Algumas considerações sobre essa fic:

1. É uma fic BBxRae, ou seja, Mutano e Ravena. Algumas cenas Mutano x Terra podem acontecer, mas a essência Mutano x Ravena sempre estará presente.

2. O tempo será uma variável importante, tanto em datas como em horas. Por isso, fique atento.

3. Para os efeitos esperados, eu usei as datas de primeira exibição dos episódios como a data em que os eventos do dito episódio aconteceram. Quando eu quiser chamar atenção para um episódio e sua data de ocorrência, informarei antes do capítulo.

4. Essa fic tem uma relação com outra fic que escrevi e está publicada nesse mesmo site: 'A Esperança de Azarath'. Porém, você não precisa ler uma para entender a outra. São apenas Easter Eggs.

5. Essa será uma fic longa, e os capítulos serão postados semanalmente. Como o site está um pouco parado, peço para que, se você ler e gostar, por favor poste uma review, mesmo que anônima.

Obrigada e boa leitura.

Teen Titans não me pertence.

Capítulo 1 – O Reencontro

Jump City, 2024, 13h00min.

Tara Markov, antigamente conhecida como Terra, saiu da lanchonete a passos apressados. Andou até a praça do outro lado da rua, mexendo nos bolsos do longo casaco marrom surrado. Por baixo dele, ainda trajava o uniforme de garçonete, vestido rosa claro e avental branco. Tirou um maço de cigarros de um bolso e um isqueiro verde de outro. Puxou um cigarro com a boca, manchando-o com batom vermelho, e devolveu o maço ao bolso. Estava frio, e ventava. Protegeu a chama do isqueiro com a mão livre e soltou um suspiro de alívio ao dar a primeira tragada. Fechou os olhos, sentindo o cheiro do tabaco, e encostou-se em uma árvore grande, contra o vento.

Era sua hora de almoço. Todas as outras garçonetes almoçavam na lanchonete mesmo, ou iam a algum outro lugar com seus namorados, muitas vezes com algum cliente. Ela nunca almoçava. O cigarro afastava a fome. Estava muito magra, e muito pálida. Observou a pracinha. Muitas crianças brincavam no playground, todas fofas por causa dos agasalhos que as mães obrigaram a colocar. Era sábado. Mesmo frio, os pais não conseguiram prender as crianças em casa. Tara soprou a fumaça. As crianças gritavam muito alto, estavam irritando-a. Mesmo no meio da gritaria, porém, escutou uma voz familiar, chamando um nome familiar.

-Gar!

O cigarro oscilou entre seus dedos. Virou a cabeça na direção de que viera a voz. A visão fez com que se encolhesse, ficando quase totalmente escondida atrás da árvore.

A voz viera de uma moça de estatura média, cabelos compridos cor de violeta e pele cinzenta, trajada com um elegante casaco preto. Trazia uma criança muito agasalhada nos braços, e parecia irritada. Ouviu-se uma porta de carro batendo.

-Estou aqui, Rae, calminha. – respondeu um homem sorridente. Tara apertou as mãos, enfiando as unhas na palma dolorosamente.

O homem era alto, com físico bem definido, e tinha pele verde. Seu cabelo também verde estava um pouquinho mais comprido do que quando Tara o conhecera, e o vento o bagunçava, apontando mechas para todas as direções. Usava uma jaqueta marrom clara e também tinha uma criança no colo, tão agasalhada quanto a irmã, além de uma bolsa grande em um dos ombros. Andou até a moça, suavizando-lhe a expressão.

-Não acho uma boa idéia. – disse Ravena apreensiva. – Elas podem se resfriar.

-Rae, você as agasalhou para irem ao pólo norte, a ultima coisa que vão pegar é um resfriado. – respondeu Mutano tranqüilizando-a. – Além do mais, elas iam acabar deixando todo mundo doido na Torre, estão muito agitadas.

Os dois iam andando para o playground. Tara os seguiu. O casal se sentou em um banco e pousou as crianças no chão, que se dirigiram rapidamente para os brinquedos. Tara se sentou no pé de uma árvore próxima, uma árvore menor. Poderia ser vista se um deles olhasse para trás. Apagou o cigarro na terra úmida para que não sentissem o cheiro.

Mutano passou o braço por trás dos ombros de Ravena e beijou o topo de sua cabeça violeta, esta em seguida pendeu para se encostar ao ombro do marido. Tara sentiu uma pontada de dor.

