Fanfic escrita para o projeto Across The Universe da Sessão Drago & Ginny do Fórum 6v

Universto: Noir

Itens:

Revolver

Baralho

Tatuagem

Prólogo

A little gambling is fun when you're with me

"Você deu azar. Hoje é meu dia de sorte.

Eu sei exatamente porque você insiste em voltar a esse lugar. Você sabe que não devia, porque este é o único lugar de todo o mundo que me pertence e tudo meu se dedica às minha intenções de te odiar até que você deixe de existir. Potter, você deu azar. Você deu muito azar, hoje é meu dia de sorte."

-Sorte? Você precisa mesmo de sorte. Eu não jogo contando com o azar, mas só com a minha capacidade de ganhar. E eu sempre fui muito melhor jogadora do que você, Malfoy. Eu vou ganhar este jogo.

-Veremos quando tudo isso terminar quem é que tem azar.

-Você não entende nada de jogo. É um perdedor.

Pela primeira vez até agora, porque era um perdedor, ele perdeu o controle, mas só por um milésimo de segundo. Seu corpo nem chegou a reagir a isto, e ele continuou andando de um lado para o outro em frente a ela. Durou pouco porque ele é que estava dominando a situação. Não podia deixar que ela de repente começasse a controlar pequenas reações dele. Porque o próximo passo dela seria dominá-lo completamente. Ele era bom em não se deixar dominar, mas ela era melhor ainda em dominar, especialmente quando se tratava dele.

Ele sentou-se numa cadeira em frente à dela, calmamente. Não havia mesa entre eles, só tensão. Ela o encarava com raiva nos olhos. Ele perpassava os olhos sobre ela em análise. Continuava a mesma. As mesmas reações, os mesmos truques, as mesmas respostas provocativas.

-Porque eu insisto em voltar?

Ele não previa esta pergunta. Talvez ela tenha mudado. Ele se recompôs e respondeu com ar de autoridade:

-Porque obviamente o criminoso sempre volta à cena do crime.

Ela gargalhou, tombando a cabeça para trás.

-Agora você diz que é um crime?

-Pra mim não. Pra você, certamente foi. Trair o Senhor perfeito com um desgraçado como eu… - insinuou ele.

-Eu não traí ninguém! – Ela olhou nos olhos dele, profundamente – Eu gostava de você.

-No passado? – Ele se endireitou na cadeira, prestando mais atenção.

-Não sei mais o que eu sinto – Havia sinceridade nos olhos castanho-claros dela.

Ela abaixou a cabeça. Mais uma vez, puxou com força os braços já feridos, tentando libertar-se das cordas que os prendiam aos braços da cadeira.

-Até quando vou ficar presa aqui? –Ela disse, suplicando.

-Até eles chegarem. Não demora muito.

Ela suspirou.

-Nunca imaginei que justamente você fosse querer uma vingança dessas. – Ela confessou, sacudindo a cabeça para tentar arrumar os cabelos que saíram do lugar com o sacolejar anterior.

-Você deveria ter imaginado. Eu sou o mesmo canalha de sempre. – O ressentimento fez as palavras soarem ofensivas. – Você é que nunca devia ter confiado em um cara sem escrúpulos como eu.

-Eu confiei em você porque você não é um canalha. Eu sei que por dentro, você tem sentimentos mais nobres até que os meus.

-Não banque a santa, Potter.

-Não estou bancando. Nem poderia. – falou ela entre dentes – É a verdade.

Ela sacudiu a cabeça mais uma vez. Uma mecha caía em seu rosto, impedindo-a de vê-lo revirar os olhos.

-O que você fez pela sua família, Malfoy... Eu não sei se faria o que você fez. Isso só demonstra o quanto você é bom, de verdade, quando alguma coisa importa.

Ela tentou enxergá-lo por detrás da cortina vermelha de cabelos.

-Eu não me importo com você, se você achou que isso pudesse te salvar.

-Se você não se importasse, teria me matado. Não estaria esperando seus superiores chegarem aqui pra fazer o que você não consegue.

Desta vez ele é quem riu.

-É o que você pensa. Eu tenho ordens pra não atirar em você. Querem algo mais que a sua cabeça.

Ela riu também, nervosa, e escorregou na cadeira, quase parecendo relaxada, não fossem os braços amarrados.

-Quer tirar o cabelo do meu olho, por favor?

Malfoy riu torto e ignorou o pedido da mulher.

-Eu estou amarrada, não vou fazer nada! – Justificou ela, e, baixando o tom de voz acrescentou. – Eu quero te ver.

Ele olhou para o rosto coberto de sardas tentando encontrar a verdade, mas não importava que fosse mentira. A esta altura, nada importava, ele estava no controle.

-Por favor – suplicou ela, como uma menina mimada que pede um presente caro demais que ela quer muito.

E ele, que não sabia dizer não a ela, levantou-se, tentando aparentar frieza. Seu olhar gélido durou apenas até o momento em que tocou os fios de fogo. Fogo e gelo em contanto não coabitam o mesmo espaço por muito tempo. Viram vapor.

Ele abaixou-se em frente a ela, admirado por mais uma vez tocá-la. Embora ele tivesse mudado muito, emagrecido e abatido, ela continuava linda. A boca rosada, as sardas, os cabelos no mesmo tom vivo. E os olhos castanhos, extremamente traiçoeiros. Talvez eles nem precisassem usar muitos truques, mas aquele par de olhos sempre o pegavam e prendiam.

No breve tempo em que ele se arriscou a olhar neles, a pernas dela tocaram as suas. Uma situação delicada para ele, que podia se entregar com apenas um olhar, e agora tinha o agravante daquele toque. Tarde demais, evitou os olhos dela, mas ela já o dominara com as pernas. Na distração fora traído mais uma vez pelos olhos, sempre cúmplices das pernas.

Ele agora tinha uma das mãos na coxa dela, e ao perceber isso, ela o derrubara e prendera com as pernas. Instintivamente Malfoy levou as mãos à sua própria cintura.

-Não adianta, Malfoy, eu vi quando você deixou a arma e a faca na mesa – Ele lançou-lhe um olhar supreso e ela respondeu com um riso que o desprezava – Eu não estava desmaiada.

-Me solta, Potter! – Ele falou com raiva.

-Onde esta a sua força? Se solte sozinho! – Ela riu com gosto.

Ele fez algum esforço, quase nenhum, mas as pernas dela eram fortes. Ou ele era fraco.

-Você pode sair, Malfoy. Você não sai porque não quer me machucar.

-Você vai precisar das pernas pra fazer o que eu e eles queremos.

-Ou você se importa comigo – sugeriu quase com displicência.

Ele fez um som de "você só pode estar brincando" e virou o rosto para não encará-la, pousando-o no abdome dela.

O tom de Potter ficou sério:

-Eu sei que você se importa comigo. – Ele não se moveu – Por favor, me ajude.

Ele virou-se para encará-la com os grandes olhos acinzentados. Ela afrouxou as pernas. Ele lentamente se levantou, parecendo ter-se comovido. Um riso cínico estampou o rosto pálido em seguida, enquanto o dela se desmanchava em uma lágrima solitária no canto do olho.

Ele virou-se para a mesa atrás da cadeira dele onde havia deixado as armas. De costas para Potter, tirou um punhal de prata da bainha de couro escuro, examinando o reflexo distorcido e impreciso de Potter na lâmina. Viu ela se ajeitar na cadeira, procurando algum conforto.

Um riso fraco e sem esperança cortou seu rosto sardendo.

-Ao menos já sei que ainda te venço, e com as mãos amarradas.

Ela não pode ver que ele também sorrira.