Todos os dias pensava em quando ainda era dele, em que a tinha tão próximo de si

Todos os dias pensava em quando ainda era dele, em que a tinha tão próximo de si. Em que a via despertar e adormecer... quanto tempo fazia? Tiraram-na dele. Onde estaria agora a primeira e única mulher que conseguira roubar seu coração, aquela que lhe fez descobrir sentimentos dos quais ele mesmo desconfiava que poderia vivê-los e que sem ela, jamais sentiria? A dor que tomava conta de sua alma era insuportável... nem milhares de perfuradas de suas próprias agulhas se comparavam à dor que a ausência dela lhe causava.

"Porque você se foi, por que não está aqui...?". Milo agora entendia e refletia o que uma vez Aiolia lhe falara sobre a verdadeira essência do amor. Sim, estava sofrendo.

Milo fitava toda a imensidão de sua Casa. Cada cômodo, sua cama... ah, sua cama... tudo a lembrava, absolutamente tudo. Lágrimas tomavam sua face, fazendo alguns fios de seus longos cabelos azuis grudarem em seu rosto. O Escorpião definitivamente sofria por amor... Enxugava sua face quando sentiu aquele generoso cosmo adentrar sua Casa.

- Vejo que em 6 anos ainda sente a falta dela...

Milo rapidamente retomara sua compostura. Mesmo o que sentia, jamais abriria mão de seu orgulho.

- Deve estar me vendo como um idiota não é? – tentava não transpor toda a tristeza que tomava conta de seu coração.

- Entendo o que está sentindo...

- Ah, por favor Aiolia! Claro que não, você tem Marin ao seu lado. – Milo lhe dizia, sarcástico.

- Você bem sabe que não foi tão fácil assim para que eu e Marin pudéssemos ficar juntos. – rápidos flashes vinham á tona na mente do Leão, de quando ficara longe de Marin, mas suspirava aliviado por tê-la agora junto de si.

Milo fitava o nada...

- Por que ela me abandonou? Por que se foi de mim? – o Escorpião tinha o olhar embargado de tristeza.

- Milo... você sabe que não foi assim que aconteceu.

Flashback

Treinavam inspirados naquele dia. Talvez a noite anterior tivesse sido intensa o bastante para amortecer os ânimos daquele casal de Escorpiões orgulhosos.

- Está me atacando forte demais! Será que em alguma parte eu não me saí bem ontem á noite? – uma cômica careta de dor tomava conta da face de Milo.

- Não é hora para seus comentários libidinosos! Aqui não é o melhor lugar para isso... – dizia enquanto aproximava-se dele, sensualmente.

- E quanto ontem á noite... você é esplêndido meu Escorpião. Como pode pensar o contrário de um fato mais que comprovado como esse? – lhe dizia baixo, com um leve sorriso satisfatório no canto da boca.

Milo naturalmente ficara cheio de si, provocando-a com essa atitude.

- Hunf! Mas como você é presunçoso hein! – Marina balançava negativamente a cabeça.

- Ah, é...?

- Eer... Milo, acho melhor terminarmos isso mais tarde. – dizia a jovem amazona quando percebera que Mu se aproximava.

- Desculpe-me interrompê-los, mas Athena solicita sua presença no Templo, Marina. – dizia o Ariano, sereno como de costume.

- Está bem... Milo, terminamos mais tarde. – lhe dizia enquanto virava-se, beijando sua fronte.

Subiam as longas escadarias calmamente, mas a expressão aflita de Mu a incomodava. O silêncio que se formava a medida em que se aproximavam do Templo fora rompido quando Mu enfraquecera levemente os passos parando em frente a Casa de Aquário.

- Mu, você está bem?

O Ariano permanecia fitando intensamente a 11ª Casa Zodiacal, quando soltara um suspiro quase inaudível, mas que fora ouvido pela jovem amazona. Que ligação poderia haver entre aquela aflição e a Casa de Aquário? Ou melhor, de Kamus? Marina tentava descobrir desesperadamente o que estava acontecendo.

- Eu estou bem, não se preocupe. – Mu parecia querer ocultar algo da jovem que o encarava impaciente.

