Hello, pessoas! Depois de um loongo período sem escrever nenhuma fic e lendo muito pouco, apareço eu de novo. Essa fic se passa depois do sétimo livro, e foi escrita bem logo depois de eu ter lido ele. Logo, tem spoilers... Não muito graves, mas enfim...
Recadinho: Obrigada por betar pra mim, Clarita. Ah, eu acho que ñós temos que terminar um projeto conjunto, né...
Nada aqui me pertence, etc.
Boa leitura!
Nemesis olhava o álbum de fotos mais uma vez. Percorria com seus olhinhos negros e sagazes cada memória imagética e móvel a sua frente, como se já não soubesse de cor o que veria em cada uma das páginas que virasse. Tentava descobrir detalhes ainda não enxergados em cada foto, mas não se detinha muito tempo nelas; na verdade, sabia que não tinha mais nada a ser descoberto nos retratos de seus avós, de seu pai e de seu tio, e de outros parentes que ali figurassem. Até chegar à foto majestosa -uma das maiores do álbum, ocupando uma página inteira- de seu pai e sua mãe no altar.
Era tão linda! Acariciou a imagem que ria de forma muito própria, diferente do sorriso que costuma figurar nos álbuns de outras noivas. A pequena não sabia definir com palavras, então guardava aquele sorriso simplesmente como uma característica de sua mãe. Era o único registro dela entre os Lestrange, e a pequena bem que gostaria de ver sua mãe — assim como podia ver seu pai — quando criança. Teria sido parecida com ela própria? Tinha olhos e cabelos negros como Rodolphus — ou como Bellatrix?—, mas acreditava que a tendência de seus cabelos para adquirir vagas ondas era herdada de sua mãe; queria saber se aquela mulher tão linda tivera sardas aos dez anos. Mas Nemesis não tinha essas informações. Passou a página, após dar mais uma olhada em Bellatrix.
A preceptora chamou não muito tempo depois. Já passava da hora de uma pequena dama estar debaixo das cobertas. Nemesis teria algum tempo livre no dia seguinte para voltar à sala de estar, pegar o álbum dentro da gaveta de uma mesinha de canto, sentar-se próximo à lareira e observar aquelas mesmas fotos. Levantou-se, guardou seu tesouro, e foi aos pulinhos encontrar a mulher mais velha, severa e de olhos miúdos. Foi repreendida pelos pulinhos, à caminho de seu quarto. Desculpou-se com a educação principesca que vinha recebendo; foi repreendida por se esquecer de que era uma quinta-feira, dia em que a só deveria se comunicar em francês, e não em russo. Desculpou-se da forma correta. Mais tarde, sofreu um feitiço ardedor de língua por tentar apagar as luzes manualmente, e não com magia. Dormiu tranquilamente e teve felizes sonhos com sua mãe.
A primeira despedida para Hogwarts — e as demais também, ao longo dos anos — foi seca, como não poderia deixar de ser; um pedido para que não deixasse de responder à correspondência com pontualidade, vindo do avô; um beijo na testa e recomendações, da avó. Srta. Hopkins, a preceptora, acompanhou-a até a estação.
A senhorita Brigitte Hopkins era uma inglesa muito respeitável, apesar de seu passado. Filha de mãe louca, integrante de um circo em ascensão, viajou por toda a Europa, quando criança, e com isso sequer aprendera a ler na idade correta; trabalhava fazendo feitiços tolos para distrair trouxas estúpidos que gostavam tanto de ser enganados, que acreditavam serem truques as magias a que assistiam. De volta à Inglaterra, aos oito anos, a garota se viu sozinha quando a mãe foi internada. O circo não se interessou em manter a criança sem a mãe, e deixou-a só; foi acolhida, então, em um orfanato. Aprendeu a ler e aprendeu também que deveria esconder sua magia dos trouxas. Odiou-os por isso. Foi chamada para Hogwarts e lá se tornou uma aluna muito aplicada. Terminando o curso regular, se graduou como magistrada usando o dinheiro que conseguiu, quando ainda em Hogwarts, dando aulas particulares para alunos mais novos que ela. Depois de trabalhar um tempo como professora em uma escola bruxa de primeiras letras, viajou para alguns dos países que visitara junto com a mãe — que não voltou a procurar—, a fim de aperfeiçoar seu conhecimento sobre as línguas que aprendera na infância. De volta à sua terra natal, ingressou na carreira de preceptora, aproveitando-se de seu multilingüismo e de bons contatos —adquiridos em seus tempos de Hogwarts. Estabeleceu-se sem família em uma pequena casa no centro de Londres — passava pouquíssimo tempo nela, já que sua noção de que crianças têm que ser educadas com severidade, mas que a última palavra é sempre dos pais delas garantia empregos de anos de duração, que mantinham a senhora longe de seu "lar".