"Você está no MEU lugar, Ravena" pensou com raiva.

Ravena se mexeu desconfortavelmente.

-O que foi? – perguntou Mutano suavemente.

-Uma sensação ruim... – respondeu a empata, levando as mãos ao peito. Procurou as filhas com os olhos. Brincavam na gangorra.

Tara tentou controlar seu fluxo de raiva. Esquecera-se dos poderes da bruxa.

-Está tudo bem, Rae. – Mutano abraçou-a. Tara desviou o olhar e prendeu fundo as emoções.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, então começaram a conversar sobre algumas coisas normais. Tara surpreendeu-se com o estilo de vida que levavam agora e, pelo que pôde ouvir, os outros titãs também. Tinham mais dois filhos mais velhos, que estudavam, e uma casa na cidade. Tara conhecia de vista seu filho mais velho. Ouvira falar de seu nascimento, foi quando percebeu o quanto Mutano já a tinha superado. Via-o de vez em quando indo para a escola. Era muito parecido com o pai.

Ouviu os gritinhos das meninas se aproximando, ambas já sem a touca e as luvas.

-Ah, onde vocês as deixaram? – perguntou Ravena desapontada. – É bom que não as tenham perdido.

-Emprestamos para nossos bonecos de areia, mamãe. – respondeu uma delas despreocupada. – Vocês não querem ver? Vamos, vamos!

Ravena foi arrastada pela filha para o banco de areia, e Mutano ficou com a outra, deliciado com seus gritinhos de alegria ao levantá-la até onde seus braços alcançavam. Era uma menininha linda, loira de olhos verdes, com traços delicados.

"Ela poderia ser a minha filha." Pensou Tara invejosamente. "E eu... Eu o faria muito mais feliz."

Olhou o relógio de pulso. Sua meia hora de almoço acabara. Levantou-se silenciosamente e se afastou da família feliz, indo em direção à lanchonete. Não fumara o suficiente. Passaria o resto da tarde com fome.

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Tara chegou quase se arrastando ao pequeno prédio encardido. Estava cansada. Trabalhara com fome e carente de tabaco. A gerente chamara atenção para sua péssima aparência e a fez passar muito blush, para parecer mais corada e saudável. E o pior, remoer toda a cena nojentamente feliz da hora do almoço. Subia as escadas devagar, pois se subisse muito depressa, ficaria sem fôlego por causa do cigarro. Prédio idiota sem elevador.

Enfim, postou-se à frente da porta com número 31. Girou a chave e entrou, sem acender a luz, jogando-se no sofá. Não queria ter que ver seu lar triste de novo. Pequeno, bagunçado e triste. A casa dos Logan devia ser grande, limpa e arrumada. Perfeita.

Levantou-se e foi até a cozinha. Os últimos resquícios de luz do Sol iluminaram o suficiente para que fizesse um sanduíche. Comeu-o vorazmente e depois, foi até a janela do quarto fumar.

Tara ficou imaginando se merecia tudo isso. Deu uma risada sem humor. Se o povo de Jump City soubesse o que fizera com sua cidade 20 anos atrás, teria menos ainda. Slade... Era tudo culpa dele. Queria nunca ter confiado nele e em sua voz macia. Dera as costas às pessoas que realmente queriam o seu bem. Quando percebera seu erro, era tarde demais. E ainda assim, eles a perdoaram.

Lembrou-se de quando acordou na caverna escura e úmida, tendo aos pés um buquê de flores murchas e uma placa linda com as palavras "Terra. Uma Jovem Titã. Uma Amiga Fiel." Ficou envergonhada demais para voltar, com medo demais para tentar usar os poderes de novo. Quando Mutano a encontrou, perdoando-a de um modo que chegava a ser cego, não conseguiu olhar nos olhos dele sem sentir culpa. Além do que, ela nunca o amara. Ele não fora um motivo forte o suficiente para voltar e encarar a desconfiança dos outros.

Porém, conforme sua vida foi passando, Tara chegou à conclusão de que, apesar de não amar Mutano, devia ter ido com ele. Ela o amaria com o tempo. Talvez só ele a fizesse feliz. Aliás, nas atuais condições, qualquer coisa seria mais feliz. Não conseguira ficar parada na escola estudando. Ela pertencia ao mundo, às viagens. Ou, ao menos, a uma vida com mais ação. O máximo de ação que tinha hoje era mudar de emprego e cidade constantemente.