Mu retomaria a subida das escadarias quando Marina o deteve sutilmente. Não conseguia mais suportar as dúvidas que a estavam martirizando.

- Diga-me o que está acontecendo? Por favor!

- Entendo sua agonia, mas não posso... você logo vai saber. – o Ariano dizia cabisbaixo. Ele sim sabia o que estava acontecendo...

- Mu...

- Precisamos continuar. – Mu tentava ao máximo ser ainda mais sereno do que já era.

Chegaram ao Templo, onde Athena os esperava. Um clima estranho tomava conta dali...

"Por Zeus! O que está acontecendo?". Marina pensava consigo, atordoada com todo aquele mistério a sua volta. Aproximou-se de Athena, reverenciando-a. Mu retornava a Casa de Áries.

- Marina, sei que não vai ser nem um pouco fácil acostumar-se com isso, mas é algo que a ajudará muito para aprimorar seu treinamento.

A jovem amazona ficara ainda mais confusa. E tudo só piorou quando viu Kamus adentrando o Templo. Athena hesitara antes de continuar... receava que Marina pudesse não suportar o que estava preste a ouvir.

- Se afastará do Santuário. – as palavras hesitantes de Athena soaram como um ataque letal aos ouvidos da jovem amazona. Tentava pronunciar qualquer palavra, mas tudo lhe fugia. Tudo o que sentia era dor.

Athena aproximou-se dela, delicadamente, segurando-lhe as mãos.

- Sei que é impossível pedir que não sofra, mas isso não é para machucá-la.

Marina a olhava consternada. Não acreditava no que acabara de ouvir. Kamus tentava permanecer ainda mais impassível para não ter que ceder ás lágrimas que já enchiam seus olhos. Por mais que soubesse que cuidaria dela na inóspita e distante Sibéria, sabia que ela sofreria pela distância de Milo, e não suportaria vê-la sofrer e ainda mais tê-la tão próxima de si e não poder consolá-la da maneira que realmente desejava. Marina não pôde conter as lágrimas que já rolavam por sua face. Mesmo seu orgulho não a impedira de ceder á dor que tomava conta de sua alma. Kamus a abraçou carinhosamente.

- Partiremos ainda hoje. – o Aquariano lhe dizia tentando confortá-la, por mais que soubesse que não poderia amenizar aquele sofrimento.

"Como vou sobreviver a isso? Milo...". Pensava a jovem consigo enquanto ainda mantinha a cabeça recostada nos ombros largos do Aquariano. Desvencilhava-se dele, retirando-se do Templo a passos lentos e pesados. Sob o sol forte, retomava seu percurso para o Coliseu, onde Milo a esperava. Preferia morrer a vê-lo sofrer. Faltava-lhe coragem para dizer-lhe o que recém ouvira de Athena.

- Nossa! Não pensei que fosse demorar tanto. – dizia o Escorpião ao vê-la se aproximar, franzindo as sobrancelhas quando notara seu semblante pálido e angustiado.

Marina sentara ao lado dele, erguendo a cabeça para o céu agora carregado de nuvens cinzentas, o que anunciava uma tempestade. Deixara um longo e pesado suspiro escapar.

- O que houve? – Milo sentia que algo estava errado. O que Athena disse a você? Voltou tão...

- Milo, partirei do Santuário hoje. – a voz da jovem amazona quase não saía.

- O que está me dizendo? – o Cavaleiro da 8ª Casa Zodiacal rapidamente levantara totalmente desconcertado.

Um silêncio tenebroso tomara conta daquele momento, que logo fora quebrado quando Milo manifestou-se. Suas pálpebras já não suportavam mais as lágrimas que se formavam.

- Por que está fazendo isso agora? Depois de tudo que...

- Milo, você precisa compreender. Sabia que mais cedo ou mais tarde poderia acontecer. – Marina lhe dizia enquanto atirava algumas pequenas pedrinhas ao chão. Sou uma amazona, e você Cavaleiro...

- Esse maldito dogma! Quer que eu permita que você se vá? – Milo estava descontrolado. Lágrimas de dor lhe tomavam a face... Marina, nem ninguém jamais o vira assim. O coração da jovem amazona parecia despedaçar-se lenta e dolorosamente. Aproximou-se dele tocando em seus ombros carinhosamente.

