não, Joe, muito pelo contrário – Adam sentiu seu coração disparar, apertando o peito.

_ Por favor, Adam... – A respiração ofegante e entrecortada, tornava a aparência de Joseph ainda mais frágil.

_ Está certo, se não quer falar comigo, posso entender – tomou fôlego e continuou, mas você poderia ao menos ouvir-me – Ao silêncio do mais jovem, continuou _ Sei que não é fácil para você reviver esse dia, ano após ano e, na verdade, nunca será, mas nós gostaríamos que você soubesse que...

_ Eu não consigo me lembrar, Adam... – Joe interrompeu o irmão, causando-lhe espanto com essa afirmativa _ Procuro dentro da minha cabeça e não consigo mais ver o rosto dela com clareza, Adam... Não ouço mais a sua voz dentro de mim... Tenho medo de esquecer para sempre, Adam e deixá-la morrer outra vez – apontou o próprio peito – aqui...

Adam necessitou de alguns segundos para administrar a dor que exalava de seu irmão e levantar seu muro de proteção. As lágrimas escorriam pelo rosto jovem do homem que ele havia ajudado a criar como em seus tempos de criança. Aquele choro sentido todo seu estava ali, diante de seus olhos; aquela expressão de abandono que Adam presenciara no dia em que impedira Hoss de entrar em casa, trazendo o Pequeno Joe pela mão:

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" Hoss! – Adam correu em direção aos irmãos menores que voltavam da pescaria – Vá até o celeiro e leve Little Joe com você! Esperem por mim lá!"

"Mas, Adam..."

" Obedeça, Hoss, ou vou contar ao pai que você deixou o moleque se molhar inteiro!"

"Porcaria...- Hoss mudou de direção, arrastando o Pequeno Joseph até o celeiro, erguendo-o para colocálo sentado sobre um fardo de feno – Estou cansado do Adam ficar me dando ordens. Só porque vai fazer dezoito acha que já é adulto.

"Adam é grande, mano – Joe juntou as mãozinhas, cruzando os dedos pequenos sobre o colo- O pai disse que nós temos que obedecer"

"Hoss? – Adam chamou pelo irmão, acenando para que este saísse – Vá até a casa que o pai quer falar com você."

" Você é um grande fofoqueiro, Adam Cartwright e eu o odeio!"

O rapaz alto entrou no celeiro e dirigiu-se ao seu pequeno irmão, fazendo-lhe um afago nos cabelos castanhos desalinhados.

"O pai vai brigar com o Hoss? Ele não teve culpa, Adam, eu cheguei na beira do rio e escorreguei. Hoss me mandou ficar longe, eu juro!"

"O pai não vai brigar com o Hoss, Little Joe"

"Que bom... Eu não ia querer ver o Hoss de castigo por minha causa, não seria justo."

"Não se preocupe com isso, está bem? – Adam sentou-se ao lado do pequeno e buscou as palavras, angustiado _ Joe... Você viu a carruagem do doutor lá fora? "

"Vi. Ele veio comer os peixes que pescamos para o almoço? O doutor adora comer peixe e me dar remédio ruim" – o garotinho fez uma careta que arrancou um sorriso do maior.

"Não, Joe, ele não veio almoçar nem dar-lhe remédios dessa vez. Hoje pela manhã, depois que vocês saíram para pescar, sua mãe saiu para cavalgar"

"É, a mamãe adora montar aquele cavalão que o pai deu para ela. É um cavalo lindo, não é mesmo, Adam?"

"Sim, irmãozinho, é um animal muito bom e sua mãe é uma grande cavalga muito bem."

" A mamãe disse que vai me ensinar a montar logo, logo, assim que minhas pernas alcançarem os estribos de um pônei. Vai ser legal!"

"Eu creio que vá demorar um pouquinho, maninho" – Adam buscava forças para disfarçar a emoção e cumprir a missão que o pai lhe dera

" Por que, Adam?"

"Porque sua mãe teve que fazer uma longa viagem, Joe"

"Viagem? Mas a mamãe não falou nada sobre isso... Ela não esperou para se despedir? Eu queria dar um beijo nela e acenar até a curva da estrada. O Hoss vai ficar triste também."

"Ele vai, Joe, mas infelizmente, não houve como esperar por vocês dois."

"E essa viagem vai levar quanto tempo? Por que o pai não foi com ela?"

"Vai demorar bastante e o pai não foi porque, nessa viagem, só a sua mãe poderia ir, Joe."

" A mamãe não vai voltar, vai, Adam?" os olhos do pequeno transpareciam o que sua pequena alma já desconfiava.

"Não, irmãozinho, ela não poderá voltar" – Adam engasgou "Mas nós estaremos sempre aqui com você, Little Joe, eu, o pai e Hoss."