Ela estava com inveja de Ravena. E com raiva de si mesma por ter deixado Mutano lá, para ela. Se nunca tivesse ido embora... Ele seria seu.

Apagou o cigarro e, com esses pensamentos, adormeceu.

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Quando acordou, o sol estava alto no céu e o apartamento, todo iluminado. Tara se levantou esfregando os olhos. Ligou a TV e foi à cozinha preparar café.

Estava passando Jornal. Uma moça bonita informava que a semana seria quente. Em seguida, o âncora introduziu a notícia de que um super-vilão fora pego e passou a palavra para a repórter que estava no local.

-Ah, ótimo, justo o que eu queria, ouvir falar de seus feitos maravilhosos de novo. – murmurou Tara, jogando água quente na xícara com café instantâneo.

-Nessa madrugada, os super-heróis Titãs impediram o roubo de uma peça antiga e valiosa da coleção do Museu de Jump City. – informava a repórter de uma rua movimentada com policiais e enfermeiros. O Museu se erguia atrás dela, antigo e impetuoso. – O criminoso é o super-vilão antigamente conhecido como Maluco do Controle, há dois anos solto sob condicional por bom comportamento. Ainda não sabemos qual peça era e o que ele pretendia. Esse historiador que trabalha no Museu pode nos informar.

A câmera se expandiu para focar um homem nervoso com cabelo bagunçado.

-A peça em questão era um tipo de relógio, um dos primeiros inventados no mundo, originário da Ásia. – dizia ele, olhando ansioso para o Museu. – Não sabemos o que ele queria, não faz nada de especial. Pelas escrituras no local onde foi encontrado, quem o fabricou acreditava que tinha poderes místicos, mas pesquisadores de muitos lugares já o examinaram e não parece ter nenhum outro valor além do histórico. Não é composto de nenhum metal ou pedra valioso, e...

Nesse momento um homem-robô saiu do Museu, com a mão no ombro de um homem velho, gordo e amarrado. Tentava não ser muito brusco. O homem parecia extremamente frágil. Era o Maluco do Controle. Estava em um estado de dar pena. Seu rosto cheio de rugas tinha uma expressão chocada, e não parecia entender o que estava acontecendo. Ficava murmurando "Só faltava essa peça, só faltava essa peça."

A repórter deixou o historiador para tentar interrogar Ciborgue.

-Por favor, pode informar o público do estado do criminoso? Vocês já sabem o que ele queria com a peça?

-Nada a declarar. – respondeu Ciborgue secamente, entregando o vilão aos enfermeiros.

Do Museu saiu então um homem alto com longos cabelos negros, usando um uniforme preto e azul, e uma máscara de olhos. A repórter se dirigiu a ele.

-O Maluco do Controle será mantido em um sanatório e tratado até segunda ordem. – informou ele antes que a moça perguntasse qualquer coisa. – Parece estar fora de si e não saber o que está fazendo. Nem ele mesmo sabia direito porque veio roubar essa peça, e está em um estado de saúde muito delicado. Não foi preciso usar a violência para paralisá-lo.

- Só mais uma pecinha! – ouviu-se o Maluco gritar de dentro da ambulância, rindo histericamente. – Então seria capaz de consertar todos os seus erros!

- Mas foram encontrados planos junto com ele, não foram? – insistiu a repórter se aproximando de Asa Noturna. – Vocês não têm nenhuma idéia do que ele inicialmente pretendia?

-Parecia que estava construindo uma máquina do tempo. – soltou o herói a contragosto. – Mas é impossível ela funcionar, ele estava construindo sem nenhuma lógica.

- Você acha que ele sabia como liberar os poderes místicos do relógio? – perguntou ela, mas Asa Noturna já estava indo embora. Ela se voltou para a câmera. – Parece que não vão nos informar de mais nada. O Maluco do Controle tem estado mental afetado, e...

Os risos histéricos ficaram mais altos. Os enfermeiros se preparavam para injetar um tranqüilizante.

- IRIA CONSERTAR TODOS OS SEUS ERROS! ENTÃO PODERIA SER FELIZ DE NOVO! – o rosto do criminoso apareceu na tela, assustadoramente fora de si. Os enfermeiros fecharam a porta da ambulância, e a moça encerrou a reportagem.

Tara mexia o café e olhava para a tela sem ver as imagens. As palavras do Maluco ecoavam em sua cabeça.

Iria consertar todos os seus erros... Iria consertar todos os seus erros...

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