Contraditório. Sirius era contraditório. Ele conseguia me impressionar com sua inteligência - embora eu jamais admitisse – e conseguia me fazer desgostar de ouvir sua voz quando falava coisas estúpidas, dignas de um moleque burro e inconseqüente. Sirius costumava me olhar com desprezo, e eu sempre lhe devolvia esse mesmo olhar. Falava com arrogância, como se sua opinião valesse mais que tudo e detestava não ter atenção. Eu fazia questão de ignorá-lo quando éramos crianças. Mas ele nunca reclamou, embora não escondesse uma careta quando me encontrava em reuniões familiares.
Sirius tornou-se um adolescente rebelde. Foi selecionado para a casa de Godric Gryffindor, e nada mais poderia ser tão humilhante. Conheceu Potter e mais dois idiotas e tornou-se um deles. Não gostava de voltar para a Mansão. Resmungava o tempo todo. Acho que tentou convencer Regulus a ser como ele, e fico feliz em afirmar que isso não aconteceu. Eu nunca suportaria a idéia de ter dois Sirius nessa casa.
O piano da Mansão se manteve intacto até os dezessete anos de Sirius. Walburga gostava de manter instrumentos como objetos de decoração, mas nunca os deixava empoeirar. Monstro limpava dia e noite todos os aposentos da casa. O piano brilhava e reluzia entre os cristais e pratas sobre os móveis. Até que em um dia chuvoso, Sirius resolveu tocá-lo. Ele estava melancólico, como pude notar. Seus olhos cinzentos estreitaram-se e seus dedos corriam nas teclas. Seus lábios se mexiam lentamente enquanto ele entoava uma canção. Eu apenas observava. E quando seus olhos encontraram os meus, ele sorriu. Um sorriso bonito, sem sarcasmo ou ironia. Sirius terminou de tocar e levantou-se, caminhando em minha direção. Suas palavras se perderam no ar ao roçar seus lábios nos meus. Meu coração sofreu um baque violento - queria gritar. Suas mãos seguraram meu rosto e senti repulsa. Senti uma enorme necessidade me manter longe dele. E mais próxima do meu noivo.
Eu, a primogênita de Druella e Cygnus, ia me casar. Rodolphus Lestrange era o nome de meu noivo, e eu costumava resumi-lo em inteligência, beleza e violência. Rodolphus era violento e eu gostava disso. Nós éramos Comensais e adorávamos torturar trouxas e outras aberrações. Ele me presenteou com uma belíssima faca de prata, feita por duendes. Costumava me presentear com freqüência. Talvez quisesse compensar algo com tantos objetos. Rodolphus fumava cigarros impregnados com um forte sabor de menta que permaneciam pregados em seus lábios mesmo após muito tempo. Eu provei de seus cigarros e odiei. Não senti prazer algum. Só senti algo quando provei dos cigarros dele.
Continua! (agora não, estou com preguiça).
