ADEUS, COMENSAL.
Por Lúthien Elessar
"Virginia,
É num quarto escuro de um hotel qualquer que escrevo estas mal-traçadas linhas. Na escuridão em que me encontro, só o que vejo é o reflexo da lua, que passa pela janela e encontra o papel, trazendo consigo um vento suave.
Eu sei que prometi escrever, mas tenho tido trabalho em me esconder, e o único momento que encontro é agora. É com pesar que digo que estou hospedado numa estalagem trouxa – e sim, como eu sempre pensei, é tudo imundo - , mas pode tirar o sorriso zombeteiro que deve estar brincando em seu rosto, pois pela manhã saio daqui de encontro ao meu futuro, e é por isso que escrevo.
Amanhã me apresentarei à serviço... do Lorde das Trevas. Sei que não é o que queria ler, mas não há nada que possamos fazer, até porque quando você receber esta carta, provavelmente já possuirei minha marca negra.
Não peço que entenda meus motivos, sei que não conseguiria, basta dizer que temo por você e por minha mãe, e bem, não é como se não soubéssemos que meu destino seria esse, sempre foi, não há outra opção.
Espero que esteja bem, e que se concentre nos estudos neste que será um ano de extrema importância para você. Tanto por ser seu último ano na escola, quanto por decidir seu futuro.
Sinto por não poder acompanhá-la em sua formatura, mas creio que agora a idéia soaria repulsiva à você – e a seus irmãos, obviamente.
Apesar de tudo que sinto, por obrigação, despeço-me agora, para me tornar um Comensal.
Sempre seu,
D.M."
Estava mortificada com o que acabara de ler. Segurava o pergaminho com força, tremendo, tanto de medo quanto de raiva. O papel já danificado pela viagem encontrava-se amassado e salpicado de lágrimas. O fim então chegara, junto com as folhas secas que caíam das árvores, anunciando o Outono.
Não, não tente se desculpar
Não volte a insistir
As desculpas já existiam antes de você
Pelos seus olhos passavam as imagens de um passado não tão longícuo, de todos os momentos com aquele que a partir de agora se tornava seu inimigo.
" Você é linda". Alta, corpo formado, longos cabelos ruivos, assemelhando-se às chamas das mais mágicas fogueiras, e os olhos... ah, os olhos! Se antes eram divertidos e misteriosos, agora só mostrariam mágoa, isso é, se ousassem mostrar algum sentimento.
Não, não me olhe como antes
Não fale no plural
A retórica é sua arma mais letal
"Me pergunto como isso aconteceu". Ambos sabiam, mas ela nunca admitiria que não queria apenas irritar seu irmão ficando com uma de suas piores inimizades.
"... e como vai acabar". Agora ela sabia, e as imagens não paravam de fluir em sua mente como um mar revolto.
"Mas não me admira que tenha me escolhido, afinal, partido melhor não há". Isso ela não podia negar. Não pela riqueza do rapaz – Virginia não era disso – mas pela pessoa que aparecia quando caia a máscara de frieza utilizada quando lidando com os outros. Ela orgulhava-se de ter sido a única a conhecer essa personalidade tão bem escondida.
"... e pior também não". E tudo em que ela pensava era em como todos o achavam um idiota, mas sabia que era porque não o conheciam realmente.
Vou te pedir que não volte mais
Sinto que você ainda me causa dor aqui
Por dentro
E as palavras? Draco nunca fora romântico, aliás, o era à sua maneira, e mesmo que um tanto diferente dos seus outros namorados, ela gostava. Adorava o mistério que envolvia o loiro, e como ele era imprevisível.
Mas devia parar de pensar nisso. Nunca mais receberia abraços, beijos ou comentários desdenhosos – não que estes fizessem tanta falta. Não queria que isso acontecesse, mas agora era tarde.
E que na sua idade já saiba bem o que é
Partir o coração de alguém assim
Não conseguiu dormir, tampouco cochilar, passou a noite de olhos abertos, pensando. Quando o sol invadiu seu quarto de forma irritante, decidiu que era hora de tomar café. Ao descer as escadas d'A Toca, se deparou com toda a sua família, era seu último ano na escola, a última Weasley a se formar em Hogwarts.
Não se pode viver com tanto veneno,
A esperança que me deu seu amor
Ninguém mais deu,
Te juro, não minto
Não se pode viver com tanto veneno
Não se pode dedicar a alma
A acumular tentativas
Pesa mais a raiva que o cimento.
Com a correria em se arrumar, esqueceu de responder a carta que lhe tirou o sono. Então, no último minuto riscou num pergaminho qualquer:
"Adeus, Comensal."
E saiu, rumo a uma nova vida.
Espero que não espere que eu te espere
Depois dos meus 16
A paciência já me esgotou.
E vou despetalando margaridas
E olhando sem olhar
Para ver se assim, você se irrita e se vai.No canto do pergaminho, versos riscados, que aos olhos de uma pessoa qualquer passarariam despercebidos, diziam:
"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.
Mal de te amar neste lugar de imperfeições,
Onde tudo nos quebra e emudece,
Onde tudo nos mente e nos separa."
FIM.