Quando os Lestrange ganharam a posse de sua pequena neta — Nemesis tinha dois anos quando os feitiços que a ocultavam foram quebrados—, que aliás, eles só conheciam de ouvir falar, correram a buscar o melhor meio de educar a criança com primor sem ter trabalho — já haviam criado seus próprios filhos, não queriam desgaste com netos. Uma babá foi contratada imediatamente, e através dela eles ficaram sabendo da Srta. Hopkins, uma excelente preceptora que já beirava seus cinqüenta anos. Foi a melhor decisão que tomaram em relação à pequena.
Nemesis deveria escrever para seus avós diariamente, obedecendo às regras de sua mestra quanto ao idioma que deveria ser utilizado em cada dia da semana; os senhores falavam inglês e francês e liam latim. Por isso, a preceptora — agora dispensada dos trabalhos diários, mas contratada a cada feriado como natal ou páscoa para acompanhar a jovem Lestrange em viagens pela Europa bruxa — ainda recebia para ler as cartas da garota, apesar de já estar empregada em uma outra casa. Lia para eles o russo, o italiano, o alemão e o português. O avô ensinou, ele mesmo, os rudimentos que sabia de latim à sua neta, e se dirigia a ela o máximo possível nesse idioma.
Hopkins também se incumbira de ensinar à pequena bons modos, algumas poções e muitos feitiços simples - a proibição ministerial era contornada com um feitiço que a preceptora aprendera quando criança, no circo.
Agora, em Hogwarts, a pequena sonserina encantava a todos, dos colegas ao Diretor da escola, Flitwick.
Uma pequena princesa nascida da união de Black com Lestrange. Por Ted Lupin, Harry Potter soube daquela criança que — ele tinha certeza — marcaria simbolicamente o início da terceira geração dos seguidores de Voldemort, não fosse o fato de que o bruxo das trevas agora estava morto. Não sabia que Bellatrix tivera um bebê, até que Ted o informasse da terceiranista sonserina reservada, educada, inteligente e muito bonita.
Narcissa nunca soube muito bem se deveria procurar sua sobrinha ou não; ela tinha sangue puro, pelo menos, mas ainda assim isso não tornava as coisas fáceis de serem resolvidas. Tinha uma sobrinha com um pouco mais de idade que seu neto. Narcissa sentia uma pontadinha de despeito por Bella ter tido a coragem de dar à luz em uma idade já avançada — admirava a irmã por isso na mesma medida que tinha inveja da atitude dela. Bellatrix não temera convenções sociais, simplesmente tivera sua filha e pronto. Embora, Narcissa não esquecia essa parte, a criança tivesse ficado escondida — ninguém podia imaginar onde — enquanto sua mãe era viva. Zombara de Bella por ela não ter tido filhos antes de ser presa, e por ter perdido a oportunidade nos anos em que permanecera em Azkaban. Sentia um pouco de compaixão, também, mas enfim... não podia perdoar Bellatrix por ter gerado uma garota — grande sonho de Narcissa que não foi acalentado, mesmo sentido-se orgulhosa de si mesma por Draco.
Agora, queria se aproximar de sua sobrinha, mas ao mesmo tempo, não queria. As coisas sempre foram confusas para Narcissa quando o assunto era relacionado a Bellatrix.