- Não posso deixar você ir. Eu não suportaria. – o Escorpião não conseguia conter o choro desesperado.

Marina o abraçara carinhosamente. Vê-lo dessa forma era como matar a si própria.

- Por favor Milo...

- Não peça que compreenda. Deixar você ir, não... – Milo levava as mãos á cabeça, inconformado.

A chuva fina já desabava. O céu escureceu-se. Tudo parecia ficar sombrio diante daquele momento. Marina retirava-se lentamente dali. Não conseguia mais encará-lo. Seus passos pesados, os longos e negros cabelos já molhados pela chuva agora forte, se misturavam com seu choro compulsivo.

Milo caía lentamente como uma pluma por cima duma rocha, das muitas que compunham todo o Santuário. A via partir, enquanto chorava incessantemente. Cerrava os olhos querendo que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Por que não ia atrás dela? Faltara-lhe coragem? Não... ou simplesmente talvez porque o destino quisesse que fosse assim? Ficara horas ali, ainda sob a chuva, quando acabara adormecendo...

Fim do Flashback

- Aiolia... por que Athena teve de mandá-la treinar longe do Santuário? Não compreendo.

- Milo, por que não procura se distrair um pouco?

- Sempre tenta mudar o rumo da conversa... acha que não sei que Kamus também partiu com ela? Como se não bastasse, Athena permitiu que ELE a treinasse... você não acha estranho, Aiolia? – Milo dizia ironicamente, tentando esconder o misto de dor e inconformidade que tomava conta de si.

- Está sendo injusto com ela, e com o que sente! Como pode pensar isso Milo? – Aiolia entendia o que seu amigo estava sentindo, mas não podia permitir que ele se deixasse levar por reles hipóteses, de fato, absurdas.

Milo levantou-se caminhando em direção a janela de sua Casa, fitando o belo pôr-do-sol grego.

- O que quer que eu pense? Aiolia, já se passaram 6 anos... nenhuma notícia, nada. Absolutamente nada. Devo-me ter esquecido de que tudo um dia acaba e passa...

- E o que sente por Marina passou, acabou? – perguntava o Leonino, encarando-o.

As palavras de Aiolia penetraram profundamente no mais íntimo do Escorpião que abaixara a cabeça. Aiolia aproximara-se um pouco de seu amigo, pondo as mãos em seus ombros.

- Milo, você a ama. Sabe disso bem melhor do que eu. E tenho certeza que é recíproco.

- Se ela estivesse aqui, perto de mim, tudo estaria bem. Se ela estivesse... – o Escorpião dizia enquanto cerrava os olhos.

Aiolia dirigia-se até a cozinha onde tomaria um café. Retornando a sala, oferecera uma outra xícara para Milo.

- Ah, Milo... esqueci-me de dizer a você que Athena fará uma comemoração pelo sucesso da Fundação. Parece que as coisas seguem muito bem. – o Leonino dizia com um largo sorriso.

- Não está querendo que eu vá não é? – dizia Milo, desmotivado.

- Milo... fará bem a você. E sem falar que não é comum aqui no Santuário tais eventos. – o Leonino tentava de todas as formas persuadi-lo, o que não era nada fácil. Haviam se passado horas que permaneceram ali. Aiolia se retirava quando percebera que Milo havia adormecido recostado à parede de sua casa. O ajudaria para ir até a cama, mas sabia que seu amigo ficaria furioso. E era óbvio que seu orgulho não permitiria que parecesse tão impotente.

Aiolia retornava a sua Casa pensando no quanto Marina mexera com os sentimentos de Milo. O Cavaleiro tão galanteador, sagaz, já não tinha mais motivos para inspirar-se... desde quando ela se fora...

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Gente, esse é o primeiro capítulo da continuação daquela minha primeira Fic "Um Jogo Envolvente". Não pretendia fazê-la, mas graças aos incentivos que obtive, resolvi continuá-la. Espero que estejam mesmo gostando. E não esqueçam de mandar muitos reviews! :D

Beijos!