"Adam... – um soluço derrubou todas as lágrimas que envidraçavam os vivos olhos verdes do pequenino- A mamãe morreu como a avó do Charles, no outro dia?"

" Sim, Joe."

"Eu quero a minha mãe, Adam...- o menino abraçou o irmão maior – Por que Deus é tão malvado, Adam? – Joseph ergueu a cabeça e no seu rosto havia uma raiva enorme.

"Não diga isso, maninho"

"Digo, sim! Por que Deus nos odeia tanto?"

"Deus não nos odeia, Joe..."

"Se ele não nos odiasse, não teria levado a sua mãe, a mãe de Hoss e agora a minha. Por que nós não podemos ficar com nossas mães e porque o pai tem que sofrer? O que foi que nós fizemos de tão errado, Adam?"

"Eu... não... s...sei..."

"Você tem que saber! – menino quase gritava, enraivecido- Você é o meu irmão mais velho, tem que saber as respostas!"

Adam amparou seu pequeno irmão, contendo-o num abraço apertado e permitiu que suas lágrimas também se libertassem da prisão que era seu coração.

"Eu não sei todas as respostas, Joe, mas não culpe Deus. Foi um acidente. Um acidente..."

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_ Joe... – Adam abraçou seu jovem irmão, trazendo-o para perto de si e segurando-o com força_ Eu quero que me perdoe se não demonstro o quanto amo o pai, você e Hoss. Quero que você saiba que não há nada mais importante e... que eu entendo, eu compreendo a sua dor, que também é minha, maninho.

_ Do que você está falando? – Joseph soltou-se do abraço e limpou o rosto com as costas das mãos.

_ Eu não conheci minha mãe, você sabe e o referencial materno que tenho são da mãe de Hoss e da sua. Sua mãe foi minha mãe por seis anos, Joe e é dela as lembranças que tenho. Da minha própria, não fosse o retrato que o pai colocou na moldura, não saberia sequer a aparência.

_ Eu sei... – Joe engoliu o choro e permitiu que Adam olhasse dentro de sua alma.

_ Foi a sua mãe que me incentivou nos estudos, me ensinou a esgrima para que ensinasse a você e convenceu o pai a me deixar ir à faculdade em Boston. Não fosse por Marie eu jamais seria um arquiteto.

_ Eu não sabia... Você nunca contou essas coisas, por que?

_ Porque eu não queria dividir suas lembranças. Suas lembranças são suas, Joe – Adam precisou respirar mais profundamente para continuar _ E não importa o que qualquer um possa dizer, sua mãe foi uma mulher maravilhosa e você tem muito dela.

_ O pai vive dizendo isso – Pela primeira vez, nos últimos dias, o rapaz sorriu _ Como sou teimoso...

_ Você tem a coragem, a impetuosidade e a curiosidade de sua mãe, irmãozinho, mas também tem a sua lealdade, a sua determinação e o seu coração de ouro – Adam apoiou a mão atrás do pescoço de Little Joe, fitando-lhe os olhos, seriamente _ Portanto, não há com o que se preocupar, porque não se pode esquecer o que se é.

_ Estou ficando envergonhado... – Joseph sorriu mais abertamente.

_ Não se envergonhe. Marie estará sempre no coração desta família através de você – Adam sorriu também e secou o rosto _ Lembra do que eu lhe disse no celeiro quando você perguntou como poderia ver sua mãe quando a saudade fosse muito grande?

_ Para olhar para as estrelas que ela estaria lá em cima, olhando por todos nós.

_ Então, pequeno irmão, o que me diz de voltarmos para casa e, hoje à noite, todos nos sentarmos na varanda para olhar as estrelas?

_ Acho que ela gostaria disso – Joe aceitou a mão do irmão que já estava de pé, à sua frente.

_ Vamos para casa. Você precisa comer. Hoss está preocupado que se torne um saco de ossos ambulante – bateu atrás da cabeça do caçula e seguiu-o até o cavalo.

_Adam? – Joe deteve-se, antes de montar _Obrigado.

_ Pelo que?

_ Por seu meu irmão.

_ Não há de que, irmãozinho – Adam montou e puxou as rédeas do cavalo _ Mas não pense que, por causa desse nosso momento 'mulherzinha' você vai escapar do trabalho duro. Tem uma cerca esperando por nós depois do café da manhã.

_ Estava bom demais para ser verdade – Joe seguiu o mais velho, num galope animado, de volta para casa.

FIM


NOTA: Meus mais sinceros agradecimento pela audiência e pela paciência. Só para lembrar: comentários fazem um bem danado à alma de pretensos escritores.

Até a próxima!