No primeiro momento, Blake Bradley não identi ficou o que o havia atingido.

Envolvido por um alegre círculo de convidados do casamento, ele levava aos lábios a sua taça de champanhe quando subitamente um objecto cruzou o ar. A liga rendada da noiva, ainda quente do calor da sua perna, alcançou-lhe a testa bem acima do olho. Passado o susto, Blake instintivamente a agarrou no piso de már more do salão de festas. Os convidados abriram espaço e, para sua perplexidade, começaram a aplaudir e parabolizá-lo.

No palco, directamente no seu campo de visão, a dama de honra estava sentada com seu vestido azul um pouco erguido, uma perna em suspenso e um olhar malicioso na face. Era loira, bonita e apertava nas mãos o buque de flores da noiva. Pela expressão visível em todos os rostos, Blake deduziu o óbvio: esperavam que ele colocasse a liga na perna que a moça oferecia.

Ao lado do noivo, a recém-casada entretinha-se em bater palmas ao compasso da música, tocada com estridência por uma banda de amadores. O baterista produziu um rufar de tambores, e o mestre de cerimónia gesticulou incisivamente, apontando para a coxa exposta da loira.

Blake ficou paralisado. Que estranho costume!

Um turbilhão de pensamentos girou na sua mente, incluindo o de escapar dali o mais depressa possível. Devia sentir-se gratificado. Afinal, aquela era a primeira vez que ganhava algo mais do que uns parcos dólares na lotaria. A situação não o encabulava, mas por que o prémio tinha de ser um teste de masculinidade? Ele girou o olhar para a perna escultural que o aguardava e pensou em uma boa desculpa para declinar da honraria. Não achou nenhuma. O noivo era seu primo, e ele era o seu padrinho. A tradição da cerimónia estava em jogo. Para evitar constrangimentos, resolveu entrar no espírito da festa.

Ele respirou fundo, tomou um gole encorajador de champa nhe e passou a taça para o vizinho. Assim fortalecido, caminhou para junto do palco, onde a jovem loira permanecia cheia de expectativa, agora um tanto envergonhada. Blake não a culpou. Haviam se conhecido pouco antes, e o gesto que ele estava para fazer era bastante íntimo.

Ajoelhou-se diante da moça, removeu cuidadosamente o gra cioso sapatinho e deslizou a liga com firmeza pelo pé, depois pela perna sedosa até acima do joelho. Sentiu-se ruborizado ao ver, na dama de honra, mais encantos do que gostaria de admitir. Parou e, batendo a mão sobre a meia rendada, fez menção de erguer-se.

— Não! Não! — Os convidados falaram em coro.

— Mais para cima! — Indicou a seu lado o mestre de cerimónias, mantendo-o agachado e indicando o caminho.

Blake suspirou outra vez, olhou para a jovem como se pedisse desculpas e subiu a liga um pouco mais.

— Mais, mais! — Gritava a pequena multidão.

Em silêncio, Blake conteve seu mal-estar e pausadamente moveu a liga coxa acima, mais um centímetro, depois outro e outro. Seu corpo se acalorava a cada movimento. Os incentivos que lhe eram dirigidos não amenizavam seu desconforto, muito pelo contrário. Quando chegou ao fim da meia, na parte superior da coxa femi nina, estava rubro como um adolescente pego em flagrante.

Um último rufar de tambores e o som dos pratos assinalaram o fim da brincadeira. Como qualquer outro homem, Blake gos tava de uma anedota machista, mas o olhar triste da jovem que ele tocava tão intimamente era incómodo demais.

Murmurou suas desculpas e torceu para que tudo logo fosse esquecido.