Bellatrix segurou o pequeno serzinho avermelhado em seus braços e por instantes se sentiu absolutamente estranha. Quem era ela? Quem ela havia sido antes do parto e quem ela seria depois? Não importava, no momento. Pela primeira vez em muitos e muitos anos, involuntariamente Bellatrix colocava alguém que não ela mesma ou o Lorde das Trevas como o ser mais importante em sua vida. Mesmo enquanto tinha sua pequena dentro de seu corpo, Bella não tinha sentido, verdadeiramente, o peso do significado da palavra 'mãe'. Agora, que via que existia uma causa real para o uso do Feitiço Ocultador — inventado há séculos, mas pouco utilizado devido à sua complexidade, a proibições governamentais e à necessidade de desprezo verdadeiro da mãe pela nova vida—, que entendia que apesar de não exibir o ventre inchado, havia realmente um bebê crescendo dentro dela, Bella sentia seu mundo ruir, ao mesmo tempo que, surpreendentemente, sentia como se sempre tivesse amado aquela criança com todas as suas forças. Era sua, seu bebê, sua filha. Sua. Matou a trouxa que enfeitiçara com Imperius para que assistisse seu parto, depois limpou a si mesma e a Nemesis — nome da mitológica deusa da Vingança — com a varinha, e só então compreendeu que dera à luz em um beco escuro e sujo, por que não tinha imaginado que morreria de dores enquanto estivesse na rua, e que aquelas dores eram um indicativo óbvio de que em breve sua filha quereria conhecer o mundo para o qual fora feita. Estava no meio de um ataque quando se dispersou dos outros por não suportar mais a dor. Rodolphus, único que sabia da gestação além de Voldemort, não estava no grupo de Bella quando aconteceu.
Agora, que Bella pôde voltar a raciocinar, pegou sua filha e aparatou para casa — um lugar sombrio, afastado e altamente protegido magicamente, com algumas casinhas sem luxo desnecessário, em uma das quais morava com seu marido — embora passassem pouco de seu tempo lá. Precisava contar o quanto antes sobre o nascimento de Nemesis aos dois. Ao Lorde, primeiramente, e depois a Rodolphus.
Meus pais foram mortos por uma causa maior, é o que eu sempre ouvi de meus avós. Mortos por traidores do sangue, amantes de trouxas, bruxos alienados e inconseqüentes que não compreendiam o quão superiores eles eram. Eu odeio os trouxas, e ainda mais os traidores imundos da minha raça — os primeiros ainda têm a justificativa de não terem escolhido nascerem trouxas estúpidos; mas que bruxo, plenamente dotado de suas faculdades mentais, poderia apoiar aqueles seres tão inferiores? Aprendi em História da Magia que Harry Potter havia sido o líder dos bruxos que destruíram sonhos. O sonho de pureza de raça, de salvação do mundo. O sonho de conhecer meus pais.
Em um raro momento de pessimismo — o parto ainda deixou Bellatrix muito abalada emocionalmente por alguns dias —, a favorita de Voldemort cogitou que ele poderia perder a guerra. Era tudo reflexo de um medo absurdo de o mundo desabar sobre sua filha, de repente. Bella resolveu se precaver. Já era certo que a garota seria a melhor Lestrange possível. Carregaria a nobreza das duas famílias, a honra, o porte, o nome... era uma criança privilegiada. Uma princesa, um trunfo. Mas para a segurança da pequena, de Bella, de Rodolphus — enfim, da grande causa do Lorde —, Nemesis deveria permanecer escondida até uma mudança de ventos que confirmasse sua necessidade de exposição ou que assegurasse que a garota estaria segura.
Bella pegou um rolo de pergaminho, pena e tinteiro. Usando sua caligrafia enferrujada — que um dia fora bela, na época em que sua dona também gozava da beleza inerente aos Black—, a mulher que há menos de uma semana se descobrira mãe escreveu, em um só fôlego, uma carta extensa explicando tudo, tudo. Era uma atitude desesperada, mesmo. Um instinto, um impulso que não se justificava por nada que Bella fora até então, até a manhã no beco sujo. Não condizia com suas promessas, não condizia com sua fidelidade ao Lorde... talvez condissesse com a fidelidade, no fim das contas.
Jogou um feitiço sobre as próprias mãos e depois sobre o pergaminho dobrado e lacrado dentro de um envelope; tinha que tirar qualquer vestígio físico seu daquele papel. Outro feitiço antigo, quase esquecido. Foi até o berço onde repousava sua criança e arrancou um punhado do ralo cabelo do bebê, que chorou copiosamente com a dor. A mãe não lhe deu atenção, o que fazia era mais importante; a dor logo passaria, de qualquer forma. Jogou o cabelo virgem, sem a mácula de uma tesoura ou de toques libidinosos, sem a marca da idade, que engrossa e clareia os fios, sobre o pergaminho — cabelo, apenas cabelo, apenas uma extensão pura do serzinho inocente que chorava no berço, sem saber que a dor era boa, sem saber que precisamente essa dor que sentia, naquele momento, era boa. Depois de jogar os fiapos sobre o envelope, Bella conjurou uma bacia d'água; em seguida, ateou fogo ao pergaminho, enquanto murmurava feitiços estranhos. Seria bom se houvesse traços de sangue nos fios. O envelope não se carbonizou, no entanto, e começou a adquirir tonalidades variadas de cores quentes e frias, alternadas. Quando o envelope brilhava como o próprio fogo, Bella jogou água sobre ele. Depois, tomando da pena, fez tantos risquinhos no pergaminho - seco, que absorvera os fios de cabelo, agora apenas um alto-relevo — quantos dias seriam necessários até que Nemesis completasse quinze anos. Conjurou uma bacia metálica e jogou o envelope dentro dela, depois de acender sua ponta na lareira. Observou a carta se retorcer e enegrecer, enquanto reparava que os soluços de seu bebê haviam diminuído. Estava feito.
O mundo bruxo se habituou novamente com a paz.
Eu estava em minha sala comunal, estudando; já havia recebido cartas e presentes de meus avós tão logo eu acordei. Foi quando a lareira se incendiou sozinha, como se alguém tivesse alimentado seu fogo há poucos minutos. Eu não alimentei o fogo. Um envelope se materializou e, para o meu horror, ele fez o caminho inverso ao que os pergaminhos fazem quando são incendiados: foi-se materializando, se reconstruindo, aos poucos. Depois, cuspido pelo fogo, veio parar aos meus pés. Com meu nome escrito. Quem o fez, teve um trabalho imenso, pois se dispôs a escrever meu nome completo compondo cada letra de vários pequenos e irregulares tracinhos; eu podia notar se olhasse bem de perto. Pergaminho trabalhado em relevo, finas linhas. Abri a carta, apesar do medo que senti quando vi o fogo se comunicando comigo — obviamente, era a única coisa que eu poderia fazer naquele momento.
Eu sou uma pecadora no quadribol. Nunca me dei bem com nada que envolvesse suor, lama e, em alguns casos, sangue. Por isso, eu estava sozinha durante um jogo crucial da Sonserina contra a Grifinória.
A carta terminou de me derrubar. Afinal, o mundo que eu construí com migalhas históricas era uma mentira, que só me foi contada por culpa dos bruxos da Luz. Aos diabos a dicotomia Luz e Trevas, mas nesse momento eu senti uma atração violenta para o "lado mau" do mundo. A luz me cegou e feriu.
Meu pai estava morto, isso era fato. Minha mãe, também. Meus avós paternos, também. Chorei. Andei pela sala comunal, com o envelope em mãos. Meu nome se transfigurou no pergaminho que havia sido enfeitiçado para que eu, e somente eu, em todo esse mundo, fosse capaz de abri-lo e ler seu conteúdo. Nemesis Black Lestrange. Os risquinhos do último nome agora formavam outras letras.
Voldemort.
Um nome próprio tornado nome de família. Uma apropriação estranha, nunca desejada, no entanto magicamente realizada. Uma mulher amou um ideal, e o associou a uma pessoa. Por conseguinte, amou essa pessoa desesperadamente — ou o contrário. E, por extensão, a continuação física dessa pessoa — que também era sua própria continuação física.
Continuação esta, talvez, também ideológica.
O Neocomensalismo, de origem inglesa, foi uma ideologia corrente nas primeiras décadas de 2000, no mundo bruxo. Lady Voldemort, ou A Princesa das Trevas, o encabeceou. Foi um momento de terror comparável ao Nazismo alemão, ideologia corrente na década de 30 no mundo trouxa.
Trecho extraído de: Minienciclopédia Encolhível de Bolso de Termos Bruxos e Trouxas. 2075. Toronto.
Bom, essa fic é um teste; eu precisava tentar estratégias novas de escrever. Até que eu não achei tão ruim, tanto é que tô postando a fic, mas não sei se quem tá de fora vai conseguir achar ela interessante.
Quanto a continuações, o negócio é o seguinte: essa fic, originalmente, deveria ser só isso aí que tá postado - ela tem um começo, um meio e um fim; não necessariamente nessa ordem. Mas eu já escrevi "complementos" para a fic, não é que a história continue, eu simplesmente preenchi um pouco mais as lacunas. Mas não totalmente, meu objetivo é deixar coisas sem serem esclarecidas, mesmo. Agora, se vou postar esses "complementos" ou não, vai depender da resposta que eu vou obter com esse primeiro capítulo. Traduzindo: só tem mais se tiver review.
Era isso.
